Simplesmente acontece escrita por Hunter Pri Rosen


Capítulo 4
A primeira vez que nos beijamos


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoinhas ♥

Cheguei com mais um capítulo, o tema está no título e a cena na íntegra pode ser conferida na fanfic principal (capítulo 11).

Esse capítulo dá sequência ao anterior, mostra o que aconteceu depois do primeiro encontro do casal.

Quem acompanha "A Bela, o Outro Cara & Eu", vai perceber que eu mantive os diálogos certinhos, só mudei o ponto de vista para o Bruce.

Boa leitura.



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 Eu tentei fugir. Durante muito tempo, foi exatamente o que fiz. Metafórica e literalmente. Fugi de Amelia, de mim mesmo, do que sinto por ela. Em dado momento, no entanto, não consegui mais. Algo mudou.

Começou quando eu voltei para Nova York, depois de um ano distante e recluso, e a encontrei por acidente na sede das Indústrias Stark. Apesar de ter saído das sombras justamente por Amelia — tentando mantê-la a salvo de uma ameaça que surgiu —, eu não pretendia me reencontrar com ela. No fundo, eu sabia que vê-la de novo, mergulhar nos seus olhos profundos, quentes e inquisidores, despertaria um sentimento que julguei adormecido e controlado. Eu estava errado.

Depois que Amelia me perdoou — teoricamente — por não a ter procurado assim que retornei, ela propôs que fôssemos apenas bons amigos. E, apesar de ter concordado a princípio, foi bem aí que eu percebi que algo tinha mudado. Eu não seria capaz de ser apenas seu amigo. Eu não seria capaz de continuar fugindo.

Precisei de coragem para admitir isso em voz alta, é claro. E de mais uma dose dessa mesma coragem para aceitar o seu convite para sair. Não sei se foi realmente coragem ou se simplesmente parei de pensar. Poucas vezes na minha vida, me permiti agir por impulso, seguindo instintos e desejos próprios. Encontrar Amelia essa noite numa boate no centro de Nova York foi uma dessas vezes.

Cada minuto em sua companhia me fez perceber como fui ingênuo e teimoso ao negar meu sentimento por tanto tempo. Cada segundo preso ao seu magnetismo misterioso me convenceu que não sou capaz de controlar meu coração perto de Amelia. A cada vez que ficamos mais próximos, nossos rostos a poucos centímetros, eu desejei beijá-la. Mais do que tudo.

Para minha infelicidade, o nosso primeiro beijo ainda não aconteceu. Eu pensei que estávamos quase lá quando dançamos juntos. Depois, acreditei que seríamos vencidos pelo clima dentro do táxi na volta, a caminho do seu apartamento. Talvez embaixo da chuva torrencial e diante da calçada do seu prédio. Não aconteceu. Como se a vida quisesse me castigar por ter relutado tanto em me render, só batemos na trave até agora. 

Na sala de estar, Amelia me encara em silêncio. Mesmo assim, há muitas coisas no olhar cravado em mim.

Tento lembrar quando concordei em subir. Não lembro se ela me convidou ou se eu simplesmente entrei no elevador e vim. Realmente, acho que parei de pensar essa noite.

— Eu vou pegar uma camisa do Josh pra você — ela finalmente diz algo, e percebo que estou pingando água da chuva por todos os lados. — Deve servir.

— Ok — sibilo em concordância; embora a ideia de que ela se afaste, mesmo que por alguns segundos, não me agrade nem um pouco.

É por isso que fico feliz quando Amelia não se move um centímetro sequer nos segundos que se estendem entre nós. Pergunto-me se ela se sente presa a mim, como eu claramente me sinto preso a ela.

Provando que meu palpite está correto, ela admite sem jeito:

— Assim que eu conseguir me afastar de você.

Para minha própria surpresa, entro no seu jogo e digo sem pensar direito:

— Não tenha pressa.

Amelia pisca como se despertada de um sonho e retruca intrigada:

— Desde quando você responde os meus flertes, Bruce?

Um sorriso tímido me vence quando percebo o quanto isso é mesmo surpreendente.

— Aparentemente, desde hoje.

Ela me analisa por algum tempo. Parece feliz por estarmos aqui, por eu finalmente estar aqui, e ao mesmo tempo um tanto descrente. Logo, essa incredulidade se transforma numa nuance de insegurança.

— Você acha divertido brincar comigo, não é?

Apesar de um pouco ofendido, sei que sua desconfiança tem fundamento. Minha história com Amelia é complicada. Eu fui embora há um ano, mesmo ela tendo me pedido para ficar. Eu voltei, e não lhe disse nada. Eu neguei o que sinto por mais tempo do que sou capaz de precisar. E de repente, estou aqui. Admiti que não quero ser apenas um amigo para ela, saímos juntos, deixei o clima de romance e esperança ganhar força, estou respondendo seus flertes. É natural que ela sinta dificuldade em confiar no homem na sua frente agora.

— Eu não estou brincando com você, Amelia — afirmo, esperando que ela seja vencida pela sinceridade das minhas palavras. — Eu sei que te magoei e sinto muito por isso, de verdade. Me desculpe. Por tudo. Se eu pudesse voltar no tempo...

— Teria feito a mesma coisa — ela me interrompe de súbito, ligeiramente ressentida. Abro a boca para refutar a acusação, mas fecho na sequência. Amelia respira fundo. — Tudo bem. Você precisava daquilo, se afastar, desaparecer, do seu tempo recluso. Eu te odeio por ter ido embora, Bruce, mas a verdade é que também consigo te entender. E então eu me odeio por te entender. Faz algum sentido?

— Não sei — digo, meio zonzo com a mudança repentina no clima. Parece que não importa o que aconteça, sempre voltamos ao nosso histórico conturbado e aos meus erros. — Mas com certeza a sua compreensão é bem mais do que eu mereço.

— Ah! Sem dúvida! Você tem muita sorte! — ela exclama, mais alterada, como se eu tivesse dito algo extremamente óbvio. — Fique sabendo que eu não sou boazinha assim com todo mundo!

Eu não devia — Deus sabe como eu não devia — mas um sorriso contido me vence. Não posso rir do seu jeito estourado, não é uma boa ideia brincar com fogo assim, mas o sorriso teima.

Amelia me observa atenta. Respira fundo de novo e acho que está tentando se acalmar. No fim, ela dá de ombros e solta no ar:

— Eu só quero saber qual é a sua. O que você quer?

Essa pergunta espanta o resquício do meu sorriso. De repente, estou sério e pensando no que realmente quero. Pensando nela, pensando em como minha vida é complicada, pensando em como minha vida pertence muito mais ao Hulk do que a mim mesmo, pensando na ameaça misteriosa que me trouxe de volta, pensando em como me sinto no meio de tudo isso.

O que eu quero? Foi o que ela perguntou.

A resposta vem numa espécie de avalanche. Palavras há muito presas na minha garganta e que só agora ganham vida e liberdade:

— Eu quero o que não posso ter. E quero mesmo assim. Quero cada vez mais. Eu não consigo mais dizer pra mim mesmo que não quero você, Amelia. Muito menos que não posso te ter. E isso? Faz algum sentido?

Há uma mudança clara e imediata no semblante dela. A desconfiança dá lugar a outra coisa. Nunca vi Amelia com vergonha de algo, mas nesse momento suas bochechas ganham certo rubor. Seu olhar, um brilho especial e muito intenso. Ela não esperava por isso, por tanta honestidade. Para ser franco, nem eu. Percebo que não é vergonha, é felicidade e surpresa. De alguma forma, consegui convencê-la e ela gostou muito do que ouviu.

Cheia de coragem e atrevimento renovados, ela dá um passo à frente e me toca no rosto. O calor dos seus dedos se espalha em minha pele. Não preciso ter um espelho diante de mim agora para saber que estou olhando para Amelia de um jeito apreensivo. E ansioso ao mesmo tempo.

 Quando ela fecha os olhos e toca meus lábios com um selinho demorado e carinhoso, nem sei explicar o que sinto. Quando se afasta alguns centímetros logo depois, tenho vontade de protestar.

— Você pode ter o que quiser, Bruce — Amelia esclarece com um sussurro firme. — Só precisa pegar.

A forma simples como ela enxerga as coisas. A forma simples como quero enxergá-las também. O sentimento que não consigo mais negar. O desejo que não consigo mais subjugar. Esse momento. Tudo se resume a esse momento e ao que vou fazer com ele.

 Encaro Amelia demoradamente. Largo a toalha — que ela me entregou há pouco para enxugar parte do estrago causado pela chuva torrencial — no sofá ao nosso lado. Novamente deixo-me levar apenas pela emoção. Alcanço seu rosto com as mãos e encontro sua boca mais uma vez. Num rompante de coragem e rendição, acredito nas suas palavras. Acredito que posso ter o que quero. E o que quero está bem aqui. Sempre esteve.

Pressiono seus lábios de um jeito gentil, cheio de ternura e veneração. Ainda assim, com um ardor desconcertante, movido pelo desejo reprimido que finalmente liberto e deixo ganhar força. Simplesmente me entrego. E Amelia me recebe de coração aberto, eu sinto.

Ela se agarra à minha camisa, como se me desejasse mais e mais perto. Joga os braços no meu pescoço e se perde no meu beijo. Um beijo tímido a princípio, e marcante depois. Cheio de fervor e ternura. Carinhoso e profundo. Urgente e sem pressa.

Minhas mãos encontram sua cintura antes que eu perceba que fiz isso. Amelia se encaixa mais aos meus braços. Apesar das nossas roupas molhadas de chuva, tudo o que sinto é calor. Um calor que emana de mim, dela, que trocamos e nos envolve a cada segundo. Meu coração bate depressa. De alguma forma, tenho certeza que o seu está disparado também.

Em dado momento, ela morde meu lábio inferior. Sinto a punição implícita nessa pontada suave de dor. E sinto seu hálito quente quando exige ofegante:

— Nunca mais desapareça... Nunca mais pense em ir embora... Eu acabo com você, Bruce Banner. Te trago de volta... nem que seja arrastado pelo cabelo.

Esse comentário me faz sorrir. Um sorriso culpado. Um sorriso comprometido. Encosto a testa na sua, acaricio seu rosto e, ainda de olhos fechados, afirmo:

— Nunca mais.


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Notas finais do capítulo

O próximo capítulo pode ser o último e terá como tema: A primeira vez que dissemos "Eu te amo".

Inté lá!