Já fazia uma hora que o garoto estava lá fora. Não que eu fiquei o tempo todo olhando o relógio encima da lareira.

Will cuidou dos meus ferimentos como se ele já tivesse acostumado a cuidar de machucado o tempo todo, até tentava conversar comigo, mas minha cabeça ainda estava no garoto lá fora.

Já era noite, estava escuro lá fora, e Moonligth havia lobos famintos andando por toda a cidade. Todos sabiam que não poderiam entrar na floresta sozinho, mas parece que esses meninos não sabiam. Ele poderia estar morto agora.

— Ele está bem, não se preocupe. — escuto Will falar assim que termina de cuidar do meu machucado.

— Do que está falando? — o encaro curiosa.

— Você está examinando o relógio e a porta, como se estivesse preocupada — ele da os ombros — Jason e o único lá fora que mora nessa casa, então...

— Não estou preocupada com ele — Will olha—me como se já tivesse sacado que eu tinha mentido — Ok. Um pouco, a lobos lá fora.

— Acredite quando digo que ele consegue lidar com isso — ele ri — Mas pra quem o chama de assassino, você está bem preocupada com ele.

— Ele é um ser humano — digo como se aquilo o respondesse.

— Tem certeza que é por isso? — ele pergunta sorrindo.

— É claro que sim. — respondo.

— Certo. — Ele bate as mãos em suas pernas — Vou guardar a caixa de primeiro socorros. Não saia daí. Leo está na cozinha preparando algo pra comer, depois de guardar a caixa em meu quarto, vou ajuda-lo, se precisar dele, ou de mim e só gritar.

Agradeço-o pelo mesmo ter cuidado dos meus machucados, e volto a olhar pela janela. Escuto sua risada, e seus passos para fora da sala.

Depois de um tempo, olhando para a janela começo a me preocupar com o garoto lá fora. Já ia fazer 1h30, e ele ainda estava lá fora.

Começo a marchar para a porta para ir atrás do menino, mas lembro-me do que Will disse. Ele falou com tanta certeza que não teria como duvidar, e Will conhecia Jason, e se ele não estava preocupado, porque eu iria?

Volto a sentar no sofá, e começo a olhar em volta. Estava em uma sala de estar que era maior que a de minha casa, em um dos cantos, havia uma mesa de Air hockey que ainda estava apitando.

Havia três sofás fazendo um quadrado junto à parede que possuía uma TV que poderia facilmente ser confundida com uma tela de cinema. Embaixo da TV havia uma escrivaninha cheia jogos e vídeo-games de todas as marcas.

A lareira ao meu lado estava acessa, e só havia um relógio encima dela. Em frente ao sofá que estava, tinha uma mesa pequena, com uma pequena flor azul encima. Olho envolta novamente, esperando algo diferente do que aquilo, mas não havia mais nada.

Sem fotos de família, sem nada. Apenas aquilo. Se não fosse pelos vídeo—game, diria que esses garotos não ficavam em casa.

Levo um susto quando olho para frente, e encontro Jason sentado na pequena mesa em frente ao sofá que estava me encarando curioso.

— Um pouco enxerida você, não é? — ele diz com os braços cruzados.

— Desculpe? — é tudo que  consegui dizer.

— Você chega a minha casa sem ser convidada, tenta olhar pela janela, e agora que está dentro, tenta observar tudo, para mim, isso é uma pessoa enxerida. — ele responde.

— Não sou enxerida. Estava observando o local já que Will disse para eu não sair. — respondo.

— Ou, então a princesa não desobedece ao que lhe pedem? — ele ri — Que fofa ela. Se eu jogar um pedaço de madeira, você vai atrás?

— Eu não sou um cachorro. — exclamo irritada.

— Ter certeza? — ele sorri. — Não quer carinho na barriga?

— Qual é a sua, garoto? — brigo levantando—me do sofá.

— Estou de boa — ele levanta—se ficando uma boa cabeça maior que mim, precisando abaixar sua cabeça para me observar. — Qual é a sua, garota?

— Estou de boa. — repito o que ele diz.

— Tem certeza? Então por que veio à minha casa? — ele pergunta autoritário.

— Queria ver Leo. — digo cruzando os braços tentando parecer intimidadora.

— Leo iria vê-la uma hora ou outra. Você sabe disso. — ele diz. — ainda não respondeu o porquê.

— Por que o que? — Pergunto. Eu já havia dado minha resposta. Queria ver Leo, era isso.

— Por que vir aqui sozinha, quando à um maluco atrás de você? Você é retardada? — ele se abaixa pra ficar do meu tamanho.

— O que? Não. — E a única coisa que respondo.

— Tem certeza? — ele olha—me como se estivesse conversando com uma criança retardada.

— É claro que tenho. — bato o pé no chão em um ato mimado, o que o faz rir.

— Oh, vamos ver. Vir para casa de alguém desconhecido, andar sozinha quando tem um cara obcecado por você, e entrar no meio da floresta sem ninguém — ele fala sorrindo — Essas não são atitudes de uma pessoa esperta, mimadinha.

— Eu não sou mimada. — o encaro, o que faz o rir mais.

— Acabei de chama-la de retardada, e tudo que você diz é que não é mimada? — ele volta a rir.

— Escuta aqui, seu... — começo a falar quando olho em seus olhos, vejo um brilho de satisfação, e eu não daria isso para ele.

— Estou escutando, — ele sussurra. — vamos, continue.

Desvio meu olhar para porta. Não iria continuar, além de não dar essa satisfação para ele, eu não iria xingar sua mãe em sua própria casa.

— Eu não vou continuar — respondo-o virando os olho

— Ah, vamos. – ele ri – eu sei que você quer terminar sua frase.

— Eu não vou – dou-lhe os ombros

— Achei que a mimadinha iria me xingar, tentar me bater — ele ri — Que pena, estava enganado.

— Não posso fazer isso — explico — estou em sua casa.

— É eu realmente estava enganado sobre quem você é — ele diz parecendo revoltado — Decepcionante.

Ele volta normal, e sai da sala. Fico encarando a porta por qual ele saiu. Quem ele achava que eu era? Não, melhor. Quem ele achava que era pra falar assim comigo?

Não posso dizer com clareza porque nunca senti isso antes, mas odeio esse garoto.