Aqua, o filhote de humano escrita por Mar la


Capítulo 21
A viagem - Brigas e ultima parada


Notas iniciais do capítulo

Acabou sendo um pouquinho maior do que eu esperava. Mas, detalhes são detalhes.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/761186/chapter/21

Passou mais dois meses desde que partiram. Tanto Aqua como Jun cresceram um pouco de acordo com o tempo. Aqua agora está com a idade simbológica de um pré adolescente de 12 anos. Jun foi-se para os 14. Os filhotes crescem rápido, todos tem basicamente quase o mesmo ritmo de crescimento com exceção de alguns espécies como macacos, dragões e outros de maior porte como elefantes e ursos. Os humanos se adaptaram ao mesmo ritmo que as presas, porém diferente de muitas delas eles estagnam na adolescência, pois se não, seus corpos não aguentariam, assim como sua mentalidade não seria capaz de acompanhar um crescimento tão rápido além do seu limite. Afinal, não adianta crescer tanto e não conseguir ter ideia do que é a vida e como sobreviver. Eles crescem, para que possam justamente isto, se defender, sobreviver.

Durante este tempo de viagem, Aya se fez presente em ensinar o humano coisas básicas que ele já teria o tamanho suficiente para realizar e que deveria aprender a ter mais autonomia e independência. O filhote cresceu muito, principalmente estrategicamente. Mesmo que o tempo fosse pouco, ele estava conseguindo acompanhar de forma adequada os ensinamentos, e os interiorizava. Ele já sabia caçar, fazer uma fogueira, pescar, preparar alimentos, diferenciar algumas frutas e alimentos consumíveis e os tóxicos. Aya quase todos os dias o ensinava algo novo, reforçando e reforçando para que Aqua de fato aprendesse o mínimo. O dragão sabia que a cada passo eles chegariam mais perto de sua separação, tinha como dever de ensiná-lo pois assim que chegassem em Yama, Aqua estaria por si só até que encontrasse alguma tribo humana. Aqua por outro lado, acreditava que o que ele aprendia era apenas por estar ficando maior e por ser um gato sem características mágicas. O seu segredo em ser humano e de que futuramente ele teria de se virar sozinho em seu território de origem, ainda era guardado pelo dragão. Que preferiu deixar isto guardado. A verdade é que Aya pouco a pouco perdia a coragem para conta-lo, ou não encontrava formas de como fazê-lo. E agora no meio da viagem, se o fizesse, os dois acabariam brigando e isto era algo que ele não queria.

Aqua com seu crescimento, experiências, conhecimentos e a auto confiança de ter um amigo ao lado, começou pouco a pouco se desprender de Aya. Não é como se ele fosse desapegado, mas todo aquela dependência e grude 24 horas por dia mudou. Durante a viagem ele passa grande parte do tempo com Jun, Nas pausas quando ele não tinha ensinamentos, em sua maioria ele também estava com Jun, entretanto, explorando a floresta ou outro local. Aqua está criando sua independência, e junto dela vem a teimosia e achar que está certo, pois pra ele, ele já suficiente e capaz de fazer tudo o que acredita ser. Mesmo que não seja. Infelizmente esta nova fase, traz as provocações, respostas na ponta da língua e o não que as vezes o humano deixava escapar baixo em retruco. Aya ignorava, mas nem sempre e isto fazia com que ambos brigassem por motivos bobos. Pois Aya também tem seus momentos infantis e consegue ser tão birrento como Aqua.

São por volta das 18:00 da tarde. O sol começa a se pôr e eles ainda andavam na trilha entre a mata de arvores grossas e altas. Por causa do clima que indicava chuva, o grupo decidiu por escolher um local mais abrigado e preparar seu alojamento da melhor forma possível, caso houvesse de fato uma chuva mais tarde. Jovkar descarregava as bagagens enquanto Grilfor preparava as madeiras de apoio para as lonas que serviriam de barracas. Aya decidiu ajudar levando água para os cavatrêlos que apesar de acostumados estavam cansados pelo dia. Aqua e Jun estavam entretidos com estilingues que eles mesmos haviam feito. Treinavam suas miras e brincavam de presa e caçador. Um deles era a presa, deveria fugir e o caçador deveria atirar para poder abater. Quem fosse abatido levando 3 tiros, virava caçador.

Era a vez de Aqua ser a presa. Como Jun era sem dúvidas mais rápido do que o outro, eles entraram em um acordo de que quando Jun fosse o caçador, Aqua teria 5 chances para ser abatido. O potro era mais rápido, então Aqua realmente se esforçava e utilizava de todas as suas estratégias para que não fosse pego. Uma delas era de sempre utilizar movimentos bruscos como curvas e viradas, além de passar por lugares mais estreitos onde o corpo grande do amigo não passaria ou combinaria muito bem. O humano já teria conseguido driblar Jun em alguns obstáculos, ele corria rápido, o mais rápido que podia, e quando viu que quase seria pego ou pressentindo que o outro atiraria ele decidiu se enfiar entre o círculo do acampamento, passando pelas bagagens e pulando sobre elas e outras coisas.

— ÔO FILHO DA PUTA! SE PISAR EM ALGO EU ENFIO NO SEU CU! — Grilfor tacou uma pequena pedra no menor, mas ele estava tão eufórico e rápido que a pedra jogada não lhe atingiu. Jun em seguida passou pelo menos caminho, o que chamou a atenção de seu pai.

— Jun! — Jovkar não era de muitas palavras, então ele apenas chamou a atenção do filhote, que entendeu o recado. Diminuindo um pouco sua velocidade enquanto passava entre as coisas.

— Sim pai, eu to tomando cuidado. — Disse o potro, que assim que passou pelo o que deveria cuidar para não pisar ou quebrar acelerou novamente. Aqua também o fez, tanto que não viu um dos baldes que Aya recém teria acabado de encher e trazer. A água que ele teria pego em uma fonte que não estava tão longe dali, fora derrubada.  O feito fez com que Jun logo parasse, pois o barulho do balde caindo chamou novamente a atenção de seu pai que logo lhe chamou a atenção novamente, com um tom bem mais sério. O que fez com que ele logo se acanhasse e fosse até um canto, se sentar, sabendo que estava de castigo mesmo que não fosse culpa dele pelo derramamento. Aqua por sua vez, viu o que teria feito e olhou para Aya, que estava com uma expressão séria.

— Desculpa... — O humano pediu. Juntou o balde e entregou para Aya logo já trotando até a direção de Jun mas foi interrompido.

— Pegue o balde, encha ele de novo e traga ele. Esta era a água para um dos cavatrêlos. — Disse Aya. Mas Aqua não ficou contente com a ordem. Ficando calado e fingindo ser surdo, indo até Jun e ignorando seu tutor.

— Aqua, você ouviu o que eu disse? — Aya sabia que sim, Aqua teria escutado. Mas, estava fazendo birra. Com um suspiro, Aya pegou o balde e se aproximou de Aqua entregando a ele. — Encha e traga.

— Eu não vou. — Seco e confiante, disse o filhote, desafiando a ordem do maior que arqueou a sobrancelha direita e deu uma pequena risada sarcástica.

— Aqua... — Aya insistiu mais uma vez. E o garoto ignorou, começando a falar com Jun fingindo que não ouvia e via a presença de Aya que estava em sua frente. Aya se aproximou e pegou Aqua pelo pulso obrigando-o a se levantar. Mas o humano logo fez corpo mole e começou a erguer o tom de voz.

— EU NÃO QUERO! EU NÃO VOU! EU JÁ PEDI DESCULPAS! — Aqua deixava todo o peso do seu corpo jogado. Não que fosse dificuldade para Aya mas era irritante. Além disso o filhote tentava soltar o pulso que era segurado, tentando abrir a mão de Aya com sua outra mão livre.

— Você tem de tomar responsabilidade pelas tuas ações. Eu já te disse isso mil vezes! — O dragão ainda mantinha a calma diante a situação e não soltava do pulso do outro.

— EU JÁ DISSE QUE NÃO VOU! — E então Aqua começou a se espernar,numa estratégia para que se soltasse. O desespero e brutalidade dele era tanta que ele se sujava e até mesmo se machucava um pouco. O que fez com que Aya soltasse seu pulso e começasse a perder a paciência.

— Pega essa merda e faz Aqua! — O humano assim que soltou tentou correr, mas Aya foi mais rápido e o puxou pela roupa. Aqua se virou e contorncendo o corpo conseguiu abertura para que mordesse a mão de Aya que imediatamente o soltou. Não por dor, mas por surpresa e desgosto. — Ah é? Hahaha. — Aya riu, soltando-o. Aqua o olhou, Aya estava com um olhar tão bravo que dava medo até mesmo nos outros dois adultos que estavam ali, quietos observando. A sua raiva no momento era tanta que sua aura mágica estava ficando instabilizada o que fazia com que suas escamas aparecessem e sumissem sem um ritmo certo. Quando viu a expressão do maior, o pequeno humano viu que tinha errado, logo se arrependendo. Aya por sua vez pegou o balde e virou as costas se direcionando para a mata onde havia o lugar em que ele teria pego a água. Assim que tomou distância e Aqua percebeu que Aya estava saindo dali, ele se levantou já pronto para segui-lo mas logo que se aproximou Aya o interrompeu. Olhando-o por cima do ombro, ainda com raiva no olhar.

— Se você chegar mais perto de mim, eu te mato. Pirralho ridículo.

Aqua arregalou os olhos. Ouviu algo que jamais achou que ouviria. Aya não deu a mínima, assim que terminou sua fala ele logo saiu dali não olhando para trás. Aqua talvez por emoções mistas que sentia, ignorou o que Aya teria dito e moveu o corpo pronto para segui-lo mas Grilfor o interrompeu, pegando-o pelo pulso.

— Iii há há, você tá muito fudido! — O anão ria da situação, mas sabia que era séria. Jun se aproximou e decidiu reforçar ao amigo que sim, ficar ali seria a melhor opção. Aqua então acabou ficando perto de Jovkar e Jun.

Uns 5 minutos depois, Aya retornou com o balde de água. Sua expressão continuava a mesma. Para Aqua era como se ele fosse outra pessoa. Mas mesmo assim, quando o viu, o filhote abriu um sorriso. Aya fez o que tinha de fazer e logo se direcionou para sair de novo.

— A-AYA! — Gritou Aqua antes que o maior sumisse novamente na mata. O filhote se levantou afim de segui-lo de novo. Mas desta vez, ele próprio não foi capaz de continuar. Ele apenas ficou de pé, vendo-o ir embora. As lágrimas nos olhos do humano se formaram, ele não disse nada. E a chuva calma logo começou a cair, conseguindo servir de disfarce para as lágrimas do filhote que também caiam.

Todos se abrigaram dentro da barraca de lona. Com exceção de Aya. A noite foi ficando cada vez mais escura, não haviam estrelas, e a chuva aos poucos foi engrossando, ficando mais pesada e com ventania. E as horas foram passando, e passando, e passando. Já era hora de dormir. Grilfor e Jovkar adormeceram, Jun fez companhia para Aqua, que decidiu esperar. Passou mais algumas poucas horas, o sono entre os dois pequenos já estava quase insuportável. Jun não conseguia mais aguentar. Mas Aqua permanecia sentado, olhando para fora do abrigo.

— Aqua... Nós... *Bocejo* nós temos que dormir... — Disse Jun, puxando o filhote para mais perto de si afim de dar-lhe afeto e fazê-lo deitar.

— Mas... e se ele não voltar?

— Ele vai voltar. Mas provavelmente só se você dormir. — Aqua o olhou, sabia que aquilo era chantagem. Decidiu deitar-se ao lado do amigo, mas seu olhar ainda estava para lá. Passaram-se longos minutos. Mesmo lutando, até Aqua começou a ser vencido pelo sono, mas seus diversos pensamentos eram o que o mantinham acordado.

[...]

— Jun... Jun... tá acordado? — Aqua sussurrava, não tinha certeza se o outro estava dormindo, mas, ele queria conversar, precisava.

— Não... o que foi? — Jun estava dormindo, mas, por alguma razão, talvez a preocupação com seu amigo, fez com que ele fosse capaz de ouvi-lo e responder com clareza.

— Lembra que você falou sobre família uma vez?

— Aham... o que que tem?

— Eu acho que agora eu sei.

— Ah, legal Aqua. Amanhã a gente fala mais, tá? Vamos dormir.

Aqua ficou em silêncio, em respeito ao amigo. Mas em seus pensamentos conturbados, ele acabou achando respostas tanto para eles, quanto para seus sentimentos. A tristeza, solidão, preocupação, saudade, felicidade, culpa e principalmente amor que ele sentia, era relacionado ao que tanto Jun falava sobre família. Aya era a sua família. Podia não ser o pai, a mãe, mas, era a pessoa mais importante pra ele. Era a primeira vez que se distanciavam desta maneira, mesmo que doa, ele sabe que isso significa que Aya é único, e que ele o ama.

Aqua tentou resistir por mais tempo. Mas foi derrotado. Dormindo.

Na manhã seguinte. Aya não estava lá, como sonhou que estaria. O grupo teve de guardar tudo, e Grilfor tomou a decisão de continuar a viagem. Aqua relutou muito, até mesmo brigou com unhas e dentes mas Jun milagrosamente conseguiu o convencer de sair dali e acompanha-los.

Passou uma semana. Todos os dias quando acordava Aqua procurava por Aya. Mas ele desde aquele dia, não apareceu mais. O filhote de humano alegre, a cada dia que passava, começou a ter menos sorrisos em seu rosto. E até mesmo a esperança de que Aya retornaria, sentindo-se perdido.

Os 4 acabam de chegar na ultima cidade de It'ri.

Trahys, a cidade do porto. Pequena, mas é mais modernizada, tendo destinos e principalmente a grande concentração de navios cargueiros e de transporte para o norte e consequentemente Yama. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Aqua, o filhote de humano" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.