Morte e Vida de Julieta escrita por Afrodite


Capítulo 11
Plantar e Colher


Notas iniciais do capítulo

AEEEE FINALMENTE!
Agora eu voltei de vez, hein! Fiquei sem tempo, mudança é um saco, mas aqui estou e é isso que importa
Espero que curtam o capítulo, anjinhos, foi feito com todo o amor de sempre!!!



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Um tempo depois de eu ter conhecido a Mari, houve um feriado, e neste, Bia foi com a mãe à cidade em que o Eduardo morava e ficaram hospedadas na casa dele depois da menina implorar, pois Clara tinha uma certa resistência ao lugar.

Logo que me deparei novamente com os brilhos dos olhos dos pais da minha vítima, lembrei-me do truque que a Mari me ensinara um tempo atrás e prontamente matei minha curiosidade sobre aqueles dois. 

Em um momento em que os três estavam reunidos, pus o truque em prática. Fui me aproximando lentamente de Eduardo, com as expectativas além do céu, toquei timidamente o seu peito, e deste saiu uma luz vermelha com um brilho que excedia de forma absurda o que saía da luz do peito da Bia, eu conseguia até sentir uma quentura:

—Só pode ser ela!  exclamei, olhando para Clara.

Fui até a mulher e repeti o procedimento nela, que reluziu a mesma linda luz vermelha, comecei a gritar e pular de emoção, não sabia o porquê mas aquilo era importante pra mim. Eles se amavam, os pais da Bia se amavam muito. 

No dia em que a Bia voltou ao cursinho, fui correndo que nem uma condenada atrás da Mari, a encontrei dando voltas pelo céu e voei até o encontro dela.

Eu preciso te falar uma coisa MUITO louca que aconteceu!

Sentamos no telhado e contei com detalhes tudo que acontecera. Ela escutou atentamente, mudando a expressão facial de acordo com o decorrer da história. Quando terminei primeiro ela deu um gritinho eufórico e estridente, e depois deu um gemido desanimado.

Mas... Por que eles não estão juntos, sendo que eles podem estar, e que eles se amam?! Não deveria ser o bastante?  Mari indagou tristemente. 

Eu não faço ideia! Tudo que eu sei é que desde que a Bia era bebê eles não estão juntos, eu não sei sobre nada, tipo, de antes da Bia. 

Devem ter uma história imensa! Tipo aquelas novelas estrangeiras que duram anos e anos...

Ah, também sei que a mãe da Bia sempre pareceu bem... Tipo, meio que frustrada com ele, não sei.

Mari arregalou os olhos:

Será que ele deu um vacilo muito grande com ela?

Não faço ideia, mas o Eduardo sempre pareceu uma pessoa muito de boa, tranquila... Ele tem uma lojinha com artigos de surf e dá aula de surf! Acho que ele é a pessoa mais zen que eu vi na terra. 

E a mãe?

A Clara é mais séria e centrada, ela é arquiteta, mas faz uns desenhos muito lindos. Ela é artista, mana, além de ser uma mãe maravilhosa pra Bia, é ótima pessoa.

—Ah, socorro! Por que tu foi me contar isso, Julieta? Agora eu tô curiosa pra saber a história, e pior, tô querendo que eles fiquem juntos no fim! 

—E eu?!

Depois passamos o maior tempo supondo inúmeras historias pra Eduardo e Clara, tentando entender o porquê de tudo, até nos perguntamos por que os cupidos deles continuavam flechando mesmo sabendo que não dava certo. Foram horas do mesmo assuntos, até a gente perceber que não levava a lugar nenhum e finalmente se contentar com nossas perguntas sem resposta (ou não). 

Durante o resto do dia, mesmo sem a Mari pra acompanhar meus devaneios, pensei muito nos pais da Bia, e cheguei à conclusão de que, depois que eu descobrisse quem eu tinha sido na minha antiga vida, descobrir a história dos dois seria minha próxima missão. Essa seria muito mais fácil, pois era só ir atrás dos cupidos deles, e com toda certeza, eu levaria minha amiga Mari comigo. 

 Em Setembro e Outubro a vida da Bia digamos que "acabou", qualquer saída ou interação com alguém fora do colégio ou de casa se tornaram eventos extremamente raros (com exceção da época das eleições, porque a Bia era bem interessada no assunto e nas militâncias, inclusive ela e o Pedro tiveram mais uma desculpa pra conversarem bastante). Clara parecia aprovar as atitudes da filha, ela a olhava com muito orgulho e se mostrava muito prestativa a ajudar no que fosse. 

Minha vítima chegava no colégio umas sete da manhã e só saía à noite. Quando não estava assistindo aula, estava enfurnada em alguma sala de estudos escrevendo redações, lendo textos, assistindo vídeo aulas ou resolvendo várias questões. Saía só nos intervalos,  comia, conversava e ria com os colegas e amigos enquanto escutavam as músicas que o pessoal do colégio colocava.

Eu confesso que às vezes sentia que era demais pra ela, ficava com pena, a Bia estava cheia de olheiras, parecia exausta, se entupia de café, mas em nenhum momento ela parecia triste, ela parecia muito feliz e satisfeita com aquela situação, pra ser bem sincera. Uma vez ela estava conversando com a Luísa e desabafou:

Mulher, às vezes me bate um medo de que não dê certo que só pela misericórdia de Jah, viu? Eu fico tipo "será que vale a pena todo esse sacrifício?". Tô surfando tão pouco esse ano, saindo tão pouco... Mas toda vez que me bate essas inseguranças eu lembro do porquê d'eu tá fazendo isso, aí eu fico tranquila de novo. 

É o que eu digo, mulher, a gente tem que estudar mesmo. Negócio de sair, de macho ou sei lá o quê, é bom na hora, mas te leva a lugar nenhum. Olha a oportunidade que a gente tem, a gente ia ser muito burra de não sugar tudo que esse colégio tem pra dar pra gente, na moral. 

É, mano, só esse ano, é a nossa transição na vida, deixa pra viver no próximo. Aí a gente mete o louco mermo, melhor meter o louco na facul do que no cursinho, né não?

As duas riram e continuaram a falar sobre o ano em que estavam, era sempre assim, as duas juntas. Era fato que elas conheciam muita, mas muita gente naquele colégio, mas elas sempre estavam ali uma pra outra e sabiam perfeitamente que aquilo era o que importava. Sempre que uma estava insegura, a outra ia acalmar,  a Luísa ajudava a Bia nos assuntos de ciências da natureza, e a Bia ajudava a amiga em humanas.

Toda vez que eu as via, uma ao lado da outra, estudando naquelas cabines, e de vez em quando alguma dando uma cutucada na outra pra fazer uma pergunta, eu tinha uma convicção vinda de não sei onde de que elas iam conseguir qualquer coisa que quisessem. 

O Enem foi aplicado no primeiro e no segundo domingos de Novembro, e depois disso era a "liberdade" como dizia a Bia, mas pra Luísa ainda ia demorar um pouco mais, porque o foco dela era a Fuvest (sim, ei já estava ficando profissional nessas coisas da terra, já parecia uma humana falando).

Nas semanas de prova, a Bia estava muito tranquila, enquanto a maioria dos outros estudantes parecia apavorado e muito nervoso. Ela não cansava de dizer o quanto estava surpresa por tanta tranquilidade que ela sentia, aquela era a minha menina! 

Pra mim e pra Mari essas últimas semanas não foram tão boas assim, porque acabaria com nossa rotina e nós gostávamos de nos encontrar todo dia ali no colégio, mas prometi que assim que eu voltasse pro céu, iria atrás dela pra irmos à Festa dos Serafins, e que eu iria apresentar minhas amigas a ela, seria tudo incrível.

A primeira prova foi muito tranquila pra Bia, afinal, era a área dela: humanas, linguagens e redação. Na segunda, a Bia pareceu mais agitada, fora a última da sala a terminar e saiu falando pra Clara:

Mãe, sério, se tivesse mais tempo, eu juro, eu te juro pela deusa Afrodite que eu fechada aquela prova de matemática!

Entao eu entendi o porquê daquela agitação: falta de tempo.

Depois de se recuperar das provas, enfim começou a tal liberdade da Bia. Primeiro ela saiu com a Luísa, esta ia pra São Paulo e ficaria lá até o ano seguinte, caso passasse na primeira fase (e eu sabia que iria), portanto as amigas passariam um bom tempo sem verem uma à outra, então precisava ser A saída, e realmente foi. Elas foram pra vários lugares numa noite só, e eu, na minha santidade de anjo, sou incapaz de narrar os fatos, só posso dizer que tudo acabou com um lindo, rosa e roxo nascer do sol naquela mesma praia de sempre, a praia de Iracema.

Depois a Bia foi pra cidade do pai e ficou semanas por lá, saindo com os amigos dela, todo dia indo à praia, todo dia surfando, andando de skate, saindo à noite, ficando até tarde numa pracinha que tinha lá, ela estava muito feliz! Eu me orgulhava muito dela e agradecia muito a Deus por aquela ser a minha vítima. 

Por todo esse tempo, além de acompanhar a vida da Bia, eu também estava lançando as flechas nela, eu tentava não exagerar muito, pra que, caso nada desse certo, ela não tivesse que passar muito tempo sofrendo, mas confesso que às vezes eu me distraía, sempre que ela e o Pedro conversavam por mensagem ou algo assim eu me derretia todinha, por mais que eles nunca conversassem como casal. Não sei, eu via aquilo como um fiozinho de esperança, ilusão, ou certeza talvez, realmente não sabia. Eu não queria que a Bia sofresse muito, mas eu gostava demais deles dois juntos e ansiava poder vê-los daquele jeito novamente. 

Nem pisquei os olhos direito e já era o ano seguinte, afinal de contas eu tinha me acostumado com o tempo cronológico, mas também, depois de tanto tempo, como não me acostumaria? Eu sentia muita falta do céu e dos meus amigos, não via a hora de ir embora.

Na madrugada do dia em que a nota do Enem sairia, o silêncio foi quebrado por um "saudades?" de uma voz que eu reconheceria em qualquer vida que eu tivesse:

Isaque!  exclamei e fui abraçar meu amigo  quanto tempo!

Foi tanto assim? No céu a gente nem percebe  ele riu  esbarrei com suas amigas faz um tempo, elas me disseram que não veem hora de vocês se encontrarem porque têm novidades.

AH! Que saudade delas também...

Isaque começou a olhar pra mim com uma cara esquisita, como se estivesse me examinando: 

Você tá diferente.

Diferente como?

Acho que mais madura, algo assim  ele olhou a Bia dormindo  e a Bia também tá. Acho que vocês amadureceram juntas nesse tempo.

Olhei pra garota também e sorri:

Eu aprendo muito com ela... Com a mãe dela, com o pai, com a Luísa... Ah, e eu fiz uma amiga cupido aqui na terra! 

Fiquei falando pro Isaque sobre as várias "aventuras" que tive, ele ficou bem empolgado com as minhas histórias e já quis conhecer a Mari. Ele me disse que estava na terra porque queria ver a nota junto comigo e com a Bia, disse que era um momento importante na vida dela, e que tinha um "pressentimento de anjo" de que o que viria era bom. 

 Logo de manhã, a Bia já esboçava apreensão:

Tá assim por que, Bi?  Clara questionou. 

Ai, mãe... Me dá medo. Sei nem se eu quero ver, tá me dando gastura* essa sensação.

Clara olhou bem nos olhos da garota e disse:

—Eu sou sua mãe, ninguém mais que eu sabe o quanto você se esforçou e se dedicou, sei que ano passado isso te machucou muito, mas dessa vez você fez tudo diferente e eu sou testemunha. Eu tenho convicção de que isso vai dar certo. É melhor tu ver agora, e mesmo que você não vá pra UFRJ, vai ter nota o suficiente pra entrar em outra federal, eu te garanto.

Bia suspirou e, antes mesmo de tomar café, foi ver a nota, pra se livrar logo daquilo. Eu estava tão apreensiva quanto ela, mas quando olhei pra Isaque, vi que ele passava a mesma tranquilidade que a mãe da menina.

Um silêncio tumular tomou conta do ambiente, os únicos sons que se podia ouvir eram os das teclas do computador enquanto a menina digitava. Bia ficou olhando pro computador com os olhos arregalados e sem dizer uma mísera palavra, Clara foi correndo ver, acredito que, por um momento, a segurança dela vacilou um pouco, mas ao olhar a tela do computador, ela sorriu um daqueles sorrisos que só mães sabem dar e os olhos dela encheram de lágrimas, ela abraçou a filha, que continuava muda. 

Isaque me puxou pelo pulso e fomos ver a nota também. Senti tanto orgulho, e Isaque só disse "ela tá colhendo o que plantou". O Isaque me deu um abraço e depois nós anjos nos juntamos ao abraço das humanas.


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Notas finais do capítulo

Gastura é sinônimo de agonia/aflição



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