SuperGrimm – Uma Caçada Wesen escrita por Hunter Pri Rosen


Capítulo 15
Um tiro no escuro




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/761025/chapter/15

Atônita ao ver o filho mais novo inconsciente no chão do quarto e preocupada com o outro menino que simplesmente evaporou no ar ao ser tocado no ombro por um estranho trajando um sobretudo, Margareth está completamente em choque.

Como se não bastasse toda a confusão, ela descobriu, há poucos instantes, que o detetive que a interrogou na delegacia e agora invadiu sua casa é um Grimm — um verdadeiro pesadelo para Wesens como ela. E ainda há os dois agentes do FBI que parecem ter algum conluio com Nick Burkhardt.

Em pânico, a viúva de Jacob Johnson já não tem tanta certeza se os dois são quem disseram ser. Talvez nem sejam federais, talvez sejam Grimms como o primeiro, o que só agrava ainda mais a sua situação.

— Por favor, não me machuquem. — Ela implora, arrastando-se até o filho e aninhando o menino nos braços. — Nem ele, por favor. Não o machuquem mais. Ted não teve culpa de nada, ele não pôde se controlar, ele...

A voz embargada em virtude das lágrimas e a mente a mil por hora impedem a mulher de prosseguir com a súplica. Mas não é necessário. Se Dean, Sam ou Nick ainda tinham alguma dúvida sobre a inocência da mulher, ela se dissipa nesse exato instante com base em algo que ela deixou escapar e no seu próprio desespero. De algum jeito, eles montam parte do quebra-cabeças e entendem a premissa mais importante dele. Não foi Margareth quem matou o marido naquela noite, foi Ted. Porque ele perdeu o controle.

Estarrecido com o peso dessa conclusão, Nick, que havia levantado do chão há alguns segundos, faz sinal para que Sam e Dean — igualmente surpresos  com a revelação — guardem as armas. Os irmãos Winchester hesitam, temendo que Ted recupere os sentidos e seja dominado pela natureza Abath mais uma vez, porém acabam colocando as armas nos coldres quando Nick assegura:

— O menino não vai acordar tão cedo, vocês dois acertaram os disparos. Ele vai dormir bastante. — Então, ele se volta para a mulher no chão e pergunta: — Consegue carregá-lo até a cama?

Margareth, que evitava o contato visual com o Grimm a todo custo, é pega de surpresa pela oferta. Afinal, isso não é algo que ela esperava ouvir de um inimigo natural. Um inimigo que sempre pensou que devia temer, de acordo com as histórias aterrorizantes que ouviu dos pais e dos avós durante toda a infância, mas que agora, no entanto...

— O quê? — ela murmura, zonza e incerta se entendeu mesmo direito.

Sem acrescentar qualquer explicação, Nick se abaixa diante dela devagar e faz menção de pegar o menino inconsciente nos braços. A princípio, Margareth segura o filho com mais força junto ao peito acelerado pelo pânico, numa resposta instintiva e protetora. Depois que Nick a encara de um jeito firme e com algo que ela entende como uma surpreendente gentileza da parte dele, Margareth finalmente acredita na boa intenção do Grimm e aceita sua ajuda.

Então, Nick acomoda o menino sobre a cama, ajeitando o travesseiro sob a cabeça dele e toma ainda a liberdade de puxar a ponta do edredom até os ombros da criança, deixando Ted o mais confortável e acolhido possível.

Sam e Dean observam a cena e percebem o quanto Margareth fica confusa por não saber mais quem temer ou o que esperar da reunião invasiva em sua casa.

De repente, acometida por um estalo, ela pergunta desesperada:

 — William?! O que aquele homem fez com o meu filho? E como ele entrou aqui? Meu Deus... Como ele saiu do quarto e para onde levou William?!

Dean ergue a mão, num gesto que lhe pede um pouco de calma, e, quando percebe que tem a atenção da mulher, esclarece:

— Não se preocupe. Ele é um anjo e não vai machucar o garoto. Só precisou afastá-lo do perigo. Os dois devem estar lá embaixo e...

— Um anjo?! — Margareth indaga com um guincho de incredulidade. — Como assim? Do que você está falando? — E olhando ora para ele, ora para o homem mais alto ao lado dele, acrescenta num tom um pouco mais firme:  — Quem diabos são vocês afinal?

É Nick quem decide responder:

— Bom, eles não são do FBI. Também não são Grimms. São Sam e Dean Winchester, caçadores...

O pânico se intensifica no semblante da viúva de Jacob ao ouvir a palavra caçadores e associá-la com Grimm de qualquer jeito. O medo é tanto que ela chega a ser vencida por um woge involuntário, captado somente pelos olhos de Nick.

— Eles não vão machucar você ou o menino — ele se apressa em dizer. — Mas nós precisamos saber exatamente o que aconteceu na noite em que o seu marido foi morto. Nós podemos ajudar, Sra. Johnson, mas apenas se você nos der motivos para isso e colaborar.

Margareth luta para recuperar a calma emocional, controla a respiração entrecortada e, por fim, anui várias vezes com um meneio de cabeça.

— Eu vou contar, vou contar, mas... me prometam que não vão levar o Ted daqui, ele não teve culpa no que aconteceu. Ele nem sabe que matou o próprio pai e ficaria arrasado se descobrisse.

Sam e Dean se entreolham, nenhum deles sabendo o que pensar direito. Quando se envolveram na caçada Wesen com Nick, esperavam que o Abath fosse alguém adulto e cruel. Já seria monstruoso se fosse a própria esposa da vítima, mas era o que eles também esperavam confirmar essa noite. O fato de ser Ted, um menino de apenas sete anos e filho do próprio Jacob, pegou-os totalmente desprevenidos.

Também chocado e percebendo que os caçadores não sabem o que dizer para a mulher, Nick tenta uma resposta conciliadora:

— Nós prometemos ouvir a sua versão e não julgar dentro do que for possível. Mas houve um assassinato, Sra. Johnson, algo muito grave. Seja franca conosco e talvez possamos ajudar o Ted a lidar com o ocorrido.

Um pouco mais calma, Margareth assente com um meneio de cabeça e, depois de uma última olhada para o filho na cama, acompanha o Grimm e os falsos federais para fora do quarto.

[...]

Tão logo desce a escada e vê o filho William sentado no sofá, Margareth é tomada por uma forte onda de alívio. Ao vê-la, o menino desperta do torpor de choque em que estava mergulhado e corre até a mãe, aceitando de bom grado o abraço forte e caloroso com o qual é envolvido.

Em pé ao lado do sofá, Castiel observa a cena com as sobrancelhas unidas, sem entender por qual razão Nick, Sam e Dean não neutralizaram a mulher, já que ela é a Abath que procuravam.

Ao pensar melhor sobre isso e captando algo no olhar dos três homens, Castiel deduz então que eles devem ter se enganado sobre a suspeita. O que não faz sentido, pois ele mesmo viu a face monstruosa da mulher quando chegou ao quarto e encontrou William acuado num canto.

A menos que...

— Ted? — o anjo questiona num tom sem emoção que lhe é intrínseco.

Os três confirmam com os olhares e um discreto balançar de cabeça, enquanto a mulher fecha os olhos numa reação constrangida e de sofrimento.

Nesse momento, Castiel reconstitui a cena em sua mente. Quando chegou ao quarto das crianças, Ted não estava lá, apenas William e muito assustado, enquanto Margareth tentava se aproximar dele.

Agora o anjo consegue enxergar o verdadeiro motivo por trás da postura dos dois naquele instante. Margareth não pretendia atacar William, ela tentava acalmá-lo e protegê-lo do outro menino. Era por causa do irmão mais novo que William estava com tanto medo. Ted, dominado pela natureza de um Abath descontrolado, pretendia atacar o irmão. Os gritos que ouviu antes provam que Ted chegou muito perto de conseguir saciar a fome. E Margareth mostrou a face Wesen para espantá-lo do quarto. Funcionou, já que Castiel só encontrou o menino mais velho quando se materializou lá.

O anjo reflete mais um pouco e conclui que Ted deve ter voltado depois que ele tirou William do recinto, e assim foi neutralizado pelo Grimm e pelos caçadores.

Convencido de que é melhor William não participar da conversa entre Margareth e os três homens na sala, aproxima-se dele e repousa a mão em seu ombro com cuidado.

Mesmo assim, o menino tem um leve sobressalto antes de fitar os olhos azuis do anjo com curiosidade.

— Quem é você mesmo?

Um sorriso discreto estica os lábios do ser celestial.

— Castiel. Pode confiar em mim, William, eu não vou machucá-lo. Só estava protegendo-o lá em cima. Tem alguma coisa que queira fazer agora? Sua mãe precisa conversar com meus amigos.

Exalando incerteza, o menino ergue o olhar em direção a Margareth, esperando pelo seu aval para deixá-la sozinha com o policial e os agentes. Mais tranquila em relação ao anjo, a mãe aquiesce e dá um beijo no topo da cabeça do filho.

Então, um pouco envergonhado, ele se volta para Castiel e confessa baixinho:

— Quando fico com medo e nervoso, me dá muita fome.

O anjo se abaixa a fim de ficar da altura dele e, quando a criança reencontra o seu olhar, sugere com um sorriso acolhedor:

— Que tal um cheeseburger? Eu posso providenciar.

Embora agradecido e visivelmente interessado, há certa frustração na voz de William quando ele replica:

— Não sei se consigo esperar muito... Você vai comprar agora?

Castiel fica de pé, faz o lanche completo se materializar num outro cômodo com seu poder angelical e desafia:

— Na verdade, eu já providenciei. Por que não dá uma olhada na cozinha?

Com uma mistura de descrença e empolgação, William leva menos de cinco segundos para correr em disparada. E, quando chega lá, encontra o lanche perfeito, com um cheiro muito bom, esperando por ele.

— Obrigada — Margareth diz a Castiel, pouco antes do anjo seguir para lá também.

Refletindo sobre a boa ação do amigo emplumado, Dean faz uma nota mental muito importante. Quando o caso for completamente resolvido, precisa pedir um X-bacon e sua torta favorita para o anjo.

Dean quase saliva ao pensar nisso.

[...]

Sentada no sofá, apertando as mãos entre os joelhos e diante de três pares de olhos curiosos por ouvir sua versão dos fatos, Margarerh Johnson demora mais alguns segundos para começar a contar sua história. Quando termina o relato, Nick, Dean e Sam têm uma série de informações a digerir.

Margareth vem de uma família inteira de Abaths, mas, assim como Monroe, todos se consideram Wesens reformados há muitos anos. Margareth, por exemplo, nunca caçou ou feriu qualquer criança para se alimentar e pretendia ensinar os filhos a se controlarem nesse ponto também.

Anos de prática controlando o seu lado Wesen permitiram que Margareth se saísse muito bem em momentos de tensão. Foi por isso que, enquanto era interrogada na delegacia, não fez qualquer woge e Nick acreditou que ela fosse humana.  

Em noites de Lua nova, Margareth e o marido Jacob costumavam sair para caçar animais silvestres pela floresta de Portland e deixavam os filhos com uma babá. Como a natureza do Abath se manifesta na puberdade e os filhos só tem nove e sete anos, os dois acreditaram que ainda tinham alguns anos para criá-los como crianças normais, antes de revelarem o mundo Wesen a eles na hora mais apropriada.

A manifestação precoce do Abath em Ted pegou o casal de surpresa. Especialmente o pai do menino. Naquela noite, Margareth correu para o quintal da casa ao ouvir os gritos do marido que pediam calma ao filho, enquanto o menino, já transformado na criatura faminta, rugia para o pai.

Com uma força assombrosa, Ted empurrou Jacob, fazendo o pai bater contra o carro da família. O veículo estava fora da garagem porque Jacob tinha voltado da rua há poucos minutos. Ele havia comprado uma grande barraca para o acampamento que pretendiam fixar pelo gramado.

Noites antes, quando o ciclo da Lua nova tinha se iniciado, Jacob e Margareth haviam caçado animais na região. Por isso, estavam tranquilos o bastante para a brincadeira em família. Eles só não previram que justamente naquela noite, Ted fosse descobrir que era Wesen e atacar um deles.

Tudo aconteceu muito rápido, enquanto Margareth corria pelo gramado numa tentativa de evitar a tragédia. William não estava por perto, procurava marshmallow na cozinha e só chegou ao jardim quando o acidente já havia acontecido.

Sim, acidente.

Embora pretendesse atacar Jacob e feri-lo para se alimentar, Ted foi vislumbrado por um momento de choque e lucidez ao ver o reflexo monstruoso do seu próprio rosto na janela do carro. Enxergou cada detalhe, inclusive o chifre protuberante no meio da testa, a tal ponto que foi capaz de descrever o monstro com exatidão no desenho que fez para Sam e Dean na delegacia.

Apavorado, Ted voltou a ser apenas um menino e acreditou que o monstro era uma terceira pessoa entre ele e o pai no jardim. Abaixou-se para socorrer Jacob, porém, transtornado pela forte emoção vivida, fez o woge novamente sem querer. Bem no instante em que o pai o abraçava de volta para acalmá-lo. Com a cabeça aninhada no ombro de Jacob, o chifre do Abath perfurou o pescoço do homem mortalmente sem que Ted se desse conta.

Quando Margareth arrancou o menino de cima do pai, o rosto de Ted estava normal de novo e lívido em virtude do desmaio por ver o sangue do ferimento.

Quando Ted acordou, longos e torturantes minutos depois, repetia de um jeito afoito e traumatizado que o pai havia sido atacado por um monstro. William acreditou nele e se culpou por não ter estado lá fora para proteger os dois, como acreditava ser o seu papel como irmão e filho mais velho.

Apenas Margareth sabia a verdade por trás da fantasia infantil de Ted. E, até essa noite, William não podia imaginar que o tal monstro realmente existia e que era o próprio irmão.

Desde que o marido perdeu a vida, Margareth vinha monitorando Ted de perto. Foi somente hoje, na última Lua nova do mês, que a natureza Abath se manifestou de novo. E ela só revelou sua face Wesen a ele para intimidá-lo, pois Ted estava a ponto de partir para cima do irmão que ama de maneira incondicional.

Quando o Abath infantil fugiu assustado, Margareth planejava acalmar William e explicar o que pudesse, poupando-o dos piores detalhes de toda a tragédia familiar. Foi naquela altura que Castiel se materializou no quarto e a nova confusão começou.

[...]

Ao ver a mulher fungando e enxugando os olhos com o dorso da mão, Nick se aproxima e lhe oferece um lenço.

— Você não é como eu esperava, Grimm — Margareth pondera, aceitando a gentileza e sorrindo fraco.

Há um longo momento de silêncio na sala até que Nick se ouve retribuindo:

— Nem você e a sua família são. Isso, definitivamente, não era o que eu esperava encontrar na caçada ao Abath.

Perto dos dois, Dean admite:

— Se serve de consolo, nem nos meus pesadelos mais mirabolantes, poderia imaginar isso acontecendo também.

Ao lado do irmão e sensibilizado pelo drama conflitante que encontraram nesse caso, Sam verbaliza a pergunta mais importante da noite:

— O que vamos fazer agora?

Alarmada e temendo pelo filho mais novo, Margareth se empertiga no sofá e argumenta de um jeito afoito:

— Ted é só uma criança! Por favor, não o tirem de mim! Não o machuquem! Ele não sabe o que é, o que fez, é provável que não se lembre que tentou atacar o irmão quando acordar e...

Dean sente que precisa interrompê-la.

— Ted é um risco, madame. Eu não estou dizendo que devemos eliminá-lo, mas... — Diante da respiração arfante que escapa da garganta de Margareth, ele se apressa em acrescentar: — Mas temos que fazer alguma coisa. Seu filho não tem a menor ideia do perigo ambulante que é. Se continuar assim, vai acabar machucando alguém de novo.

Vendo sentido nas palavras do irmão, porém ciente de que o mundo Wesen é um território desconhecido para os dois, Sam olha para o Grimm na sala e diz:

— Você é o especialista aqui, Nick. O que sugerir, pode contar com nosso apoio.

O detetive pensa por algum tempo, avaliando toda a situação. Está claro feito água que Ted é uma criança inocente e que a morte de Jacob Johnson foi uma tragédia pela qual ele não pode ser responsabilizado diretamente. Ainda assim, Ted possui um lado perigoso que, mais cedo ou mais tarde, pode arruinar qualquer pessoa que esteja por perto, inclusive ele mesmo. Ted precisa de controle e de tempo para lidar consigo. Talvez, quando for mais velho e mais maduro, Margareth consiga ensiná-lo a não ultrapassar os limites. Por ora, o menino precisa que alguém faça isso por ele.

E é ponderando tudo isso que Nick tem um estalo. A ideia surge em sua mente com a lembrança de uma situação mais ou menos semelhante a que está vivendo hoje. Quando Juliette se tornou uma Hexenbiest, ficou cega pelo poder e se tornou uma ameaça a todos, uma poção supressora foi feita. É verdade que ela não aceitou tomá-la na época, mas outra Hexenbiest testou a fórmula em si mesma. E funcionou. Por um tempo, funcionou perfeitamente bem em Adalind. Então, se existe uma poção supressora para Hexenbiests, talvez exista algum feitiço para outras criaturas também. Talvez com um prazo de duração bem maior.

Agarrando-se a essa esperança, Nick pega o celular no bolso da jaqueta e procura nos números recentes. O ânimo crescendo a cada instante, mas junto vem o receio de nada dar certo. Ele luta para aplacar essa segunda parte.

— Teve alguma ideia? — Sam pergunta, ansioso.

— Sim. Um tiro no escuro, mas pode ser um começo. Deus... Espero que seja.

Tão curioso quanto o irmão, Dean indaga na sequência:

— Para quem vai ligar, Burkhardt? Para Deus?

Nick sorri de leve, toca o símbolo de chamada e encosta o celular contra a orelha antes de responder:

— Não, para a minha senhora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "SuperGrimm – Uma Caçada Wesen" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.