“O que mais machuca, foi estar tão perto
E ter tanto pra dizer
E ver você indo embora”

(Rascal Flatts – What Hurts the Most)

Após o episódio na piscina (o meu quase beijo com Noah interrompido por Kurt), o dia passou como um flash. Nos divertimos muito no karaokê fazendo alguns duetos inusitados e, para o meu espanto e de Kurt, cheios de clima de romance, principalmente entre Mercedes e Sam. Kurt e eu cantamos “Me!”, de Taylor Swift e Brendon Urie enquanto o casal Fabang (como eram conhecidos na escola) se decidia entre The Archies ou Janet Jackson. Brittany se recusou a cantar qualquer coisa que não fosse de ninguém mais, ninguém menos que Britney Spears. Samcedes (como Kurt me sugeriu que ficassem conhecidos) transformou a música “Fireproof”, do One Direction, em um dueto que nos deixou suspirando. Parecia que eles estavam juntos há tempos, a química era realmente contagiante.

Noah saiu da festa minutos depois de entrarmos, saindo sem se despedir. No fundo até agradeci, pois não tinha cara de olhar para ele depois do que quase aconteceu na piscina. Fui para casa pouco depois das cinco com a desculpa de me arrumar antes de sair com Finn. Ele ficou meio relutante, mas concordou comigo depois que Kurt o convenceu de que me buscar em casa seria muito mais romântico e aumentaria a expectativa pelo encontro. Os Evans me deixaram em casa meia hora depois, acenando tchaus pelas janelas do jipe de Quinn enquanto eu acenava de volta. Passei pelo jardim de casa relutante em olhar para o outro lado, com medo de que Noah estivesse por ali. Dei uma espiada rápida por cima do ombro quando cheguei até à porta, mas para o meu alívio e frustração não havia ninguém ali – nem seu carro estava na entrada.

Depois de um longo banho para tirar o cloro dos cabelos e hidratar a pele, comecei a me arrumar para encontrar-me com Finn, e notei que tinha menos de meia hora. Sequei meus cabelos, fiz uma maquiagem leve e escolhi um vestido evasê preto e sem mangas que ia até um pouco acima dos meus joelhos. Apesar do calor remanescente do verão, peguei um cardigã da mesma cor do vestido apenas por precaução – caso o ar condicionado do Breadstix estivesse muito frio ou algo assim. Apanhei o celular em cima da cama e notei uma mensagem de texto que fez meu coração quase saltar pela garganta: era de Noah.

“De: pucksauro20:

Abre a janela. Estou indo aí”.

“O quê?!”, murmurei em tom de descrença. Ah, claro. Meu quarto e o de sua irmã eram de frente um para o outro, e quando éramos pequenos e os pais de Noah brigavam, ele estendia uma escada em direção ao parapeito da minha janela e ficava comigo, chorando enquanto eu tentava consolá-lo e dizer que tudo ia ficar bem (o que nenhum de nós sabia, mas era uma grande mentira, já que o Sr. Puckerman foi embora pouco depois). Como nossas casas não eram tão altas, provavelmente ele conseguia escalá-la sem esforços, já que tinha mais de um metro e oitenta e era puro músculos. Me sobressaltei com uma batida na janela e o vi tentando abrir o vidro. Corri em sua direção, empurrando o trinco e deixando a passagem livre.

“Você é louco!”, foi mais uma afirmação do que uma pergunta.

“Eu preciso falar com você”, ofegou ele.

“Eu poderia ter perfeitamente aberto a porta, você sabe”, respondi um tanto sarcástica.

“Eu... não podia”, respondeu ele respirando entrecortadamente antes de continuar. “Finn está parado aí na frente tem uns quinze minutos. Acho que chegou mais cedo e ficou com vergonha de te chamar antes da hora marcada pra não dar na cara... é bem a cara dele dar uma dessas”, disse.

“Droga!, Eu tenho que descer!”, exclamei agarrando minha bolsa do cabideiro e abrindo a porta do quarto. Fui impedida por ele, que agarrou meu braço e nos colocou frente a frente.

“Rachel...”, ofegou.

Mas que droga! Quando minha vida virou esse drama latino-americano? Eu, sozinha e invisível, de repente estou praticamente sendo disputada por alguém que até pouco tempo fazia com que eu parecesse invisível e outro que, aparentemente, gostava de mim e estava fazendo questão de demonstrar. Pela primeira vez na minha vida me vi entre a cruz e a espada. Parecia que, sei lá, Noah estava correndo atrás de mim por causa de Finn... como se finalmente acordasse de um transe ridículo e percebesse que sim, eu era uma garota desejável e que podia ser amada por alguém – alguém que não fosse mesquinho e egoísta como esse babaca. E o que mais me irritava era que meu cérebro gritava para que eu saísse correndo dali, mas eu não queria.

Ele estava, novamente, se aproximando de mim de maneira perigosa, como se fosse colar nossos lábios a qualquer momento, e a parte de mim que queria permanecer ali vibrava por dentro. Felizmente a buzina do carro de Finn nos trouxe de volta à realidade e eu me movi para fora, mas sem antes olhá-lo nos olhos.

“Somos amigos, Noah. Isso não acontece entre amigos”.

“E se eu não quiser?”, acrescentou ele rapidamente, praticamente me cortando.

“Como ass-“, mal terminei de falar quando ele acrescentou: “se eu quiser ser mais que isso, Rachel?”

Aquilo doeu. Por mais que, no meu íntimo, eu tentava me convencer de que sentia falta de nossa amizade, sabia mais que ninguém que não era só isso, e ele também. De repente me veio a ideia ridícula de que, talvez por isso, Noah cortou relações comigo. Parecia que aquilo que Kurt e Mercedes sempre me disseram e eu nunca quis acreditar, era verdade.

“Foi por isso?”, perguntei num fio de voz que não parecia ser minha. Noah não respondeu. Seus olhos estavam fixos em mim e sua mandíbula estava cerrada. “Foi por isso que você me excluiu da sua vida, sem mais nem menos? Você estava...”, não consegui completar, e Noah não se moveu, mas algo em seu olhar o denunciou.

“Depois...”, respondi dando as costas a ele “Finn está me esperando”.