Heartbeat escrita por Ana


Capítulo 4
Gold's Magazine Team


Notas iniciais do capítulo

Nesse capítulo vocês vão conhecer um pouco mais sobre a Emma e como é a vida dela após o acidente.
Perdoem os erros que passam despercebidos e boa leitura!



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Sentada na cama com as pernas para fora dela, sentia os pelinhos do tapete na sola dos pés enquanto os balançava devagar. Emma esticou os braços acima da cabeça e inclinou o corpo para trás se espreguiçando, sentindo e ouvindo alguns ossos estralarem enquanto bocejava preguiçosamente, o relógio na tela do celular dizia que era 05:50 a.m, o horário que acordava todos os dias.

Ainda sonolenta, fico observando o seu pote da sobriedade no criado mudo, que na verdade não passava de um pote de vidro de azeitonas, onde tinha colocado as moedas do NA, narcóticos anônimos, nele haviam trinta e seis moedas, uma para cada mês em que tinha ficado sóbria, sem recaídas. O potinho era um lembrete de que, independente de todos os dias ruins que teve, resistia.

Levantou e foi abrir as cortinas da janela deixando que a luz natural entrasse no quarto, lá em baixo a cidade também despertava. Era indescritível a sensação de poder acordar e fazer algo tão simples quanto aquilo, depois de ter chegado tão próximo de cruzar a linha.

No banheiro fez uma higiene rápida, e quando terminou, vestiu a jaqueta de ciclismo por cima de uma camiseta, o short colado que acompanhava a peça de cima e o relógio de pulso que marcava os seus batimentos. Se não fosse por o ressonar de Alice quando Emma passou em frente a porta do quarto dela, o apartamento estaria no mais completo silêncio. Na cozinha começou a preparar o café para elas, fez o suco e deixou os sanduiches de geleia de laranja prontos, e a massa fresca de waffer na geladeira para quando ela acordasse. Pegou duas bananas da fruteira e comeu para evitar as câimbras e porque não podia tomar os seus remédios de estômago vazio, imunossupressores para prevenir que o seu organismo rejeitasse o órgão, e antibióticos para evitar as infecções.

Tudo pronto, voltou ao quarto, calçou as meias e o tênis, vestiu as luvas e amarrou o cabelo em um rabo de cabelo baixo para acomodar melhor o capacete. A bicicleta presa na parede atrás do sofá por um suporte parecia um item de decoração, e até seria, se ela não se chamasse Bug e já tivesse rodado toda a cidade com Emma.

Pegou Bug do suporte e desceu com ela de elevador. Sempre entrava com ela sobre uma roda só, porque assim ocupava menos espaço dentro do elevador para caso mais alguém o pegasse.

— Bom dia, Walter. — cumprimentou o porteiro do turno da noite.

— Bo... — mas a palavra foi interrompida por um bocejo. — Bom dia Emma, bom passeio.

— Obrigada. — falou já da calçada e montando na bicicleta.

O sol ia aparecendo timidamente no céu e a brisa da manhã ainda era fria, Emma se mantinha sempre nas ciclofaixas de lazer até chegar ao Jardim Público da cidade, nele via pessoas caminhando, correndo e passeando com os seus cachorros. Fazia aquilo todos os dias desde o acidente, vida saudável, era o que diziam, mas de fato tinha ajudado na sua recuperação depois do transplante.

Sofreu bastante durante a fisioterapia, se cansava rápido e inúmeras foram as vezes que quis desistir. Precisou mais do que nunca de ajuda durante as crises de abstinência, quando ficou depressiva, ansiosa, angústia e irritada, mas só foi quando a sua médica deixou bem claro que ela não teria tanta sorte da próxima vez, que precisou decidir o que era mais importante, mais uma cheirada e uma tragada, ou a sua própria vida e a sua família, que tanto estava envolvida em tudo.

Pedalando, Emma encontrou um substituído ímpar para o barato que as drogas lhe davam. Sempre com uma música agitada no iPod, addicted to you do Aviici era a da vez, as pessoas passando, as paisagens diferentes que descobria quando mudava sua rota, a sensação do vento no seu rosto e do ar limpo entrando em seus pulmões, faziam com ela se sentisse livre e feliz, porque viver nunca tinha sido tão delicioso. Emma renasceu dentro da sua própria vida, só que agora em um outro papel, o de alguém que presa por a constância da rotina, que ver nela uma amiga, alguém que sabe que precisa lidar com os problemas da vida, sem fugir dela ou procurar válvulas de escape autodestrutivas.

Com uma hora marcada no relógio, pegou o caminho de volta para casa parando em uma padaria do bairro.

— Bom dia Sr. Tillman.

— Bom dia, o que vai querer hoje?

— Por hoje só um litro de leite mesmo, está em falta lá em casa. — disse apoiando o cotovelo na bancada de atendimento.

— É para a menina Alice?

— Para ela mesma, que já deve estar acordada só esperando por isso. E os gêmeos, como estão? — perguntou enquanto o homem pegava a caixa de leite na prateleira atrás do balcão.

— Devem estar se arrumando para irem para a escola, Gretel e Hansel estão cada vez mais impossíveis. Ai esses meninos... — Emma apenas sorriu, o que mais poderia fazer, eram crianças, e ele tinha sorte de tê-las.

— Obrigada. — sorriu simpática quando recebeu a sacola com o leite.

Pendurou a alça da sacola no guidom da bicicleta e voltou para casa. Quando passou pela portaria, deu bom dia ao porteiro diurno e subiu direto para o apartamento.

— Allie, trouxe o leite. — falou alto assim que entrou em casa. Pendurou a bicicleta de volta na parede e foi para a cozinha. — Está aqui o seu leite aqui. — colocou a sacola em cima da mesa.

Alice picava frutas enquanto tinha o celular preso entre o ombro e a orelha.

— Ela acabou de chegar, mãe. — Emma balançou os dedos indicadores de cada mão de um lado para o outro pedindo que Alice não passasse o celular para ela, ou a sua mãe falaria a manhã inteira só naquele telefonema — Mãe ela já  indo para o banho...Não mãe, ela ainda não tomou café, ela chegou agora...  mãe, ela já vai comer. Ela  dizendo que ama você e tá mandando um beijo para o papai... Tchau mãe ... Mas se você não desligar eu vou acabar me atrasando... Tchau Mary... Desculpa, tchau mãe, te amo.

— Quando tempo vocês estavam na chamada?

— Vinte minutos e contando. — Alice revirou os olhos.

Emma deixou Alice na cozinha e foi para o banheiro tomar banho de verdade, a rotina era a mesma todos os dias, mas se algo levasse mais tempo do que normal, chegaria atrasada no trabalho. Entrou em baixo do chuveiro e deu uns pulinhos quando a água fria atingiu as suas costas, que só durou até que ela se acostumasse com a temperatura. Lavou os cabelos com shampoo e os condicionou, se ensaboou e hidratou o corpo.

Nua, de frente para o espelho enquanto penteava os cabelos depois de ter escovado os dentes, a cicatriz no meio do peito era evidente, ia do manúbrio até o processo xifoide, percorrendo todo o esterno, era um pouco mais escura do que o restante da pele, e em alto relevo, ela era sensível ao tato. Aquela era a sua marca de sobrevivência, e Emma lidava muito bem com a vida que tinha agora, exceto é claro, por não contar a ninguém do trabalho sobre ela e sobre tudo que a envolvia, sendo Gold o único a saber de parte da história, por ser o seu contratante.

Alguns meses foram de puro borrão, e não se orgulhava de nada daquilo, se pudesse esquecer ou mudar o seu passado, sem dúvidas faria, mas como não era possível, compensava com sua vontade de estar ali, com a sua vontade de viver.

Vestiu um conjunto de lingerie preta, calça jeans skinny, uma camisa social de botões, abotoada até o último, e uma bota sem salto e de cano baixo.

— Allie, você já separou as coisas que vai levar para a universidade? — perguntou se servindo das frutas picadas, do waffle que Alice fez com a massa que ela tinha deixado pronta e de suco.  — Não quero chegar atrasada hoje.

— Só porque quer passar uma boa impressão para chefe nova, que eu sei. — falou com a boca cheia de sanduíche.

— Alice!

— Não está mais aqui quem falou, já vou arrumar as minhas coisas. — comeu o último pedaço do sanduíche de geleia de laranja e bebeu o restante do leite no copo.

— Limpa do bigode branco, coelhinha. — precisou gritar quando Alice saiu correndo da cozinha para o quarto.

— Acho que chapeleiro maluco combina mais. — disse quando voltou para a cozinha com a mochila nas costas e uma tela embaixo do braço. — Vamos?

Emma que secava as mãos no pano de prato depois ter lavado a louça do café da manhã, lançou um olhar cerrado para a mais nova.

— Ah, você não vai me deixar ver a tela, não?

— É uma baleia. — abraçou a tela contra o peito.

— Deixa eu ver.

— Você não pode dizer que gostou se não tiver gostado de verdade!

— Está bem, eu não vou dizer.

Devagar, Alice foi virando a tela para irmã, sua boca se torceu para o lado enquanto olhava a expressão de Emma, que corria os olhos sobre o quadro.

Nela estava pintado o mar, de uma tonalidade azul, não, verde, ou algo entre os dois, tão profundo, que parecia abrigar todas as histórias de naufrágios e náufragos que morreram afogados. Nele um barquinho pesqueiro repousava sobre a crista de uma onda que emergia. No céu haviam nuvens semitransparentes, que ainda permitiam que o azul anil fosse visto, mas que iam até onde ele parecia tocar o mar. Com o azul como plano de fundo, elas pareciam ondas, e essa dualidade só se confirmava com a presença de uma baleia azul ali, que pacientemente parecia nadava por entre as nuvens-ondas.

— E então, o que você achou? — Alice mordeu o lábio inferior com os dentes incisivos.

— Está lindo, Alice.

— Você não está dizendo só para ser gentil, está?

— Mas é claro que não, você sabe quando eu não estou falando a verdade, e eu pareço estar mentindo agora? — apontou com o indicador para o próprio rosto.

— Não, não estar.

— Vai me dar a tela depois que o professor der a nota?

— Também não! Agora vamos que você disse que não quer chegar atrasada. — falou imitando a voz de Emma.

Emma também pegou as suas coisas, uma bolsa com as suas câmeras, as profissionais que usava na revista, uma mamiya leaf e canon EOS, as lentes objetivas, filtro UV para as lentes, cartões de memórias e bateria extra, e então desceram para o estacionamento. No porta malas colocaram a tela de Alice, e as bolsas ficaram nos bancos de trás.

Até um ano atrás, a mais nova dos Swans vivia com os pais em Norwood, Massachusetts, mas se mudou para Boston para morar com Emma quando passou para cursar artes plásticas no MIT, em Cambridge. Era mais perto, e também pegava carona com Emma toda manhã, que atravessava a ponte, Longfellow Bridge, para deixar Alice na universidade, e quando voltava ia direto para revista.

O trajeto durava no máximo vinte minutos sem que Emma precisasse correr, não que fizesse mais isso, claro, e durante o caminho de ida, quando Alice não ia cochilando no banco do carona depois de ter passado a noite inteira, literalmente fazendo as suas artes, elas iam cantando as preferidas da playlist. Para Emma, sempre era um dia bom quando ele começava assim.

Conectado por bluetooth ao celular de Emma, no som do carro tocava don’t stay de X Ambassadors, que elas acompanhavam cantando terrivelmente desafinadas, diga-se de passagem.

— But don’t stay for me, oh woah, oh woah. — Emma cantava agudo imitando o vocalista, ou tentando quebrar os vidros da janela.

— Don’t stay for me. — enquanto Alice fazia a segunda voz e batucava no painel do carro, porque não contente em cantar, ainda fazia a percussão.

— If you got to leave, do what you need, but don't stay for me, oh woah, oh woah. — cantavam juntas com uma voz que sua mãe costumava chamar de taquara rachada.

— Tem certeza que não está esquecendo nada? —perguntou quando Alice fechou o porta-malas e apareceu na janela para se despedir. Estava estacionada em frente ao campus de artes.

— Tenho, sim!

— Eu não vou ter tempo de vir aqui deixar se você me ligar desesperada porque esqueceu alguma tinta.

— Está tudo aqui, Emma.

— Está bom então. Boa aula. — falou mais alto quando ela começou a se afastar.

— Bom trabalho. — Alice acenou já ao longe.

Na teoria, irmãos mais velhos eram quem deveriam cuidar do mais novos, durante um tempo Emma foi incapaz de cuidar até mesmo de si e de fazer escolhas descentes, mas agora, com Alice morando com ela, sentia que fazia o seu dever, mesmo sabendo que Alice também cuidava dela. Vai ver era assim que realmente deveria ser, uma cuidando da outra.

Deixado o carro sob um toldo no estacionamento externo da revista, Emma entrou no prédio pela entrada principal, no hall alguns pais andavam de mãos dadas com os filhos para deixá-los na creche e depois seguir para mais um dia de trabalho. Enquanto caminhava em direção ao elevador com a sua bolsa, ficou olhando para entrada da creche, esperando ver um menininho que tinha conhecido no outro dia.

O elevador dava direto na redação, e assim que se saía dele  tinha o segurança do andar e vinha a recepção com a secretária da chefia, e logo se podia ver todo aquele mar de mesas, algumas coloridas com vasinhos de flores e pop funkos, e outras mais sérias, mas todas com pessoas em seus computadores, alguns com fones de ouvido e outros ao telefone, mas todos empenhados em uma mesma tarefa, trazer manchetes e notícias quentes para a revista, e fazer com a Gold’s Magazine funcionasse todos os dias.

— Bom dia, Belle — cumprimentou bem-humorada a secretaria e recepcionista da revista, que conversava com freelancer, barra, motoboy, que fazia algumas entregas e depósitos para a Gold’s Magazine, e que a proposito, estava quase pulando a bancada para ficar mais perto dela.

— Bom dia. — respondeu simpática.

— E aí, Will? — bateram as mãos uma na outra e depois deram um soquinho.

— Suave. Tudo tranquilo? — Emma riu do que jeito dele falar e todo o seu traquejo das ruas.

— Tudo tranquilo. — se encostou no balcão da recepção e apoiou o queixo em uma das mãos. — O que tem aí para mim hoje, Belle?

— As modelos já estão no estúdio, quando chequei elas já estavam sendo maquiadas enquanto a Cruella estava escolhendo as roupas para a campanha.

— Ótimo, vou passar na minha sala para ver se preciso de alguma coisa de lá e desço em seguida.


Mais a diante, enquanto tinha em mãos alguns textos para serem revisados e fingia que os lia, quando na verdade olhava por cima deles com os olhos estreitados, Regina observava a interação entre os três. Virou de costas quando Emma passou distraída do outro lado da redação.

— Mills? — Regina pulou com o susto.

— Ah, oi Ruby.

— Vi você parada aí e achei que fosse entrar na minha sala.

— E eu ia, mas me distraí com a leitura. — desconsertada, Regina ajeitou os óculos de leitura no rosto.

— Claro. — reprimiu um sorriso que teimava em brotar em seus lábios. — Então, vamos entrar?

Ruby abriu a porta e deixou que Regina entrasse primeiro para entrar em seguida, e indicou a cadeira na frente da sua mesa,

— Como estão com os textos da edição dessa semana?

— Já recebi alguns dos redatores e estou finalizando os meus.

— Como o que? “Ivy Belfrey anuncia termino de namoro e diz estar solteira e feliz”? — Regina torceu o nariz em desagrado.

— Depois que eu me formei e comecei a trabalhar, descobri que não dá para manter uma revista só com coisas relevantes, temos que cativar até os mais fúteis.

— Também fiquei decepcionada. E quanto a resenha crítica do livro da semana?

— Foi Origin, de Dan Brown. Todas as suas 431 páginas lidas e resenhadas, vou aproveitar mandar para o seu e-mail.

— E as fotos dele?

— Emma as fez ontem. — Ruby virou o monitor para que Regina pudesse vê-las.

— Estão boas. — se empertigou na cadeira.

— Falta só a sua revisão para podermos mandar para Kristin diagramar e montar o layout da edição.

— Ótimo, peça aos redatores que concluam os textos para que eu possa fazer a revisão o quanto antes.

— Claro, hoje no final do dia ou mais tardar amanhã pela manhã, estarão todos no seu e-mail.

Regina passou o restante da manhã lendo, corrigindo e mudando o que achava ser necessário e se encaixar melhor nos textos já recebidos. Ora ou outra estralava os dedos, mexia o pescoço para os lados ou ia até a copa encher de café o seu copo térmico. Ainda percebia alguns olhares curiosos vindos na sua direção, mas antes curiosos do que raivosos como os de certas pessoas, apesar de que se divertia muito mais com esses, respondendo com risos irônicos.

No horário do almoço decidiu almoçar com Henry, pegou o garoto na creche e o levou para um restaurante na rua de trás, por indicação de Belle.

Enquanto caminhavam pela calçada com a sua mãe segurando em sua mão, Henry olhava curioso para tudo, e Regina só o observava. Maine era um estado minúsculo quando comparado a Massachusetts, sem se falar nas cidades, Storybrooke, mesmo sendo capital, era familiar com os comércios modestos onde todo mundo se conhecia, já Boston era enorme, com vitrines grandes e coloridas, e sempre muito movimentada, não era estranho que Henry admirasse tudo aquilo.

No restaurante, quando Henry sentou à mesa ao lado de Regina, ficou praticamente só a sua cabeça a amostra, então trouxeram uma cadeira mais alta para que alcançasse a mesa.

— Olha como eu tô alto, mamãe. — falou balançando as pernas.

— Muito alto mesmo, mas daqui a pouco você está desse tamanho sem nem precisar da cadeira.

— Eu vou ser grande como o tio Robin?

— Eu acho que vai sim.

Almoçaram com Henry contando sobre o que tinha feito na creche até então, as brincadeiras que tinha brincado, os desenhos que tinha pintado, os amigos que tinha feito e como as tias eram legais, enquanto Regina ouvia tudo com atenção.

Henry era a única coisa real que tinha sobrado do sonho que ela um dia viveu.

Na volta para revista, enquanto caminhavam pela calçada, do outro lado da rua um homem vendo algodão doce passou assoprando o seu apito. Regina viu a cabeça do menino se virando imediatamente em direção ao som.

— Você quer um, Henry?

Ele olhou do algodão para mãe, e da mãe para o algodão, e por fim sacodiu a cabeça em negativa.

— Tudo bem então.

Quando voltaram, Regina o deixou Henry na creche subiu para a revista, como os redatores ainda terminavam os textos da edição semanal, poucos tinham sidos enviados para ela, então logo terminou as correções.

Com o tempo livre que tinha até acabar o expediente, desceu ao estúdio fotográfico para ver como as iam lá.

O estúdio fotográfico era no andar abaixo da redação, ele era uma sala retangular com o fundo pintado de branco, como uma caixa, e com uma espécie de cortina branca retrátil de fundo infinito na parede posterior. Nele alguns modelos posavam diante de sombrinhas refletoras e difusoras, rebatedores circulares segurados por ajudantes, iluminadores de lede, softboxes e de um tripé com uma câmera apoiada, que Emma alternava, ora estando atrás dele, ora usando a câmera que estava pendurada no seu pescoço.

Ela dava ordens e o casal de modelos que estava sendo fotografados as seguiam, erguendo o queixo, entreabrindo a boca, se olhando e se tocando, enquanto Emma girava em torno deles buscando sempre o melhor ângulo.

Quando Regina desceu para o estúdio, algumas músicas de fundo, mas suficientemente altas, tocavam para descontrair o ambiente e desinibir os modelos, alguns fotogravam com as roupas de um dos editoriais da semana, todo composto por estampas e acessórios militares, como boinas similares a caps e coturnos, enquanto outras, vestidas em roupões, possivelmente com a coleção de lingerie, aguardavam sentadas em puffs e sofás, onde Jekyll gravitava em torno, de conversa fiada com as modelos.

Regina ficou de pé, mais afastada, olhando eles trabalhrem. Conhecia o que acontecia por trás de todas as lindas fotos de capas de revista, e sabia que aquele ambiente podia muito ser bem cruel, mas ali a atmosfera não era tão pesada, ou pelo menos não parecia ser. Emma conversava com os modelos que fotografava e indicava as melhores posições, em vez de esperar que eles soubessem de tudo e de se irritar por coisas ínfimas.

Permaneceu ali com os braços cruzados no peito até que foi desperta por Cruella, que arrumava as peças de roupas nas araras e chegou empurrando Regina com o seu quadril ossudo, fazendo com que ela passasse a mão no local, pelo contato de osso com osso.

— Essas roupas estão maravilhosas, mas já pensou em um casaco malhado felpudo com o fundo verde militar e com as manchas mais claras. — mordeu o lábio inferior se deliciando com a imagem da peça em sua mente. — Acho que vou dar esse toque a design da marca.

— Sem dúvidas você compraria. — presumiu.

— Pode apostar que sim!

— Sabe dizer se falta muito para ser fotografado hoje?

— Esse é o último casal da coleção militar, ela logo vai fotografar a de lingerie.

— E ele, está fazendo o que aqui? — indicou Jekyll com a cabeça, que continuava concentradíssimo na conversa com as modelos.

— Ele gosta de acompanhar o casting escolhido de perto, se é que me entende?! — subiu e desceu a sobrancelha direita rapidamente algumas vezes.

— Uhum...

— Bom, vou terminar de arrumar as peças nas araras e pegar a minha.

— Vai o que, Cruella? — virou rápido em direção a editora de moda.

— Nada, eu disse que vou arrumar a araras e levar para o andar de cima. — tratou em dizer.

Logo os modelos com as roupas da coleção militar ter minaram o ensaio e saíram para se trocar, e então as modelos que antes estavam sentadas se desfizeram dos seus roupões. As lingeries eram lindas, algumas com renda e outras com cinta liga e meia arrastão, sem cores gritantes, normalmente pretas, brancas e em tonalidades de vinho, e era só isso que Regina conseguia ver, o produto que iriam divulgar na revista. As modelos seminuas com corpos que causavam inveja e excitação na maioria das pessoas, eram só isso para ela, modelos, ninguém mais a atraía, não desde de que perdeu a esposa.

Emma percebeu a presença da nova editora chefe no estúdio, inclusive viu quando ela saiu ajudando Cruella com as araras e voltou sozinha, mas se manteve fazendo o seu trabalho, e então veio a voz de Alice em sua mente, dizendo que ela queria passar uma boa impressão para chefe nova.

Era fim de tarde quando finalmente terminou de fazer as fotos, e enquanto as modelos se trocavam, foi até Regina.

— Veio ver se trabalhamos bem ou do jeito que você gosta?  — disse tirando a câmera do pescoço. Nesse momento Jekyll passou com suas modelos, com uma de cada lado sob os seus braços, e parou bem na frente de Regina.

— Olá, Regina, nem vi que você estava aí, — o que era uma mentira, já que tinha olhado para trás diversas vezes na direção dela —, mas também, com uma visão dessas — indicou a modelo da sua esquerda com a cabeça. — quem consegue prestar atenção em outra coisa.

Emma entendeu perfeitamente o que ele insinuou, comparou Regina a uma das modelos e desfez dela. Abriu a boca para dizer algo que possivelmente a mataria de vergonha, mas foi impedida quando Regina falou.

— Certamente, Jekyll, inclusive só percebi que você estava no meio delas, porque a Cruella apontou para você, — mentiu —  mas também, com uma visão dessas — olhou a modelo da direita de cima a abaixo com um sorriso nos lábios que beirava a malicia. —, quem consegue prestar atenção em outra coisa?!

Mesmo não achando nada do que disse, fez aquilo única e exclusivamente motivada pela prepotência de Jekyll, que com o queixo tensionado, acenou com a cabeça para Emma e Regina, e saiu do estúdio com as modelos.

Além de tudo, joga no mesmo time que eu, sapatão!

 — Ele está magoado. — um pouco corada demais pela confissão de Regina, de que estava olhando as modelos, falou como se dissesse que ela não deveria ligar para Jeakyll.

— A essa altura da vida, tudo com o que eu não me importo é o orgulho ferido de homem, ah, e quanto a se vocês trabalham bem ou não, não tem essa de ser do jeito que eu gosto, ou é do jeito certo ou não. Não achei que você fosse do time Jekyll para editor chefe, mas paciência.

Com um menear de cabeça, se virou e saiu do estúdio em direção ao elevador, mas como Jekyll havia acabado de descer com as modelos, ainda não tinha dado tempo de o elevador voltar. Apertou o botão várias vezes impacientemente, como se aquilo fosse fazer ele subir mais rápido, mas teve que esperar da mesma forma até que o elevador chegasse no anadar, o que durou uma eternidade, já que parecia que alguém estava prendendo ele no térreo.

Emma estava saindo do estúdio, depois de ter colocado as suas coisas na bolsa e deixado os seus ajudantes organizando o espaço, quando ouviu o barulho do elevador chegando no andar, então correu para que pudesse pegá-lo e descer logo. Com muito pouco para que ele se fechasse por completo, Emma enfiou a mão entre as portas, o que no momento seguinte, ela se arrependeu de fazer.

— Au. — as portas apertaram um pouco os seus dedos antes do sensor as abrirem.

— Acho que isso é para você aprender a não colocar as mãos onde não deve. — Regina disse assim que as portas se abriram de novo e ela percebeu quem era.

— Obrigado por segurar para elas mim. — sarcástica, falou quando entrou no elevador e ajeitou a bolsa no ombro.

— Eu não vi você vindo, está bom, caso queira saber. — o elevador começou as descer.

— Ah, e caso você também queira saber, eu não sou time Jekyll, sou time Gold’s Magazine, eu trabalho aqui, então vou sempre querer o melhor para a revista, está bom?

Regina fixou o olhar na porta de metal do elevador enquanto controlava os músculos da face para não esboçar, por menor que fosse, um sorriso, quando na frase de Emma deu a entender que ela seria o melhor para a revista. Em uma espiada rápida de canto de olho para o espelho da parede do seu lado, viu através do reflexo de Emma, que ela também a espiava, e dessa vez não deu para controlar, quando viu que as narinas dela estavam dilatadas, e que ela parecia frear uma risada na garganta.

Emma parou de olhá-la pelo reflexo no espelho e virou para o lado quando Regina sorriu e baixou a cabeça, fazendo com que o cabeço caísse em seu rosto, para depois ser colocado praticamente em câmera lenta atrás da orelha.

O elevador chegou no térreo, as portas se abriram e elas saíram.

— Tchau, Swan.

— Tchau. — ergueu a mão em um aceno rápido. — É ... Regina? — chamou quando ela já tinha dado as costa e caminhava em direção a creche.

— Sim? — girou sobre os calcanhares.

— Acho que dessa vez você encontra ele na creche, mas se não, já vou sair daqui atenta. — Regina sorriu e balançou a cabeça.

— Eu até diria obrigado, mas você parece não gostar muito. — deu as costas e voltou a caminhar em direção a creche para pegar o filho.


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Notas finais do capítulo

Agora é com vocês!
Beeijooos e até o próximo



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