Irreversível escrita por Natsumin


Capítulo 1
Capítulo 1 - Ele


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos, como vão?
Primeiramente, quero que sejam bem-vindos!
Já faz um tempo que venho com uma ideia de fazer uma fic sobre Kentin. Dentre vários motivos, o principal é que quase não há fics sobre ele. Enquanto isso, eu vinha escrevendo três fics tendo o Castiel como protagonista, mas como não gosto de deixar os demais personagens parados, acabava virando uma fic mais voltada para "vários", embora tivesse o casal protagonista. Enfim... Pelo fato de meu tempo estar curtíssimo e como a leitura em primeira pessoa é bem mais rápida e detalhada, decidi fazer uma nesse parâmetro e que não tivesse o Castiel como protagonista. Apesar da minha preferência pelo ruivo, sou fascinada por todos os personagens do jogo e me senti bem escrevendo uma fic sobre o Ken e com uma protagonista tão carismática. Para quem me conhece, escrevo "Diamante Bruto" sobre o Castiel e a carga de drama nessa fic é pesada. Irreversível tem seu quê dramático, mas é mais uma história de bom humor e amor. Espero que se divirtam e bem-vindos à história de Katerine!



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Bem-vindos à Márea. Uma cidade tão bela, egocêntrica e hipócrita como todas as outras. Os habitantes, provavelmente contaminados pelo excesso de raios solares na cabeça, não passam de figuras medíocres, sustentados por luxos e hipocrisias de uma sociedade predominantemente burguesa. 
    Tá bem, vou parar por aqui. 
    Não me levem a mal, nem sempre fui assim. A verdade é que há erros que cometemos na vida que são irreversíveis. Eu, por exemplo, tive um grande amigo, que no momento só vou tratar como Ele. Ele não tinha as qualidades que normalmente uma adolescente de treze anos vê em um garoto. Qualidades totalmente fúteis, digo com toda certeza, mas que enquanto não temos maturidade, não sabemos como distinguir daquelas que são fundamentais. 
    Curiosamente, desde novo ele sempre teve todas elas. Só eu que não percebi.
    Não era instigante, a princípio, mas era curioso. Não tinha muita altura, para um garoto de sua idade, mas os meninos sempre amadureciam mais tarde, não é? Portava um par de óculos fundo de garrafa, que sinceramente me agradavam, moletom verde com uma linha solitária meio roxa, eu acho. Eu achava curioso a forma que ele andava, quase saltitante naquelas pernas longas sob a calça jeans. De alguma forma nos tornamos amigos no jardim da infância e isso perdurou por anos. Eu com o cabelo loiro e de cachos rebeldes e ele com o cabelo castanho cuidadosamente cortado no formato de uma tijela de cabeça para baixo. Ele sabia quase tudo sobre mim, às vezes até mais do que eu. Eu sabia muito dele, mas nunca achava suficiente. Eu acreditava que havia algo por trás daqueles óculos não convencionais e era algo muito maior do que eu poderia imaginar. 
    Descobri isso mais tarde, hoje há poucos meses dos meus vinte e um anos de idade. 
    Curioso que os vinte e um é uma idade engraçada. Quando fiz vinte, tive uma crise existencial forte, enquanto meu pai ainda me olhava como se tivesse dez. Eu sentia que estava entrando num caminho sem volta e que ficaria como os adultos de hoje, pensando apenas em trabalho, trabalho, trabalho, compras, mais trabalho. Eu me via cada vez mais distante de quem eu era e tinha medo de perder minha essência. Só não sabia que já a havia perdido há um tempo. Quando me deslumbrei com a popularidade na escola e abandonei meu melhor amigo e, agora sei, o primeiro e único amor da minha vida.  
    Nossa história não foi nada diferente das histórias de amizade normais. Eu era apaixonada pelo garoto mais fútil de toda a escola e Ele, fui saber alguns anos depois, era apaixonado por mim. Nossa amizade mudou drasticamente depois que fomos para o ensino médio. Meus pais mudaram de cidade e eu fui obrigada a mudar de escola. Obviamente, a nossa amizade nunca mais foi a mesma, até que no meio do nosso primeiro ano do ensino médio ele foi transferido para a minha antiga "nova escola". Eu em minha superficialidade adolescente, já tinha novas "amizades" e "amores", aquelas que nunca mais falaram comigo depois que nos formamos, e, ao verdadeiramente começar a me importar com o que falavam sobre ele em seu jeito peculiar e estranho, deixei-me levar pelas futilidades daqueles adolescentes, como eu. 
    Não demorou para eu decepcioná-lo.
    Em primeiro momento, ao vê-lo fiquei feliz. Ele continuava, aparentemente, com suas particularidades que o faziam especial: os olhos escondidos atrás de óculos redondos e atípicos, moletom e jeans surrados, a voz doce. Fiquei feliz por tê-lo por perto novamente, ainda mais num ano tão esquisito e de descobertas que era o primeiro ano do Ensino Médio. Sempre tive medo do futuro e incerteza sobre o presente e Ele foi meu porto seguro nesses momentos e me ajudou a manter a calma.     
    Mas depois as coisas começaram a mudar.     
    Primeiro, percebi a forma repulsiva com que meus queridos "amigos" o olhavam. Depois começaram as brincadeiras de mau gosto, as piadinhas. Eu tentava defendê-lo o máximo que podia, até que também passei a virar motivo de piada e em meu egoísmo juvenil, acabei me retraindo. Não caçoava dele, ou me juntava à corja que o fazia. Mas, confesso, sempre fui covarde. Nunca gostei de ser o centro das atenções, muito menos de forma negativa. Todos os dias me via estressada por conta disso e após perder minhas "amizades" por me recusar a parar de ser amiga dele, acabei descontanto minhas frustrações nele. Justo nele. 
    Brigávamos todos os dias basicamente, ele sempre gentil, adorava biscoitos recheados e sempre comprava algum pacote para mim. Eu negava com a cara emburrada, enquanto ele tentava me fazer sorrir com os dentes sujos de biscoito. De alguma forma os olhares dos outros diante dele começaram a me incomodar até que as atitudes dele também passaram a me incomodar. O chamei de infantil e disse que aquele tipo de atitude não cabia a um cara de ensino médio. Fui tola. Fui fraca. Fui fútil. 
    Aos poucos fui perdendo meu melhor amigo e sabia. 
    Ele de vez em quando chorava sozinho no banheiro enquanto do lado de fora o chamavam de nomes inimagináveis. Eu apenas ouvia em silêncio, esperando a poeira baixar para me desculpar pelas palavras rudes, ou atitudes rudes que tive com ele em razão da minha ignorância. Lembro-me que uma vez gritei com ele porque ele me ofereceu bolo. Bolo! Por Deus, que tolice. Eu era tola. Eu era fútil.
    Eu perdi minha única verdadeira companhia. 
    Aquele primeiro ano do Ensino Médio demorou muito para acabar. Foi cansativo, foi depressivo, foi irritante. Para ele com certeza deve ter sido muito pior. Eu engolia em seco tudo o que falavam dele e não conseguia levantar a voz para defendê-lo. Ele tentava, mas sabia que também não tinha essa coragem. Éramos dois covardes. E piores ainda eram os que nos provocavam. 
    Após uma briga pela manhã, eu disse que não queria mais vê-lo. Queria ficar sozinha e refletir por tudo o que estava acontecendo. A verdade, no entanto, era que eu não estava mais aguentando toda aquela atitude para cima dele e que refletia em mim. Fui egoísta, eu sei, chorei sozinha muitas vezes em meu quarto e demorei a lidar com a culpa. Até que num dia o encontrei na escola, limpando os óculos no meio do corredor. Eu mal me lembrava de como seus olhos eram bonitos. De um verde vivo, não havia pessoas com olhos como os dele. Após limpar os óculos, ele apenas ajeitou a mochila nas costas e acenou com a mão. Pude ler "adeus" eum seus lábios e aquilo me amargou mais a garganta, o choro formou-se em meus olhos. Não era qualquer adeus, senti como se fosse para sempre. 
    E foi. 
    O pai dele saiu da sala da diretora naquele dia com cara de poucos amigos. Ele nada pronunciava, apenas ouvia e partia, como os covardes que sabíamos que éramos. Ele prendia o choro por causa da presença do pai. Eu, por minha vez, não consegui me conter. Mantive-me ali, em minha insignificância e covardia, enquanto as lágrimas apenas inundavam meu rosto no corredor vazio. Não via mais ele, só as luzes duras e quentes.   
    Passaram-se dois anos e eu já estava recuperada no último ano Ensino Médio. Havia perdido meu porto-seguro, mas por conta disso, aprendi a ter mais coragem. Naquele ano, surgiu um nome para o que ele sofrera: Bullying. Eu não me incluía como vítima, pois acreditava ser a minha covardia e meu silêncio maiores culpados. Naquele terceiro ano, ano dos meus dezoito, eu já havia amadurecido bastante e acreditava que, se o visse novamente, iria defendê-lo com unhas e dentes. 
    Sequer foi necessário. 
    Ele retornou naquele ano. 
    A priori não o reconheci. Estava muito mais alto, mais forte. Trajava calças militares e mais tarde pude saber que seu pai o pusera em uma escola militar para fortalecê-lo não só física, mas emocionalmente. Eu permanecia a mesma magrela de cabelos loiros e olhos castanhos, mas dessa vez cortara o cabelo nos ombros -- hoje, a propósito, estão ainda mais curtos. Ele deixara o cabelo crescer e fizera um corte despojado. Abandonara os óculos redondos e adotara as lentes de contato. Usava uma camisa branca sobre uma regata preta. No lugar de repulsão, provocava olhares, principalmente femininos. O que me intrigava não era seu físico, ou sua beleza. O que me intrigava era que havia, ainda que escondido no fundo dele, algo que pertencia à alguém que eu conhecia. 
    E foi assim que o reconheci. 
    Quando éramos pequenos, éramos muito fãs de Star Wars. Eu, inclusive, era tão apaixonada que vivia no Carnaval vestida de Princesa Leia. Ele, por sua vez, se vestia de Darth Vader porque não era muito feliz com sua aparência, mas encontrava no tio Vader a autoestima que não tinha. No primeiro ano em que saímos de Leia e Vader, encontramos um senhor vestido de Yoda que pediu para tirar foto conosco. Como as crianças felizes e destemidas que éramos, não só topamos, como brincamos que a foto valia "dez reais". O pequeno senhor sorriu, é claro, não esperaria essa resposta de duas crianças de dez anos. Depois ele disse que nos retribuiria com um presente, o que deixou meus pais preocupados até saberem o que era, e nos presenteou com um chaveiro de ninguém menos que o mestre Yoda. Apesar de ser um grande fã do verdinho, ele abriu mão do chaveiro e deixou  que ficasse comigo. Quando pensamos que nos separaríamos para sempre, no nono ano, eu quis que ele ficasse com o chaveiro, para que se lembrasse de mim. 
    E lá ele estava. Pendurado numa mochila preta. Poderia ser só uma coincidência, poderia ter sido o destino. O fato é que ele me reconheceu, mas fingiu não me conhecer. Provavelmente ainda tinha raiva de mim - eu mesma tinha. Mas eu percebia a forma como ele me olhava, pessoas maliciosas passaram a perceber também. Até que fui confrontá-lo. Me deparei de perto com os olhos verdes e depois não tive mais dúvidas. Era ele. O tempo todo. 
    Nossa amizade nunca mais foi a mesma. Convsersávamos pouco, mais como colegas do que amigos, e quando sentávamos perto ou nos cruzávamos pelos corredores. Poderia ter sido a puberdade dele, ou a minha insignificância, poderia ter sido muitas coisas, mas recolhi-me novamente na imagem daquela garota tímida e covarde. Me sentia muito inferior a ele e acreditava que ele nunca olharia para mim como olhava quando éramos amigos e ele era... Só meu amigo. Pelo visto ele entendeu errado o meu afastamento e não fiz nada para mudar sua percepção, muito menos ele. 
    O nosso último ano foi o oposto do primeiro. Rápido, hipocritamente feliz e.... Irreversível. 
    E agora, só agora, mais dois anos depois (o número me persegue como uma frequência de anos em que o reencontro em uma nova fase), eu o vi e resolvi me armar com a coragem de me declarar. Só agora. 
    Mas ele tem alguém. E ela é linda, sexy e tudo o que eu não sou mesmo na flor da idade. Eu sei que não posso recuperar seu amor, mas quero me aproximar o quanto possível. Sei que parece errado, mas quero sua amizade de volta, quero olhar em seus olhos mais de perto novamente. Queria muitas coisas e sinto que cada passo que darei, será irreversível.     
    Então sejam bem-vindos à minha história de desapontamento. 


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Notas finais do capítulo

Por favor, comentem, recomendem, favoritem e ajudem a autora a continuar com a fic!



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