Aqua, o filhote de humano escrita por Mar la


Capítulo 20
A viagem - Estrelas




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Passou-se uma semana desde que saíram da casa de Grilfor. A rotina deles era andar, andar, andar, descansar um pouco, procurar por alimento, achar algum local para tomar banho, andar, andar... Todos mantinham o foco de chegar ao outro lado o mais rápido possível. Os filhotes é claro, as vezes não tanto assim. Queriam brincar, aproveitar o clima, ou o lugar em que estavam. Aqua felizmente se recuperou do machucado que não era grande coisa, e com a ajuda de Jun, a viagem se tornou muito divertida. Os dois conversavam sobre tantas coisas. Mas dentro todos os assuntos, o que mais foi significante para o humano é: o que é família?

Em uma das noites, enquanto os maiores dormiam, Jun e Aqua decidiram ficar acordados por um pouco mais de tempo, olhando as estrelas. Jun contou para Aqua algumas histórias e mitos humanos, que até hoje se fazem presentes.

— Tá vendo aquela maior ali? No ladinho daquela outra que te mostrei? — Jun apontou para a estrela, como se Aqua de fato conseguisse ver apenas pelo seu apontamento direcionado ao infinito. Aqua por outro lado, conseguia ver apenas pelas referências, de uma mais brilhante, maior, menor...

— Sim... ela é linda. — Olhar as estrelas, algo simples, mas que ele até então, não teria feito. Estava admirado.

— Minha mãe disse que ela é a pessoa que nós amamos e que já foi pro céu. Minha avó e um tio meu tão lá e são essa estrela.

Aqua ouvia todas as palavras de Jun com muita atenção e admiração. Ele conhecia tantas coisas, mesmo que tivessem quase a mesma idade. De repente, Jun virou o corpo, ficando deitado de lateral. Aqua o olhou, sem entender muito o porquê da mudança repentina.

— Você tem alguém na estrela? — Perguntou Jun.

— Eu... não sei. — O humano tornou-se confuso. Ele realmente não sabia, afinal, o que é todo este afeto e conexão que ele não tem experiência quase nula? Jun em resposta, deu a ele um olhar conflituoso, ele também não conseguia entender qual era a dificuldade de Aqua no assunto, já que para ele a família e o amor neste círculo é algo que ele sempre teve e acreditava que todos os filhotes o teriam.

— A sua mãe, seu pai, irmãos, a sua família... cadê? — O potro foi mais direto desta vez. Achando que, ao falar assim melhoraria e ajudaria o amigo em encontrar sua resposta.

— Eu não sei Jun. Eu não me lembro. — Aqua tentava se lembrar, aos poucos, pôde ser notado em seu rosto a tristeza que ia chegando. Estava aflito, sentindo-se inseguro e perdido. O que é uma mãe? Onde ela está? Seu pai? Irmãos? Família? Ele não tinha respostas, era totalmente inexperiente nestas emoções e assunto. Jun, percebeu que a tristeza vinha ao outro, pegou em sua mão mostrando apoio.

— Então... quem é que cuidou de você?

— Eu só me lembro do Aya.

— Desde que você nasceu? — Jun mostrou surpresa.

— Acho que sim... Eu lembro que ele me dava mamadeira, trocava minha fralda, me carregava no colo, me deu comida... As vezes quando eu fazia coisa errada e me machucava ele cuidou de mim... E me xingou também. Eu já conheci outras pessoas que foram boas e legais comigo, mas... por alguma razão o Aya sempre está comigo e me leva pros lugares... não sei dizer... é esquisito. — Depois de falar tanto. Aqua deu um pequeno suspiro, e olhou para as estrelas, como se buscasse as respostas nelas. Jun, também as olhou, ambos ficaram em silêncio por alguns segundos mas logo a voz doce do pequeno potro quebrou a quietude.

— Então... você gosta do Aya?

— Hum? Como assim? — Por alguma razão desconhecida, esta pergunta foi como um choque que trouxesse os sentidos para o humano. Norteadora, provocativa.

— Se em toda a tua vida você só teve o Aya, então... ele deve ser importante. Meu pai diz que, quando a gente é pequeno não sabemos muito da vida. Mas que, a gente sempre tem que valorizar as pessoas que amamos, porque o tempo é algo que não volta.

E o silêncio retornou. Agora não só o Aqua, mas ambos estavam reflexivos. Cada um com seus problemas e conflitos. O humano tentava conseguir entender o que era essa coisa que se sente, mas não se sabe nomear. Ele até então não havia parado pra pensar em rótulos. Passou-se vários minutos. Cansados da viagem, e concentrados em seus pensamentos enquanto ainda olhavam para o céu com estrelas, os filhotes começaram a ficar com sono. Aqua consciente disto, coçou os olhos e então sentou-se na grama, olhando para Jun que já estava com os olhos fechados.

— Jun... Acorda... — Aqua tentou acordar o amigo, mas não teve resposta. Ele tinha um sono pesado. Jovkar acabou por ouvir as tentativas de Aqua em acordar seu filhote, ele levantou e com os braços fortes foi capaz de conseguir erguer o potro. Antes de leva-lo consigo, ele olhou para o filhote restante que permanecia sentado na grama.

— Por que você não vai dormir também pequeno? — Disse Jovkar, com sua voz em um tom bem baixo. Aqua acenou positivamente com a cabeça e então o adulto deu as costas, levando o filhote e pondo ao seu lado, tapando seu corpo com sua coberta e depois lhe dando um beijo com muito afeto na testa, enquanto de leve fazia-lhe carinho nos cabelos. Aqua observou tais gestos, e então levantou-se indo até o lado de Aya, deitando-se ao seu lado, com um tantinho de distância afim de não querer acordá-lo e ouvir o famoso “desgruda”. O filhote de humano fechou os olhos, e logo adormeceu. Aya, teria percebido a pequena distância que Aqua pôs entre eles quando deitou, esperou para ver qual atitude o pequeno tomaria, mas pelo visto Aqua não tomou atitudes, então Aya aproximou o corpo do outro, o aconchegando para perto de si. Assim como faziam quando Aqua ainda era um pequeno filhote de colo. Dormindo, provavelmente Aqua não sabia do mimo, mas reagiu ao carinho, e se ajeitou como sempre fez, quase igual á um filhote de gambá ele se “cola” em Aya. Ambos acabaram por dormir assim. Juntos.

Na manhã seguinte, Aqua foi acordado por Jun, que com cuidado o balançou e lhe mostrou um sorriso assim que Aqua abriu os olhos. Aya já teria levantado, como de costume. E já estava com as coisas prontas para que pudessem mais uma vez começar sua longa caminhada.  


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