Antes De Ser Mulher Eu Era Uma Menina escrita por Alice Shalom


Capítulo 15
Jardim de Infância (Bônus)


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu não quero parecer arrogante não, mas era exatamente assim que eu pensava.



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Nascimento 16/09/1996

 

BÔNUS (se quiser mais desses bônus converse com minha mãe)

Para entrar na escola chantagiei minha mãe, pois eu queria ficar com minha irmã. Eu insisti com ela por um bom tempo, pois ainda usava fraldas quando coloquei essa ideia na cabeça e larguei as fraldas com menos de um ano. (Eu mesma decidi largar as fraldas, pois me incomodava o “número 2” na fralda enquanto eu andava.) Vi que minha irmã mais velha não usava fraldas, e a observei para saber como ela lidava com essa situação. A vi sentada no vaso várias vezes até perceber o que significava, então, um belo dia, com menos de um ano de idade, quando senti vontade de fazer xixi, fui até o banheiro, tirei as fraldas assim como minha irmã desceu a calça e usei o vaso.

 

Maternal - 1998 -  1 a 2 anos.

Eu fugia da sala de aula para estudar na sala da minha irmã. Não havia punição pelos meus atos e nem reforços positivos que me estimulavam a ficar na minha sala de aula. Eles mudaram a porta da sala para cercar a sala do maternal para eu não fugir, mas era só a professora abrir a porta para eu passava por debaixo das pernas dela. Ela me puxava de novo para ficar na minha sala sem minha irmã, a minha sala de aula era um reforço positivo para eu não gostar da escola, pois pedi a minha mãe para eu ir a escola para ficar com minha irmã e na escola, nos separavam. Fora que não havia muitos colegas inteligentes que dava pra conviver comigo na época e as atividades de sala eram entediantes, a única que realmente fazia eu perder a noção de tempo era colorir e desenhar, eu adorava abrir minha bolsinha de lápis e ver os lápis apontadinhos que minha mãe deixava prontinho para o uso. Depois de alguns meses, eu até tentei apontá-los, mas ainda não tinha forças nas mãos, não queria incomodar minha mãe pedindo ela para apontá-los, mas como vê-los apontados reforçava meu comportamento de colorir e me ajudava a fazer o tempo passar pra eu ir embora para casa logo, passei a avisar minha mãe quando precisava de apontar o lápis. Antes de sair do maternal, eu já tinha forças o bastante para apontá-los sozinha e passei a fazer isso para desenhar. Não pedi ajuda à professora, pois nem sabia que ela estava lá para me ajudar.

Havia momentos que eu chorava quando tentavam me tirar da sala da minha irmã e com isso, eu conseguia ficar na sala dela. Usei esse truque de chorar e segurar nos objetos umas duas ou 3 vezes e todas deram certo. Mas não me lembro se as últimas vezes usei de propósito.

Eu consegui abrir minha lancheira e comer sem a professora, não sabia que ela estava lá pra me ajudar. Minha mãe disse que eu comia antes da professora chegar em mim, pois ela tinha que ajudar todas as crianças e até chegar em mim eu já havia comido e guardado tudo na minha lancheira.


Não era usado nenhum tipo de técnica pedagógica para estimular os alunos. Não que eu lembre...

1°, 2° e 3° período 1999, 2000 e 2001. 3, 4 e 5 fazendo 6 anos no final do ano.

A professora sugeriu que eu ficasse no maternal por mais um ano, pois eu era muito jovem, porém minha mãe falou para a professora que minhas fugas da sala era porque o ensino estava fraco pra mim, e que ia me avançar de turma para eu ficar mais ocupada com as atividades mais difíceis.

Eu gostava de aprender a escrever, para mim era como desenhar e gostava de caprichar nas letras. Minha mãe todos os dias abria meus cadernos e elogiava minhas letras, isso me estimulava ainda mais a caprichar nas letras com todo o carinho. Uma vez uma professora tentou me punir falando que minhas letras eram feias, mas eu falei com ela que não me importo com o que ela pensava e sim com a minha mãe que até "desmaiava" ao ver de tão bonita eram. Esse “desmaio” da minha mãe era um reforço positivo pra mim, pois era quando ela brincava das letras serem tão lindas que ela desmaiava.

Quando eu fazia as atividades e as professoras elogiavam e colocavam mensagens, não causavam tanto impacto em mim inicialmente, o que me reforçava a fazer as atividades eram os adesivos que as professoras colocavam, mas nem todas usavam o adesivo de parabéns, e quando não faziam isso eu perdia o interesse de fazer as atividades, mas eu fazia mesmo assim, porque era o que tinha pra fazer, e em casa era porque minha mãe mandava, ficava dou meu lado (eu gostava da presença dela, especialmente quando ela me ajudava segurando na minha mão para escrever comigo, pois eu relaxava a mão e deixava ela escrever sozinha) e também gostava de fazer o “para casa”, pois pra mim era como um joguinho e como desenhar as letras.

Meus colegas faziam coisas que eu não sabia o que era (era bagunça) e ganhavam castigo de ficar sentado sem fazer as atividades. Um dia reclamei à minha mãe que eu não ganhava castigo, pois às vezes eu não queria fazer as atividades de sala e quem ganha castigo, não fazia as atividades. Para mim o castigo era um reforçador, apesar de para os professores ser uma punição.

Me lembro que eu não conseguia me enturmar, pois eu tinha um ego grande, queria ser considerada especial para os meus colegas e, apesar de ser popular na turma, eu tinha uma rival. Decidi me isolar, pois não iria correr atrás das pessoas para conseguir atenção, foi aí que aos poucos comecei a observar melhor quem tinha consideração por mim ou não.

Existia um menino que sempre me batia e mordia sem razão aparente, eu chorava, os professores me pegavam no colo, mas nunca resolviam o problema com o menino. Talvez, eles pensassem que o choro era por atenção ou tentavam me acalmar, pois às vezes eles realmente viam que eu havia sofrido agressão. Até que, uma vez mordi o menino, não soltei minha boca dele até a professora chegar, a chamado de outro colega. A professora tentou me obrigar a pedir desculpas, mas a xinguei falando que ela não corrigiu meu colega corretamente, então eu mesma fiz. Para mim essa violência foi um reforçador para fazer as pessoas violentas pararem de me agredir, pois nunca mais esse menino me bateu, muito pelo contrário, ficou com inveja, medo e ainda se apaixonou por mim, pois no último dia de aula, me pediu um beijo na boca.

Pra mim era um pouco chato ir à escola, pois as pessoas não eram tão inteligentes, eu tinha nojo de alguns que eram muito burros. Por exemplo, minha tia tentou ensinar meu colega a amarrar o tênis e eu aprendi de primeira apenas observando ela o ensinar, e ela nem havia me chamado para aprender, eu aprendi, pois queria ser independente dos adultos para amarrar meu tênis. No dia seguinte, o garoto estava com o tênis desamarrado e havia esquecido como se amarrava e ainda andava pela escola sem saber o risco que corria caso tropeçasse no cadarço. Pra mim aquilo era uma grande desmotivação de ir a aula , eu pensava “a não conviver com crianças burras e bagunceiras!”. Mas não era tão ruim assim, pois alguns já eu conseguia trocar umas palavras comigo, então por outro lado não me sentia tão só assim, apesar de não ser a favorita de todos.

Não houve educação aos alunos mais velhos referente aos cuidados que deviam ter com os mais novos durante o recreio. O que fizeram foi dividir o recreio para as crianças pequenas primeiro e as mais velhas depois, porém começa um recreio após o outro e as crianças sem noção chegaram empurrando as mais jovens (eu) e nos machucavam, por isso, eu não sei como, decorei o tempo do recreio das crianças mais novas e quando estava para acabar eu voltava antes para a sala de aula. Eu realmente sentia ódio desses meninos que me empurravam, eu pensava que se eles eram mais velhos que eu, deveriam ser mais maduros.

Para mim era uma punição estar na escola quando eu tinha que depender dos meus colegas para fazer algo, por exemplo, antes do recreio era a hora do lanche. A professora nos colocava em um círculo sentados no chão ou lanchavámos na sala de aula. Ela passava de aluno a aluno abrindo lancheira, dando os lanches e depois que todos terminavam de comer, ela fechava lancheira por lancheira, enquanto isso eu ficava super ansiosa, sentada, à espera do recreio. Sendo que eu mesma abria minha lancheira, comia e guardava tudinho organizado. Nesse tempo, lembro que a professora abria minha lancheira para conferir se eu já havia comido mesmo, pois ela nem sequer havia chegado em mim para me dar meu lanche. Para mim, era um super reforçador perceber que eu estava sempre à frente dos meus colegas.

 


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Notas finais do capítulo

Gente, nós pensamos que crianças não tem ego, orgulho, raiva e essa coisas, mas caraca, ou eu tô perdida, ou nós não sabemos nada sobre crianças.



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