Morte e Vida de Julieta escrita por Afrodite


Capítulo 12
Nova Vida




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No final do mês, recebemos a notícia de que a Bia havia passado no curso e na faculdade que queria e não chocou ninguém). Aquela semana foi uma festa e uma correria absoluta, além das comemorações e muita, mas muita tinta, também tinha a preocupação com passagem, com onde a Bia ficaria no Rio e como iria se virar por lá. Nesse momento ela recebeu muita ajuda do Pedro (posso dar um grito histérico?) e a cada momento eu sentia mais e mais que tudo estava finalmente entrando nos eixos.

Ficou então decidido que a Bia iria residir em uma república junto com vários outros universitários. A princípio, Clara ficou um pouco insegura, disse que tinha “más influências” nestes lugares, mas Eduardo simplesmente respondeu:

—Má influência é essa surfistinha aí.

E tudo ficou mais ou menos bem.

Quando notei que estava tudo encaminhado e certo, senti que já era hora de voltar ao céu e arrumar minhas coisas pra me mudar também, eu teria que ir para o prédio do Rio de Janeiro agora. Tanto a Bia quanto eu iríamos começar uma nova vida, tudo mudaria pra mim também, mas mesmo com todo esse movimento, eu sabia que quando tudo em relação à Bia estivesse no seu devido lugar (o que não estava muito longe de acontecer) as coisas iriam se acalmar, então eu poderia, finalmente, voltar à minha missão de descobrir quem eu tinha sido, e eu sabia que estava muito perto de desvendar tudo, eu só precisava ligar os pontos da maneira certa e enfim me lembraria,( pelo menos era nisso que eu acreditava) seria minha realização de vida… Pelo menos dessa vida.  

Voei para o céu tentando organizar na minha cabeça tudo o que eu tinha que fazer: a mudança, minha missão atual, minha futura missão dos pais da Bia… Então percebi que ficaria difícil resolver aquilo estando longe...  E assim, distraída com meus pensamentos, levei um susto quando entrei no meu quarto e fui recebida por todas as minhas amigas (até a Mari) gritando “SURPRESA!” e uma festinha:

—Gente!!!

—Uhuul! Seja muito bem-vinda à sua Festa de Boas-Vindas e Despedida Sua e da Sarah — disse Lola, animadíssima, vindo me abraçar — Perdoe o nome exagerado, é que não deu tempo de pensar em outro mais sucinto.

—Oi! — A Mari falou com um sorriso enorme.

—Menina, como assim? Como você ficou amiga da galera toda? — questionei.

—Ah, meu anjo, aqui é pá-pum, entendeu? Tu vivia falando dos teus amigos, eu simplesmente fui atrás.

—E não é que a gente deu certo? — Sarah comentou.

—Ótima notícia, agora não vou ter o trabalho de apresentar todo mundo.

Curtimos nossa festinha por um tempo, pude conversar com cada uma das meninas e saber das novidades.

A Bela me contou que o Alberto estava noivo de um garoto super gente boa, que a vítima dela estava muito feliz e satisfeita. A Bela podia ser uma chatona, mas qualquer um podia ver o brilho nos olhos dela falando das vítimas e a dedicação que tinha com elas (pelo menos eu via isso em relação ao Alberto), exercia perfeitamente e com prazer seus deveres de cupido.

A Lola me contou que, depois de muito perrengue e sofrimento, finalmente a Amanda se livrou daquele relacionamento abusivo, e que agora ela estava começando a ‘crushar’ uma menina:

—Dependendo do andar da carruagem eu taco-lhe a flecha e só vai. Paz e amor! — Lola disse com firmeza.

A Mari me contou que agora ia finalmente dar fim ao lance das flechas manuais no Bruno, pra ele sofrer menos nessa vida, disse que esperaria uma pessoa especial e só ia lançar alguma flecha se o sentido de cupidos dela dissesse algo:

—Foi a Bela que me falou do tal “sentido de cupido”, achei top.

Por fim a Sarinha me falou sobre a Luísa. Na verdade, de início ela só contou o quanto estava animada por ela ter passado pra USP e ficou um bom tempo falando disso, até que eu achei uma brecha pra perguntar:

—Mas e as flechas?

Sarinha olhou pro lado meio desconfiada, parecia estar hesitando falar algo:

—É que… Eu não sei bem como explicar, e muito menos se você vai entender.

—Tenta a sorte.

—Eu vejo o quanto a Lu prioriza a vida profissional dela, sabe? Ela terminou com o Rafa pra se concentrar mais, aí eu nem lancei mais flechas nela, eu vejo o quanto isso é importante e eu sei bem que ela não se importa muito com a vida amorosa. Ela tá tão feliz, realizada, cheia de metas, objetivos… Eu só acho que um flecha agora ia atrapalhar, você sabe dos sintomas e tal. Eu sei que esperam que a gente ache o amor da vida das nossas vítimas e faça o que puder pra dar certo, mas eu quero respeitar a vontade da minha vítima, e não é errado, afinal os cupidos só padecem se as vítimas chegarem a morrer sem nunca terem se apaixonado, e não é o caso da Luísa, ela já foi flechada antes, duas vezes, então que mal tem em não ser mais, se não for o que ela quer?

Eu admirava a forma que a Sarah respeitava a Luísa e as vontades dela, mesmo que isso fosse contra o que era esperado de nós, ela era como um cupido revolucionário, era incrível.

Nossa festinha e nossos papinhos foram interrompidos pela voz do Arcanjo Gabriel, que, acompanhado de Miguel, entrou no meu quarto:

—Procuro as Cupidos Julieta e Sarah.

—Presente — respondemos juntas e rimos da nossa sincronia.

—Ah sim, vocês mesmas, Cabelinho Rosa e Cabelinho Azul. Hora de fazer as malas.

—Seu quarto no Prédio do Rio de Janeiro te espera ansiosamente — Miguel disse, simpático, olhando pra mim — e o seu, no de São Paulo — terminou, dirigindo-se à Sarinha.          

—AH NÃO! — Lola gritou histericamente e se ajoelhou na frente dos arcanjos — Só mais um pouquinho, Gabrielzinho e Miguelzinho!

Gabriel começou a rir da cara da minha amiga e Miguel pegou o braço de Lola:

—Levante-se, deixe de cena, Lola.

—Não me ensinaram a dizer adeus — Mari lamentou.

—É melhor a gente ir mesmo, cupidos. tchau, Ju — Bela disse pegando no meu ombro — eu nem acredito que vou dizer isso, mas vou sentir sua falta, foi bom ver sua evolução.

Sorri carinhosamente e a abracei: 

—Obrigada por tudo que você me ensinou.

Lola se juntou ao nosso abraço e, de repente, estávamos todas as cinco em um abraço coletivo:

—Ai, que sufocante! Vocês são malucas! — Bela protestou, acabando com a cena fofa.

Deu um abraço na Sarinha e se mandou.

Lola pegou uma mão minha e outra da Sarinha:

—Minhas consagradas anjinhas, vou sentir muito a falta de vocês, mas vamos nos ver sempre na Festa dos Serafins, uhul, uhul, uhul. Amo vocês, e você, dona Julieta Sem Romeu — ela se aproximou do meu ouvido e disse sussurrando — cuidado com seu caderninho — se afastou novamente, jogou um beijo pra nós e saiu.

— Eu tomaria cuidado, se fosse você — Sarinha disse baixinho.

Senti um calafrio.

—Só falta eu — Mari falou.

Ela deu um abraço na Sarinha e disse pra ela se cuidar no Prédio de São Paulo, Sarah agradeceu, veio me dar um abraço, disse que em breve ia me visitar no meu novo lar e saiu.

—Que bom que você foi a última — eu disse à Mari — tenho que te pedir um favor.

—A seu serviço, senhora.

—Tu lembra daquele lance dos pais da Bia?

—E dá pra esquecer?

—Pois é, eu pensei que daria pra saber o que aconteceu se a gente encontrasse os cupidos dos pais dela…

—pensei nisso também, viado!

—Sim! Só que eu tô indo pra um prédio longe e vai ficar meio difícil, você… Poderia se encarregar?

—Lógico que sim! Ainda mais agora que vou tentar passar menos tempo na terra. Ah, mana, pode confiar em mim de olhos fechados, vou conseguir e quando isso acontecer vou atrás de ti correndo.    

—Nem sei como te agradecer, Mari — abracei-a grata.    

—E nem precisa, é uma honra. E, ó, não esquece de me contar o fim da história da Bia e do Pedro que você sabe bem como eu amo. Vou cobrar! Cuida bem deles.    

Nos abraçamos novamente e ela saiu.     Finalmente fui arrumar minhas coisas pra ir embora. Lamentei não poder me despedir da Jasmim e do Alec, não sabia onde estavam e não dava tempo de procurá-los, mas fazer o quê, né?          

Enquanto organizava as coisas, comecei a ficar meio apreensiva voltando a pensar no que a  Lola e a Sarah disseram. O que elas sabiam sobre meu caderno? Será que elas tinham bisbilhotado? Acho que não, anjos devem respeitar a privacidade uns dos outros. Eu sabia que era proibido, no céu, ficar se interessando por vidas passadas, mas eu nem sabia o porquê, era uma regra boba, só pra dizer que tem, e mesmo assim, ninguém ia ficar sabendo, eu ia me cuidar, era só minha curiosidade que eu não poderia jamais ignorar. Eu estava certa.

Entrei no meu novo prédio meio insegura e encabulada, entretanto fiquei mais tranquila assim que percebi que ele era exatamente igual ao de Fortaleza. Tinha dois cupidos no saguão, eles estavam pintando as unhas, achei interessante: um era uma garota bem alta de cabelos longos, loiros e com as pontas violetas, ela usava um top de crochê, calças de tecido muito leve e sandálias douradas, ela estava pintando as unhas de violeta; o outro era um rapaz negro com um black power roxo, ele usava um macacão e tênis bem estilosos, ele pintava as unhas de roxo. Decidi deixar minhas coisas no quarto e depois voltar para cumprimentá-los, queria chegar logo dando uma de simpática, causar boa impressão.

Subi até meu quarto e deixei minhas coisas em cima da cama. Era tudo igual ao meu quarto antigo, só não era no térreo.

Antes de sair e interagir com meus novos vizinhos decidi dar uma olhadinha no meu caderno só pra lembrar onde eu tinha parado. Era no sonho, aquele sonho estranho do cemitério, eu chamava por uma tal de Claire… Era o mesmo nome que eu disse quando vi o desenho da antiga vítima da Lola! Ela tinha morrido ainda jovem, de câncer…. Então queria dizer que eu tinha tido algum tipo de relação com a antiga vítima da Lola. Eureca! Me deu uma baita vontade de sair feito louca pelo céu atrás da Lola e encher a pobre anjo de perguntas, mas me controlei, respirei fundo e saí do quarto “tenho tempo, depois faço isso, tô muito emocionadinha agora”.    

—Ah… Oi, gente — falei meio tímida, pros cupidos do saguão.    

Os dois levantaram o olhar, e neste momento eu vi que a menina tinha um olho verde e o outro castanho, e também reconheci o menino da aula do Miguel, da Preparação dos Cupidos:    

—Ei, eu te conheço! — os dois se entreolharam curiosos — você! — apontei pro menino — você que fez a pergunta lá na aula do Miguel.    

—Ah, sim! Fui eu mesmo, perguntei desse negócio de “vítima”, fiquei horrorizado naquele dia, por isso até hoje só lancei uma flecha na minha, e ele vai fazer 19 anos já. Muito prazer, sou Marcus, e essa é a Jade.    

—Eu me chamo Julieta. Tô vindo do Prédio de Fortaleza.    

—Cata essa coincidência! — Jade falou — o Marcus já morou nesse prédio aí.    

—Sério?!    

—Sim, minha vítima nasceu no Rio mesmo, mas quando tinha uns 15 anos foi para Fortaleza morar com a mãe, aí voltou depois que passou na UFRJ.    

—Ah, socorro, é por isso que eu vim pra cá, a Bia passou na UFRJ.    

Jade arregalou os olhos:    

—Bia? Mais coincidência!    

—O quê, o nome da vítima de algum de vocês é Bia?    

—Será que a Bia do Pedro é a Bia da Julieta? — Marcus falou, olhando pra Jade.    

—Pera aí… Pedro? Sua vítima se chama Pedro? — falei, me animando.    

Os dois levantaram do chão, estávamos todos ficando animados.    

—Sim! Ele se apaixonou por uma menina chamada Bia ano retrasado, quando ele fez um cursinho.    

—É A MINHA BIA!!!    

—Eu sabia que não era coincidência! Nunca é — Jade disse triunfante.    

—Não acredito! Mas, ei… — Marcus pegou minha mão rapidamente e olhou no fundo dos meus olhos — Julieta, por favor me diz que continuou lançando flecha nela, porque eu…    

Sorri contente, satisfeita, quase chorei. Era um momento sem igual aquele, tudo estava no lugar, tudo estava se encaixando perfeitamente.    

—Várias flechas.    

—Awn! — Jade disse.    

—Obrigado, Deusa! — Marcus falou olhando pro teto e me abraçou.    

—Um momento sem igual — Jade falou, juntando-se ao abraço.


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