Law(ve) escrita por Clara Gomes


Capítulo 3
Capítulo 3 – Bagunça na Cozinha.


Notas iniciais do capítulo

Olá gente, tudo bem? Aqui vamos nós com o capítulo da terceira semana. Espero que estejam gostando, e que não estejam confusos quanto às narrações. Mas se estiverem, podem me avisar que eu indico explicitamente no começo do capítulo quem está narrando.
Boa leitura!



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A primeira vez que cozinhamos juntos.

 

— Harvey, posso falar com você sobre o caso da... – Mike, um dos Sócios Júnior e meu melhor amigo, adentrou minha sala, mas foi interrompido por mim.

— Não Mike, não pode. Eu tenho planos para hoje à noite, já estou de saída. Qualquer coisa que seja, pode esperar até amanhã. – rebati, nem um pouco interessado no que ele tinha a dizer.

— O que deu em você essa semana? – franziu o cenho, olhando-me confuso – Desde segunda-feira eu estou tentando falar com você sobre isso, mas aparentemente você nunca tem tempo.

— Estou trabalhando num caso de assédio sexual, e estou me dedicando inteiramente nele. – expliquei, na tentativa de fazê-lo deixar-me em paz.

— E desde quando você pega esse tipo de caso, e se dedica inteiramente a ele? – indagou, parecendo impaciente.

— Desde quando a imagem da firma precisa melhorar, e representando uma atriz famosa num caso de assédio vai ajudar com isso. Sem contar que é do melhor interesse de um de nossos clientes. Agora, se você já acabou de questionar minhas decisões profissionais, eu gostaria de chegar no compromisso que marquei hoje. – respondi, perdendo a paciência com o garoto. Nós éramos amigos muito próximos, mas às vezes ele conseguia me tirar do sério.

Passei por ele rapidamente e deixei a sala, caminhando até o elevador, torcendo para não topar com mais ninguém. Encontrei meu motorista já me esperando do lado de fora, e em poucos minutos ele me deixara em meu apartamento. Tomei um banho rápido e escolhi uma roupa um pouco menos social para a ocasião, além de me carregar do melhor perfume que possuía. Peguei uma garrafa de vinho que estava guardando na geladeira para aquela noite em especial, coloquei o casaco e desci para a rua, pedindo um táxi.

Algum tempo depois, eu finalmente estava em frente ao prédio em que Donna Paulsen estava ficando naqueles dias. Nós havíamos combinado de discutir mais sobre o caso ali mesmo em sua casa, para que ela não saísse dali porque era muito arriscado, já que a bomba tinha estourado e todos estavam sabendo das acusações de assédio que ela fizera contra o diretor de cinema.

Respirei fundo e desci do carro, sendo cercado por vários jornalistas e paparazzi, que fotografavam e faziam um milhão de perguntas ao mesmo tempo. Abaixei a cabeça e empurrei a multidão, até finalmente conseguir tocar a campainha do apartamento, que foi atendida por um dos seguranças, que logo deixou-me entrar.

— Você está bem? – questionou Donna, estudando-me com o olhar.

— Estou. – respondi, retomando o fôlego, que logo foi tirado de mim novamente quando reparei na mulher, que estava maravilhosa em um macacão preto, que ressaltava bem suas curvas. Eu sabia que não podia reparar em tais coisas, afinal estava a representando em um caso de assédio sexual, então que tipo de advogado se envolve com alguém assim? Mas eu não podia negar que ela era uma mulher muito atraente – Eu trouxe vinho. – ergui a garrafa com um sorriso no rosto, me recompondo de meu momento de distração.

— Esse também vai ser o melhor vinho que tomei na minha vida? – perguntou com uma pitada de ironia.

— O segundo melhor. Aquele do restaurante ainda consegue ser mais gostoso. – dei de ombros, arrancando uma risada da mulher.

— Okay, mestre dos vinhos. Vamos até ali na cozinha, estou preparando alguma coisa para jantarmos. – chamou-me com a cabeça, seguindo pelo corredor.

— Você cozinha? – indaguei surpreso, erguendo uma sobrancelha.

— É claro. – respondeu como se fosse óbvio.

— Quer ajuda? – ofereci, colocando a garrafa de vinho sobre o balcão da cozinha americana, e arregaçando as mangas da camisa que usava.

— Você cozinha? – imitou o tom que eu usara anteriormente, também surpresa.

— É claro. – também imitei sua resposta, desafiando-a com o olhar.

— Você pode picar aqueles ingredientes, então. – apontou para algumas folhas e tomates.

— É um prazer. – sorri e lavei as mãos na torneira, começando a fazer o que ela pedira.

Era como se nós já tivéssemos feito aquilo incontáveis vezes. A sincronia era impressionante, e tudo estava dando muito certo. Entre risadas e conversas paralelas, finalmente finalizamos tudo, deixando a carne que preparamos no forno.

— Agora, temos que fazer a sobremesa. – afirmou, começando a colocar alguns ingredientes sobre a pia.

— Fazer doces não é comigo. – neguei com a cabeça, lembrando-me da última vez que tentara fazer um bolo, anos atrás.

— É sempre bom aprender coisas novas. – sorriu desafiadoramente – E hoje você vai aprender a fazer Petit Gâteau. Vamos lá, pegue dois ovos e bata com açúcar na batedeira. – apontou para as coisas.

— Eu tenho que quebrar os ovos? – perguntei, sem conseguir esconder minha insegurança.

— Não, jogue tudo na batedeira e bata com casca e tudo. – respondeu sarcasticamente, fazendo-me revirar os olhos – É claro que tem que quebrar os ovos.

— A questão é que eu não sou nenhum pouco bom nisso. – ignorei sua brincadeirinha, praticamente implorando-a com o olhar para me liberar daquela tarefa.

— Então o Harvey Specter está mostrando insegurança? Parece que não se pode ser bom em tudo no final das contas, uhn? – zombou, pisando no meu calo. Eu não a deixaria falar assim de mim...

— Dê-me os malditos ovos. – fechei a cara, e a mesma colocou os ovos em minhas mãos. Peguei um deles e, cego pelo nervoso que estava sentindo, bati-o com muita força contra a quina da pia, espalhando clara e gema por todo o chão, arrancando uma gargalhada da mulher.

— Muito bom, Sr. Confeiteiro. – disse em meio às risadas, mas eu apenas ignorei.

Peguei o outro ovo e bati levemente contra a pia, não conseguindo nem ao menos rachar a casca. Tentei novamente, sem sucesso. Na terceira vez, já um pouco impaciente, aconteceu a mesma coisa que com o anterior, sujando ainda mais o chão.

— Okay, acho melhor você fazer outra coisa. – Donna empurrou-me dali, cuidadosa para não pisarmos na bagunça que eu fizera no chão – Vá ali e derreta aquelas gotas de chocolate meio amargo com a manteiga em banho maria. Duas colheres de manteiga, pelo amor de Deus.

Assenti aliviado e fui fazer o que ela ordenara. Após alguns minutos, o chocolate estava totalmente derretido, então perguntei o que tinha que fazer depois.

— Junte com duas colheres da farinha de trigo e misture com aquela espátula. – respondeu, fazendo alguma das etapas da receita.

Peguei o saco de farinha, sentindo o nervosismo bater novamente. Cortei a boca dele, já derrubando um tanto na pia e no chão, mas tentei fingir que nada estava acontecendo. Com certa dificuldade e ainda derrubando um pouco, coloquei as duas colheres como o indicado. Foi quando a mulher se aproximou mais para observar meu serviço, e eu comecei a mexer com a espátula. No entanto, logo na primeira mexida, eu errei um pouco na força, fazendo metade da farinha voar em nossos rostos e roupas, deixando-nos completamente brancos.

— Okay, talvez não tenha sido mesmo uma boa ideia pedir sua ajuda com a sobremesa. – falou Donna, enquanto eu tentava limpar o pó de meus olhos – Pode limpar-se ali no lavabo do corredor, eu termino tudo aqui.

— Eu sinto muito... – pedi, um pouco envergonhado pela situação.

— Só vá. – retrucou, e assim o fiz.

Depois de um certo tempo, finalmente estávamos ambos limpos e apreciando o jantar, enquanto os bolinhos assavam. Ficamos em silêncio durante grande parte da refeição, apenas tendo como som de fundo os talheres e nossas mastigadas.

— Eu não sabia que sua pele não era um terno. – brincou a ruiva, quebrando o silêncio que já se tornara um pouco constrangedor.

— Às vezes eu troco de pele. Como um lagarto. – dei de ombros, entrando na onda de sua piada.

— Você sabe que está mais para cobra mesmo, certo? – ergueu uma sobrancelha.

— Vou fingir que você não acabou de duvidar da minha moral e jogou isso na minha cara. – falei antes de dar minha última garfada na carne – Estava maravilhoso, meu toque fez toda a diferença.

— Não poderá dizer o mesmo dos bolinhos. – zombou, fazendo-me revirar os olhos.

— Vamos superar isso, por favor.

A mulher levantou-se e retirou os pratos, demorando um pouco na cozinha. Aproveitei esse tempo para checar as mensagens em meu celular, que basicamente eram do pessoal da firma atrás de mim, então ignorei todas. Alguns minutos depois, ela voltou com dois pratos com um bolinho e uma bola de sorvete de creme cada, acompanhados de uma calda de chocolate e uma folha de hortelã para enfeitar.

— Que horas algum restaurante veio entregar isso e eu não vi? – perguntei de brincadeira, impressionado com o capricho.

— Se esse não for o melhor Petit Gâteau que você já comeu, pode se demitir como meu advogado. – imitou minha frase, fazendo-me rir fraco. Peguei uma colher e provei do doce, sentindo um quase orgasmo culinário.

— Eu definitivamente sou seu advogado. – disse de olhos fechados, apreciando o sabor – Você é muito boa nisso.

— Eu sei. – deu de ombros, também provando de sua receita – Está mesmo espetacular.

— É, está. – concordei, mas não falando exatamente do bolinho. Eu estudava seu rosto com atenção, de certa forma encantado pelas qualidades da mulher. Foi quando ela notou meu olhar que eu o desviei, tentando disfarçar meu momento de distração novamente.

Continuamos saboreando o resto da sobremesa em silêncio, e, algum tempo depois, estávamos sentados nos sofás da sala, bebendo o resto do vinho que sobrara na garrada.

— Então, agora vamos para o que realmente eu vim fazer aqui. – afirmei seriamente, um pouco tenso pelo o que teria que dizer – Donna, você terá que me contar o que aconteceu. – encarei seus olhos, um pouco sem graça. Confesso que uma grande parte de minhas atitudes até ali foram para fazê-la sentir-se confortável comigo, pois era um procedimento padrão para ganhar a confiança de mulheres que haviam sofrido de assédio ou estupro, para que assim elas falassem sobre o assunto com pelo menos menor dificuldade.

— Eu sei. – assentiu, abaixando a cabeça – Só não queria que esse momento chegasse.

— Donna, eu sei que é delicado, mas você pode confiar em mim. Nada que você disser aqui será divulgado, é tudo protegido pelo sigilo de cliente-advogado. – coloquei minha mão sobre a sua, que estava repousada em sua perna. A mulher olhou para minha mão e respirou fundo.

— Não foi apenas uma vez. – iniciou finalmente, sem erguer a cabeça – Tudo começou apenas com alguns elogios insistentes, que me deixavam um pouco sem graça, mas nada demais. Depois, ele queria me encontrar a sós, marcava alguns ensaios particulares, e quando eu comecei a inventar desculpas para não os frequentar, ele armava situações para ficarmos sozinhos. Às vezes, quando eu passava ao seu lado num corredor por exemplo, ele apalpava minha bunda ou coisas do tipo. Até que um dia, aconteceu. – deixou uma lágrima escorrer, provavelmente sentindo na pele as lembranças.

— O que aconteceu? – questionei, já esperando o pior.

— Ele fez aquilo. – ressaltou a última palavra, dando a entender claramente o que ele fez – Ele me estuprou. – cuspiu as palavras, caindo no choro. Naquele momento, eu estava em choque. Eu não imaginava que havia chego àquele ponto.

— Deus Donna, eu sinto muito... – olhei-a com compaixão, sentindo meu coração se apertar ao vê-la naquela situação, e sentindo uma raiva incontrolável ao imaginar pelo o que ele a havia feito passar – Nós precisamos mudar o processo então, não é assédio sexual, é estupro, e ele deveria ir para a cadeia por isso. – afirmei, exaltando-me.

— Eu não posso ir ao público com isso, Harvey. – negou com a cabeça, secando as lágrimas – Eu não tenho provas. É a palavra dele contra a minha. Você sabe como o testemunho das mulheres não vale quase nada, ainda mais contra um homem poderoso como ele. Todos vão pensar que eu só quero me aproveitar dele, já que o filme que fiz com ele foi um desastre.

— Mas se você ficar calada, ele vai continuar fazendo isso. Você não deve ter sido a única. Se nós encontrarmos as outras, teremos um caso sólido como uma rocha, e nenhum júri irá desacreditar de vocês. – tentei convencê-la, aproximando-me mais dela.

— Você não entende, Harvey. Ninguém quer reviver isso, correndo o risco de sair como a errada da história. Vamos apenas nos manter ao caso original, okay? Talvez eu nem deveria te ter contado isso. – fungou, parecendo começar a se acalmar – Por favor, deixe isso quieto. – pediu, olhando-me profundamente nos olhos.

— Eu vou. – falei, não acreditando muito em minhas palavras. Como eu poderia deixar algo assim quieto?

Sequei uma lágrima perdida em seu rosto e sorri tristemente, numa tentativa de confortá-la. Aquela história tinha muito mais do que eu pensava, e algo me dizia que Donna era apenas a ponta do iceberg.

— Me dê licença um pouquinho, vou ao banheiro jogar uma água no rosto. – disse e levantou-se, seguindo em direção ao lavabo que eu usara mais cedo.

Aproveitei o momento sozinho e peguei meu celular, discando o número de Mike. Esperei-o atender, impacientemente, enquanto não tirava os olhos do local onde Donna havia ido.

— Alô?— o jovem atendeu, demonstrando curiosidade na voz.

— Eu preciso que largue tudo o que está fazendo e procure por todas as coisas que conseguir achar sobre Benjamin Oliver. É urgente. – ordenei, convicto de minha decisão.


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Notas finais do capítulo

Um momento tão descontraído dos dois na cozinha, tornou-se um momento tão pesado com a Donna contando o que realmente aconteceu. O que vocês acham que vai acontecer depois disso? Já esperavam por isso?
Obrigada pela leitura e até o próximo!



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