Semana Um: A primeira vez que nos falamos
Capítulo 1: Co-star e ray-ban.

Não seria a primeira vez que trabalharia em uma série, mas algo fez minha nuca arrepiar quando eu li o script. Seria um trabalho tocante, não pelo fato de ter drama familiar, mas pelas questões envolvidas como adoção e relacionamento homoafetivo. E o meu papel seria de uma policial matriarca de uma família inicialmente com três filhos, mas que teria mais duas crianças de lares adotivos que passariam uma temporada conosco. Minha personagem se chamaria Stef Foster, mulher destemida e corajosa, empenhada em fazer o bem e livrar as crianças desprotegidas das mazelas da sociedade. Uma mãezona, mas daquelas que impõe regras e quase sempre é vista como carrasca, mas a verdade que ela fazia tudo pela família. Nisso, eu e minha personagem tinha muito em comum.

Por mais que o papel se encaixasse perfeitamente em mim, havia algo que nunca tinha feito: ter um par romântico com outra mulher e isso me deixava um pouco ansiosa, minto, totalmente ansiosa. E por esse motivo, no dia da audição para os produtores saberem se existiam mesmo a química que eles queriam e que eu e a minha co-estrela assinaremos o contrato e seguiríamos para os dias de filmagem no set, eu mal dormi a noite. Quando o despertador tocou, meus olhos já estavam abertos e pensativos. Obviamente eu já sabia o nome da outra atriz e também um pouco de sua vida - ou melhor - o que estava na internet. Sherri Saum aparecia em vários episódios de várias séries, mas o primeiro projeto verdadeiramente longo era esse, também tinha sido modelo, ou seja, dá pra imaginar o quanto era magra, esguia e fabulosa, porém, tudo isso era do seu feliz marido, Kamar de Los Reyes. Não que eu estivesse preocupada com isso, afinal, eu já fui casada duas vezes e posso assegurar que não é nada fabuloso e as únicas coisas boas que tive foram meus lindos filhos.

Por está ansiosa ou por que os outros simplesmente se atrasaram, eu fui a primeira a chegar. Fiquei aguardando as pessoas, relembrando que a priori quando vi que Jennifer Lopez era a desenvolvedora tive um pé atrás, afinal, a mulher já estava um pouco longe das telas e se dedicava a música, mas The Fosters já de primeira me ensinou que não se deve julgar sem conhecer e logo que eu li a história me apaixonei na série. As horas iam passando e o número de pessoas iam aumentando, estavam todos, menos minha co-star. Eu disfarçava bem a ansiedade, fazendo todos sorriem com piadas e gracinhas, estava um clima agradável e era como se conhecesse o elenco e produção a tempos, uma grande família.

Contudo, não pude evitar um frio na barriga quando o barulho do elevador se fez e em uma atenção curiosa todos se voltaram para Sherri Saum que estava saindo. E, por Deus, ela estava estonteante.

Meus olhos focaram primeiro em seu rosto, seu olhar estava tampado por um ray-ban aviador dando total destaque para os lábios cheios e carnudos que sorriem timidamente. Ela estava realmente com vergonha. Seus cabelos eram maravilhosos, um afro bem alto com cachinhos tão pequenos que acompanhavam facilmente o vento. Ela não deve ter trabalho para se arrumar, imaginei. Estava tão simples e fabulosa e seu corpo era como eu supus ou até mesmo melhor. Ela era alta, mas não tão magra, tinha seios pequenos e realmente não sei o motivo de ter reparado nisso. Porém, eu ainda estava no clima de espanto pela beleza da mulher com o misto de relaxamento antes de sua chegada, não queria que o clima ficasse estranho pelo modo como eu a analisei antes mesmo de lhe dizer olá, ali estava minha co-star estupenda e com timidez.

— Eu poderia ser lésbica por você! - Exclamei com empolgação enquanto apontava para o corpo dela, balançando minhas mãos para cima e para baixo, afinal, como não virar lésbica com uma mulher daquelas na sua frente?

Todos soltaram risadas, ela sorriu largamente e eu sorri com ela. Nem precisava mais de audição para saber se havia química. Eu nunca havia sentido nada parecido por ninguém. Ela andou até mim e eu ainda sorrindo a encarei enquanto ela retirava os óculos e retribuía meu olhar, a com aquela íris castanha penetrantes.

— Olá, esposa! - E ela ainda era bem humorada.