As luzes azuis e vermelhas refletiam nas paredes de todas as casas vizinhas, avisando que ali estavam os únicos carros da policia que a cidade tinha, chamando a atenção dos vizinhos querendo saber o que poderia ter acontecido. Poderia apostar que muitos deles pensavam que era apenas uma fã louca dos meus pais que teria invadido a casa, mas eles nunca iriam imaginar que teríamos encontrado um coração humano.

Minha primeira reação foi achar que era apenas uma brincadeira de mal gosto, que algum desalmado havia matado algum bichinho e colocado em meu quarto, fingindo ser humano para uma brincadeira idiota.

Quando ouvi de um dos policias que havia suspeita de ser um coração humano tudo que eu queria era gritar e sair correndo para longe. Tinha um coração humano em meu quarto. Alguém me deu um coração humano.

Minha mente não parava de repassar isso. Mesmo que tentasse esquecer, meu celebro revivia toda vez o que eu tentava esquecer, revivia toda vez o meu medo quando li o bilhete, revivia toda a confusão.

O que essa pessoa queria? O que ela ganhava fazendo isso? O que ela ganhava me botando medo?

O que ela queria dizer que eu tinha o seu coração? Era o coração dele? Mas então, quem era dela? Quem não tinha coração?

— Senhora Mclean? - Escuto uma voz masculina chamar, tirando-me dos meus pensamentos.

Olho em direção a voz, encontrando um senhor de meia idade enfrente a minha mãe, como se quisesse conversar com a mesma sem que eu o escuta-se. Seus olhos castanhos me analisavam com cautela, como se em qualquer momento eu fosse pirar e fosse o atacar. O que poderia acontecer, talvez.

— Sou o Sherrif Stilinski* - Ele continua - Posso falar com a senhora um minuto?

Vejo minha mãe balançar a cabeça positivamente, sem tirar os olhos de mim.

— Bem, primeiro queria tranquilizar a senhora dizendo que estou disponibilizando alguns dos meus homens para protege sua filha de qualquer pessoa que tentar feri-la, apesar de acharmos que esse não é o caso.

— O que quer disser com isso, Sherrif? - Escuto meu pai falar ao seu lado. - A mandaram um coração, isso não é claramente uma ameaça?

— Não, senhor. - Ele diz prontamente - Porém imagino o porquê o senhor pensa assim, nossa primeira opção também foi está, mas mudamos de ideia quando vimos o bilhete.

— Bilhete? - Escuto-o perguntar - Que bilhete?

— O Bilhete que sua filha recebeu junto com o objeto - Ele respondeu - Ela não contou a vocês?

— Não, ela não contou - Diz o meu irmão. - Desde que a encontramos no topo da escada assustada e olhando para o nada, ela não fala uma palavra.

— Mas como sabem do bilhete então? - Escuto minha mãe exclamar - Como poderia saber se ela não fala nada?

— Estava com ela quando a vimos. Ela apertava o bilhete muito forte. - Matt explica - Silena conseguiu pegar de suas mãos.

— O que estava escrito no bilhete? - Meu pai pergunta.

— Tudo que o senhor precisa saber sobre o bilhete... - O sherrife responde - E que a pessoa que deixou o coração para a sua filha pode ter certa obsessão sobre a mesma.

— Como podem saber? - Mamãe pergunta - Pode ser uma ameaça como diz meu marido.

— Conversei com a Doutora Kelly, a psicóloga do estado por telefone - O Xerife explica. - E que tudo indica, e que a pessoa tem uma obsessão em sua filha. O jeito que o bilhete foi escrito, a forma que o coração foi embrulhado, a forma de como a pessoa se dirigiu a ela. Vocês terão que ter cuidado redobrado partir de agora.

— Não será um problema - Minha mãe diz - Já que ela não se mexe a um bom tempo. Nem piscar pisca.

— Mãe, se acalme, ela só está em choque - Escuto meu irmão dizer - Dawen não devia ter dito aquilo, ainda não temos como saber se é realmente humano.

— Matthew, ela recebeu um coração! - Escuto-a sussurrar - Um coração! Não tem como me acalmar, o que será que está passando na cabeça dela?

"Gritar, chorar, fugir" era o que estava passando em minha cabeça.

— Mas vocês suspeitam que é um coração humano? - Escuto meu pai perguntar.

—O Xerife não pode dizer nada sobre a investigação - Meu irmão responde. O chamaria de puxa saco agora se não estivesse com medo de abrir a boca, e começar a chorar.

Papai deveria ter o olhado com um olhar que ele sempre vazia toda vez que queria que disséssemos tudo o que ele queria saber, pois logo depois Matt o responde.

— Sim, achamos. - Ele suspira.

— Não temos provas ainda, e a pericia vai levar pra a capital pra sabermos de quem é o coração e se é humano, deveremos saber em duas semanas, posso colocar como caso urgente, mas não sei se é possível. - Xerife diz, sem mesmo se importar com o que meu irmão disse.

— Mas não é possível ser um coração humano, não é? - Pergunta minha mãe - Só se for de outra pessoa, porque ninguém aqui morreu brutalmente assim.

Quando escuto essas palavras saindo da boca de minha mãe, sinto a bile subir e a vontade imensa de chorar. Não poderia ser, não deveria ser.

Jogo tudo o que tinha comido fora. O gosto ruim continuou em minha boca, mesmo com a queimação que dava em meu peito, dizendo que não havia mais nada em meu corpo para jogar fora.

— Querida, esta tudo bem! - Minha mãe corre para me abraçar. - Esta tudo bem! Já passou. Já passou!

— Não, mãe - Digo aos prantos - Não passou, e não se se vai passar. A culpa é minha.

— Minha querida, sinto muito que você tenha que passar por isso - Ela diz - Sinto muito mesmo.

Abraço-a tentando esquecer tudo que havia acontecido, mas não conseguia, a imagem passa varias e varias vezes em minha mente, como se me lembra-se que a culpa era minha. Com certeza era.

O bile voltava ainda mais forte quando lembrava de Calipso. Mamãe estava errada quando disse que ninguém da cidade havia sido morto brutalmente.

Havia sido sim, e saber que o coração que havia recebido era dela, me fazia entrar em pânico.

Era sim um coração humano. Era o coração de Calipso.