Aqua, o filhote de humano escrita por Mar la


Capítulo 9
Um dia no parque de Alae'y




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O movimento intenso, tantas cores, flores, sacos de sementes encantavam os olhos. Como numa enorme feira, as vozes eram altas, os anúncios da venda dos produtos e a transição entre seres de um lado para o outro faziam com que Aqua admirasse a movimentação que ele não está acostumado a ver. Muitas vezes ele apontava com o dedo e beliscava Aya para que ele visse o que tanto era interessante para o menor.

— Precisamos comprar algumas coisas... Você anda crescendo tão rápido que suas roupas quase não cabem em você. — Disse Aya, observando alguns tecidos enquanto Aqua permanecia em seu colo.

— Iii! — Aqua exclamou, enquanto seus olhos fitavam um tecido da cor azulada.

— I? O que é I? — Nem tudo Aya entendia de primeira. As vezes tinha de descodificar o que o humano queria falar. Aqua em resposta da pergunta do outro, apontou para a peça que lhe chamava atenção.

— Oh, gostou desta cor pequenino? — Com orelhas compridas, pontudas e dentes bem destacados, uma figura adulta mas menor que Aya, aproximou-se do pano retirando-o do varal expositório e trazendo-o para mais perto.

— Ele é bem gostoso, de algodão. Mas transpira muito bem. E a cor não desbota. Quer tocar? — Perguntou ela. Aya se aproximou, para tocar no produto que ela oferecia. Os maiores estavam focados na venda.

— ?! Ah... — A vendedora tomou um susto. Aqua teve a audácia de esticar o braço e conseguiu alcançar no que tanto tinha curiosidade. Apertou em cheio a orelha branca. Ela riu após o susto ter passado, mas Aya não ficou tão feliz com o acontecido.

— Aqua, solte. Ela é uma coelha, suas orelhas são sensíveis. Pra ela dói se você apertá-las assim. — Aqua olhou para Aya, não entendia tudo, mas conseguiu compreender que sua ação poderia machucar o outro. Não só isso, ele sabia que pelo o olhar que recebia, com certeza ele não estava fazendo algo tão bom.

— Ah tudo bem! É comum dos filhotes fazerem isto. — Ela sorriu, e passou a mão nos cabelos do filhote de humano. — Você é um lindo filhotinho de gato, muito curioso e muito fofo...

O pequeno sorriu, tímido. Já escondendo o rosto no peitoral de Aya que aproveitou a situação e cochichou no ouvido do avergonhado.

— Diga obrigado e peça desculpas.

Aqua não queria, então apenas negou com a cabeça ainda escondendo-se.

— Diga obrigado e peça desculpas, eu estou te mandando, e se não o fizer não compro nada para você por ter sido levado e teimoso.

Sem opções, Aqua teve de criar coragem e então deixar a vergonha de lado. Aos poucos ele foi olhando para a coelha que o fitava com seus enormes olhos.

— Obirigado... Diucupa...

— Hahaha, que amor! Está tudo bem...

E a conversa sobre compra e venda retornou. No fim, Aya acabou comprando o tecido azul e mais um preto e um cinza escuro. Felizmente a própria família da coelha fazia roupas. Na lábia ele conseguiu o prazo de um dia para que elas ficassem prontas, deixando seu foco apenas em reabastecer o estoque de coisas básicas como algumas comidinhas e o necessário para esta nova etapa de Aqua, conforme o livro dado por Ellian.

[...]

Com o finzinho da tarde livre. Aya levou Aqua em um parque de filhotes. Um local cercado de muros e cerca aramada, espaço lúdico cheio de brinquedos e muito, muito espaço para se divertir. Os responsáveis por estes filhotes sentavam-se em bancos e podiam vigiá-los de longe. Todos ali cuidavam um dos outros.

— Aqua, você pode ir brincar mas não saia com ninguém. Entendeu? Não pode ir embora. Só pode ficar aqui dentro dos muros. Se acontecer alguma coisa, você grita e se esconde. — O jovem arrumava as roupas do pequeno, verificando se estava tudo bem. Aqua ouvia e olhava com atenção o que Aya dizia. Era pequeno, mas muito esperto. Tinha de ser, é o natural.

— Hum... Pode ir brincar... — Aya sentou-se em um dos bancos, em baixo da sombra de uma enorme árvore. Aqua ficou ao lado por um bom tempo apenas observando as pessoas do parque. Era algo novo para ele, este momento de liberdade e de tantos seres mágicos diferentes. Tantos filhotes, tantas características e brinquedos que ele nunca tinha visto. Aya olhou para ele. Que ao perceber retornou o olhar e deu um sorriso tímido. Era nítido em seus olhos que ele queria ir e explorar, mas, por x motivos não ia.

— Aqua... — Aya levou as mãos até as bochechas fofas do humano. As apertando de forma carinhosa. — Eu vou estar aqui. Agora pode ir brincar. — O pequeno ficou olhando sem falar nada e permanecendo parado onde estava. Já sem paciência Aya o empurrou com cuidado fazendo com que desse o empurrão de encorajamento que Aqua precisava para dar os primeiros passos e ir se divertir. Com um sorriso no rosto finalmente o filhote tomou rumo a um pequeno grupo que brincava de pega-pega.

Quando se aproximou, os outros 5 o olharam um pouco curiosos.

— Hey, olá. — Disse uma pequena ovelha. Seu cabelo era estilo black power, branco, suas orelhas e seu rabo peludinhos. De enfeite no penteado, um lacinho cor de rosa.

— Oi... — Aqua a respondeu. Vendo que ao menos sabia falar, os outros também se apresentaram. Um trio de ratinhos meninos gêmeos e um pequeno cachorro. Aqua os olhava com curiosidade.

— Meu nome é Momu. — A garota rechonchuda, com cascos no lugas dos pés, pequenos chifres em crescimento, cauda e orelha sinalizou a si mesma, se apresentando. Em seguida ela tomou a iniciativa de apresentar o resto do grupo. — Eles são o Nai, o Kai e Lai. — Os três pequenos ratos acenaram entusiasmados. — E este é o Doug.

— Eu sou o Doug! E você quem é? — O garoto era um tanto peludo, com uma cauda e orelhas douradas. Se aproximou, começando a cheirar Aqua que logo pôs-se tímido pela intimidade repentina. A ovelha deu-lhe um pequeno chute empurrando Doug para um pouco longe de Aqua.

— Eu sou a Ochi. O Doug é um cachorro ele tem essas manias. Desculpa tá.  — Ochi se aproximou de Aqua, baixando sua estatura para poder olhá-lo de perto.

— Você quer brincar? — Ela indagou. Aqua olhou-a nos olhos. A pergunta o entusiasmou novamente. Quieto ele acenou positivamente com a cabeça.

— Mas primeiro tem que dizer seu nome, se não, não tem como sermos amigos.

— Aqua. — Uma das poucas coisas que ele aprendeu a falar corretamente, sem tropeçar ou trocar letras. Aya sempre insistiu e reforçou a sua pronuncia para seu próprio nome. Se ele ouvisse, provavelmente ficaria orgulhoso.

— Diferente. Gostei! — Ochi sorriu, e pegou na mão de Aqua. — Eu sou a mais velha daqui, então pode contar comigo pra qualquer coisa tá?

E então eles começaram a brincar. Aos poucos Aqua foi deixando a timidez de lado. Os outros cuidavam muito bem dele, mesmo que ele fosse mais novo, não entendesse tudo, ou os acompanhasse. As vezes ele até mais atrapalhava do que ajudava, mas em momento algum eles o excluíram. Aqua estava realmente muito feliz com os amigos que teria feito.

— Ochi! Vamos indo. — O sol começaria a se pôr. Uma figura adulta da mesma espécie de Ochi se aproximou do parque e gritou do outro lado da cerca aramada.

— Okay mamãe, estou indo! — Ela olhou para seus amigos e deu um abraço em cada um. — Se cuidem. Aqua foi legal te conhecer, brincamos outro dia. E pessoal, cuidem dele e não façam nada de perigoso.

— Não faríamos algo assim. — Disse Nai.

— É.

— Verdade. — Kai e Lai logo seguiram a resposta do irmão. Reforçando.

— Eu conheço vocês... Momu e Doug, tenham juízo okay? Preciso ir agora, tchau pessoal até amanhã.

E então Ochi deixou o grupo. Por um momento o grupo ficou parado, sem fazer nada pensando no que poderiam fazer.

— Que horas a mãe de vocês chega? — Perguntou Doug. Parecia ter uma ideia em mente.

— Só depois que o sol se por. — Kai respondeu pelos três.

— E você Momu? — Doug a olhou esperando pela resposta.

— Eu não sei... acho que mais tarde também... Hoje ela ia na coleta...

— E você Aqua? Sua mãe que horas ela vem te buscar? — Aqua estava brincando com um morrinho de areia. Enfeitando-o com algumas folhas. Mas a pergunta de Doug fez com que ele focasse apenas em responder, só que ele não conseguia entender o que ele queria dizer.

— M... mãe? — O pequeno filhote repetiu a palavra. Os outros o observaram um pouco surpreso.

— Sim, ou seu pai. Tua família. — Lai tentou explicar. Mas ainda não fazia muito sentido para Aqua que continuava olhando como se buscasse respostas.

— Alguém que cuida de você... — Momu também tentou explicar. Não teve muito resultado com a primeira tentativa. — Hum... Alguém que... que... te dá comida... brinca com você... te dá banho... e...

— Cuida de você quando você tá doente... Uma vez meu pai ficou o dia inteiro comigo quando eu peguei pulga. — Doug falou involuntariamente. Mas ao perceber o que tinha dito corou. Os outros 4 maiores riram da situação.

— Então você pegou pulga é? — Nai cutucou o ombro do outro.

— Quando eu era muito pequeno tá?!

— Aham... Sei...

Aqua observava. As descrições que eles haviam dado do que era uma família fizeram ele pensar. O que era cuidar? O que é uma mãe? Um pai? Uma família... Preso em seu próprio mundo ele olhava o chão, e por alguma razão Aya apareceu em seus pensamentos quando ele se perguntava e analisava um todo. Quem o alimentava? Aya. Quem o dava banho? Aya. Quem brincava com ele? Aya. Quem estava com ele? Aya. Talvez pelo momento de estar com outros seres além de Aya fez com que ele esquecesse-o por um tempo. Ao sentir falta, ele rapidamente se levantou. O parque pelo horário estava quase deserto, os poucos filhotes que ali haviam eram de colo e estavam com seus responsáveis longe dali, no local próprio pra eles. Os bancos onde antes haviam outros seres sentados observando os filhotes sentados estavam vazios. As sombras de árvore aos poucos iam sumindo cada vez mais. Aqua não conseguiu encontrar Aya em vista. Os olhos começaram a lacrimejar. Onde está Aya?

— H-hey Aqua o que... foi? — Doug se aproximou, percebendo que o menor estava segurando o choro mas não tinha muito sucesso.

— A- A... Ay...a... — O choro que ele tentava segurar por ensinamento, não foi contido. Aqua começou a chorar assim que disse o nome de Aya. Os seus amigos preocupados se aproximaram dele, abraçando-o e dando-lhe atenção. Doug segurou em suas mãos. Momu começou a secar suas lágrimas e Kai e Lai abraçaram-no.

— Shhh... Tá tudo bem. Você tá com a gente. Ok? — Momu deu-lhe um beijo na bochecha.

— Sim... Ainda temos muito tempo para nos divertir. — Doug sorriu para ele. Aqua recebeu tanto carinho que sentiu-se seguro. Ele não estava sozinho mesmo que Aya não estivesse ali perto por agora.

— Pessoal, eu tenho uma ideia. Que tal procurarmos nossos pais? — Nai falou confiante, estufando o peito e pondo as mãos na cintura.

— Como assim? — Momu indagou olhando séria para Nai.

— Eu achei um pequeno buraco na parede. É o nosso segredo. Meu do Kai e do Lai. Alguns dias nós estamos pouco a pouco abrindo o buraco e tampando colocando algumas madeiras e uns arbustos. Tá bem escondido, ainda mais porque fica lá no fundão onde tem os matos e as árvores.

— Sério? Onde está isso? — Doug se entusiasmou. Os outros dois irmãos olhavam, um pouco sem opinião sobre o assunto.

— Lá no fundão. Como eu disse, tá bem escondido. — Nai sorriu para todos. — Vamos logo!

— Eu... eu não sei. Os adultos dizem pra gente não sair daqui. Que é perigoso. — Momu estava desconfiada. De fato, o parque é cercado justo para que os filhotes não saiam e como uma proteção. Alae’y é um país neutro. Mas nada impede de que hajam sequestros e mortes desde que não sejam vistos.

— Ah Momu, não vai acontecer nada. Só vamos procurar nossos pais e fazer uma surpresa! — Nai continuava tentando. Ele olhou para seus dois irmãos que até então se mantinham neutros. — Vamos fazer uma votação! Eu voto que sim.

— ... Sim. — Kai e Lai responderam.

— Eu também voto sim. — Disse Doug que largou da mão de Aqua e se aproximou de Nai que estava em frente de todos. — Isso já faz 4 votos a 2. Nós ganhamos.

— N-Nós somos presas! Não deveríamos ir em um lugar assim sozinhos. E também, temos que cuidar do Aqua, esperar os pais dele chegarem e... — Momu ainda tentava fazer muda-los de ideia.

— Momu, eu protejo todos vocês! O mais forte entre nós sou eu, e eu protejo todo mundo! — Doug fez uma pose. Como se realmente tivesse a força que necessitava.

— Vamos! Vamos! Eu vou na frente! — Nai correu para o local em que ele teria feito a brecha No muro. Os outros logo o seguiram. Momu por reflexo e instinto logo os seguiu também, levando Aqua com ela.

Ao chegarem no lugar, era realmente bem escondido. Os trigêmeos começaram a destampar o que teriam colocado para camuflagem. Doug olhava entusiasmado como se pensasse em diversas travessuras que iria fazer. Momu e Aqua apenas observavam ao lado.

— E... Pronto! Eu vou primeiro, hehehe. — Nai logo se abaixou e passou pelo buraco, indo para o outro lado. Em seguida Kai, Lai e Doug passaram, chegando a vez de Momu e de Aqua.

— Eu... vou primeiro Aqua. — Ela soltou da mão dele. E então passou pelo buraco com um pouquinho de dificuldade por causa de seu físico mais gordinho. Ao chegar no outro lado, Momu pôde ver que estavam em uma espécie de floresta, e não dentro da cidade como imaginariam. Neste lugar, não haviam ninguém além deles, e estava realmente muito quieto.

— Onde estamos? — Ela perguntou. Os outros pareciam também querer saber. Observavam ao redor e o muro se estendia em horizontal como se não houvesse mais fim. De um lado a floresta, de outro lado o parque e a neutralidade.

— Aqua? Pode vir... — Doug se aproximou do buraco estendendo a mão para que o pequeno a pegasse. Aqua a pegou e começou a passar pelo muro mas logo parou dentro do buraco ao perceber que no outro lado o que havia era a floresta que antes ele viajava e ele já tinha familiaridade.

— O que foi porque você não vem? — Doug estava confuso com a parada repentina do filhote.

— Não... — Aqua ao ver as árvores, lembrou-se corretamente do aviso de Aya sobre não sair para fora do parque. Este lugar que ele via, era onde ele estava e onde muitas coisas aconteceram e mesmo que pequeno ele se lembra delas ao menos por agora.

— Vamos Aqua... — Doug tentou se aproximar mais para pegá-lo e tirá-lo para fora.

— NÃO! — Ele recusou-se. Deixando o corpo mole e sentando ali mesmo.

— Deixa ele aí. — Nai suspirou olhando a situação. — Vamos brincar só nós então. Vamos! 

— Ok... — O grupo virou-se dando as costas para Aqua, que mantinha sua atitude de não sair dali. Exceto Momu que ficou parada olhando para ele. A cada segundo, era um passo de distância dos muros.

— Hey Momu você não ve-

— AHAHAHAHAHA! — E o barulho de algo quebrando e sendo esmagado como se fosse uma melancia madura caindo no chão e se estraçalhando foi ouvido. Doug se quer foi capaz de terminar sua fala ou reagir. Sua cabeça foi jogada ao chão e esmagada por uma enorme garra. O sangue jorrou no rosto do trio de gêmeos que por instantes ficaram em choque. Mas o instinto de fuga deu-lhes alguma reação. Eles se viraram olhando de volta para o buraco. Empurraram Momu para que ela entrasse, mas isto a fez cair ela levantou e tentou voltar para dentro. Empurrou Aqua de volta e tentou passar o mais rápido que pudesse. Mas ela deu uma pequena entalada, isto foi o suficiente para que os três de trás não tivessem mais nenhuma chance.

 


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