“Posso sentir a magia flutuando no ar
Estar com você me faz ficar desse jeito
Observo a luz do sol dançar pelo seu rosto e eu
Nunca estive arrebatada assim”

(Faith Hill - Breathe)

“É sério Noah... O que faz aqui?”, indaguei ainda surpresa e muito envergonhada por estar vestindo aquele pijama ridículo.

Noah me encarou de cima para baixo, o que provavelmente me fez corar ainda mais – se é que isso é possível.

“Você não devia ficar com vergonha do seu pijama... Combina com você”, respondeu ele.

“É, ele é bem ridículo”, disse.

“Não foi isso o que eu...”, continuou ele, mas logo foi interrompido.

“Rachel!”, ouvi Finn exclamar atrás de mim. Pulei de susto e me virei rapidamente. Ele sorria enquanto me observava – não como Noah, mas de um modo mais contido e inocente. Vestia um samba-canção roxo dos Super Patos e uma camiseta dos Power Rangers. O contraste entre os dois era gritante demais. “O que faz aqui?”, indagou ele.

“Kurt trouxe a mim e Mercedes para uma festa do pijama ontem”, respondi.

“Legal”, comentou Finn. “Puck e eu nos encontramos depois que o pessoal saiu do Breadstix ontem”.

“Você quer dizer hoje”, acrescentou Noah. “Me encontrei com ele e viemos jogar vídeo game”.

“Espera... a Judy ficou sozinha?”, perguntei um tanto preocupada.

“Minha mãe chegou mais cedo, então me mandei”, respondeu Noah despreocupado. “E aí, Mike?”, cumprimentou ele. Olhei para trás e dei de cara com Mike Chang vestindo apenas uma regata branca e um shorts de pijama.

“Bom dia! Oi Rachel”, cumprimentou Mike.

“Oi”, respondi mais confusa do que nunca. “O time de futebol inteiro dormiu aqui?”, indaguei.

Finn soltou uma risada enquanto abria a geladeira e pegava uma garrafa de leite.

“Não, Rachel. Somos só Mike, Puck, Sam e eu”.

“O Kurt vai surtar quando souber”— pensei enquanto ajudava Finn a pôr a mesa para o café da manhã.

Cerca de dez minutos depois Kurt desceu as escadas com Sam a tiracolo e Mercedes logo atrás dos dois. Trocamos um olhar rápido e ele me pareceu confuso entre brigar com Finn pela bagunça deixada na sala e agradecer por ter levado todos aqueles garotos à sua casa.

“Bom dia!”, exclamou Kurt quando chegou à cozinha. Mercedes acenou timidamente para todos e Sam fez o mesmo.

“É como um sonho realizado”, sussurrou Kurt para mim e Mercedes. Rimos de seu entusiasmo, mas não discordamos.

~*~*~*~*~*~

Após tomarmos café, Kurt, Mercedes e eu subimos para trocarmos de roupa. Dei graças a Deus por ter me lembrado de levar uma roupa de banho, pois os garotos inventaram uma festa na piscina de última hora. Kurt deixou que Finn convidasse apenas as irmãs de Sam – mas é claro que Noah tinha que se lembrar de Santana. Apesar disso estávamos tranquilos, pois ela não seria louca de cantar de galo na casa dos outros. Convidamos Tina e Artie também, mas aparentemente os dois estariam fora da cidade no sábado – haveria uma mostra de cinema em Westerville e um amigo de Artie estaria concorrendo em um concurso de melhor curta-metragem.

Kurt estava tão elegante que mais parecia estar posando para a Vogue francesa do que indo nadar em sua própria piscina. Mercedes estava usando um maiô estampado que combinava perfeitamente com ela e caía muito bem em seu corpo; eu, por outro lado, usava um biquíni cor-de-rosa super sem graça que eu nem me lembrava mais que existia.

Passada meia hora, Quinn e Brittany chegaram; Santana foi a última a chegar, transbordando falsidade e destilando seu veneno. Kurt, Mercedes e eu estávamos deitados nas espreguiçadeiras quando ela passou por nós e fingiu não nos ver ali. Diferente de Quinn e Brittany, que prontamente vieram falar conosco assim que Finn as recebeu. As três estavam impecáveis, como sempre. Exceto Sam e Mike, os garotos não paravam de babar por elas. Percebi o incômodo de Mike com os olhares sobre sua namorada, porém, por ser educado demais, ele apenas segurou Quinn pela mão e a levou para dentro para ajudá-lo com as bebidas.

Kurt e eu folheávamos uma revista quando percebemos que Sam aproximou-se de Mercedes e começou a puxar assunto. Fingimos interesse na revista e Kurt tentava escutar a conversa dos dois. Trocamos olhares rápidos enquanto observávamos a cena. Não sei se ainda não havia percebido aquilo antes, mas pelo o que me lembrava Sam nunca tinha conversado com Mercedes na escola. Mais tarde Kurt gostaria de um relatório sobre aquela conversa, eu tinha certeza.

Olhei ao meu redor e observei os outros: Finn estava na churrasqueira tomando conta das carnes; Mike e Quinn colocavam as bebidas em um cooler grande enquanto Brittany tentava encher uma boia gigante de unicórnio. Santana estava tomando sol na espreguiçadeira perto de onde Mercedes estava, e Noah estava sentado na beirada da piscina olhando diretamente para mim. Nos encaramos por alguns segundo antes dele desviar o olhar para o outro lado. Segui seu olhar e me deparei com Santana me fuzilando com os olhos. Olhei de volta para Noah e o safado tinha desaparecido dentro da piscina. Aquele dia seria longo.

Noah’s POV

 Fiquei observando Rachel e Finn durante o dia todo. Eu ainda não conseguia acreditar que finalmente reuni coragem e falei com ela. Contei para Finn que havia conversado com ela e ele ficou muito feliz por mim. Casualmente perguntei a ele se ele e Rachel estavam saindo, e Finn não negou, mas também não confirmou nada. Somos amigos há muitos anos, e eu conheço aquele sorrisinho besta muito bem para saber que ele tava de quatro por ela. Na verdade, eu percebi que Finn estava de olho na Rachel desde o verão, mas como ainda estava sendo bem babaca com ela, fingi desinteresse – o que deve ter deixado Finn chateado, afinal, somos melhores amigos e eu deveria tê-lo apoiado.

   Não sei por que, mas vê-los juntos me incomodou. Não sei se pelo fato de Finn ter procurado Sam ao invés de ter vindo a mim, ou se...

  “Aí está você!”, exclamou Santana. Tinha esquecido que ela estava ali também. Apesar de serem bem diferentes, ela e as irmãs de Sam eram bem próximas. Aliás, fiquei sabendo que ela e Brittany já haviam se pegado algumas vezes. Queria poder ter visto isso.

  “O que foi?”, perguntei enquanto bebia um pouco de refri. O Hummel era tão fresco que nem nos deixou comprar cervejas.

   “O frutinha do Hummel resolveu ligar o karaokê, então eu pensei que a gente poderia aproveitar a distração deles e fazer alguma coisa”, sugeriu ela toda safada. Santana era gostosa, mas ultimamente eu não estava mais afim dela.

   “Qual é, Puck? Você tá muito esquisito esses dias”, reclamou ela. “Quer saber? Eu vou pra casa!”, exclamou e saiu batendo o pé. Nem me dei ao trabalho de ir atrás dela. Aliás, nem me importei se ela iria espalhar algum boato maldoso que afetaria minha reputação de pegador pela escola. Pela primeira vez, aquilo não me afetava em nada. Por incrível que pareça, eu só pensava no que a Rachel acharia de mim. Que saco.

   “Pensando na vida?”, ouvi alguém perguntar ao meu lado. Nem percebi que Rachel havia se sentado ali e acabei me assustando um pouco. Ela estava linda com aquele biquíni cor-de-rosa e as duas trancinhas feitas em seus cabelos. Meio infantil, mas aquilo combinava com ela.

   “Hummel não me deixou comprar cervejas”, comentei para desviar o foco da conversa. Se tem uma coisa que eu aprendi é não demonstrar minhas fraquezas.

    “Sou eu, lembra? Não tenta mentir pra mim, eu te conheço”, rebateu ela. “É a Santana, não é?”, perguntou.

“Não, sua tonta, é você e o fato de estar saindo com o meu melhor amigo e eu perceber que talvez, goste de você”, pensei em responder.

     “É”, menti. “E ela nem é minha namorada”.

     “Mas age como se fosse”, murmurou ela. Não esperava ouvir aquilo.

     “Tá com ciúmes, Berry?”, provoquei. Rachel riu e me deu um soco no braço.

    “Não, seu tonto. Só acho que você merece coisa melhor. E também acho que deveria tratá-la melhor”.

     “Ué, mas não é você que detesta ela?”, perguntei.

    “Nós temos nossas diferenças, sim, mas também acho que nenhuma garota merece ser maltratada – principalmente por quem ela gosta”.

Rachel’s POV

    As palavras simplesmente escaparam, eu disse sem pensar. Mas Noah não pareceu perceber, pois olhou para mim sorrindo e disse:

    “Eu prometo melhorar. Mas sei lá, as coisas estão diferentes”.

   “Você não gosta dela?”, perguntei, curiosa. Noah chutou a água da piscina e se limitou a chacoalhar os ombros.

    “Que cínico!”, exclamei em tom de brincadeira e joguei água em seu rosto. Noah fungiu surpresa e, sorrindo, me agarrou e nos jogou dentro da piscina. Iniciamos uma guerra ridícula de jogar água um na cara do outro enquanto ríamos feito duas crianças. Ele tentou me afogar algumas vezes de brincadeira, mas em uma dessas acabei engolindo água e comecei a tossir, engasgada. Noah me tirou da piscina e de sentou na borda, dando tapinhas em minhas costas e pedindo desculpas compulsivamente.

    “Eu estou bem”, garanti a ele quando consegui desengasgar. Ele sorriu de canto e me pediu desculpas mais uma vez, olhando fixamente para mim. Segurei a respiração e deixei que ele se aproximasse de mim, me perdendo em seus olhos. Senti o hálito quente e doce de Noah contra o meu rosto e estava quase fechando os olhos quando ouvimos Kurt me chamar.

   “Rachel! Rachel, é a sua vez de cantar no karaokê, vem!”, exclamou ele.

    Noah se afastou rapidamente e ficou de pé em um salto, estendendo uma toalha para mim. Me sequei e coloquei a toalha ao redor dos meus ombros enquanto seguia rumo à casa. Aquilo foi estranho e ao mesmo tempo familiar. Senti-me como se aquilo fosse a peça do quebra-cabeça que estava faltando entre nós, até me lembrar do cretino que ele tem sido comigo e dissipar aqueles pensamentos sobre Noah Puckerman da minha cabeça. Confesso que fiquei feliz por saber que Santana e ele não tinham um compromisso sério, mas então me lembrei que Finn estava, de certa maneira, investindo em mim, e aquilo não seria certo com ele. Até por que, Noah nunca me deu esperanças de nada, não é? Talvez tenha sido só o calor do momento. É melhor esquecê-lo antes que eu me apegue novamente e ele me chute de sua vida outra vez.

     “Rachel?”, perguntou Noah. Virei-me para encará-lo e saber o que ele queria.

     “Você... quer carona para casa?”

     “Não, obrigada”, respondi sem hesitar. “Vou sair com Finn hoje”.

     Noah não pareceu desapontado nem nada, apenas acenou a cabeça em concordância e voltou para a piscina. Não sei no que pensei ao dizer aquilo, achando que o fato de eu estar saindo com outra pessoa o deixaria com ciúme ou algo do tipo. Como eu sou patética! Usando Finn e esperando beijar eu melhor amigo. Aquela não era eu; detesto esses joguinhos ridículos. Decidi que, daquele momento em diante, Noah Puckerman não me afetaria mais. Como dizia meu pai, LeRoy, “a gente tem que aprender a gostar de quem gosta da gente”.