Nossa pequena história escrita por


Capítulo 4
A Batalha de Abalen, parte 1


Notas iniciais do capítulo

Quarto tema: a primeira vez que nos beijamos



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Um dia antes da batalha

Tentei esconder meu medo o máximo que pude, enquanto treinava com todos os Convocados. Eulëyn sinalizava, e nós atacávamos. Ela mudava o sinal, e nós defendíamos. Seu plano era, segundo ela própria, nos levar á exaustão, pois era isso que o Exército Esmeralda faria. O maior problema, porém, era que eu não conseguia me concentrar em nenhum momento.

— Paula, atrás de você! — Aster gritou, mas não fui rápida o suficiente. O Guerreiro de Folhas me atingiu por trás, eu caí de costas no chão, meu tridente voou da minha mão e, no instante seguinte, um montinho de folhas se juntou no meu peito. A espada de folhas se dissolveu, mas não mudava o fato de que, para todos os efeitos, eu fora eliminada.

— Tudo bem, vamos parar um pouco! — A voz de Eulëyn foi claramente ouvida. Os Guerreiros de folha se juntaram, fizeram uma reverência para cada entidade e se dissolveram. Aéras acenou a mão, fazendo uma rajada de vento varrer o monte que sobrara e, assim que acabou, não havia ali um resquício de que havíamos treinando naquele dia.

Aster estendeu a mão e me levantou. Eu abri minha mão e, com um comando mental, meu tridente voltou voando para seu lugar de origem. Eu apertei seu cabo com força até os nós de meus dedos ficarem brancos, vendo Eulëyn se aproximar de mim. Seu rosto sempre carinhoso estava fechado em uma máscara irritada.

— Olha, se você não consegue se concentrar em um treinamento, deve ficar com o restante de meu povo nos túneis de proteção. Lá você pode se distrair o quanto quiser enquanto nós lutamos aqui em cima. — Ela colocou o arco nas costas e cruzou os braços. Aster se remexeu inquieto ao meu lado. — Você não entende a importância que têm para o resultado dessa batalha?

— Ah, é claro que eu entendo! Você deixou as coisas muito claras para mim desde o início, não é? — Minha dose de sarcasmo foi ás alturas, fazendo Eulëyn se surpreender com minha fala. O silêncio em volta de nós reinava antes, mas murmúrios começaram a percorrer a todos assim que proferi as palavras. Aster colocou as mãos em meus ombros, mas eu me esquivei.

— Paula, não é bem assim... — Ele tentou contestar. Eu sabia que ele e os outro confiavam fielmente na decisão de Eulëyn e, se ela decidisse que eu não precisava saber de algo, então eu não precisava saber desse algo. Eu ri, nervosamente.

— É claro que é. Você diz que eu tenho importância para essa merda de resultado mas não me diz qual. Você diz que eu sou importante para Mitéra, que aquelas merdas de hipocampos me reverenciaram quando cheguei e que isso significa tudo, mas não se dá o direito se me explicar porra nenhuma! — Eu senti meus olhos marejarem, mas me segurei. Havia prometido a mim mesma que não choraria na frente dos Convocados ou de ninguém.

— Eu não posso te explicar tudo de uma vez. Você piraria... — Ela rebateu, com ódio na voz.

— Eu já pirei, Mãe Natureza. Eu estou louca há dois anos, desde o momento que decidi acreditar que tudo isso era real. Acho que um pouco mais de piração não me mataria!

— Você que vai acabar se matando, só jeito que estava distraída. E eu preciso que todos estejam atentos. Você não perceve que é minha responsabilidade proteger a todos mesmo que seja impossível? Essa não é nossa primeira batalha, Paula Spring, e eu não vou deixar uma mera humana recém-transformada estragar um protocolo de segurança de três mil e quinhentos anos! – Ela percebeu que estava gritando e parou.

Seus olhos também estavam marejados e eu queria realmente conseguir, naquele momento, me lembrar de tudo que ouvira sobre ela. Eulëyn já estava viva há milênios, e já participara de tantas batalhas quanto fossem necessárias; meses depois dessa discussão, eu peguei-me pensando em como deveria ser difícil para ela.

— Ótimo. Que se dane o protocolo, que se dane você! — O restante do grupo arquejou, mas Eulëyn permaneceu inabalada. — VOCÊ não vai me tirar dessa batalha, muito menos da linha de frente do grupo 3. Eu tenho dado o meu melhor para conseguir o seu respeito e a sua admiração; se você acha que eu não sou suficientemente boa – Eulëyn abriu a boca para falar algo, mas eu a impedi — Se você acha que eu não sou boa para batalhar, eu vou provar que sou. Ou irei morrer tentando! — Prendi o tridente no apoio em minhas costas e dei as costas para todos.

Tentei ficar firme até chegar no Castelo. Meu plano era ficar firme de qualquer jeito, mas eu não consegui. O pesadelo voltou diretamente a minha mente assim que me vi sozinha, e senti algo dentro de mim quebrar.

Minha coragem se fora.

*

Aster me encontrou na clareira Cambridge, sentada com as costas apoiadas em um tronco e os braços envolvendo fortemente meus joelhos. Eu estava chorando em desespero, sem conseguir parar. Seu semblante, de quem me passaria um sermão por perder a cabeça com a Mãe Natureza, se modificou na hora. Ele largou a espada perto dos balanços, se aproximou com dois passos largos e se sentou ao meu lado.

— Ei... — Ele me puxou para o seu colo, acariciando meus cabelos. Meu choro se intensificou enquanto eu lembrava das cenas daquele sonho estranho. Flashes repetidos das mortes de Maia, Aster, Ahken... todos.

''Está vendo isso, pequena serva das águas? Todos vão morrer se você não se render à mim''

Aster me apertou em seu peito e tentou me acalmar de qualquer maneira. Anos depois, quando já estávamos casados e a paz voltara a reinar em Mitéra, ele me contou que estava desesperado achando que eu perderia minhas forças, deixaria a magia fluir de meu corpo.

Acredite, essa é uma forma de se morrer em um mundo imortal. Se um de nós estiver passando por um momento difícil, pelo que se sabe, e decidisse se entregar à Draim, a dor levava as pessoas a um estado de choro compulsivo até que a magia saísse do corpo, deixando-o sem vida.

Mas esse não era meu objetivo. Eu não ia morrer ali, deitada. Se fosse minha hora de conhecer Draim, seria lutando na linha de frente daquela batalha. Então eu me acalmei, pouco a pouco. Enquanto as horas passavam, nos deixando mais perto ainda da batalha, eu me acalmei o suficiente para contar á Aster o sonho.

— Não sabemos porque você é tão importante para Maeve, P; mas, se ela quer que você se renda, é porque você tem poder suficiente para destruí-la com um estalar de dedos. — Aster comentou, ainda me mantendo em seu colo. Eu sabia disso, mas não queria acreditar que era tão poderosa. Há dois anos eu não passava de uma adolescente lidando com dramas escolares...

— Eulëyn me odeia, né? — Perguntei, deitando a cabeça em seu peito. Aster sorriu.

— Ela não te odeia. Acho que é a que mais entende sobre o que está acontecendo com todos antes da batalha...

— Vamos ficar juntos amanhã. Não importa o que aconteça. — Eu prometi. Aster sorriu.

— Vamos ficar juntos.

*

O dia da batalha

Na manhã seguinte, me despedi de minhas irmãs. Cada uma de nós tomaria conta de um dos grupos e não sabíamos se nos veríamos de novo. Foi a coisa mais difícil que eu já fiz. Ao nosso lado, Aster se despedia de Clarissa e Padma, que se uniriam á Maia na linha de arqueiros. Depois, ele veio para meu lado.

— Pronta? — Perguntou-me. Eu peguei meu tridente e o capacete da minha armadura.

— Vamos nessa.

Caminhamos decididos até a linha de frente. Eulëyn estava lá, ao lado do filho, e os dois pareciam conversar sem trocar palavras realmente. Tharin por fim sorriu, beijou a testa da mãe e sumiu na floresta, levando consigo um grupo de centauros e alguns vigilantes.

— Lyn, eu... — Comecei, parando a sua frente. Ela, porém, se virou sorrindo para mim.

— Esqueça. Você tinha razão. Eu devia ter te contado antes. Prometo que será a primeira coisa que eu farei assim que isso acabar. Mas você precisa mesmo quebrar a pedra.

— Eu sei. — Sorri para ela. — Vamos ganhar essa batalha.

A tensão era crescente, mas Eulëyn sorriu para mim e se abaixou em uma reverência, a qual eu respondi. Ela então apontou para o lugar vago á sua direita, onde eu deveria me posicionar para a batalha e para o resto da minha vida. Ao seu lado direito.

— Paula... — Aster estava ali, ao meu lado, e me chamou.
Virei-me para ele — Eu...

— Não fala. — Pedi, colocando a  mão em seus lábios.

— Mas eu...

— Que droga, Aster, cala a merda da boca! — Exclamei. Eu queria que quando ele dissesse aquilo fosse de uma maneira perfeita, e não alguns minutos antes da batalha. Então eu fiz algo que, com sorte, o impediria de falar.

Com um puxão único no peitoral de sua armadura e, ficando nas pontas nos pés, colei nossos lábios em um beijo.  Aster perdeu o fôlego e manteve os olhos abertos. Eu, porém, estava de olhos fechados e tentava raciocinar enquanto ele me mantinha ali, segurando minha cintura. Quando finalmente eu o soltei, também ofegante, sorri. Aquela havia sido a pior ideia do mundo, mas eu me sentia muito bem. 

— Cala a boca, por favor. — Eu pedi de novo, rindo. Minhas bochechas estavam vermelhas, mas eu não me importava.  Meu coração ainda batia forte no peito, mas eu não me importava. A única coisa com que eu me importava naquele momento era com o sorriso de Aster em resposta. — Desculpa, mas eu não ia morrer sem fazer isso.

— Você não vai morrer hoje, P. —  Aster me prometeu e, puxando-me pela cintura, me beijou novamente. Eu ofeguei de felicidade e retribuí o beijo, passando o máximo de sentimentos naquele momento: amor, felicidade, paixão. Tudo se misturava naquele calor quentinho que nos envolvia.

— Assim que os dois pombinhos puderem se separar, podem dar o sinal de ataque. — Eulëyn ordenou, sorrindo.

Eu revirei meus olhos e, estalando os dedos para lançar um jato de água para o céu de toda a Mitéra, dei início ao ataque dos Convocados.


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Notas finais do capítulo

É claro que eles se beijariam apenas alguns minutos antes de uma batalha ter início auhsuhaushaushuahsuahs
Sobre a briga da P e da Mãe Natureza: Foi a coisa mais difícil que eu já escrevi :v elas nunca haviam brigado antes. Mas eu até que gostei.
Eu não vou escrever sobre a batalha em si, já que a história é focada no casal Paulaster e eles não conseguem ficar juntos quando estão lutando. Mas no próximo capítulo eu vou tentar ao máximo descrever por cima o que aconteceu, tá?
Espero que tenham gostado (e que a Rossetti não me mate por esse e pelo próximo cap :v)
Até mais chuchus ♥



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