Os anos passaram, e embora eu tenha melhorado em muitos aspectos eu ainda era muito arrogante para o meu próprio bem e as magoas do passado ainda tinham poder sobre mim, mas eu tinha chegado a um meio termo aceitável eu não odiava a senhorita Hinata, mas não existia mais que civilidade e dever em nosso relacionamento. 

Eu via muito potencial na senhorita Hinata, um princípio de admiração até existia, mas quando você passa muito tempo odiando algo, bem, vamos dizer que velhos hábitos custam a morrer. E, em meio a resquícios do meu complexo de superioridade não foram poucas as vezes que sentia que a Herdeira Hyuga era tola e propensa ao ridículo. Principalmente, quando a mesma perdia o foco por causa de sentimentos tolos por um idiota como o Naruto, que nem percebia a existência dela e aquilo simplesmente me incomodava. 

A primeira vez que saímos juntos, foi mais uma vez um acontecimento inesperado. Eu tinha treinado até mais tarde sozinho dentro do Distrito Hyuga , eu voltava para minha casa quando percebo a figura da Senhorita Hinata sentada no jardim sozinha olhando para lua. 

"O que tinha de tão importante numa lua que sempre esteve ali?" 

—Senhorita Hinata, o que faz ai a essa hora?- Minha voz a sobressaltou de leve, mas ela nem chegou a se virar. 

—Nada demais, Irmão.- A voz tinha ganhado mais firmeza ao falar comigo com o passar dos anos.- Estou aguardando o dia começar. Quero ver o nascer do sol. 

"Ela era sempre tão confusa?" 

—Recém passa da meia noite, senhorita Hinata, falta muito para o amanhecer-Ainda que houvesse tédio em minha voz, eu me encontrava intrigado.- O que tem de tão importante em um nascer do Sol?  

—É o nascer do Sol do meu décimo sexto aniversário, a partir de agora eu assumo meu lugar de herdeira do Clã. Não vai ser fácil meu treinamento para assumir a liderança, mas eu espero que assim como o sol vai trazer um novo dia eu possa trazer luz para essa família novamente. 

Fui pego de surpresa pelas palavras da herdeira Hyuga, eu não lembrava que era seu aniversário, mas o que mais me surpreendeu foi aquela determinação quase teimosa igual aquele dia da nossa luta, presente novamente em sua voz ao falar sobre assumir a Família, mesmo sabendo que quase todos favoreciam Hanabi.  

Continuei encarando os agora longos cabelos de Hinata, em nenhum momento ela tinha se voltado para me olhar, mesmo quando não a respondi. Depois de um tempo, apenas continuei meu caminho. Por ser considerada muitas vezes um fracasso, eu sabia que ninguém comemoraria seu aniversário não ali, naquela família dividida e obscura na qual apenas ela via esperança de luz. 

Abri a geladeira pensando em pegar os bolinhos Nikuman que Tenten tinha feito para mim, em mais uma tentativa de chamar minha atenção. Eu pretendia come-los como jantar, porém com um suspiro pesado de culpa ao lembrar de Hinata os peguei e sai de volta ao lugar em que ela estava. 

"Ninguém faria um aniversário para ela, mas ela ainda se importava, mesmo quando não mereciam" " Quando eu não mereci" 

—Senhorita Hinata! Vem, vamos- falei impaciente na direção de um rosto confuso. 

—A onde, irmão? 

—Se você está tão determinada a perder uma perfeita noite de sono, por um nascer do sol, então que seja com uma vista melhor que essa. 

—Irmão? -perguntou confusa 

—Senhorita Hinata, você vai sair comigo, não existe perigo nisso, então vamos- Falei já pensando que nem deveria ter tido a ideia, mas estendi minha mão na direção onde ela estava sentada. - Eu não vou pedir de novo. 

—Tudo bem, irmão- disse ao pegar minha mão. 

Passamos pelos portões do distrito e fomos em direção a floresta que rodeava a fronteira da vila, nosso destino foi a cachoeira que eu costumava levar algumas meninas da vila ou as vezes treinava com Rock Lee ali. Você entende como eu não dei bola para o lugar ou para que eu estava fazendo? Porque aquele lugar não significava nada, não era primeira vez que eu ia ali, não era primeira vez que eu saia sozinho com Hinata, nada daquilo era uma primeira vez, propriamente dita, para mim, mas acontece que foi. 

Eu fiz uma pequena fogueira para nos aquecer e sentamos no chão, desembrulhei os Nikuman que seriam minha janta e ofereci-os a Hinata, ela os pegou com uma mão tremula e olhar incerto, mas a sempre gentil sorriu ao final e voltou seus olhos para a noite estrelada. 

—Você sabe que não precisava, não é irmão?- Não me importei em responder e apenas continuei fitando a noite.- Por que você fez isso? 

—Porque sim, senhorita Hinata. Por que você se importa com essa família, que faz questão de te menosprezar? -Devolvi a pergunta para desviar o assunto já que eu não tinha uma resposta  a pergunta dela. 

—Porque é a família que eu tenho, não possuo outra. E se eu não acreditar que futuro essa família terá, irmão? Veja bem, o tempo do senhor meu pai vai passar e caberá à mim, a Hanabi e à você, irmão Neji, evitar que o que nos incomoda hoje se repita amanhã.- 

—Eu? - questionei surpreso.- Quem sou eu, senhorita Hinata? Só um membro da família secundaria cumprindo seu dever. - Minha voz voltando ao normal, sem emoção. 

Hinata ao meu lado soltou uma risadinha baixa. 

—Você é o que você quiser ser, irmão Neji. Eu me recuso a acreditar que somos fadados a ser aquilo que outros pensam ou nos comandam a ser. - Seu rosto agora virado na minha direção enquanto falava. - E eu acho que você também acredita nisso, irmão. 

"Hinata.." 

Um som escapou dos meus lábios ao ser pego de surpresa pela afirmação da herdeira Hyuga. Fiquei sem resposta, e no fundo sabia que Hinata não precisava de uma, apenas deitou-se na grama e voltou a mirar o céu. 

Fiquei a pensar em suas palavras, enquanto terminava de comer, eu não podia deixar de pensar em quão inocente aquela menina do meu lado ainda era e em quão duro o seu caminho seria, ela estava determinada a dar um lugar ao sol a uma família que passou muito tempo na sombra. Em algum momento da noite, Hinata se entregou ao sono e eu fiquei a observando ressoar tranquilamente. 

"Pura demais para essa família" 

E eu quis proteger aquela pureza, e de todo o meu ser desejei que Hinata realizasse aquelas coisas que tinha me dito, ainda que eu não fosse capaz de acreditar nelas daquela maneira, mesmo que eu visse o mundo de uma maneira muito mais cruel que ela, por ela achei que o mundo seria um lugar melhor se  aprendesse uma coisa ou outra com aquela Hyuga. 

Conforme a noite foi clareando, também clarearam meus pensamentos e momentos antes de acordar Hinata, eu lembro de ter pensado que aquela menina naquela noite tinha me mostrado uma fração da mulher incrível que ela seria, que pela primeira vez eu queria estar ao seu lado para ver isso acontecer . Dei um cutucão de leve em seu ombro, que foi respondido com um resmungo enquanto ela se sentava. 

—O sol logo vai nascer, senhorita Hinata. Seria sem sentido se no fim de tudo você não visse o nascer do sol. 

—Obrigada, irmão.- disse suavemente 

Franzi o cenho para aquelas palavras, foi a primeira vez que ser chamado de irmão me incomodou, não pelo ódio como tinha sido no passado, eu simplesmente não achava que estava a altura de ocupar esse papel na vida de Hinata. 

—Eu não sou seu irmão. - Vi a magoa passar por seus olhos rapidamente antes que ela baixasse os olhos para a mão. - Eu ficaria feliz, senão me chamasse assim novamente, senhorita Hinata. Eu acho que você tem um longo caminho pela frente, e ele não será nada fácil, mas quero acreditar que você ainda vai fazer dessa família algo que possamos nos orgulhar. 

—Neji- cortei suas palavras com um levantar de mãos. 

—Essa família não merece seu esforço, como eu não mereci sua visita no hospital aquele dia, contudo senhorita Hinata, eu escutei a determinação em sua voz, uma determinação que eu um dia julguei tola igual a de Naruto, e se você acredita que o sol voltará a brilhar por essa família, eu darei o meu melhor para te ajudar nessa missão. Então, assim como sol vai trazendo um novo dia eu quero começar uma nova relação com você Hinata, uma que não tenha a ver com "irmão" que um dia tentou te matar. Que hoje seja a primeira vez que você saiu com alguém, um qualquer e que possamos a partir de hoje construir o que seremos um para o outro, sem o peso do passado, senhorita Hinata. 

—Neji...-seus olhos se encontravam marejados e ela parecia não saber o que responder por um momento. - Tudo bem, mas você não pode mais me chamar de senhorita.  

Um princípio de sorriso ameaçou aparecer em meus lábios a admirei com o rosto voltado para o sol por um segundo antes de também me virar para a luz que despontava no horizonte. 

—Hinata...-a falta de informalidade soou estranha na minha voz, incerta quase.- Hinata, feliz aniversário. 

—Obrigada, N-Neji.  

Virei para encarar seus olhos brancos que encaravam os meus, a luz refletindo em nossos rostos, essa foi a primeira vez que sai com Hinata Hyuga ,todas as outras não tinham contado, missões e eventos da família, não tinham contado e todas as outras que ainda viriam não teriam o mesmo peso, a mesma sensação de começo de algo bom como foi aquele nascer de sol que presenciamos juntos.