Simplesmente acontece escrita por Hunter Pri Rosen


Capítulo 3
A primeira vez que cozinhamos juntos


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente!

Quando eu aceitei o desafio, pensei em fazer em formato de drabbles ou double drabbles (100 ou 200 palavras). Obviamente, só pensei mesmo :v

Algumas informações importantes:

1. A música que Bruce e Amelia dançaram no capítulo anterior foi "Certain Things" (James Arthur). Esqueci de mencionar por lá eheheh

2. Esse capítulo foi escrito, revisado e suspirado ao som de "This love this heart" (Phil Collins) porque Phil Collins é um neném que eu amo e essa música super combina com meu casal ♥

3. Esse capítulo se passa pouco depois do capítulo passado (A primeira vez que saímos juntos) e o primeiro beijo já aconteceu. Na verdade verdadeira, veremos que aqui Bruce e Amelia já são assumidamente um casal lyndo e xeroso ♥

4. Tem alguns spoilers da fanfic principal aqui. E tem spoiler para quem acompanha a fic principal também porque esse momento ainda não aconteceu por lá. Nesse momento, em "A Bela, o Outro Cara & Eu", os dois estão se estranhando um pouco (lê-se: Bruce aprontou e Amelinha chutou o balde), mas aqui veremos que depois da tempestade sempre vem a calmaria :v

5. Bruce Banner tem medo de deixar certas coisas acontecerem entre ele e a Amy por causa do Outro Cara, vulgo Hulk. Digamos que ele quer, mas tem medo de perder o controle. Isso é algo que vem sendo trabalhado na fic principal também.

Boa leitura!



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Acordo com uma baita fome. Inclusive, acho que ouvi o meu estômago roncar dentro do sonho confuso no qual eu estava mergulhada e foi esse ruído que me despertou.

Por um momento, enquanto tento distinguir algo na penumbra à minha volta, tenho certeza que estou em casa, no meu quarto, esparramada na minha cama. À medida em que meu olhar se habitua ao cenário e a escuridão do recinto se mostra menos impenetrável, lembro do ataque catastrófico que me trouxe à Torre dos Vingadores no começo da semana. Lembro da ameaça que ainda paira sobre mim e Bruce. Lembro que por esse motivo estou aqui, nesse quarto de hóspedes, por tempo indeterminado.

Fecho os olhos de novo e digo a mim mesma que não vou pensar em problemas agora. Ao invés disso, decido fazer alguma coisa em relação àquilo que me acordou.

Afasto o cobertor com a mão esquerda, a fim de me levantar, mas algo chama a minha atenção e fico paralisada. No silêncio sepulcral do quarto, observo a tipoia que imobiliza meu braço direito. Ela é a prova de que não posso esquecer completamente das circunstâncias que me trouxeram até aqui. Fui ferida durante o ataque que abalou Nova York. Eu podia ter morrido.

— Mas não morri — lembro a mim mesma, desejando que essas palavras iluminem não o quarto, mas a obscuridade dos meus pensamentos.

Ignoro que foi também por sentir uma fisgada no braço que acabei acordando e me ponho de pé. Pego um analgésico na gaveta do criado-mudo e engulo o sabor amargo com generosos goles de água. Meu corpo só precisa de tempo para se recuperar completamente, mas o importante é que não sofri nada grave. Vai ficar tudo bem.

Coloco o copo quase vazio no seu lugar de origem — sobre o pequeno móvel — e enfio os pés em um par de chinelos quentinhos que também não é meu. Jogo um robe sobre a camisola e deixo o quarto para trás logo depois.

Alguns andares abaixo, uma caminhada por um extenso corredor e enfim chego à cozinha. Sem perder tempo, analiso com muito interesse o vasto conteúdo de guloseimas que a moderna geladeira de Tony Stark abriga. O problema é que diante de tantas opções, é difícil decidir o que quero ou por onde começar.

A porta do eletrodoméstico está aberta há um minuto ou mais quando percebo que tem alguém se aproximando pelo corredor. Consigo ouvir os passos leves e sinto quando ele para na soleira da cozinha. Um breve momento de silêncio domina o ambiente.

— O que você está fazendo?

Um calor prazeroso me envolve quando sua voz invade meus ouvidos. O coração dispara como se reconhecesse seu dono. Faço um esforço para conter um sorriso idiota e anuncio em tom de confissão:

— Tem uma coisa que você precisa saber sobre mim, Bruce. — Fecho metade da porta da geladeira, de modo que consigo vê-lo por inteiro agora. O cabelo meio desgrenhado e o pijama simples são lembretes do horário avançado. — Às vezes, eu acordo de madrugada com uma fome incontrolável e não consigo dormir de novo enquanto não acabo com ela. Então, eu assalto a geladeira.

Com o sorriso tímido que eu tanto amo, ele caminha devagar até mim e entra no clima divertido:

— Isso é muito grave, Amelia. Eu não sei se consigo conviver com um defeito assim. Além disso, é uma transgressão assaltar a geladeira do Tony.

Seu olhar encontra a tipoia e o sorriso se esvai no mesmo instante. Ele estanca a alguns passos de mim. Não preciso ler pensamentos para entender que Bruce lembrou do porquê estou com ela. E o conheço muito bem para afirmar que, mais uma vez, ele está se culpando pelo que aconteceu.

Devo agir rápido para evitar que esse sentimento ruim e inútil ganhe força dentro dele. É por isso que me apresso e retomo a brincadeira ao implorar:

— Por favor, não conta pra ele.

O cientista volta a se mover e termina com a nossa distância. O sorriso não retorna, mas o brilho carinhoso em seus olhos me aquece do mesmo jeito. Sua mão envolve o meu rosto e o acaricia com o polegar. Meu coração volta a bater mais forte.

— Tudo bem. Seu segredo está a salvo comigo.

Deixo minha mão ganhar vida própria e percorrer a camisa do pijama rumo ao seu rosto. Sinto sua pele quente sob os dedos e fico na ponta dos pés para beijá-lo.

— Meu herói.

Só depois que digo isso, percebo como o tom soou sexy. O brilho nos olhos de Bruce fica mais evidente e é a última coisa que vejo antes de fechar os meus e tocar seus lábios entreabertos. O sabor é inconfundível e, apesar de termos nos beijado ontem, anteontem e nos últimos dias, já estava com uma baita saudade da sua boca. É como um vício, só que muito bom.

Bruce me beija de volta com um amor devotado que provoca uma descarga de prazer no meu corpo inteiro. Aperta minha cintura de um jeito gentil e carinhoso, porém carregado de um significado mais ousado que talvez ele não tenha se dado conta. Sinto as pernas fraquejarem. E não é por causa da fome. É outro tipo de fome. Uma que, infelizmente, não podemos saciar ainda.

Eu tenho que me recuperar primeiro e Bruce precisa se sentir mais seguro em relação ao Hulk. Em dez ou quinze dias, devo me livrar da tipoia. Só Deus sabe quando ele vai se livrar da insegurança e paranoia em relação ao Outro Cara.

Imagino que a nossa primeira vez será complicada — porque tudo é complicado em matéria de Bruce Banner —, mas vamos encontrar o caminho eventualmente. E o mais importante: sei que vale a pena esperar por ele. Eu espero o tempo que for por ele.

Quando o beijo chega ao fim e Bruce apoia a testa na minha, permaneço de olhos fechados. Absorta. À deriva. Feliz.

— Me deixe te ajudar — ele pede. A voz é quase um sussurro. Rouco. Me arrepia. — Do que você precisa?

Sorrio em resposta porque tenho tudo o que preciso bem aqui. Só quando me dou conta que Bruce está se referindo àquilo que me tirou da cama, abro os olhos e pondero o questionamento. Decido o que vou fazer e, já que tenho companhia, serão duas porções.

— Farinha de trigo, fermento, açúcar, chocolate em pó, margarina, leite, ovos e chantilly, por favor.

Ele une as sobrancelhas intrigado.

— Pretende fazer um bolo à essa hora?

— Bolo de caneca — esclareço, animada. — Uma das minhas especialidades. Eu também faço batata frita como ninguém, mas vamos deixar para outro dia.

O sorriso está de volta. Um leve riso de diversão, na verdade. Fico me perguntando se lhe arrancaria uma gargalhada, caso confessasse que essas são as minhas únicas especialidades.

Bruce segura a porta da geladeira quando passo por ele. Enquanto pega uma parte dos ingredientes de dentro dela, eu sigo até um dos armários e procuro por duas canecas. Depois, retiro duas colheres da gaveta de um gabinete.

— Você vai precisar de uma tigela também? — Bruce coloca o leite, os ovos e a margarina sobre a banqueta entre nós. Depois caminha até um armário para procurar o restante dos itens.

— Não, de jeito nenhum. A graça dessa receita é sujar o menos de louça possível.

Dessa vez, eu mesma dou risada do meu comentário. Sou do tipo preguiçosa quando o assunto é cozinha. Oscilo entre usar o último copo limpo e evitar ao máximo acumular louça na pia porque odeio ter que lavá-la depois. Um paradoxo, como meu irmão observou certa vez.

Depois que uma porção de cada ingrediente é colocada em cada uma das canecas — exceto o chantilly que vou reservar para a cobertura —, começo a difícil tarefa de deixar a primeira massa homogênea. É meio complicado para uma pessoa destra se virar com a mão esquerda.

Bruce não demora a perceber isso. E quando percebe, aquela culpa que vi em seus olhos ressurge. No instante seguinte, ele arrasta a primeira caneca para perto de si e pega a colher que eu segurava até então.

— Eu mexo, pode deixar.

Observo-o de soslaio por algum tempo, procurando um assunto qualquer para afastar o sentimento ruim que deve estar torturando-o agora.

— Eu acordei por causa da fome, mas e você? O que faz em pé a essa hora?

— Eu ainda não peguei no sono, na verdade. Não consegui desligar os pensamentos e fiquei me revirando na cama.

Não quero alimentar esse assunto, mas me vejo induzida a tranquilizá-lo de alguma forma.

— Bruce, você não pode viver assim. Com essa preocupação constante, sofrendo por coisas que não pode mudar, que não foram sua culpa, e por outras que não sabemos quando vão acontecer ou mesmo se vão. Eu sei que é difícil relaxar em virtude de tudo, mas ficar se torturando desse jeito só vai dar a vitória para o seu maldito inimigo.

Bruce puxa a segunda caneca para si e, enquanto mistura o conteúdo, noto um meio sorriso em seus lábios.

— Eu sei. E agradeço o apoio, mas não era nisso que eu estava pensando.

Franzo o cenho. Embora aliviada por, surpreendentemente, ele não ter perdido uma noite de sono pensando na misteriosa ameaça que nos aguarda lá fora, não consigo imaginar outra coisa que tenha causado a insônia.

Estou prestes a perguntar o motivo quando Bruce, ainda focado no preparo da receita, admite:

— Eu estava pensando em você.

Surpresa, meu estômago afunda e tudo o que consigo murmurar é:

— Oh... Ok. Continue.

Bruce é vencido por um sorriso e, sem jeito, se explica:

— É isso, eu não consegui dormir porque comecei a pensar em você e não parei mais. Então, eu fui até o seu quarto, bati na porta, estava vazio e...

Ainda mais surpresa e interessada, ergo a mão num gesto silenciador e interrompo a confissão:

— Espera um pouco. Você foi ao meu quarto? De madrugada? Por que não conseguia dormir? — Um riso me escapa. Cruzo os braços e ralho fingindo choque: — Ora, ora, isso sim é uma transgressão, Dr. Banner.

Bruce para de mexer a massa na mesma hora e olha para mim ligeiramente atônito. Ainda mais sem graça, tenta esclarecer:

— Eu não pretendia... Eu não quis insinuar ou dizer que... Bom, eu fui apenas para...

Mais um vez, não o deixo prosseguir e retribuo do jeito mais sério que consigo:

— Não se preocupe, o seu segredo também está a salvo comigo.

Falho miseravelmente e estou rindo quando pego as canecas e levo até o micro-ondas. Bruce me segue e abre a porta dele. Depois, pega das minhas mãos e as coloca lá dentro.

Eu sei que ele não tinha segundas intenções quando resolveu me fazer uma visita noturna. Contudo, não consigo evitar a onda de felicidade que me deixa à deriva de novo ao pensar que lhe tirei o sono e que Bruce foi atrás de mim. E não consigo não me amaldiçoar por ter saído do quarto antes que ele aparecesse por lá.

— Quanto tempo? — Bruce pergunta, me despertando e fechando a porta do micro-ondas.

Embora eu saiba muito bem que está se referindo a quantos minutos deve digitar no teclado, não perco a oportunidade e o provoco de um jeito insinuante:

— Exato. Quanto tempo mais você quer esperar, Bruce?

Sem aguardar por sua resposta, mas satisfeita por ter plantado a pergunta em sua cabeça, eu mesma aperto os minutos necessários para os pequenos bolos ficarem prontos. Quando me volto para Bruce, estou sendo encarada com um olhar aturdido e tímido, mas sem dúvida interessado também.

É maravilhoso ver como a nossa história mal resolvida evoluiu para um relacionamento de verdade e como me sinto leve perto dele. É maravilhoso me dar conta que mesmo que não rolasse nada além de beijos, eu ia adorar ter a sua companhia madrugada adentro. É engraçado perceber que mesmo distantes de uma boa cama, estou feliz com o que temos agora, bem aqui, nessa cozinha.

Um segundo beijo acontece enquanto aguardamos o micro-ondas fazer o seu trabalho. Dessa vez, é Bruce quem toma a iniciativa de se aproximar devagar e tomar meus lábios para si de um jeito calmo e intenso ao mesmo tempo.

Alguns minutos depois, quando ele coloca as canecas quentes sobre a banqueta, eu finalizo fazendo uma cobertura com o chantilly em cada uma delas. Na sua, ela ganha o formato de um coração.

Ergo a caneca e proponho um brinde. Bruce imita o gesto e encosta a sua na minha. Aquele sorriso que eu gosto tanto nele ressurge e ilumina as horas escuras dessa madrugada.

Então, faço o brinde com uma nova provocação:

— Às pequenas transgressões que nos trouxeram a esse momento e a melhores usos do chantilly no futuro.

Embora curiosa, não olho para Bruce a fim de descobrir se ele compreendeu o que eu quis dizer com a última parte e como reagiu. Não preciso olhar para saber que ele ficou vermelho. Por trás da sua timidez e do medo que ele sente em me machucar, no entanto, eu também sei que há um desejo enjaulado. Um desejo que ele não deve ser capaz de conter por muito tempo.

Depois que devoro o meu bolo, me despeço com um beijo em seu rosto e vejo que ele ainda está na metade da caneca. Ou achou o bolo horrível ou está distraído demais com os próprios pensamentos.

Meu bolo de caneca é uma delícia, modéstia à parte.

Com a sensação de que são pensamentos sobre mim e sobre o que eu disse, volto para o quarto profundamente satisfeita e feliz. Mergulho embaixo do cobertor, porém tenho que me levantar cinco minutos depois para abrir a porta, pois alguém acaba de bater. Contenho um sorriso antes de abri-la.

Bruce e eu nos encaramos em silêncio. Mesmo assim, há muitas coisas ditas no olhar que trocamos.

Ciente de que a nossa hora ainda não chegou, mas que nos queremos de qualquer jeito, mesmo que seja para ficar apenas perto um do outro, seguro-o pela mão e o levo até a cama.

Nos deitamos juntos e ele ajeita o cobertor sobre mim de um jeito protetor e cuidadoso. Bruce me abraça por trás enquanto trago sua mão para perto do rosto. Ele me deixa arrepiada ao beijar meu ombro e pescoço. Arrepiada e aquecida ao mesmo tempo. Outro paradoxo.

— Às transgressões e ao futuro, Amelia — sussurra em meu ouvido.

Fecho os olhos e sorrio inevitavelmente, encaixando-me melhor ao seu corpo. Posso não estar na minha casa, mas me sinto em casa. Porque estou com ele. Pego no sono enquanto recebo um carinho constante no meu cabelo.

Não sei se Bruce conseguiu pregar o olho em algum momento. Deve ter sido difícil; lado a lado com o motivo da insônia inicial. Mas imagino que ele deva ter se sentido em casa também. E talvez essa certeza — de que está tudo bem e certo — tenha o ajudado a dormir.


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Notas finais do capítulo

This is love, guys ♥

Na cozinha, eu sou a Amy kkkkkkk