Hikari Hyuga com seus longos cabelos negros-azulados corria a não mais que um passo a frente de uma copia perfeita sua, não fosse o fato do irmão gêmeo na verdade possuir cabelos mais escuros que os seus e mantê-los com o comprimento pouco a cima dos ombros. 

— Dessa vez, você com certeza vai perder, Hikaru!- A voz da irmã estava levemente alterada pela corrida, mas mesmo assim Hikaru conseguia ouvir a satisfação da irmã. 

— Isso não vai acontecer, maninha. Eu sempre vou ser melhor que você. 

— Isso até podia ser verdade, se você não tivesse ficado todo distraído babando em cima daquela Uchiha.- O deboche da irmã realmente o estava irritando. 

Ao invés de respondê-la ele concentrou-se em direcionar sua raiva para ganhar a corrida, logo a frente deles o portão do Distrito Hyuga já estava próximo. Em uma última investida Hikaru Hyuga passou da irmã Hikari, bem a tempo de ganhar dela por muitos menos que um passo ao cruzarem o portão do Distrito. 

— Você não deveria ter cantado vitória antes da hora, maninha!- disse ele jogando os cabelos para trás tentando ajeita-los. 

— Eu não sou sua "maninha", nós somos gêmeos idiota.- a voz dela já soava distante enquanto a mesma entrava na casa principal. 

— Não muda o fato que eu nasci primeiro!- o grito foi dado para as costas da irmã. 

— Por 1 minuto e meio, seu idiota. E só pra você saber, você não é primeiro a ficar babando pela Uchiha e ela nem nota a sua existência. 

Satisfeita por finalmente fazer o irmão ficar quieto, Hikari entrou na  casa a procura da mãe. Hikaru ficou encarando a silhueta da irmã desaparecer pela porta, irritado ele virou-se na direção contrária olhando o por do sol. 

Era bem verdade que ele tinha passado a dispensar mais que uma olhada para herdeira de Sasuke Uchiha, mas não queria dizer que ele estivesse babando, isso seria demais. O que incomodava o jovem Hyuga não era que Sarada chamasse a sua atenção, e sim não saber o que fazer. Ele não gostava de errar muito menos hesitar, simplesmente não fazia parte de sua natureza. Diziam que ele tinha puxado ao pai Neji nesse quesito, mesmo com seus recém completados 14 anos, Hikaru Hyuga era um fatalista, grande estrategista que gostava de estar sempre um passo a frente em tudo e não saber o que fazer com o frio que sentia na barriga toda vez que via Sarada simplesmente o frustrava. Com esse sentimento, chutou uma pedra que estava em seu caminho, e foi assim que seu pai o encontrou. 

— Existe alguma razão para um shinobi Hyuga estar desperdiçando energia chutando pedras pelo caminho ao invés de estar treinando?- A voz de Neji não trespassava emoção alguma, mas sua atitude nunca intimidou os filhos, eles conheciam o pai melhor que isso. 

— Não sei, talvez a mesma razão que faz o gênio Hyuga desperdiçar seu tempo olhando outros chutarem pedras do que estar cuidando de algo importante. 

 Neji suspirou alto e encarou o filho atentamente. 

— Você tem passado muito tempo com Naruto, está começando a responder como ele.- Sentando-se  em uma rocha ali perto, Neji voltou seu rosto para o sol poente enquanto prosseguia.- Sua irmã está na cozinha contando a todos como quase ganhou de você hoje, mas tenho certeza que não é isso que está te incomodando, afinal você ganhou. 

— Eu sempre ganho.- "Arrogante. Como eu era." pensou Neji com a resposta do filho. 

— Então o que é? 

A resposta não veio de imediato, Neji sabia que o filho ainda estava processando se falaria e por isso continuou calmo olhando para o sol. 

— Como você soube que a mãe era pessoa certa? E o que fazer ?Como você não errou, e fez dar certo de primeira?- Hikaru ficou incrédulo perceber o pai soltando uma risadinha. 

— Hikaru, eu não sabia e mesmo quando soube eu não fazia ideia do que fazer e com certeza nada deu muito certo de primeira. Quando se trata desse assunto não existe isso, ou é muito raro.- Respondeu  o pai sério como sempre. 

— Eu não entendo, eu sou um Hyuga, eu tenho que ser melhor. Eu tenho que ser o primeiro e fazer certo na primeira vez, é o que se espera de mim. 

— Hiashi, me paga por essas besteiras. Hikaru, se espera muito de você, mas existem coisas que não se trata de ser o primeiro. Não é uma corrida, ser o primeiro não faz diferença, o que importa é ser ultimo, ou mais ainda, se tornar único mesmo tendo outras milhões de possibilidades. O primeiro amor da sua mãe não fui eu, sabia?  

— O que?! Como assim? Achei que vocês tivessem se apaixonado na primeira vez que se falaram! 

Um sorriso quase irônico brincou no canto dos lábios de Neji enquanto respondia ao filho. 

— Acho que eu e sua mãe nunca contamos como foram as primeiras vezes que levaram ao que somos hoje. Vou te contar umas coisas, mas elas ficam aqui, se Naruto descobrir ou pior Rock Lee, eles nunca mais vão me deixar em paz.  

POV. NEJI 

Eu sempre achei que as pessoas colocam muitas expectativas em cima da tal "Primeira vez", são coisinhas superestimadas carregadas de expectativa, que não fazem nada além do que frustrar os tolos se nos apegarmos a elas. A primeira vez, ao pé da letra do significado de primeira vez, que falei com o amor da minha vida, ela nem era o amor da minha vida, e simplesmente não foi uma memória que eu me importei em preservar, simplesmente porque eu não sabia que era a primeira vez, entende?  

Era uma criança conhecendo uma criança, não mais que isso. Então, será que eu posso considerar a primeira vez a primeira vez realmente? Viu? Como eu disse isso é muito supervalorizado, eu acredito que a "primeira vez" para valer mesmo, a que conta, é quando a ficha cai, o coração perde uma batida, você ouve um clique e você sabe. Você sabe que vai lembrar daquele momento milhares de vezes e provável que nem vai ser tão dramático assim na hora, você só percebe depois que já aconteceu. 

A primeira vez que Hinata e eu realmente nos falamos, foi após minha derrota nos exames Chunin para o Naruto. Veja bem, eu já tinha falado com ela mais que algumas dezenas de vezes, já tinha gritado e derramado meu ódio de forma bem pública contra ela, inclusive. Porém, para mim aquela foi a primeira vez nos falamos. 

— E-Eu vim ver como está, irmão?- Abri meus olhos ao escutar a voz delicada e incerta de Hinata. 

Ela estava ao pé do meu leito no Hospital, mexendo nervosamente com seus dedos indicadores sem realmente ousar olhar na minha direção. 

— Essa visita é sua vingança? Olhar meu momento de maior vergonha, já que eu falhei?-Perguntei voltando a fechar meus olhos quando nova onda de dor passou pelo meu corpo. 

— Não, irmão! Eu jamais...Você lutou bem, irmão. - ela parecia tropeçar nas palavras que saiam de sua boca. 

"Fraca" 

— Não seja tola. Eu perdi. - Minha impaciência crescia no tom da minha voz. - O que você quer aqui afinal, garota? 

A pobre garota teve um sobressalto com meu tom rude, mas mesmo assim se aproximou mais da cama e eu não conseguia entender qual era o objetivo daquilo. 

— Eu-Eu vim te trazer isso, irmão. - Minha vez de ter um sobressalto quando senti sua mão na minha, ao me entregar um pequeno pote. - É para ajudar nas suas feridas. Vão te ajudar a se recuperar mais rápido. - Suas palavras mal passavam de um sussurro. 

Encarei seus olhos pálidos, iguais aos meus. 

— Por que você faria isso, depois de tudo? -  

Hinata permaneceu parada ao lado da maca, encarando seus dedos a medida que mexia nervosamente com eles. Não voltou a olhar para mim, nem formulou uma resposta apenas olhou para o sol pela janela do quarto e então partiu. 

Aquela noite eu passei muito tempo pensando, refletindo e revivendo não só minha vida e minhas atitudes até então, como também as palavras de Naruto no campo de batalha e a visita da coitada herdeira Hyuga. Quando o sol nascia eu compreendi, que aquela foi a primeira vez que eu conhecia Hinata Hyuga, ela não era fraca, eu que era o coitado que tinha se apegado ao ódio durante muito tempo.  

Aquela foi a primeira vez que falei com Hinata Hyuga, essa é a primeira vez que eu escolhi lembrar, a primeira que significou algo válido de ser lembrado quando eu percebi que ela apesar de todo o meu ódio destilado, ela só tinha bondade a oferecer porque essa simplesmente era ela.  

Um raio de sol  que luta para passar pelas nuvens cinzentas da tempestade.