Ao Acaso do Destino escrita por ImperatorForsaken


Capítulo 4
A primeira vez que nos beijamos...


Notas iniciais do capítulo

Oioi, gente! Demorei, mas postei. Tardei, mas não falhei.
Peço perdão pela demora com o prazo por motivos de: provas finais e copa do mundo, hehehe.
Enfim, o último capítulo pode ter ficado um pouco mais clichê que o desejado, então eu peço desculpas se isso desagradou a alguém. Não desistam de mim!
Bem, aqui está um baita capítulo, porque eu me empolguei demais! KKKK
Espero que gostem. xx



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Ainda era madrugada e Jacob já estava de pé. Não conseguiu dormir muito bem, sua cabeça estava com mil pensamentos por segundo. E todos eles voltados para Amber.

Ele conseguia reconhecer o que estava sentindo, embora há muito tempo não sentisse o gosto de um sentimento aquele. O problema eram as incertezas que vinham junto com esse sentimento. E, por mais que o sentimento pudesse superá-las, ainda era difícil de engolir.

Gostava de Amber, conseguia sentir isso à flor da pele. E, embora ela parecesse retribuir, Jacob não conseguia ver por trás daquela relação entre eles. Às vezes, pegava a si mesmo pensando na possibilidade da reciprocidade ser apenas pelo seu afeto com Jack. Poderia soar um absurdo, mas não era impossível. Jack apegou-se muito rápido a Jacob e queria sempre estar por perto, não era impossível pensar que Amber manteve-se por perto pelo garoto.

Jack era outro ponto crucial das incertezas. Jacob adorava o garoto, sentia uma importância muito grande em estar perto dele, mas sentia que não deveria avançar tanto o sinal. Não estava tentando ser um pai para ele, mas poderia ser mal interpretado. Até porque, pelo que se lembrava, Frank estava de volta e, provavelmente, tentaria correr atrás do tempo perdido. Não porque se importava com Jack e se arrependia de tê-lo abandonado, mas pelo simples fato de ter visto Amber acompanhada de outro homem. Podia parecer um julgamento equivocado, mas Jacob não tinha compaixão a oferecer a um homem que abandonou o próprio filho.

Sua incerteza em relação a Frank não era, exatamente, Amber. Ela já havia deixado bem claro que não o queria por perto, mesmo não contando seus motivos para tal decisão, era fácil de imaginar. Até evitava citar o nome dele ou conversar sobre ele. Em seus encontros com Jacob, mesmo quando ele perguntava, ela se recusava a responder, pois não queria estragar o momento dos dois. No entanto, como já dito, a incerteza não se tratava de Amber.

Frank, apesar de tudo, era o pai biológico de Jack, enquanto Jacob era apenas um grande amigo. Não havia comparações, apesar do pesares. Ainda que o sentimento de Amber fosse recíproco ao seu, se Jack quisesse seu pai de volta, nada poderia impedi-lo. Afinal, não há nada de errado em uma criança querer seu pai e sua mãe juntos. Jacob já quis, por que Jack não?

Jack era uma incógnita em relação ao pai. Nunca conversava sobre ele e Jacob nunca tentou. No entanto, conseguia ver em seus olhos a falta que fazia. Quando apresentou o futebol americano para Jack e recebeu aquele olhar de um filho, Jacob sentiu-se prestigiado. Jack era uma criança fantástica a quem ele se apegou demais. Só de imaginar Jack e Amber em torno de Frank, ainda que não o conhecesse bem, era terrível. Mas, se assim quisesse Jack, não havia dúvidas de que Amber acataria. E Jacob não gostava nem de imaginar Amber de volta para aquele homem.

Sua mãe diria que estava sofrendo por antecedência. Na verdade, Jacob queria muito saber o que sua mãe teria a dizer sobre aquela situação. Seria uma boa ideia vê-la mais tarde. Talvez ele contasse sobre Amber e Jack. Poderia até dizer o que estava sentindo... Com certeza, Rose ficaria animada com a nova notícia e iria querer conhecer a moça. E talvez não fosse má ideia.

Com a cabeça pesada de pensamentos, Jacob decidiu tomar um banho. Talvez conseguisse afogá-los no chuveiro. Deixou a água fria, pois gostava da sensação em sua pele, que logo se arrepiou inteira.

Os primeiros raios solares começavam a invadir o basculante e marcar em seu corpo, dando um tom dourado a sua pele negra. Sentiu sua alma ser lavada e todas as preocupações desapareceram, uma a uma, de sua mente. Só restou um pensamento. Apenas um devaneio, já que o dourado do sol o lembrava dos cabelos de Amber.

Estava terminando de se secar quando escutou o celular tocar lá de seu quarto. Parecia cedo demais para uma ligação, ainda mais em um dia de sábado. Ficou um pouco preocupado, mas decidiu checar primeiro do que se tratava. Quando seus olhos fitaram a tela, ele reconheceu o número de Amber.

— Desculpa te ligar tão cedo, eu... — sua voz era pura manha de sono, gostosa de ouvir. — Eu precisava falar com você.

Ele se sentou sobre a cama, respirando fundo.

— Aconteceu algo?

Amber deu uma risadinha baixa do outro lado da linha.

— Aconteceu. Na verdade, está acontecendo. — seu tom de voz era uma incógnita e só piorava o suspense. — Você me faz sentir como uma adolescente e, nossa, isso é tão estúpido, mas...

Jacob não respondeu. De relance, ele olhou para os bilhetes do jogo que havia prometido levar Jack, mas não estava pensando sobre aquilo, estava apenas na expectativa do que ela tinha para falar.

— Eu gosto de como você me faz sentir... Gosto de como você... Jacob, está aí ainda? — ela perguntou ao notar o tremendo silêncio da parte dele.

— Sim.

— Acho que eu estava tentando me segurar de fazer isso, mas quando acordei hoje, eu tive certeza de que não ia aguentar mais um minuto sem te contar que...

— Por que não conta pessoalmente? — ele a interrompeu. Seu coração estava acelerado, tentando imaginar o que ela diria. No entanto, precisava olhar nos olhos dela. Naquele momento, teve medo do que ela tinha para falar.

— Você acha melhor?

Ele ficou quieto por um instante, pensando. Então, teve uma ideia.

— Sim, eu acho. — respondeu. — E há alguém importante que eu quero que você conheça.

— Tudo bem, então. Como quiser.

Ele não conseguiu decifrar o tom de voz dela ao desligar, mas sentiu uma pontada na barriga. Estava temeroso depois daquela conversa, tinha medo do que ela podia falar e, talvez, não quisesse ouvir. Podia soar como covardia, mas a paixão se manifesta em todos os sentimentos, principalmente no medo da perda.

Apoiando o celular sobre a testa enquanto pensava, ele olhou para os ingressos novamente. Três; para ele, Jack e Amber. E ele não queria perder esse momento.

Amber não tinha noção de quem seria a "pessoa importante" que Jacob queria que ela conhecesse. Portanto, não sabia qual roupa vestir, se deveria ser formal demais ou casual. No fim, optou por um vestido mais comportado, porém justo. Tinha o caimento nos joelhos e as mangas três-quartos. Era na cor azul escura com uma pequena faixa preta marcando a cintura. Optou pelos cabelos presos em uma trança simples. Porém, seus cabelos eram lisos demais e algumas mechas escapavam do penteado.

Jack não precisou de ajuda para se arrumar. Já sabia que queria o moletom do seu herói favorito e, por sorte, estava lavado e limpo. Amber precisava mantê-lo um pouco longe da peça de roupa, ou ele não tiraria do corpo. Depois de ser arrumar, ela o encontrou na cozinha e deu a ele algo para comer enquanto esperavam a chegada de Jacob.

Amber notou um distanciamento em Jacob, mas estava tentando não tirar conclusões precipitadas. Era muito cedo quando ligou, ele poderia estar cansado e, por isso, não respondeu bem. Nesse momento, sentiu-se idiota por ligar daquela maneira. Entretanto, sonhou com ele a noite toda e quando acordou, havia um sentimento tão forte em seu peito que ela sequer conseguia respirar direito. Precisava contar a ele a verdade do que sentia por ele, mas o acontecimento acabou adiado.

Não demorou muito para que ele chegasse, bonito como sempre estava, ainda que fosse com uma roupa simples, como uma calça jeans azul e uma camisa preta. Ele saiu do carro, mas não o desligou, deixando-o pronto para a partida.

Amber tentou não tirar conclusões precipitadas, mas ele estava mesmo quieto. Em relação a Jack, estava normal. Recebeu-o com o costumeiro toques de mãos e bagunçou seus cabelos. No entanto, quando veio até ela, pareceu incerto. Abraçou-a de forma breve e sussurrou apenas um cumprimento, antes de conduzi-la ao carro. Definitivamente, Jacob estava diferente.

Ela decidiu não perguntar quem iriam visitar, porém precisava admitir que a curiosidade era uma arma violenta. Por isso, o caminho só não foi um tremendo silêncio porque Jacob e Jack estavam conversando. Ele o perguntou sobre a escola e sobre suas notas, depois Jack disse que assistiu um jogo na televisão e entendeu tudo, mas que queria ter assistido com ele. Jacob sorriu.

Amber apenas observava os dois de esguelha. Fingia prestar atenção na estrada, mas estava acompanhando a conversa em silêncio. Era tão interessante ver a forma como os dois se entendiam e se gostavam. O relacionamento de um pai com um filho deveria ser daquela forma. Entretanto, Amber se forçou a parar de comparar o relacionamento dos dois com algo paternal. Não queria soar pretensiosa e fazer Jacob achar que estava jogando essa responsabilidade para ele.

O caminho tornou-se mais silencioso e Amber não conseguiu mais segurar a curiosidade. Até porque precisava conversar com Jacob, estava sentindo um abismo se criando entre os dois e aquilo não só incomodava, machucava.

— Então, quem é a pessoa importante? — ela perguntou, mexendo na própria pulseira em seu braço para conter a ansiedade.

Jacob comprimiu os lábios.

— Não conseguiu adivinhar? — o olhar manteve-se na estrada, mas conseguia sentir o olhar dela sobre si. — A pessoa importante de todo mundo é a mãe.

Ela arqueou as sobrancelhas, sem conseguir conter um sorriso.

— Sua mãe? — desconcertada, ela passou a mão sobre o rosto. Ela sempre fazia esse gesto e a cada vez significa uma emoção diferente. — Estou me sentindo importante agora. E nervosa também.

Jacob sorriu diante da expectativa dela e seu coração se acalmou um pouco.

— E o seu pai? — Jack perguntou, de repente. — Vamos conhecer seu pai também?

Amber olhou para trás, um pouco abismada com a pergunta do filho. Depois, olhou para Jacob, que deu de ombros.

— Sinto muito, Jack, mas eu mesmo não o conheço direito. Não posso e nem devo apresentar vocês a um desconhecido. — foi sincero, mas sua expressão era um enigma.

Amber ficou aliviada por ele ter sido sincero, mas ainda estava afobada com a surpresa da pergunta. Jack suspirou e ajeitou-se no banco. Acharam que não haveria uma resposta, mas foram surpreendidos.

— Está tudo bem, eu também não conheço o meu pai, mas ele não é importante também.

Jacob e Amber se entreolharam, ambos pensando no que dizer, mas não conseguiram encontrar resposta. Era a primeira que Jack falava abertamente sobre o pai. Não pareceu chateado ao citar o assunto, estava até muito tranquilo.

O clima poderia ter ficado estranho, mas não houve tempo. Logo depois, Jacob estacionou o carro em frente a uma casa pequena. Não demorou para que a porta da casa revelasse uma senhora baixinha, com longos cabelos trançados em volta de sua silhueta.

— Ela está à nossa espera? — Amber perguntou, antes de sair do carro.

— Na verdade, ela sempre reconhece o som do carro e me espera na porta. Está sendo tão surpreendida quanto vocês.

Rose esperava a aproximação do grupo com um sorriso cheio de expectativa. Quem era aquela mulher? E aquele garotinho? Havia alguma remota chance de Jacob ter tido um filho e só descoberto agora? Eram muitas perguntas. Ela ficou preocupada por um momento, mas percebeu que era melhor esperar por eles.

Jacob a abraçou com cuidado e beijou o alto de sua cabeça, em seguida, Jack estendeu o bracinho.

— Esse é Jack, mãe. Meu novo amigo. — comentou sorrindo.

— Sua mãe tem um cabelo legal, Jacob.

Eles riram e Rose acariciou os cabelos do garotinho, agradecendo. Depois, Jacob o manteve próximo, sentindo-o segurar suas mãos. Então, Amber se aproximou, com um sorriso radiante.

— Esta é Amber, mãe de Jack. — anunciou enquanto via as duas se cumprimentarem. — Vocês duas tem bastantes coisas em comum. E, bem, eu queria que você conhecesse a Amber.

O sorriso de Rose se estendeu, estampando seu rosto com esperança. Estava mesmo vendo aquele brilho no olhar de seu filho? E o melhor, parecia recíproco por Amber.

Sem mais delongas, Rose os convidou para entrar e se acomodarem. Amber percebeu que seu coração estava acelerado. Estava mesmo conhecendo a mãe de Jacob, isso significava um avanço naquela relação? Bem, ela esperava que sim.

Jack não se sentou, permaneceu rodeando Jacob, enchendo-o de perguntas. Perguntava se Jacob havia morado ali, onde ficava o quarto dele e, até mesmo, se ele teve animais de estimação. Jacob respondia a todas pacientemente, já imaginando quantas coisas poderia mostrar para ele naquela casa.

Era uma casa pequena, assim como a de Amber. No entanto, a estrutura era diferente. A sala ocupava toda a entrada, então vinha o corredor que dava para os quartos e o banheiro e, no fim, a cozinha com uma porta para o quintal, onde Jacob cresceu brincando.

Rose observava os dois conversando e não conseguia conter um sorriso. Jacob parecia tão especial para aquele garotinho. Por que não foram apresentados para ela antes?

Ela olhou para Amber e, por um momento, viu a si mesma naquela mulher sentada, apesar das diferenças. Quando Jacob comentou sobre ambas terem bastante coisas em comum, Rose já sabia o que significava. Assim como ela e várias outras mulheres, Amber também era mãe solteira. E mesmo que Jacob não comentasse, sempre é possível perceber o brilho no olhar de uma mãe que batalha sozinha para dar ao filho tudo o que pode.

No entanto, quando resolveu conversar com ela, não quis puxar esse assunto. Quis falar sobre outro brilho no olhar. O brilho de quando ela olhava para Jacob, seu filho.

— Então, qual é a sua relação com o meu filho? — perguntou subitamente, em tom alto.

Amber passou a língua sobre os lábios e olhou para Jacob.

— Bem, isso depende dele...

Rose deu uma risada gostosa, que relaxou Amber.

— Uau, direta! Gostei dela!

Jacob deu um sorriso desconcertado, mas não respondeu. Pelo contrário, chamou Jack para brincarem no quintal. Ao perceber o silêncio dele, a expressão de Amber murchou. Ele estava mesmo distante. Rose também percebeu, por isso, resolveu trocar de assunto.

— Seu pequeno é idêntico a você. — comentou, depois que Jacob o levou para fora.

— Ainda bem, fico feliz de saber disso. — ela deu um sorriso aliviado.

— Fique mesmo! Nada pior do que carregá-lo durante nove meses, ficar inchada e com dores, fazer xixi até dando risada, para ser a cara do pai quando nascer. — gesticulou, acenando com a cabeça, como se apontasse para Jacob. Amber começou a rir.

— Não sei se eu conseguiria lidar com essa injustiça...

Ambas deram risadas juntas, descontraindo o encontro. Amber já não estava mais tão nervosa em conhecer a mãe de Jacob. Já sabia de quem ele puxou tanta simpatia.

Rose respirou fundo, prestando atenção em Amber. Queria conhecer mais sobre aquela mulher que atraiu a atenção de seu filho. Ela deveria ser, no mínimo, interessante.

— Sei que não está aqui para falar desse tipo de assunto, mas estivemos na mesma situação... Como está sendo?

Amber abaixou o olhar, mas não por não querer falar do assunto. Pelo contrário, era bom ter alguém que passou pelo mesmo para conversar. Podia ser sincera e admitir as dificuldades. Quando comentava a verdade com pessoas alheias a sua situação, em geral, elas faziam Amber se sentir culpada por não conseguir aguentar sempre o peso de criar um filho sozinha. Com Rose, mesmo não conhecendo-a suficiente, sabia que não seria julgada, porque ela também sentiu o mesmo peso.

— Difícil. Eu me sinto sufocada diante de tanta responsabilidade. É muito difícil, algumas vezes eu acho que não vou ser capaz de conseguir...

A mãe de Jacob sorriu compreensiva, admirando a sinceridade dela.

— Mas você consegue. Nós sempre conseguimos, porque nós, mulheres, somos capazes de qualquer coisa, inclusive criar um filho. Somos forte, por isso a natureza nos escolheu para gerarmos a vida.

Os olhos de Amber brilharam diante daquele comentário. Era como sentir novas forças em seus músculos ter o apoio de outra mulher em uma situação como aquela.

— É um bom jeito de ver a vida...

Rose notou que ela era quieta, reservada. E isso não era um defeito. Talvez, fosse assim por culpa do abandono e da negligência de um homem. Imaginou o quanto não estaria sendo complicado para ela deixar outro homem se aproximar e entrar em sua vida. Coisa que Rose, particularmente, nunca conseguiu fazer.

— Mas então, vamos ao que interessa... — seu sorriso malicioso entregou a intenção. Sem mais delongas, ela queria as fofocas. — O que há entre você e o meu Jacob? Porque, para ser honesta, pelo que me lembro, você deve ser a primeira mulher ele traz para me conhecer. Você deve ser especial...

Um sorriso iluminou não só os lábios, mas como os olhos de Amber.

— Você acha? — ela não conseguia segurar a emoção. — Acha que sou especial para ele?

— Sim, eu acho. Não só por isso. — apontou para si e para Amber, sinalizando aquele encontro. — Eu consigo sentir, no jeito ele olha e fala com você.

O sorriso já não permanecia estampado no rosto de Amber, pois ela já não conseguia sustentá-lo depois de lembrar da distância entre eles. Não sabia o motivo e, talvez, tivesse medo de saber. Não queria que Jacob se afastasse e não sabia o que fazer. Percebendo o súbito desânimo da mulher, Rose prosseguiu:

— Mas também acho que é difícil para ele demonstrar isso. Sabe, ele é durão, grande e forte, mas mesmo que, no fundo, ele seja doce e gentil, ele ainda é homem. E você sabe como é essa baboseira de sentimentos para os homens. — Rose revirou os olhos, fazendo Amber rir.

— Sim, eu sei.

— Acho que para ele ainda mais, principalmente. Ele sempre foi um garoto solitário... Não era nada do que você vê hoje em dia. Inclusive, se o visse quando mais novo, jamais imaginaria que ele se tornaria esse homem... E como um garoto sem pai cresce para se tornar um homem?

Amber abaixou a cabeça, concordando. Esperou alguns segundos, então respirou fundo e quando tornou a erguer a cabeça, abriu o jogo:

— Eu estou apaixonada por ele.

— Oh, estava esperando por isso! — ela pareceu empolgada, juntando as mãos sobre o colo.

Amber aproveitou e pegou a brecha para desabafar.

— Mas eu não sei o que fazer, porque... Eu não tenho feito nada da minha vida, além de me dedicar ao Jack, e eu tenho tanto medo de que o Jacob ache que eu vá empurrar essa responsabilidade para cima dele também... Porque, afinal de contas, eu ainda sou uma mulher, um indivíduo, e eu não me resumo só ao meu filho...

Rose completou a fala dela:

— Mas os homens sempre tendem a achar o contrário. — sua face era pura compreensão. Então, ela se curvou até alcançar Amber e tocar sua perna. — Conte a ele. Diga o que está sentindo, mostre a ele que tem seus desejos e vontade e que ele faz parte disso. Ele deve estar se esquivando por achar que você está sustentando essa relação pelo afeto que o garoto criou por ele. Mostre a ele o contrário.

Amber sorriu. Rose estava certa, só precisava agir, mostrar a ele que o queria. Não só como um ótimo amigo de Jack, mas como algo além de um amigo para ela.

Antes que pudesse agradecer pelos conselhos, Jack apareceu correndo e sorridente, carregando dois bilhetes em mãos.

— Mamãe! Jacob comprou os bilhetes para o jogo de hoje! Posso ir? Posso ir? — ele estava todo saltitante, mas também estava todo suado.

Logo atrás dele, surgiu Jacob, com um sorriso apaixonante. Escorou-se na parede, observando as duas.

— Ensinou ele sobre futebol? — Rose perguntou, franzindo o cenho. Jacob anuiu. — Uau.

Jack quase se pendurou em sua mãe, implorando para que ela deixasse. Amber fez expressão de pensativa para aumentar o suspense, mas acabou cedendo.

— Claro que pode. Jamais negaria isso a você.

Ele saiu comemorando em direção a Jacob, que estava prestando atenção em sua mãe e Amber. Tentou imaginar o que elas conversaram. Era seu plano inicial deixar as duas conversando sozinhas, pois o que saísse daquela conversa, provavelmente, iria definir a relação dos dois. Não pela possibilidade de sua mãe não gostar dela, mas pelo que diria a seguir. Confiava no que sua mãe tinha para dizer. Ela saberia dizer se sua insegurança era real ou apenas besteira.

— Bem, por que não continuamos a conversa na cozinha? Podemos tomar um café ou uma água. E há biscoitos para Jack! — Rose sugeriu, erguendo-se da cadeira.

— Se não for incomodo. — Amber balançou os ombros e Rose descartou o comentário ao abanar a mão direita.

Induziu Amber e Jack a irem para cozinha, mas manteve Jacob na sala, conseguindo um momento a sós com o próprio filho. Ele não hesitou, estava esperando por aquele momento. Todo aquele encontro serviu para aquele propósito. E, também, porque duas grandes mulheres precisavam trocar experiências.

— O que achou dela? — ele perguntou, puxando o assunto.

— Não. O que você acha dela? Porque ela gosta de você. E não gosta só por você ser carinhoso com o filho dela. Há paixão naquela mulher e você não ouse desperdiçar essa chance.

Jacob sorriu aliviado, envolvendo o braço nos ombros da mãe.

— Ainda bem que eu escuto aos seus conselhos, não é, mãe?

Rose suspirou, puxando-o para a cozinha. No entanto, ele não se sentou sobre a mesa. Foi até Amber e tocou seu ombro, quando ela deu atenção, ele indicou que queria conversar. Mais do que depressa, ela se levantou e o seguiu, de volta a sala.

— O que foi?

Ele passou a língua sobre os lábios.

— Por que não vem ao jogo comigo e Jack?

Amber franziu o cenho, suspirando. Depois, ajeitou os cabelos atrás da orelha.

— Eu não sei, não queria me intrometer no momento de vocês dois...

Assim, ele apresentou a ela o terceiro bilhete.

— Bem, eu estava pensando que poderia ser um momento nosso também...

Ela sorriu animada, tomando o bilhete entre os dedos. Eles se entreolharam e ela não precisou dar nenhuma resposta verbal para anunciar que aceitava o convite.

Depois de um dia agradável na companhia de Rose, mãe de Jacob, Amber passou o dia pensando sobre o encontro enquanto esperava o horário do jogo começar. Deixou que Jack descansasse pela tarde, por ter acordado cedo, para que aguentasse ficar acordado durante o jogo. No entanto, mesmo estando acordada desde muito cedo, Amber não conseguiu parar para descansar. Estava agitada, tanto pelo encontro com Rose quanto pelo sentimento em seu peito.

Resolveu arrumar a casa, mesmo que não aparentasse bagunça alguma. Ela precisava fazer alguma coisa para que a hora passasse mais rápido. Enquanto isso, ela tentava pensar em alguma forma de contar a Jacob o que sentia. E não deixaria a chance escapar, precisava dizer a ele. Não aguentava mais esperar para avançar aquele sinal. Estavam dando um passo de cada vez, mas haviam chegado em um momento crucial em que precisavam decidir cruzar a linha entre amizade e romance, e Amber estava decidida. Precisava saber se ele também estava.

Conforme a hora foi passando e o momento do encontro se aproximando, Amber terminou de fazer suas tarefas e começou a se preocupar com as vestimentas. Como ela não era grande torcedora e só acompanhava seu pai, qualquer camisa de time que tivesse estava na casa dele naquele momento. Com Jack não era diferente, como nunca entraram em contato com futebol antes, Amber nunca pensou em comprar nada relacionado ao assunto para ele. No entanto, Jacob já estava introduzindo Jack há algum tempo no esporte e Amber errou em não ter comprado nem mesmo uma camisa.

Jack estava eletrizado quando acordou. Assim como Amber, estava contando os minutos, torcendo para as horas passarem mais rápidos e que a noite chegasse logo. Ela nunca o viu tão animado para algum compromisso. Não parava de falar sobre o time, tentando imaginar qual seria o placar. E Amber estava adorando, por isso, continuava instigando-o a continuar se expressando. Era tão bom ver aquela felicidade toda em seu pequeno.

Claro que ela também estava ansiosa, mas não era pelo propósito oficial do encontro. Queria estar de novo com Jacob, desfrutar da companhia dele e, quem sabe, elevar aquela relação de amizade para algo mais amoroso. Estava decidida a investir naquela possibilidade. No entanto, assim como Jack, também era a sua primeira vez em um estádio de futebol. Não podia negar que estava animada para essa experiência.

Quando Jacob chegou, Jack fez uma festa. Ele simplesmente não conseguia se controlar e Amber já havia desistido de tentar. Até porque era um verdadeiro pecado impedir a felicidade daquele garotinho. Era difícil imaginar o que aquilo significava para Jack, mas, com certeza, era importante.

Jacob o recebeu na mesma intensidade, empolgando-o ainda mais. Ele estava todo arrumado de acordo com o passeio. Até seu boné era condizente ao time, mas ele fez questão de tirá-lo e dar a Jack, mesmo que ficasse grande em sua cabeça. Parecia impossível que Jack ficasse ainda mais feliz, mas quando Jacob deu seu boné a ele, seus olhos brilharam como grandes estrelas.

Amber não se importou muito em não estar com uniforme, estava mais satisfeita em ver seus rapazes estilizados. E a cor roxa combinava muito bem com Jacob! E, por falar nele, seu coração estava aos pulos diante da presença dele. Quando ele se aproximou e a recebeu com um abraço, Amber teve de respirar fundo para controlar o leve tremor de suas pernas.

— Hoje eu posso tomar refrigerante? — Jack perguntou quando entraram no carro.

— Hoje você pode, mas só hoje! — Amber respondeu, ajeitando-o.

O caminho até o estádio foi pura alegria. Ela sequer teve tempo de lembrar que Jacob esteve distante durante todo o dia. Ele passou o caminho inteiro ensinando Jack o grito de guerra do time, para que pudessem gritar juntos na arquibancada. Até mesmo Amber entrou na brincadeira, impressionando Jacob ao saber a entonação.

Como era início de temporada e os jogos eram apenas estreias, nenhum clássico garantiu um estádio lotado. Seria algo mais casual, mas não havia problema. Jacob ficou até aliviado, pois estádios muito lotados costumavam dar confusões e ele não queria enfiar Amber e Jack em um ambiente ruim.

Seus lugares eram privilegiados na arquibancada, ficavam bem no meio. Mesmo assim, Jack sentia-se baixinho demais para acompanhar qualquer coisa. Então, para completar sua felicidade, Jacob o tomou nos braços e o colocou sentado sobre seus ombros. Naquele momento, não houve garoto mais feliz naquele estádio.

Antes de o jogo começar, Amber se voluntariou para comprar as bebidas. Permitiu a si mesma acompanhar Jacob para beber cerveja e realizou o desejo de Jack de tomar refrigerante.  Quando retornou ao seu assento, percebeu que o estádio começava a lotar e o jogo estava prestes a começar. Sentiu-se animada para assistir o jogo. A experiência de assistir ao vivo era muito melhor do que pela televisão e, até ela que não era a maior fã, estava empolgada.

O jogo começou muito bem para os Ravens contra os Steelers, sendo a maioria do estádio nas cores de Baltimore. Jacob e Jack já estavam imersos no jogo, enquanto Amber estava mais acanhada. Apenas assistia, embora seu olhar furtivo sempre fugisse para o rosto de Jacob, concentrado ao torcer. Gostava das expressões que ele fazia, mais ainda de quando sorria.

Quando as pontuações começaram a se comparar, Amber conheceu um outro Jacob. Parecia um garoto novo, excitado ao torcer por seu time, tentando incentivá-los da arquibancada. Sobre seus ombros, Jack tentava imitá-lo, encantado com sua torcida. Era a cena mais bela que Amber presenciou durante muito tempo. Poderia observá-los daquele jeito para sempre. Naquele momento, não torceu apenas para que os Ravens ganhassem, mas também torceu para Jacob permanecer sempre em sua vida.

Percebendo os olhares de Amber, Jacob não escondia os sorrisos. Ela parecia nem estar prestando atenção ao jogo e isso o deixava um tanto desconcertado, porém feliz. Estava mais aliviado desde o encontro com sua mãe. Havia se distanciado um pouco depois da ligação, e durante o dia, por medo e insegurança. Por algum motivo, imaginou que ela teria algo negativo para dizer. Algo sobre se afastar para não iludirem Jack, já que Frank estava volta. Algo estúpido que sua mente inventou. No entanto, diante daqueles olhares dela, percebeu que só poderia ser coisa boa.

Em determinado momento, ele deixou que sua mão encostasse na dela, obtendo um contato breve. Amber não perdeu tempo e entrelaçou seus dedos nos dele, mantendo as mãos unidas durante todo o restante do jogo, até para comemorar os pontos.

Apesar da felicidade do trio, o jogo terminou com um sentimento mais amargo por conta do empate. Mesmo assim, nada desmanchou o sorriso de Jack, que ainda estava sobre os ombros de Jacob. Ele estava comentando tudo o que conseguia lembrar e Jacob o incentivava, comentando por cima.

— Você viu quando o cara do nosso time desviou de todo mundo? Ele parecia um ninja! — Jack comentou em tom alto, fazendo Jacob rir e concordar.

Amber prosseguia ao lado de Jacob, acompanhando-o até o carro, preparando-se para irem embora. As mãos ainda estavam unidas, apertadas uma contra a outra, se recusando a se soltar.

O caminho de volta foi tão alegre quanto o de ida. Amber não conseguia parar de rir com as brincadeiras entre Jack e Jacob. Quando olhava para eles, pegava-se imaginando Jack adolescente, acompanhando Jacob nos jogos. Era uma cena um tanto quanto ilusória, mas gostosa de imaginar.

Amber torceu para que o caminho de volta para casa demorasse mais do que o necessário. Aquela noite estava tão boa e ela não queria se despedir de Jacob. No entanto, o destino final chegou e ela ainda não havia tomado coragem de dizer a ele sobre sua paixão. Por isso, conforme o momento da despedida se aproximava, Amber tomou uma decisão. Estava na hora. Precisava contar a ele naquele momento ou não contaria mais.

Então, quando estava ajudando Jack a sair do carro, ela virou-se para Jacob.

— Posso conversar com você? — ela pediu, parecendo séria. — Eu só vou colocar Jack em casa e volto.

Ele apenas concordou e decidiu sair do carro também, para esperá-la. Jack fitou bem a expressão da mãe. Era o tipo de coisa que ela falava quando ele tinha aprontado algo. Será que Jacob tinha feito algo errado?

O nervosismo apossou Jacob, fazendo-o se sentir um moleque inseguro que não sabia lidar com mulheres. Ele caminhou para longe do carro, pelo gramado até o degrau da porta de entrada da casa de Amber. Então, resolveu sentar-se para esperá-la. Nesse tempo, sua cabeça tentava imaginar o que ela queria dizer. Deveria ser algo bom, mas sua insegurança insistia em algo negativo.

Não demorou para que ela retornasse. Aproveitando que ele estava sentado, juntou-se a ele. Seu ombro roçava no dele e o toque só fazia seu coração acelerar ainda mais. Precisava falar. Urgente.

Eles pareciam um casal de bobos, sentados lado a lado, esperando que a conversa se iniciasse. Então, Amber respirou fundo e tomou coragem:

— Eu precisava falar com você, porque estou me sentindo sufocada e não aguento mais guardar isso para mim. Eu não sei, mas você pareceu evitar o assunto durante todo o dia e... — aproveitou o momento e girou o corpo, ficando de frente a ele, ainda sentada. — Eu preciso saber se você se sente do mesmo jeito que eu me sinto, porque eu quero que você saiba...

Ele a interrompeu sutilmente.

— E como você se sente? — perguntou, olhando-a nos olhos.

Amber parou com os lábios entreabertos, sentindo o olhar dele no seu. E que poder aquele olhos negros tinham sobre seu corpo. Sempre achou que borboletas no estômago fossem contos de fadas, mas conseguia sentir cada uma delas voando em sua barriga, causando calafrios. Ela suspirou profundamente. Sentiu que poderia morrer feliz diante daquele olhar.

— Eu estou perdida e completamente apaixonada por você. — disse, baixinho, mas disse. — E eu só queria que você soubesse...

— Tudo bem, então, eu vou beijar você agora. — anunciou, finalmente.

Ela pareceu não acreditar naquela resposta, mas apenas sorriu e fechou os olhos, esperando o grande momento acontecer. E aconteceu.

Por muito tempo, Amber idealizou aquele beijo e foi melhor do que ela havia esperado. O beijo de Jacob era calmo e envolvente. Causou arrepios por todo seu corpo. Suas pernas e mãos tremiam como a de uma menina que beija pela primeira vez. E quem dera se o primeiro beijo fosse como aquele. Os lábios dele pareciam o encaixe perfeito para o seu.

Jacob segurava sua nuca e conduzia o beijando, fazendo-a suspirar baixinho, entre os estalos dos lábios. Ela precisava manter as mãos sobre os ombros deles, pois sentia-se nas nuvens e precisava se apoiar para não cair. Eles separaram os lábios por um momento e sorriram. Amber encostou a testa no rosto dele por um instante, mas não demorou até voltarem a se beijar por mais um tempo. Queriam aproveitar o que demorou tanto a acontecer.

Da janela, bem escondidinho e na ponta dos pés, Jack observava os dois se beijarem. E quieto para não atrapalhar, ele comemorou mais do que uma vitória do time.

 


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Notas finais do capítulo

O jogo foi de futebol, mas a vitória foi nossa. Baita beijão, bicho! Beijão da porra!
Tô só o Jack comemorando, tava louca para esse capítulo chegar. Agora vai, oh o casalzão vindo, moleque!
Gente, não tem jeito, eu adoro demais futebol americano KKKK não me xinguem por sempre apresentar um pouco do esporte nas histórias.
Espero que tenham gostado. xx



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