O Show de Merte escrita por Lavender Lightning


Capítulo 2
Como construir um universo: Parte II


Notas iniciais do capítulo

Bem-vindo à segunda parte de Como construir um universo! Neste capítulo, os POVs serão de Yumi, Cascão e Haku.



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— YUMI –

Não, não e não.

— William, eu sei o que você está pensando. Eu sei que isso parece mesmo um jogo para você, mas entenda! A situação é séria e você insiste em fazer brincadeira! Querendo ir para a piscina uma hora dessas? Você não lembra do que aconteceu em Lyoko?

Eu estou conversando, ou melhor, gritando com William no meio do corredor do bloco das meninas. Ele me fez sair do quarto, onde eu estava com a Toph e a Mônica, e estava ali, sendo um idiota irresponsável como sempre.

— Yumi, entenda. Eu não vou deixar que aconteça novamente o que aconteceu da outra vez. Eu prometo. – Ele fala de quando levou na brincadeira o que era sério, foi possuído por um vírus e passou meses preso num corpo virtual agindo contra a própria vontade. – Eu acho que o melhor que podemos fazer por enquanto é tentar relaxar um pouco, conhecer uns aos outros...

— Talvez não aconteça da mesma forma, mas a sua irresponsabilidade e sua falta de maturidade sempre colocam a gente em alguma encrenca. De todos que poderiam ter vindo para cá comigo... Aelita, Odd, Jeremie... Ulrich. Tinha que ser você.

Antes que o William pudesse responder, uma garota loira de outro quarto, que eu ainda não tinha visto, fala antes dele.

— Você tá achando ruim quem veio com você? Espere só até conhecer quem foi mandado para cá COMIGO!

— Ei, ei, ei, Careta, mais calma aí – Fala o garoto que estava atrás dela, em tom de deboche. – Você vai causar uma má impressão de mim, assim.

— Eu quero que a sua impressão seja a pior possível! – Diz ela.

— Gente, calma aí – Diz William, levando na brincadeira. – Primeiro, me digam, quais os seus nomes?

— Eu sou Peter e essa é a Careta. Mas podem chamá-la de chata, eu deixo.

— Escute aqui, se você me chamar de Careta mais uma vez, eu vou...

— Vai fazer o quê? Me mandar embora? – Retrucou Peter. – Você sabe que, para termos qualquer chance nesse jogo, nós dois temos que ficar juntos. Eu sou a melhor chance que você tem. E não sabemos o que vai acontecer se perdermos.

Peter é bem alto e forte, mas de todos os garotos que vi até agora, com certeza é o mais feio. Ele usa uma jaqueta e calça pretas. Não vou com a cara dele. Acho que vou odiar esse garoto. A menina é loira, magra e forte, e tem a minha altura. É bonita. Sua camisa preta de regata deixa à mostra uma pequena tatuagem em seu pescoço, de três pássaros.

— Meu nome é Ca... Tris – Diz ela, ainda nervosa mesmo depois do tempo que tomou para respirar.

— Catris? Poxa, eu sabia que um dia você me daria um nome melhor ainda pra chamar você – diz Peter.

— Olha, eu e ele podemos ter vindo do mesmo lugar, mas eu garanto que ele não tem nada a ver comigo.

— Eu sou Yumi – falo. – E... Tris, eu entendo como você se sente.

Olho para William, desconfiada. Tris observa a mim e ao William de cima a baixo.

— Yumi, não sei você, mas eu odeio ser levada à força para lugares que não conheço. Eu estava afim de dar uma volta, conhecer o lugar, quem sabe até descobrir algum segredo. Sou boa nesse tipo de coisa. Quer vir comigo? – Ela fala. Sua voz dá a impressão de que ela quer andar comigo por falta de opção, mas vou entrar na onda dela.

— Quero, vamos! – Eu digo. O que eu mais queria no momento era ficar longe do William.

Tris assente e caminha em direção à saída. Eu vou atrás.

— Ei, eu também vou! – Diz o William.

— Não lhe chamei – respondeu Tris.

— Ei, cara, deixa elas. Depois elas vão perceber que precisam da gente – Disse Peter. William pensa um pouco e depois assente.

— Mulheres... – Os dois falam ao mesmo tempo e riem um pouco. Foi a última coisa que ouvi, pois Tris já tinha virado o corredor e eu estava atrás.

— CASCÃO –

Cara, eu estou com muita fome!

Aqui não tem nenhum relógio, mas pelo sol a hora que chegamos aqui era meio dia. Já está quase anoitecendo e finalmente resolveram nos dar comida. O restaurante daqui é incrível! Tem um bufê enorme com todo tipo de comida. Eu encho um prato com panquecas, hambúrguer, feijão, pastel e salada de frutas para a sobremesa. Claro que tinha vários doces, mas eu preciso me manter saudável.

— E, como vocês podem ver, Cascão é um poço sem fundo – diz a Mônica enquanto eu como ao lado dela. Estamos sentados na mesa com Toph, uma baixinha que estava no mesmo quarto da Mônica, e Aang, um carequinha amigo dela que dividia o quarto comigo. Por algum motivo ele me lembra o Cebola.

— Não, eu não posso ver nada – diz a Toph – e eu nunca vou me acostumar com isso. Eu preciso ir embora agora.

A Mônica tinha me dito que a Toph era cega, só que ela usava algum poder louco que ela tinha para conseguir enxergar mesmo assim. Só que, quando veio para cá, ela ficou sem isso e aparentemente está completamente cega pela primeira vez na vida.

— Toph... – disse Aang.

— Não me peça pra ter calma de novo, Aang. Você mais do que ninguém entende como eu tô me sentindo. – Ela diz, interrompendo-o.

— Ela não tá nem me chamando de pés leves... – Aang diz baixinho para si mesmo.

— Eu quero ir embora. Quero minha dominação de terra. Quero minha dominação de metal. Quero ir embora...

— Toph, eu também estou sem minha dominação. Sem nenhum elemento. Sabe, quando a gente está no mundo espiritual, acontece a mesma coisa. Não é tão ruim.

— Não é ruim pra você que não precisa da dobra pra sair andando por aí sem dar de cara com uma porta. Olha, eu não tô com fome. Vou pro quarto.

Toph levanta-se da mesa e empurra a cadeira para sair. No primeiro passo que dá, bate o pé numa cadeira da mesa vizinha. O pessoal que está sentado lá olha para ela com uma cara estranha.

— Ai. – Eu digo. – Essa doeu até em mim. – O rosto dela fica vermelho. Ela está se esforçando para não dar um grito com a dor.

— Eu vou pro quarto com você, Toph. – Diz a Mônica.

— Não preciso de ajuda. – Toph saiu andando para o lado e bateu com a barriga em outra cadeira.

— Mônica, leva a Toph pro quarto, por favor?

— Levo sim, Aang, não se preocupe – responde a Mônica. – Eu vou levar comida pra ela, também.

Mônica se levanta e segura na mão de Toph para levá-la ao quarto. Relutantemente, ela segue.

— Isso vai ser difícil de se acostumar – diz Aang, voltando-se para mim. – Acho que, depois de comer, vou procurar um lugar para meditar. Mas, Cascão, me diz uma coisa. O que é um “reality show”?

— Então – eu fiquei um pouco surpreso com a pergunta, mas não estranhei. – É tipo um programa de televisão em que se junta um monte de gente num lugar e fazem eles passarem por várias situações. Geralmente no final tem algum vencedor que ganha um prêmio. Não tem script nem nada, por isso o nome “reality”, porque mostra as atitudes reais daquelas pessoas e não personagens.

Aang continua olhando para mim com seus olhos grandes e um pequeno sorriso.

— Você entendeu alguma coisa do que eu disse? – eu falo.

— Não.

— É, vou ter que explicar de outro jeito.

Depois de meia hora tentando explicar para alguém que nunca viu uma televisão na vida o que é um reality show, eu vou até o salão principal, que fica perto do restaurante. Aang me disse que ia procurar um lugar afastado para meditar, e eu pedi a ele que me chamasse para ir junto outra hora que fosse fazer isso. Mas agora, eu quero explorar esse lugar e conhecer o pessoal.

No salão, Libby está tentando mexer em um aparelho de som e Jimmy está sentado num sofá com alguns outros. Resolvo ir até eles.

— O que ele tá fazendo? – o garoto com cara de mexicano e camisa laranja pergunta ao grupo. Ele está falando do Jimmy, que está com várias ferramentas espalhadas pelo sofá, mexendo com elas nas costas de outro garoto.

— Ele disse que me achou interessante, e, bem, estou deixando ele dar uma olhada nos meus circuitos. – Diz o garoto que estava recebendo a “cirurgia”.

— Seus circuitos? Você é o quê, um autômato? Eu quero ver também! – fala o mexicano.

— Sou um androide – ele diz.

— Eu e meu irmão Astro somos! Pra quem não me conhece, eu sou Zoran! – diz a garota de vestido rosa que parecia muito com o androide. Ela fala isso como se ser um androide fosse a coisa mais normal do mundo.

— Que legal! Eu quero ver também! – fala o mexicano. – Eu também sou mecânico. A propósito, meu nome é Leo Valdez. Eu também sou...

— Leo, todo mundo já sabe quem você é. – interrompe o garoto com cara de gótico que estava do lado dele. Ele dá de ombros e senta do lado do Jimmy

— Você gosta de robôs também? – Leo pergunta a mim enquanto começa a mexer atrás do Astro também.

— Cara, eu não entendo muito de robôs não. Eu gosto deles se forem legais comigo – falo isso enquanto sorrio para Astro. – Meu melhor amigo, Cebola, adora mexer com isso e é muito bom com programação de computador. Se ele estivesse aqui, adoraria conhecer vocês.

— Ei, não mexe aí não! – Astro fala, dando um tapa de leve na mão do Leo. – Quer desregular o capacitor do meu canhão de braço? Ele já demora meia hora para carregar com isso, imagine sem!

— Você tem um canhão no braço? – Fala Leo.

— Você tem capacitância suficiente para um canhão no braço? – Diz o Jimmy. – Como é que funciona sua bateria mesmo?

— Gente, acho que já tá bom de me examinar. – A “porta” atrás dele se fecha sozinha.

— Astro, vem conhecer as minhas colegas de quarto! A Isabella é tão legal! A Chell, bem, ela não fala muito, mas ela é legal também.

— Tá certo, já vou. Gente, depois eu falo com vocês, tá certo? – Diz o robô, saindo.

— É, pelo jeito, até robôs têm que cuidar de irmãos mais novos às vezes. – Eu falo, tentando entrar na conversa.

— Ele devia usar uma camisa. Só porque é um androide, acha que pode sair por aí seminu! – Diz Leo.

— Ei, já que você também se interessa por robôs, dá uma passada lá no nosso quarto depois. Eu divido com o Astro e o Ferb, aquele cara de cabelo verde. Meu armário veio com várias ferramentas do meu laboratório. O Astro não tem cama, ele tem uma estação de recarga! E o Ferb também gosta de mecânica. Ah, e esse seu cinto, guarda o que dentro? – Diz o Jimmy, interessado no Leo.

— Eu acho que temos coisas mais importantes com as quais nos preocupar – diz o Nico. – Ninguém aqui faz ideia de onde está, nem quem nos colocou aqui. Vocês não estão preocupados?

— Cara, eu estou um pouco – eu digo. – Mas é o seguinte. Eu já vi e enfrentei todo tipo de situação. Desde criança, só acontece coisa louca comigo, e pelo que eu tô vendo, isso não é só comigo. Eu digo que a gente deve ser manter unido, e enquanto a gente não volta pra casa, por que não podemos aproveitar um pouco? A comida daqui é incrível!

— Você não sabe nem o que essa comida pode fazer com você – diz Nico.

— Se ela tá me deixando de barriga cheia, tá me fazendo bem.

Nico olha para mim com uma cara de desprezo terrível. Nesse momento, levo um susto. As notas iniciais de “It’s My Life”, do Bon Jovi, tocam num volume muito alto por todo o salão.

— “This ain’t a song for the broken hearted!” – Eu canto ao mesmo tempo que a música. — Eu adoro essa música!

— Não era pra ter tocado essa música! Eu não sei mexer nesse aparelho. – Diz Libby, que estava o tempo todo tentando mexer no aparelho de som ali do lado. – Eu quero ouvir minhas boybands!

— Eu quero escolher a música – fala Nico, numa mudança de atitude. Ele vai até a Libby e começa a discutir com ela sobre qual música devem tocar. Eu fico observando e rindo.

— HAKU –

Aqui parece ser um bom lugar.

O sol já se pôs há algum tempo, e a noite é calma. Andei até um local mais afastado, perto do mar, iluminado apenas pela Lua. Preciso meditar um pouco. Enquanto caminho pela grama, passo por outro garoto, careca, de roupa amarela, que está meditando. Tento passar direto por ele.

— Oi! Eu vi você chegando. – Ele me diz enquanto abre os olhos e se vira para mim.

— Pode continuar o que estava fazendo. Eu não quis atrapalhar. – Eu digo.

— Não se preocupe. Na verdade, eu não estava conseguindo me concentrar muito bem. Você veio meditar também?

Eu assenti com a cabeça.

— Se quiser, eu posso lhe deixar sozinho. Eu não consegui contato com o mundo espiritual. Normalmente é fácil para mim, mas este local... apesar de calmo, acho que não tem uma sintonia muito boa. – Ele me diz.

— Você veio do mundo espiritual? – deixo escapar a pergunta, mesmo tendo dito para mim mesmo que não ia me envolver com ninguém além de Chihiro.

— Não, não sou de lá. Mas eu já fui lá várias vezes, e tenho uma relação boa com os espíritos.

— Escute. Não existem locais sem sintonia com o mundo espiritual, mas cada um se conecta com ele de uma forma diferente. Se o local não quer lhe permitir conseguir o que quer, você tem três opções. Se adaptar a ele, permitir que ele se adapte a você em seu tempo... ou partir para outro.

— Nossa, você parece saber algo sobre o mundo espiritual.

— Claro que sei. Meu nome é Nigihayami Kohaku Nushi – falo, sem pensar muito. Ele me transmite uma certa tranquilidade. Talvez eu não precise ser tão desconfiado dele.

— Você... é o espírito de um rio?

— Sim.

— Eu... sou Aang. Prazer em conhecê-lo. – Ele se levanta rapidamente e se curva. Faço o mesmo.

— Bem... vou parar um pouco a meditação por hoje – ele me diz. – Vou deixar o local para você. – Os olhos de Aang não param de brilhar desde que falei meu nome para ele.

— Até outra hora. – Ele me diz, voltando para o dormitório enquanto assento com a cabeça. Eu me sento na grama e começo a meditar, olhando para o mar.

Nunca me senti tão longe do meu rio como me sinto agora.


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