Ela estava paralisada. Calipso Atlas estava morta, ela lembrava-se nitidamente.  O vestido de Atlas - que era o último presente que Piper havia lhe dado - estava manchado de sangue. Piper sentiu seu estomago embrulhar quando se lembrou do buraco que havia no peito de Calipso, havia um espaço vazio ali.

Sentiu alguém sentar em seu lado e apertar seus ombros, queria agradecer pela preocupação, mas ela não conseguia. A imagem de Calipso passa em sua mente a cada minuto. Todo o caminho que ela fizera para a delegacia, Calipso aparecia.

—  Escuta Azedinha – Ela escuta uma voz masculina ao seu lado. Sua voz ecoou por todos os lados, já que eles estavam em uma pequena sala apenas com uma mesa, três cadeiras, e um espelho em sua frente – Preciso te interrogar. Sei que vai ser difícil, mas você é uma das suspeitas.

Ela olha para o lado, e vê seu irmão mais velho encarando-a com preocupação. Ela sabia que seria uma suspeita, claro que seria. Todos haviam visto a briga dela com a Atlas. Piper sabia que alguém queria a incriminar, mas porque ela?

—  Eu... – Ela respira fundo. Sua voz saiu baixa, como se não tivesse mais forças pra falar – Por quê?

—  Como eu falei – Seu irmão diz calmo – Você é suspeita.

—  Eu imaginei – Conseguiu falar. Os olhos claros do irmão estavam tristes, e seu rosto estava com uma feição de angustia. Ela não ligava de ser interrogada, mas não queria que fosse seu irmão. Qualquer um, menos o seu irmão.  – Mas por que você?

—  Porque eu sou o único detetive da cidade – Diz seu irmão apontando para o distintivo em seu bolso – O Xerife não quis o caso, sobrou pra gente, além disso, apesar de novos, temos experiência com esse tipo de assunto.

—  Não pode ser outra pessoa? – Pergunta ela sem dar importância para o que o irmão fala – Nada contra você, só não quero que me olhe com aquele olhar de desconfiança.

—  Eu não vou olhar – Diz ele. Ele sorri e aponta pra o lado – Mas posso deixa-la com Bianca.

Piper olha para frente e assusta-se quando encontra uma mulher sentada na frente da mesa em que ela estava, sorrindo com pena. Piper não gostou disso. Não por ser Bianca, mas pelo seu sorriso de pena, não de julgamento. Todos achavam que ela era a culpada, porque não Bianca?

—  Tudo bem –   responde ela depois de um tempo.

—  Não! – seu irmão diz indignado – Eu vou interrogá-la junto com Bianca.

—  Mas você disse... – Começa ela e acaba sendo atrapalhada por Bianca.

—  Seu irmão queria lhe passar confiança – Bianca diz. Seus olhos castanhos e rosto redondo estavam calmos, diferente de seu irmão, que estava com seu maxilar quadrado travado. – Mas ele não vai largar de você um segundo se quer, enquanto estiver aqui. Sabe, coisa de irmão protetor. Então vamos logo com isso... Qual é o seu envolvimento com Calipso Atlas?

—  Ela foi minha melhor amiga – Responde. - Antes disso acontecer.

—  Foi? Por que não é mais? – Ela escuta seu irmão ao seu lado.

—  Você sabe a resposta, você é o meu irmão. –diz ela brava – Por que está perguntando?

—  Porque assim que o interrogatório começou, eu não sou seu irmão – Ele diz sério, seus olhos azuis estavam ficando escuro, claro sinal que seu irmão ia ficar bravo – Sou o policial que está cuidando do assassinato de uma menina. Então peço que responda as perguntas que fazemos.

—  A gente brigou na escola, porque ela gostava do Frank. – Ela responde derrotada.

—  E você também gosta dele? – Bianca pergunta.

—  O que? Não! – ela revira os olhos – Frank é meu amigo.

—  Você brigou com ela porque ela gostava do seu amigo? – Bianca diz.

—  Não – Piper começa a mexer em seus cabelos – Ela que brigou comigo, porque tentei fazer os dois ficarem juntos.

—  E por que ela não gostou disso? – Pergunta seu irmão.

—  Porque antes de eu chegar aqui, Calipso havia namorado um amigo de Frank – Piper responde. Ela parou um pouco para ver se entendia a reação de Bianca, assim que Piper disse sobre o ex-namorado de Atlas. – Frank dizia que se sentiria mal se fizesse isso com o melhor amigo dele.

—  E por isso Calipso Atlas brigou com você? – ela escuta seu irmão perguntar.

—  Sim, porque ela sabia qual era a reação de Frank – ela responde – E segundo a mesma, ela não queria lembrar-se disso.

—  E algum deles contou pra você sobre o namorado dela? – Pergunta seu irmão. Piper balança a cabeça concordando – O que eles contaram?

—  Que ele havia se metido em encrenca, e que por causa disso fugiu – Ela responde. – Por isso que Frank não queria nada com ela. Ele foi embora sem terminar com ela, então, praticamente ela estaria o traindo. Eu não sabia disso, até a nossa briga. Frank me contou quando eu estava executando o meu plano, e eu concordei com ele... Nos duas brigamos depois que ele me contou.

—  Então é isso que você gritou para todos do se colégio ouvir a seguinte frase: "Você vai morrer sozinha, Calipso. Porque ninguém vai lhe amar, porque você não tem coração.” – Bianca diz lendo em seu bloco – E logo depois de três dias, sua ex-melhor amiga é assassinada e encontrada sem coração?

—  Espera! – Piper exclama assustada – Meu Deus! Tiraram o coração de Calipso? E por isso que acham que fui eu? Pela frase?

—  Responda a pergunta. – exclama o seu irmão.

— Ok. Foi – Piper se dá por vencida – Mas foi calor do momento, nunca iria machucar a Cali. Mesmo brigadas, ela era minha melhor amiga.

—  Onde estava ontem à noite entre dez horas e meia noite? – Bianca pergunta.

—  No jantar beneficente do Papai – Ela exclama. – Matthew pode afirmar, ele ficou comigo o tempo todo.

—  Matt? – Pergunta Bianca curiosa. Piper a olha estranho quando ouve ela chamar seu irmão pelo apelido.

—  Sim, é verdade, Bi. – Seu irmão diz suspirando. – Tem filmagens que aparece ela também.

Passou algum tempo, Piper foi liberada. Não havia provas que ela era culpada, até mesmo porque ela não era. Encontrou sua mãe e sua melhor amiga esperando do lado de fora, seu pai estava assinando papeladas para a sua liberação.

Annabeth correu para a amiga e abraçou com toda a força que tinha e ela o retribui, querendo acabar com todo aquele pesadelo. Elas eram melhores amigas, mesmo que elas e Calipso tivessem brigadas, elas sempre seriam melhores amigas.

O caminho para a casa foi em silencio, ninguém falou nada o caminho todo, e nem mesmo tiveram coragem de colocar uma musica para animar o local. Para eles isso seria falta de respeito.

Chegando em seu quarto, e se jogou na cama, segurando o choro. Não queria chorar, não iria chorar. Por Calipso, ela deveria ser forte, apenas por Calipso.

Começou a sentir um cheiro estranho, um cheiro começou fraco, e acabou ficando forte, um cheiro diferente, como se fosse sangue. Olhou em volta, e em cima de seu escrivaninha, havia um pacote embrulhado.

Levanta-se e vai em direção ao pacote. A cada passo que ela dava, o cheiro ficava mais forte, indicando que o cheiro vinha dali.

O pacote estava embrulhado em um papel rosa, com uma fita preta enrolada. Com cuidado, ela desfaz o embrulho, levando um susto com o que havia dentro.

Ali em sua frente, havia um coração humano, com o seguinte bilhete:

"Você tem razão, ela não tem coração.

E assim como você tem o meu, vou dar-lhe o dela. "