Aqua, o filhote de humano escrita por Mar la


Capítulo 8
Despedidas e uma nova fase


Notas iniciais do capítulo

Ficou um pouco maior do que o comum, mas decidi finalizar o "arco" da família de orcs em um capítulo só do que ter de separar em várias partes pequenas a mesma cena.



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Assim que viram que a família retornava, diversos outros orcs chegaram para recebe-los e cumprimenta-los. Mas ao ver que entre eles havia um convidado fora do comum, já mostraram suas caras sérias.

— Que merda é essa? — Perguntou um deles. Não demorou muito que começasse um tumulto. O forte barulho das roupas pesadas de aço de alguns guerreiros, outros batiam suas armas de madeira e pedra no chão, rangiam os destes.

“ Nada além do esperado de orcs.” — Pensou Aya, que tinha Aqua em seu colo enrolado no cobertor, querendo deixa-lo confortável, mas o pequeno não conseguia se manter calmo com toda a comoção. Os olhos começaram a encher de lágrimas, e um pequeno choro não pôde deixar de escapar.

— Krul explique-se. — O maior deles, era velho, mas ainda em forma. Na mão segurava um machado. Quando ele falou, todos os outros ficaram em silêncio esperando pela resposta.

— Eu pedi ajuda a ele, para tentar salvar Kroz. — Uma risada foi ouvida de um dos orcs que estava próximo, ele cutucou e apontou no rosto de Aya.

— Um graveto deste? Ajudar? Hahaha em que? Acho que Krul está ficando louco! Desonrando-nos! —O toque bruto fez com que Aya desce um passo para o lado e virasse o rosto. Aqua abriu o berreiro, não deixando de irritar muitos dali.

— E ainda tem algo irritante nos braços! Deixa eu ver que merda é essa. — O público ria com as provocações. O orc desconhecido se aproximou e estendeu a mão pronto para tocar em Aqua, mas ela foi segurada pelo o Orc mais velho e que todos respeitavam.

— Eu quase não o reconheci. Felizmente ainda possuo algumas memórias de minha infância. — Ele tocou no ombro de Aya, que se virou e o olhou, com um sorriso que não mostrava os dentes.

— Ah é? Eu soube que era você desde o início, Rarh. — Todos estavam quietos olhando a cena, sem entender nada.  Rarh riu e fez sinal para que dissipassem. Mesmo que sem vontade, fizeram. Kaa aproximou-se olhando tanto para Aya quando para o barbudo.

— Pai, vocês se conhecem? — Aya se surpreendeu por um instante, mas então riu, dando uma pequena gargalhada baixa.

— Agora faz sentido o porquê dela ser tão amigável. — Aya levou um soquinho de Rarh no ombro.

— Qual é? Agora eu sou líder desta tribo, ninguém conhece este meu lado. — Ele cochichou para Aya, que ainda sorrindo não perdeu a oportunidade para brincar.

— O que? Não sabem que você tinha medo de altura? De besouro? E que acreditava em bicho papão das histórias dos hum... — Rarh tapou a boca de Aya. Aqua havia parado de chorar assim que ouviu a voz de Aya e de seus risos. Estava confuso, encarando Rarh.

— Virou mamãe? — Provocou, apontando para o filhote nos braços do jovem pálido. Aya olhou para Aqua, que o olhou de volta, seus olhos grandes apesar de um pouco melhor ainda estavam inchados, com olheiras e molhados. Aya levou a mão até o rosto do pequeno secando os resquícios de lágrimas.

— Mais ou menos... Com todas estas coisas até deixei de prestar atenção nele, que precisa repousar. Nos falamos depois Rarh. — Ficando lado a lado de Rarh, Aya teve de olhar para cima e um pouco incomodado deu uma pequena cotovelada em Rarh, atingindo seu abdômen. — Que droga, você cresceu muito. — Ambos riram.

— Claro são quantos anos? 200? — Por um momento os dois ficaram em silêncio pensando. —  Bom não importa, precisa de alguma casa apenas para vocês? Depois que Kaa casou tenho um quarto sobrando. — Kris abraçou o avô e logo foi tentando empurrá-lo.

— Nãao! Ele vai passar a noite conosco! — Ela brigou. Klark aproveitou a atitude da irmã e também decidiu falar.

— Eu tenho vários livros pra mostrar! Principalmente os que o senhor me deu vovô. — E então ele também o empurrou. Não ficando de fora Kroz se juntou e ajudou a empurrar o grande Orc que até então não havia se movido, mas com o esforço dos três netos ele decidiu deixar com que fossem para casa.

— Certo, estou voltando ao trabalho e para casa. Boa noite. — Ele se despediu e foi embora sem olhar para trás.

[...]

Kaa preparava um sopão de raízes e tubérculos, com algumas folhas, temperos e ervas. O cheiro estava provocativo. Todos menos Krul estavam dentro de casa na sala de estar, no quentinho que um lar oferece. As crianças estavam sentadas ao redor de Aya que tinha Aqua sonolento em seus braços. Quando chegaram em casa Kaa e Aya deram-no um banho quente, ele tomou um pouco de mamadeira e agora estava apenas no conforto do colo que ele não queria mais de jeito nenhum sair. Ainda escondia o resto no corpo de sua figura afetiva. Mesmo que fosse um pouco incomodativo ter de segurá-lo o tempo inteiro, Aya permitiu que o filhote fosse mimado, ao menos por hoje.

— Então você e meu avô se conhecem? — Perguntou Kroz, a pergunta trouxe curiosidade para os outros três da família que esperavam pela resposta.

— Eu o conheci quando era um filhote menor que vocês. Ele era realmente bem pequeno. — Kris riu, olhou os irmãos e imaginou como era seu avô que é babão com eles como um filhote.

— Menor que o Aqua? — Ela perguntou e desta vez Aya foi quem riu.

— Não tanto. — Ele olhou para Kaa que se levantou para ir até a cozinha verificar a sopa.

 “ Que coincidência. Eu até me lembrei dele quando vi todo o jeito acanhado dela mas não imaginei que fosse de fato relacionada com Rarh. Quem diria, haha. Aquele bobalhão agora é líder de uma tribo orc e tem uma família que ele contagiou com sua bobalhisse.” — Aya não se aguentou e riu baixinho e sozinho. As crianças o olharem e riram junto achando que ele estava rindo do avô por ser pequenininho.

— A sopa está pronta, Kroz chame seu pai. — Disse Kaa lá da cozinha. As crianças se levantaram seguindo um rumo, Klark foi direto para a cozinha e Kroz foi para fora buscar por Krul. Kris se levantou e olhou para Aya estendendo os braços anciosa.

— Posso segurar ele? Por favooor! — A menina tinha uma energia e um carinho por Aqua que era inexplicável o quanto que ela se empolgava. Desde antes ela queria pegá-lo no colo mas ele chorava toda vez que alguém tentava tirá-lo de perto de Aya.

— Espero que sim... — Aya desaproximou um pouco seu corpo do de Aqua. Sorriu em alivio ao ver que Aqua neste tempo de espera pelo jantar acabou perdendo a luta contra o sono e agora dormia de se babar. Com cuidado o maior se levantou e foi até o quarto das crianças ajeitando-o confortavelmente num amontoado de lãs, que postas juntas tinham a intenção de simbolizar um berço. Felizmente o filhote não acordou, estava muito cansado.

[...]

Krul retornou de seus afazeres, lavou as mãos e todos se reuniram na cozinha para jantar. Kaa e o marido conversavam sobre coisas aleatórias do dia a dia, as crianças também conversavam entre si e as vezes com Aya, que apesar de tranquilo não deixava de pensar consigo o quão estranho e revira volta que foi o seu dia. Após os pratos raspados, Kris levantou-se e recolheu a mesa, os irmãos a ajudaram e colocaram a louça na pia, Krul permaneceu sentado em seu lugar e Kaa foi lavar a louça. Os filhotes já sabendo de sua rotina se direcionaram ao banheiro para tomar banho e depois ir dormir.

— Klark, quando sair do banho venha aqui. — Disse Krul, o filho apenas acenou com a cabeça de que havia entendido o recado e então foi fazer o que deveria fazer.

Enquanto Kaa lavava os objetos Aya havia se levantado e ido até o lado da grande mãe, ajudando-a e secando a louça que ela lavava.

[...]

Quando terminaram de ajeitar a cozinha, Kaa sentou-se ao lado de Krul que se mantinha sério. Ficou um silêncio no local, Aya também se sentou e juntou-se a eles.

— Sobre Klark... — Kaa tomou a iniciativa da conversa. — Ele foi amaldiçoado por uma shaman. Ele possui diversos códigos em seu corpo mas são apenas visíveis com o uso de magia. Não sabemos de nada além de que a energia dele é drenada, conseguimos ir aliviando os sintomas com uso de poções energizadas, mas elas não estão mais dando efeito. Quando fomos no elfo, ele conseguiu mostrar os códigos mas não pelo o corpo todo e também não conseguiu fazer nada a respeito. Sempre que ele tentava algo, começava a... pegar fogo no corpo de Klark. Depois disso ele não tentou mais, dizendo que a magia dele não era forte o suficiente e se ele continuasse tentando colocaria a vida do Klark em risco, pois o pegar fogo era um jeito de bloquear tentativas mais fracas... — Kaa passou as mãos pelo próprio rosto, e suspirou em agonia. — Não sei mais o que fazer, você é minha ultima esperança.

— Por favor, nos ajude. A culpa é minha por meu filho estar desta maneira. — Krul estava com uma expressão de dor em seu olhar. Culpa também. — Eu peço desculpas pelo o que fiz. Foi algo semelhante ao ocorrido de hoje que fez com que Klark ficasse nesta situação.

— E você não aprendeu com a primeira vez? — Aya respondeu. Krul o olhou em surpresa, um pouco de raiva, mas desta vez ele não respondeu ao que o outro disse.

— Você tem razão. Sei que isto não justifica, mas ainda há em mim a cultura brutal dos orcs. Rarh administra e nos ensina que para sermos orcs não precisamos abandonar nossa brutalidade, mas também não devemos sair machucando tudo e todos. As vezes... eu me deixo levar. — Aya ouvia e observava cada palavra dita. Por alguns segundos o silêncio retornou no lugar. Com um suspiro longo, ele olhou para Krul no fundo de seus olhos. O grandão retornou o olhar.

— Qual foi o real motivo dela ter feito isto? — Aya perguntou enquanto ainda olhava diretamente para Krul, que por um instante esteve nervoso.

— Eu matei um de seus animais. — Krul decidiu ser sincero. — Enquanto andava na mata em busca de caça, encontrei um de seus animais mágicos. O matei, assim que terminei o abate ela apareceu perguntando o motivo de eu ter feito, respondi a ela que foi porque quis... Ela perguntou novamente o motivo, e eu dei a mesma resposta. Ela me ameaçou e eu a ameacei de volta e para mostrar a ela quem era superior, arranquei a cabeça do animal e joguei nela... — Inquieto, Krul apertou as próprias mãos. Pareceu sentir culpa ou arrependimento sobre suas próprias ações. — Ela chorou, e disse que este animal era como sua família mas além disto, era um ser vivo e necessitava de respeito. Depois disto ela comentou que eu iria aprender da pior forma por envolver inocentes em ações brutas e desnecessárias. Eu não levei fé, mas quando cheguei em casa Klark estava adoecido. E foi piorando... Fui atrás da shaman, mas jamais a encontrei.

— Entendi. — Aya se levantou após a explicação. Não falou nada apesar de ter refletido e concordado com a atitude da shaman. Krul o olhou esperando por palavras de julgamento. Era o comum, e o que aconteceu quando Rarh e outros seres souberam da história.

— Precisaremos ir para a mata. — Disse Aya enquanto espreguiçava o corpo. Os dois orcs adultos se levantaram e ficaram em espera por comandos do dragão.

— Kaa, eu vi que você já tem aqui. Pegue as flores, e ervas que tem. Coloque-as dentro de um recipiente com água, deixe-as dentro, não boiando... Não sei explicar apenas deixe elas “afogadas” na água. — Ela rapidamente foi fazer o que Aya disse. Já Aya, subiu as escadas indo até o quarto, Kris estava sentada ao lado de Aqua olhando-o dormir. Aya sorriu ao ver a cena e Aqua não parecia acordar tão cedo. Ficou receoso de deixar o filhote sozinho de novo, mas vendo que a pequena orc cuidava do filhote com tanto carinho mesmo que talvez pra ela fosse uma brincadeira, ele ficou mais aliviado.

— Kris, você pode cuidar do Aqua enquanto eu não estiver? — Perguntou, com um tom de voz baixo e calmo. Kris abriu um sorrisão e acenou positivamente com a cabeça. Ela não queria acordar o humano, por isso decidiu apenas fazer em gesto do que falar.

[...]

Com a lua e as estrelas como a única iluminação desta noite clara. Aya, Kaa, Krul e Klark estão em meio a mata, numa parte em que mesmo já após o sol se pôr, possui vida. Grama verdinha, arvores bem estruturadas e saudáveis. Em volta arbustos, frutíferos ou nãos, algumas pedras e flores que estavam adormecidas.

— Será aqui. — Exclamou Aya. — Klark, tire toda sua roupa.

— Toda, toda? — Ele perguntou, com vergonha.

— Sim, pelado. — Aya foi mais claro. Klark ficou com as bochechas um pouco rosadas da timidez. Acanhado ele pestanejou um pouco para retirar a cueca mas Krul delicado do jeito que é, logo a puxou e fez com que ele finalmente ficasse nu. Kaa segurava um enorme pote de argila, tampado e que dentro havia a água com flores.

— Deite-se na grama e coloque os braços juntos do corpo. Feche os olhos. — Klark obedeceu. Os pais olhavam para cada ação apreensivos. Em seguida o dragão aos poucos foi iluminando, os cabelos brancos começaram a flutuar igual a aura mágica que Aya começava a emanar. Seus olhos azuis, como de costume sempre que ele deixava sua magia fluir, esbranquiçavam a sua cor, deixando-o pálido e com um realce nos olhos, contrastando-os. As escamas surgiam, e também refletiam a luz. Ele suspirou, ajoelhou-se ao lado de Klark e encostou o indicador na nuca do garoto. Começando a descer o dedo lentamente, conforme seu dedo se movimentava, aos poucos códigos em um tom roxeado apareciam na pele do orc.

Da nuca para o início da testa, então para entre os olhos, o nariz, a ponta do nariz, boca, queixo, pescoço, toda a extensão do tórax até chegar perto da virilha. Ele parou e olhou analisando o quão forte era a simbologia, que estava em todo o corpo. Vendo que ainda faltava o que ser revelado, ele colocou ambas as mãos nas coxas do menor, descendo o toque e colocando mais de sua magia ao contato com a outra, mostrando mais do que aparentava ser. A shaman não teria feito algo de brincadeira, e realmente colocou uma maldição forte.

Klark parecia a página de um livro, seu corpo inteiro possuía códigos e desenhos. Aya sinalizou para Kaa que entregasse o vaso, ela o fez e Aya segurou com ambas as mãos o objeto.

— Askär, Shäxl rõn. — Em sussurro, Aya proferiu palavras que eram desconhecidas. O ar ao redor pareceu circular entre o lugar em que estavam, como se estivessem dentro de um pequeno e calmo redemoinho. As folhas caídas começaram a rotacionar, os galhos das arvores e arbustos se movimentavam e emitiam o som da natureza. Klark começou a ficar nervoso, Kaa também estava nervosa mas decidiu conversar com o filho afim de acalmá-lo.

— Klark... não fique nervoso, mamãe está aqui. Vai ficar tudo bem. — A voz calma e doce da mãe orc, acalmou o filhote. Aya colocou as mãos dentro do vaso, enchendo-as com a água de flores e ervas. Começou a molhar o corpo de Klark, principalmente em cima das marcas. Depois de toda a água ter sido usada, ele alojou as flores em partes do corpo do garoto. Uma flor na cabeça, uma em cima de cada pálpebra, outra em cada braço e perna, depois deixou juntado várias flores em cima do “coração” do menino.

— Pode ser que doa, mas aguente firme. Se necessário, segurem os braços e pernas dele. — Os adultos se puseram tensos aguardando o que vinha a seguir, Klark obviamente depois de ouvir isto ficou um pouco nervoso. Aya poderia ter apenas seguido com o processo mas preferiu ser sincero e avisar possibilidades.  

— Nõr räksa. — Após a pronuncia, as mãos do dragão se iluminaram completamente de aura, como se fossem grandes luvas apenas. A natureza ao redor reagiu, ficando mais violenta, pôde-se ouvir e ver alguns raios e trovões. Estes que só aconteciam em cima de onde estavam. Aya em seguida colocou as mãos no corpo do garoto. Mais exatamente uma no rosto e outra no peito próximo ao coração. Os símbolos roxos e a energia negativa começou a ser sugado para as mãos de Aya.

Klark em reação parecia que levava um choque enquanto a magia era drenada. Ele rangeu os dentes e apertou as mãos, tentando aguentar a sensação horrível que sentia. Se fosse uma magia simples, e se ele tivesse menos marcas que a shaman lhe amaldiçoou, ele aguentaria. Mas é muito para ele, que logo começou a chorar alto e mexer o corpo que estava em desespero e agindo por instinto. Seus pais entraram em ação, Kaa segurou os braços e Krul segurou as pernas. Kaa chorou vendo o sofrimento do filho, mas manteve-se forte em segurá-lo.

A magia foi drenada por Aya, até o ultimo resquício. Quando terminado, ele levantou-se e pegou em uma das flores que estavam sobre Klark, instantaneamente a flor murchou, secou e morreu. E mesmo com ela quase virando pó, ele fez um pequeno buraco na terra, e a enterrou. A natureza ao redor, calmou-se, voltando tudo ao normal. Feito isto ele olhou para Klark, que recuperava o fôlego.

— Você foi bem. — Aya sorriu para o garoto, que um pouco anestesiado sorriu de volta.

— Acabou? — Perguntou Krul.

— Sim, se sente melhor Klark? — O menino pôs esforço no corpo e conseguiu se sentar. Kaa pegou as roupas que antes o filho vestia, secou-o com a própria camisa e então começou a vesti-lo.

— Parece que saiu um peso... de mim... — Krul levantou-se e ficou em frente de Aya.

— Muito obrigado. Eu lhe juro fidelidade. — Aya olhou para o enorme Orc, e seu um sorriso que não mostrava os dentes. Após ajeitarem Klark eles retornaram para a aldeia. Klark recuperou-se completamente. Aya e Aqua ficaram mais alguns dias por lá, esperando a total melhoria do filhote que acabou ficando familiarizado e apegado a Kris, que o ensinou a andar e a falar o seu nome. Com seu crescimento rápido, agora ele estava com o cognitivo e aparência de um bebê de 1 ano. Depois de uma semana, a dupla teve que se despedir e voltar para a sua viagem de volta para Yama.

— Aquaa, vai lembrar de mim né? — Kris segurava o pequeno no colo, como se não quisesse mais soltá-lo.

— Kis! — Aqua repetia a pronuncia errada do nome da orc que o segurava. Para ele era sempre uma festa, já que não entendia que neste momento era uma despedida. A garota deu um abraço a ele, e um enorme beijo em sua bochecha e o entregou a Aya.

— Aqui Aqua, um presente pra você nunca esquecer da gente. — Kris atou no pulso do filhote uma pulseirinha feita a mão. — Eu, o Klark e o Kroz que fizemos! — Aqua olhava para o objeto em sua mão, admirando o desconhecido e colorido.

— Então, nos vemos, provavelmente. — Aya ajeitou Aqua em seu colo, Kaa e os filhotes ficaram na casa, dando tchau com suas mãos. Krul acompanhou-o até a mata junto de Rarh. Quando chegaram no local em que precisavam, se olharam e deram um aperto de mão, com total respeito.

— Se cuide meu amigo, obrigado pelo o que fez por minha família. Me desculpe pelo encontro bruto e sempre que precisar estaremos aqui. — Disse Krul.

— Faço das palavras de Krul as minhas Aya. Nós Ar’kan orcs do norte de Hi’grul, estaremos sempre de portas abertas para você. — Rarh tocou no ombro de Aya, com um sorriso no rosto. Aya retribuiu o sorriso.

— Se um dia eu precisar, com certeza virei até vocês. Até mais. Dê tchau Aqua. — Aya pegou na mão de Aqua e a balançou, ensinando-o a simbolização de dar tchau. O filhote riu, os dois orcs adultos apesar do tamanho, se abobaram vendo a criaturinha simpática. Aya deu as costas e Aqua conforme iam embora, continuava dando tchauzinho.

[...]

Passou um mês desde que saíram do território dos orcs. Aqua agora está com 2 anos. Agora ele já sabe falar muitas coisas, nem sempre está completamente com a pronuncia correta. Virou um tagarela. Não precisa mais ser carregado o tempo todo no colo pois já possui um bom andar e já sabe correr, subir e explorar as coisas. O que ultimamente dá uma dor de cabeça para Aya que tem que correr atrás e ficar sempre de olho com o aventureiro teimoso.

Segurando a mão do pequeno e andando devagar para que ele consiga acompanhar os passos. Os dois chegam em um enorme portão que fica sempre com suas portas abertas. Ao entrar, Aya pegou Aqua no colo, mesmo que este não queira e tenha feito birra.

— Aqua, agora você tem que vir no colo pois pode ser perder. — Disse Aya enquanto Aqua tentava se soltar dos braços do outro.

— Eu não queo! — Aqua na tentativa de se soltar deu um soco no peito de Aya, que sem paciência alguma apenas soltou o filhote que caiu de bunda no chão e olhou para cima pronto para chorar.

— Não queria ficar no chão? Agora fique. E se você se perder, eu não vou ir atrás de você, e dai você vai ficar sozinho, sem ter o que comer, com quem dormir, e se aparecer um monstro eles vão de comer e eu não vou saber, e quando saber eu vou dar risada sabe por que? — Aqua mordeu o beiço, os olhos lacrimejaram.

— Puquê? — Aya riu, e começou a andar dando as costas para o filhote que estava no chão.

— Porque eu avisei e quis te carregar, mas você não quer. Tchau. — Assim que Aya deu o primeiro passo, Aqua levantou-se com rapidez e já se agarrou na perna do jovem adulto. Erguendo os braços para cima para que fosse pego. Aya o pegou no colo, vitorioso.

— E sem chorar, porque você sabe que chorar atraí monstro.

— Sim... — Aqua secou as lágrimas e ainda continuava com beiço. Mas não teimava mais. Desde que foi ficando maiorzinho, a birra e não são muito presentes vindo dele. Aya tenta fazê-lo entender na conversa, mas se não der certo acaba desistindo e deixa que Aqua aprenda da maneira dele. Um dia Aqua quis mexer num formigueiro, pois viu que as formigas levam frutinhas para dentro. Inocente ele achou que se quebrasse a casa delas, teria muitas frutas. Aya alertou que ele se machucaria e não teria fruta nenhuma. Aqua teimou, Aya alertou de novo, mas Aqua não deu ouvidos então Aya deixou que ele quebrasse o formigueiro e fosse picado por algumas formigas. Desde então Aqua teima, mas sabe que as vezes é preciso ouvir o que Aya diz, pois é o melhor para ele, mesmo que muitas das vezes Aya tenha que mostrar o lado ruim das coisas pois o filhote é muito teimoso.


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Notas finais do capítulo

A magia da Shaman, sugava a vitalidade de Klark. Em vingança pela natureza que ela ama e Krul brutalizou sem motivo. Ela sabia que provavelmente ele estava caçando, mas suas atitudes a irritaram ao ponto de fazê-lo entender da pior maneira.
Aya tendo conhecimento dessa conexão com a natureza que a Shaman possui pelo o que foi dito e pelos códigos no corpo de Klark. Apenas também utilizou magia antiga que envolvesse natureza.
A maldição foi para ele enquanto ele a drenava, apesar de não demonstrar isto proporcionava dor e sua vitalidade sendo puxada como louca. Por ele ser um dragão não houve diferença alguma, mas se fosse outro ser que conseguisse expor todos os códigos e depois ir realizar a purificação, provavelmente acabaria igual a flor.
Klark não teve todo este impacto pois para ele que era o recipiente ela estava extremamente desacelerada, mas para quem fosse removê-la, estaria extremamente acelerada.
Enterrar a flor, significou o fim do ciclo e da maldição dada pela shaman, o que faz com que a maldição "nunca houvesse existido", removendo todos os sintomas e consequências que ela causava. Seja em Klark, sejam em Aya.



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