Akai ito escrita por Earhart


Capítulo 1
Capítulo Único




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Akai Ito - Oneshot

A menina corria como se sua vida dependesse daquilo. Torcia para que o melhor amigo ainda estivesse lhe esperando na praça, mesmo depois de vários minutos de espera. Não havia feito por mal, afinal apenas tinha se distraído com uma das histórias que sua tia havia lhe contado e, por isso, tinha perdido a nossa do horário.

Suspirou aliviada quando viu a cabeleira loura sentada em um dos bancos da pequena praça que não ficava muito distante de suas casas. Diminuiu os passos e se aproximou dele com um sorriso enorme em seus lábios. Estava tão animada para compartilhar a história que havia ouvido para o melhor amigo que não notou a expressão emburrada ele possuía.

— Owen!- chamou-o, ganhando total atenção do pequeno garotinho.

— Você está atrasada! – pontuou ele, desviando seus olhos verdes para a flor que estava em suas mãos ainda pequenas.

— Desculpa, desculpa. – a garota murmurou, abaixando a cabeça. – Mas, é que minha tia contou uma história e eu acabei perdendo a hora.

— Que história? – Owen perguntou, curioso.

A pequena ergueu os olhos azuis gelo para o garotinho sentado a sua frente, que brincava desanimadamente com uma flor que ela achou se tratar de uma tulipa. Ignorando esse detalhe, ela sorriu para o melhor amigo.

— É uma lenda japonesa que fala que toda pessoa é ligada à sua unmei no hito. – pronunciou a palavra com extrema dificuldade. – por um fio vermelho, o akai ito, amarrado ao seu dedo mindinho. Dizem que, não importa o quanto a pessoa teste se distanciar da pessoa que está na outra ponta do fio, porque é o destino delas ficarem juntas. E não há como desfazer, porque só assim a pessoa vai ser plenamente feliz. Afinal, a verdadeira felicidade está apenas ao lado dessa pessoa.

A garotinha soltou um suspiro apaixonada, imaginando como seria a sensação de encontrar a sua alma gêmea, como nos contos de fada que sua mãe contava para ela quando ela era menor.

Unmei no hito? O que é isso?

— Alma gêmea. – ela respondeu, olhando para o céu ensolarado de primavera tipicamente nova-iorquino. Mas, desceu seus orbes para Owen ao ouvi-lo bufar. – O que foi?

— Isso é só uma lenda, Izzy. Não existe esse negócio de akai ito nem alma gêmea. – ele resmungou, revirando os olhos verdes.

Isabelle o olhou, indignada. Aquelas palavras fizeram-na parar de sorrir no mesmo momento. Cruzou os braços e o olhou de forma séria.

— Eu só queria te contar uma história bonita, Owen. É melhor eu ir embora. – a pequena se virou para ir embora, mas sentiu seu pulso ser segurado pelo garotinho. – O quê?

— Eu não falei por mal, Izzy. Mas, é a ver...

— Passa lá em casa mais tarde, ok? – ela o interrompeu e deu de ombros, conseguindo se desvencilhar do aperto de Owen. – A mamãe fez sua comida preferida e convidou seus pais e você para jantarem lá em casa. A porta vai estar aberta.

E assim, ela saiu correndo de volta para a sua casa, sendo observada por um par de olhos verdes cheios de culpa. Ele odiava quando a magoava ou quando a decepcionava. Soltou um suspiro e olhou para a flor em suas mãos, percebendo que tinha estragado tudo.

[...]

Poderia morrer feliz naquele momento. Owen Campbell era o garoto mais ridículo do universo e, mesmo assim, conseguia ser o cara mais fofo do cosmos. Sorri enquanto ele contava mais uma das piadas sem graça de seu repertório.

— Você não está prestando atenção em mim, Izzy! – ele reclamou fazendo um biquinho que na minha visão era extremamente fofo.

— Eu já conheço todas as suas piadas, Owen. – eu revirei meus olhos, enquanto observava ele abrir e fechar a boca sem parar.

Owen era meu melhor amigo desde sempre, afinal éramos vizinhos e nossos pais eram amigos também. Ele era apenas um ano mais velho que eu e era mais do que claro que eu não o via apenas como um amigo, mas eu jurava que tentava ao máximo disfarçar isso. Owen era australiano e eu nunca pensei que poderia dizer, mas possuía o sotaque mais fofo que alguém poderia ter. Na verdade, tudo nele me encantava. Desde os fios louros e rebeldes que sempre estavam bagunçados até a barba rala que ele insistia em deixar mesmo com a sua mãe gritando para que ele tirasse. Os olhos verdes sempre gentis e atenciosos, e o sorriso perfeitamente branco que poderia cegar qualquer um. Eu, com certeza, poderia morrer feliz ao ver tudo aquilo ser dirigido somente a mim nos momentos em que nos encontrávamos no jardim de nossas casas ou na praça a alguns quarteirões de distância de onde moravam.

— Por respeito a nossa amizade, deveria fingir que nunca havia escutado.

— Certo. – suspirei enquanto revirava os olhos novamente. – Continue, por favor. O que acontece depois?

— Agora não tem mais clima! Sobre o que estava pensando? – ele perguntou e cravou seus olhos em mim. Engoli em seco e senti meu rosto esquentar. O estrago estava feito assim que notei seus olhos se estreitarem para esse detalhe. – Por que está corada?

— Nada não, Owen. – dei de ombros, abaixando o rosto para ele não ver o quanto eu, provavelmente, estava corada. – Como está indo Columbia?

— Ah, maravilhosa! O curso é tão empolgante, Izzy! Estou apaixonado!

Ergui meus olhos em surpresa àquela fala. Owen apenas revirou os olhos com a minha atitude.

— Apaixonado pelo meu curso. Relaxa! – Owen sorriu para mim. – E você?

— Bem, Julliard é Julliard. – eu disse, dando de ombros. – Eu não sei se aquele é o lugar certo para mim, Owen.

— Por quê?

Soltei um suspiro longo, balançando a cabeça.

— Ah, todo mundo lá é tão talentoso e esforçado. Eles praticamente passam o dia todo lá! Enquanto eu, bem, parece que todos olham torto para mim como se eu só estivesse lá por causa do meu pai. Então, assim que tenho uma oportunidade, volto para o Queens. Acho que não sou boa o bastante para competir com aquelas pessoas.

— Se você foi aceita lá, Iz, é porque você é boa o suficiente! Só tem que parar de ser insegura. – ele passou o braço sobre os meus ombros, me puxando para ele. – Você é uma das melhores pianistas que eu já vi na minha vida! Tenho certeza que é mais talentosa do que todos que estão lá!

Ergui uma sobrancelha para ele, descrente. Owen apenas revirou os olhos.

— Você é muito chata, sabia? Você é tão talentosa quanto todos os outros e, se eles vierem te olhar de cima de novo, não se intimide. Você está lá por mérito próprio, Izzy, não deve ter medo de ninguém!

Sorri para ele, o abraçando mais forte. Afundei meu rosto naquele peitoral maravilhoso e aspirei o cheiro do perfume amadeirado que ele emanava.

— Quer ir lá para casa?

— Que tipo de convite é esse, senhorita Spencer? Sou um homem de família! – ele me provocou, sabendo que eu provavelmente ficaria como um tomate de tão vermelha. Escondi meu rosto ainda mais no peitoral dele.

— Você é um idiota, sabia?

— Vamos lá, senhorita Rabugenta! Aposto que sua mãe vai ficar muito contente em me ver! Bem como seu pai e sua irmãzinha, afinal todos me amam!

— Convencido! – gritei meio abafado por ainda estar com o rosto escondido.

— Não, não. Eu apenas falo a verdade! Agora, levante essa sua bunca gorda desse banco e vamos para a sua casa. Pelo menos lá eu sei que vai ter algo gostoso para comer!

— Primeiro. – eu finalmente tirei meu rosto do peito dele e ergui um dedo. – Eu não sou gorda! Segundo. – ergui outro dedo. – Você é muito abusado, garoto!

Owen apenas deu de ombros e me puxou em direção a minha casa. Mesmo que como meu amigo e não como meu namorado – o que eu tinha que confessar era o meu grande desejo – era bom ter ele por perto.

[...]

Respirei fundo. Mais uma semana começava e eu não poderia mais me deixar ficar com medo de olhares tortos. Eu estava lá por um motivo: era o meu sonho. Sonho este que eu não desistiria. Eu iria treinar e treinar e conquistaria minha vaga para a Royal Academy of Music.

Olhei meu reflexo no espelho. Vestia um vestido lilás, bem simples e soltinho, de alcinhas e que batia pouco acima do joelho com uma sapatilha nude. Meus cabelos castanhos escuros estavam soltos e caíam em ondas pelos meus ombros. Havia passado apenas um rímel para destacar meus olhos azuis gelo e um batom rosa claro. Agarrei a alça da minha mochila de couro marrom e respirei fundo mais uma vez.

— Você consegue, Spencer! – resmunguei para o meu reflexo e, pegando meu celular, sai do meu quarto com pressa. – Bom dia, meu povo! – berrei ao entrar na cozinha para pegar apenas uma maçã.

— Bom dia! – me responderam juntos.

— Eu já estou indo, ok? Nós nos vemos mais tarde! – e eu já estava na porta, saindo apenas para encontrar meu melhor amigo parado na frente da minha casa. Sorri ao vê-lo encostado na cerca branca do jardim da minha mãe, com sua Suzuki Hayabusa negra e vermelha parada a poucos passos de distância de onde ele se encontrava. – Bom dia!

— Bom dia, Izzy! Pensei que talvez hoje você iria querer uma carona, que tal?

— Eu adoraria, Owen! – respondi, agradecendo por ter colocado um short também lilás por baixo do vestido. – Ainda bem que as nossas faculdades são próximas, né?

— Mas, é claro! Acha mesmo que eu iria te deixar solta por aí? O mundo é um lugar muito perigoso! – ele disse, sorrindo enquanto estendia um capacete negro para mim. – Tenho uma novidade para te contar!

— Jura? Qual?

— Só mais tarde, senhorita Curiosa! Nós nos vemos no Central Park no almoço, pode ser?

— Certo. Aparecerei por lá! – eu sorri para ele, que sorriu de volta.

E, por um instante, pareceu existis somente nós dois na face da Terra. Mas, isso acabou quando ele indicou para que eu subisse na moto. Enquanto ele arrancava rapidamente com a moto, eu me perguntei porque eu não estava co um pressentimento muito bom sobre àquela novidade.

[...]

— Prazer. Eu me chamo Rowena Chandler. Também estou me preparando para o teste para a Royal. – uma garota de longos cabelos ruivos presos em um rabo de cavalo alto e expressivos olhos azuis gelo, como os meus, se apresentou. Ela sorriu tímida, mexendo no cabelo com uma mão enquanto a outra apertava a alça da capa de proteção de algum instrumento, provavelmente um violino pelo tamanho.

— Isabelle Spencer, mas pode me chamar de Izzy. – sorri para ela, indicando que ela poderia se sentar comigo no banco do piano. – Como soube que eu irei fazer o teste para a Royal?

— Bem, eu cheguei ontem. Não sou daqui e...

— De onde você é?

— New Haven. – Rowena respondeu. – Então, fui falar com o reitor e, quando eu disse que meu objetivo era ir para a Royal, ele me disse que tinha uma aluna que estava se preparando para o teste também. Disse que era uma aluna talentosa, filha de um dos ex-professores daqui.

— É, meu pai já deu aula aqui por quase trinta anos, mas então começou a se dedicar a aulas particulares e a concertos musicais pelo país. – dei de ombros como se não me importasse.

— Jesse Spencer, né? Ele é muito famoso.

— Bem, se quiser, pode passar lá em casa qualquer dia desses e conversar com ele. Garanto que ele vai adorar a sua visita. – convidei com um sorriso pequeno. Meu pai sempre era gentil e dava dicas para quem queria seguir a mesma carreira que ele, inclusive para mim.

— Jura? Oh, meu Deus! Isso seria um sonho! – ela comemorou, me fazendo rir.

— Então, está mais do que convidada! – sorri para ela e voltei o meu olhar para a partitura à minha frente. Estava tentando compor aquela música a mais de duas semanas, mas a minha insegurança ali e com a minha falta de inspiração estava muito complicado conclui-la. Suspirei.

— Está com problemas na composição?

Muitos! – eu soltei uma risada seca. Olhei para o relógio pregado na parede acima da porta. Estava morta de fome. – Quer ir comer alguma coisa? Eu estou com fome e daqui a pouco tenho que encontrar com um amigo. Quer ir junto?

— Se não for te incomodar...

— Sem problema algum! Não tenho muitos amigos aqui. – sai daquela sala enquanto a puxava pela mão.

Fomos conversando banalidades até chegarmos a uma lanchonete e fazermos nossos pedidos para a viagem. Após pegarmos a comida, fomos para o Central Park. Entramos ainda conversando de forma animada. Rowena e eu tínhamos muitas coisas em comum, mas eu simplesmente congelei ao ver uma cena nada agradável. O chão sob meus pés parecia estar desmoronando quando eu vi Owen beijar uma menina.

— Izzy? O que foi? Você ficou pálida de repente!

— Rowena, você pode me esperar aqui? Vou falar rapidinho com o meu amigo e nós já vamos embora, ok?

— Claro. Tudo bem. – a garota me respondeu, ainda preocupada com a minha súbita palidez e sem entender o que estava acontecendo.

E, para ser bem sincera, nem eu entendia o que estava acontecendo naquele parque. Engoli em seco e comecei a andar em direção ao casal. Parei diante deles e, após eu ter pigarreado duas vezes, eles pareceram ver que eu estava parada ali como uma idiota. Senti uma estaca atravessando meu peito quando Owen me olhou, sorrindo. Não pode ser... Por favor, não me diga que...

— Izzy, essa aqui é a Rachel, minha colega de curso e minha namorada! – ele apresentou, beijando a testa da garota. – Rachel, essa aqui é a minha melhor amiga, Isabelle.

Minha melhor amiga. Melhor amiga. Amiga. As palavras de Owen pareciam ecoar na minha cabeça, fazendo com que eu me sentisse tonta. Maravilha! Agora além de ter recebido essa bom, eu vou passar a vergonha de desmaiar aqui no Central Park! Era só o que me faltava! Engoli em seco e forcei um sorriso para a garota, que sorria para mim.

— É um prazer te conhecer, Isabelle. O Owen fala muito de você. – ela disse e eu senti vontade de vomitar com o tom falsamente gentil. Aquela falsa gentileza emanava de cada um dos poros daquela menina, que a olhava com os grandes olhos verdes como a grama na primavera e com os fios louros brincando ao vento.

— É um prazer te conhecer também, Rachel. Creio que essa era a novidade que você tinha para me contar, né Owen?

— Isso aí, garota esperta! – ele exclamou. Owen estava tão feliz que eu quase vomitei. Queria me sentir feliz por vê-lo feliz. Era assim que o amor deveria ser, certo? Você amar tanto uma pessoa que seria capaz de ser feliz só de ver essa pessoa feliz, mas sinto em dizer que eu não estava feliz. – Por que não fica para comermos? Comprei os doces que você ama naquela loja perto da Columbia!

Quase me derreti com aquela atenção e preocupação dele. Preocupação de ter procurado os meus doces preferidos: manju. Preocupação de irmão. Suspirei e balancei a cabeça.

— Sinto muito, mas prometi que voltaria rápido para a Juilliard com a Rowena, porque estou a ajudando com uma música para a apresentação dela para a Royal e ela também está me dando algumas dicas. Então... Fica para uma próxima, talvez? – Quem sabe no dia 31 de fevereiro?, completei mentalmente.

— Rowena?

— Isso. É uma garota que eu acabei ficando amiga. Ela veio de New Haven e está meio perdida e, como eu também vou fazer a audição para a...

— A comida vai esfriar, amor. – Rachel me cortou como se eu não estivesse falando. Enquanto eu era totalmente ignorada por Owen, eu planejava pular no pescoço daquela garota e estrangulá-la, apesar de não ser uma pessoa violenta. Quem ela pensa que é?!

— Bem, eu vou indo. A gente se fala por aí, Owen! Não precisa se preocupar em me dar carona, ok? Vou ficar até mais tarde hoje.

— Tem certeza?

— Absoluta. – menti descaradamente, mas ele sequer notou. Estava mais interessado em dar pequenos beijos no ombro daquela vaca loira. – Vou indo. Foi um prazer te conhecer, Rachel. Tchau!

Eles não responderam e eu apenas saí dali com os olhos marejados o mais rápido que eu consegui. Rowena me olhava desesperada, tentando entender toda aquela situação, mas não me perguntou nada – o que eu agradeci mentalmente, pois não conseguiria falar uma palavra sequer sem me afogar em um mar de lágrimas em pleno Central Park. Eu apenas agarrei a mão dela e comecei a anda em direção à Juilliard. De repente, me sentia muito inspirada para escrever a minha música da audição.

[...]

That feeling that doesn't go away just did (Aquele sentimento que não ia embora se foi)

And I walked a thousand miles to prove it (E eu andei mil quilômetros para provar)

And I'm caught in the crossfire of my own thoughts (E estou no fogo cruzado dos meus próprios pensamentos)

The colour of my blood is all I see on the rocks (A cor do meu sangue é tudo que vejo nas pedras)

As you sail from me (Enquanto você se afasta de mim)

As notas eram de cortar o coração, eu sabia disso. Bem como meu tom de voz marejado e triste. Mas, era exatamente assim que eu me sentia. Cortada. Triste. Quebrada. Eu estava com os olhos fechados enquanto tocava o piano como se fosse a única coisa que existisse no mundo naquele instante. Não me importava se eu estava interrompendo Rowena ou se estava chamando a atenção das pessoas que passavam no corredor. Eu só queria tocar.

Alarms will ring for eternity (Alarmes soarão pela eternidade)

The waves will break every chain on me (As ondas quebrarão cada corrente em mim)

My bone will bleach... my flesh will free (Meus ossos se tingirão... minha carne me abandonará)

So help my lifeless frame to breathe (Então ajude meu semblante sem vida a respirar)

Eu simplesmente não consegui acreditar que ele estava namorando. Meu coração estava em pedaços. Nunca havia pensado na possibilidade de que Owen pudesse arrumar alguém se eu não me declarasse para ele. Sempre pensei que seria ‘Owen e eu contra o mundo’. Agora eu via o quanto havia sido burra e ingênua. Ele me via apenas como amiga e era um garoto maravilhoso, tanto por dentro quanto por fora. Era óbvio que arrumaria uma namorada mais rápido do que eu poderia dizer ‘pizza de chocolate’.

And God knows I'm not dying but I breathe now (E Deus sabe que não estou morrendo, mas respiro agora)

And God knows it's the only way to heal now (E Deus sabe que é a única cura agora)

With all the blood I lost with you (Com todo o sangue que eu perdi com você)

It drowns the love I thought I knew (Afoga o amor que eu pensei que eu conhecia)

Havia me enganado por uma fantasia boba de criança. E agora eu estava aqui. Em frente a um piano, tocando uma música tão triste e cortante enquanto Owen estava feliz no Central Park com uma garota linda e inteligente que compartilhava dos mesmos sonhos que ele. Como pude ser tão burra? Tão cega? Tão ingênua? Sempre esteve claro que eu era como uma irmã para ele. Owen mesmo sempre deixou isso tão transparente como água!

The lost dreams I buried in my sleep for him (Os sonhos perdidos que enterrei no meu sono por ele)

And this was the ecstacy of love forgotten (E este era o êxtase do amor esquecido)

And I'm thrown in the gunfire of empty bullets (E eu estou jogada no fogo cruzado de balas vazias)

And my blood is all I see (E meu sangue é tudo que vejo)

As you steal my soul from me (Enquanto você rouba a minha alma)

Como pude me deixar levar por aqueles sentimentos tão infantis? Deixei algumas lágrimas caírem enquanto a minha música chegava ao fim. Colocava tantos sentimentos naquela música como nunca havia feito antes. Lembrava perfeitamente da sensação de perda quando ele simplesmente ignorou o fato de que a namorada dele havia me cortado e nem sequer havia me defendido.

Alarms will ring for eternity (Alarmes soarão pela eternidade)

The waves will break every chain on me (As ondas quebrarão cada corrente em mim)

Quem era aquele garoto que estava no lugar do meu Owen? O garoto por quem eu havia me apaixonada? O garoto doce e que sempre tinha tempo para me ouvir, mesmo que o que eu estava dizendo era absurdamente chato? O garoto que me fazia rir quando o que eu mais queria era chorar? Que me dava forças quando eu me sentia a ponto de desistir? Bem, aquele Owen com certeza não era esse garoto. E eu não gostava nada daquilo.

And God knows I'm not dying but I breathe now (E Deus sabe que não estou morrendo, mas respiro agora)

And God knows it's the only way to heal now (E Deus sabe que é a única cura agora)

With all the blood I lost with you (Com todo o sangue que eu perdi com você)

It drowns the love I thought I knew (Afoga o amor que eu pensei que eu conhecia)

E foi enquanto eu tocava as últimas notas da minha música, encerrando-a, que tomei a decisão que já deveria ter sido tomada há muito tempo. Eu iria me focar na minha audição para a Royal. Eu iria para Londres e iria correr atrás do meu sonho como um lobo faminto corre atrás da sua presa. Porque o meu sonho era mais importante. Eu nunca mais iria sofrer por ninguém. E isso incluía Owen Campbell.

Corei absurdamente quando, ao abrir meus olhos, encontrei diversas pessoas paradas em frente à sala onde eu estava – incluindo o próprio diretor do curso de música – olhando surpresos e emocionados com o meu desempenho. Rowena aproximou-se de mim com um olhar maravilhado.

Essa é a sua música para a audição? Porque, se for, você com certeza vai ser aceita. – ela decretou, sorrindo para mim. Sorri de volta.

— É o que eu espero, Rowena.

[...]

— Certo. Eu sei que não somos próximas e que acabamos de nos conhecer... – começou Rowena e eu a olhei. Já sabia onde ela queria chegar. – Mas, será que eu posso perguntar uma coisa?

— Diga.

— O que exatamente aconteceu naquela hora no Central Park?

Suspirei. Sabia que, mais cedo ou mais tarde, ela iria tocar naquele assunto. Tinha conseguido me desviar daquela pergunta até sairmos da Juilliard e decidirmos ir para um Starbucks que havia a algumas quadras da faculdade. Havia me saído extremamente bem em desviar daquele assunto, até agora. Mas, naquele momento, eu não tinha escapatória. Era falar, ou falar.

— Aquele garoto é meu vizinho, melhor amigo e por quem eu sou apaixonada desde que me entendo por gente. – soltei um suspiro e olhei para o cappuccino que parecia, repentinamente, sem graça. – O nome dele é Owen. Nós sempre fomos amigos e quando eu tinha... Sei lá, uns seis anos? Comecei a gostar dele de verdade. Ele foi minha primeira paixão e, apesar de já ter ficado com outros caras, eu sempre achei que iríamos ficar juntos. Sempre que ele precisava eu estava lá, e vice-versa.

— O que hoje teve de diferente?

— Além da descoberta de que ele está namorando? – dei um sorriso debochado e olhei novamente para a xícara na minha frente. – Ele sempre me defendeu de qualquer mínima coisa, mas hoje... Sei lá, parecia que eu nem estava lá e ele só tinha olhos para aquela namorada dele. – soltei um suspiro e apoiei minha cabeça em uma das mãos. – Ele agiu como nunca tinha agido antes. Sabe quando sua irmãzinha começa a falar sobre o garoto gatinho que ela viu na escola e que ele tinha olhado para ela e não sei mais o que e você simplesmente finge estar ouvindo, mas na verdade está pensando em outra coisa? – Rowena assentiu, esperando que eu continuasse. – Ele fez exatamente isso.

O silêncio reinou enquanto eu tomava um gole do meu cappuccino.

— Acho que estou sendo ridícula, não é?

— Na verdade, não. – Rowena negou veemente. – Se eu estivesse no seu lugar, também ficaria mal. Eu só... Não sei o que dizer.

Dei uma risada seca, balançando a cabeça enquanto tomava outro gole.

— E há o que dizer? Acho que não. – dei de ombros, como se não me importasse. Grande mentira. Eu estava completamente quebrada, mas forcei um sorriso. – Quer ir lá para casa? Você conhece meu pai e eu te ajudo a compor uma música para a sua audição?

— Seria maravilhoso! – os olhos azuis gelo brilharam de animação, me fazendo rir. Talvez aquele dia não estivesse completamente perdido.

[...]

— Você só pode estar brincando comigo, Izzy! – Owen praticamente gritou, enquanto me segurava pelos ombros. – Por que não me falou da sua audição? Por que não me falou que tinha conseguido a vaga na Royal?

Loving him is like driving (Amá-lo é como dirigir)

A new Maserati down a dead end street (Um Maserati novo numa rua sem saída)

Faster than the wind, passionate as sin (Mais rápido que o vento, apaixonado como o pecado)

Ended so suddenly (Acabou tão de repente)

Loving him is like trying to change your mind (Amá-lo é como tentar mudar de ideia)

Once you're already flying through the free fall (Uma vez que você já está voando em queda livre)

Like the colors in autumm, so bright (Como as cores no outono, tão fortes)

Just before they lose it all (Antes de esmaecerem)

Eu falei, Owen. Você que não ouviu, afinal estava ocupado demais com a sua namorada. – resmunguei, fazendo com que ele me largasse. Apertei a mochila de couro marrom contra mim, onde eu levava meu laptop e alguns pertences que eu simplesmente não podia me separar. Balancei a cabeça. – Lembra aquele dia em que eu fui falar contigo, mas você disse que não podia conversar comigo porque estava atrasado para um encontro com a Rachel? Lembra que você disse que iria me ligar depois para nós conversarmos? Lembra que você não ligou? Eu esperei, mas você não me ligou. Então achei melhor não dizer nada para você, mas minha mãe tinha que abrir a boca, né? – revirei os olhos com aquilo.

Losing him was blue, like I'd never known (Perdê-lo foi azul, como se eu nunca tivesse conhecido)

Missing him was dark grey, all alone (Sentir a sua falta foi cinza escuro, completamente sozinha)

Forgetting him was like trying to know somebody (Esquecê-lo foi como tentar saber sobre alguém)

You never met (Que nunca conheci)

But loving him was red (Mas amá-lo foi vermelho)

Loving him was red (Amá-lo foi vermelho)

— Atenção, passageiros do voo 864, com destino para Londres, Inglaterra. Dirijam-se para a plataforma de embarque, por favor. — a voz meio mecânica soou pelos alto falantes do aeroporto inteiro.

Meu coração estava apertado por deixar minha irmã e meus pais ali, no Queens. Onde eu havia passado os melhores anos da minha vida, mas era por um motivo maior. Era o meu sonho. Sorri com a lembrança da audição.

Touching him was like realizing all you ever wanted (Tocá-lo foi como perceber que tudo o que eu queria)

Was right there in front of you (Estava na minha frente)

Memorizing him was as easy as knowing all the words (Memorizá-lo foi tão fácil quanto saber todas as palavras)

To you old favorite song (Da sua velha canção favorita)

Fighting with him was like trying to solve a crossword (Brigar com ele foi como tentar resolver palavras-cruzadas)

And realizing there's no right answer (E perceber que não há resposta certa)

Regretting him was like wishing (Lamentar por ele foi como desejar)

You'd never found out (Que você nunca tivesse descoberto)

That love could be that strong (Que o amor pudesse ser tão forte)

— Eu, em toda a minha carreira, nunca vi alguém tocar uma música com tanta paixão, tanto sentimento, minha cara.— o homem alto e de cabelos castanhos cuidadosamente arrumados disse-me com um sorriso. O sotaque inglês encantador presente em sua voz me fez sorrir. — E eu seria um completo idiota se não a quisesse na minha academia. – ele sorriu ao dizer a última frase. – Bem-vinda à Royal Academy of Music, senhorita Spencer!

Senti Sadie me abraçar pela cintura e suspirei ao sentir a barra da minha camiseta ficar levemente molhada. Afastei-a um pouco e me abaixei para ficar da altura dela.

Losing him was blue, like I'd never known (Perdê-lo foi azul, como se eu nunca tivesse conhecido)

Missing him was dark grey, all alone (Sentir a sua falta foi cinza escuro, completamente sozinha)

Forgetting him was like trying know somebody (Esquecê-lo foi como tentar saber sobre alguém)

You never met (Que nunca conheci)

— Sadie, mon cher, não fica assim, ok? Não é porque eu estou indo para Londres que irei deixar de ser sua irmã, e podemos conversar todos os dias. Não tem com o que se preocupar, está bem? Além disso, todo feriado eu virei para cá, ver você, o papai e a mamãe, não se preocupe. – sorri, tentando passar confiança para a minha irmã. – Você é a garota da casa agora, ok? Promete que não vai dar muito trabalho para o papai não ficar cheio de fios brancos?

Aquilo fez com que ela risse e puxei-a para um abraço apertado.

But loving him was red (Mas amá-lo foi vermelho)

Loving him was red (Amá-lo foi vermelho)

— Eu te amo, mon cher.

— Eu também, Iz. – sorri com aquilo e me levantei para abraçar meus pais, que tinham os olhos marejados.

— Eu amo vocês.

— Nós também te amamos, querida. – minha mãe murmurou enquanto meu pai apenas nos apertava contra si. Sorri com aquilo.

Oh, red (Oh, vermelho)    

Burning red (Vermelho ardente)

— Atenção, passageiros do voo 864, com destino para Londres, Inglaterra. Dirijam-se para a plataforma de embarque, por favor.

Suspirei e voltei meu olhar para Owen, que me olhava meio perdido ainda.

— Izzy! Vamos logo! – ouvi Rowena me chamar e fiquei feliz, mais uma vez, por ela ter passado na audição também. Uma pessoa conhecida no meio de desconhecidos era sempre bem vinda. Além disso, Rowena era uma excelente amiga.

Remembering him comes in flashbacks, in echoes (A lembrança dele vem em flashes, em ecos)

Tell myself it's time now (Digo a mim mesma que agora é a hora)

Gotta let go (Tenho de deixar rolar)

But moving on from him is impossible (Mas seguir em frente depois dele é impossível)

Qhen I still see it all in my head (Quando ainda vejo tudo na minha cabeça)

Burning red (Vermelho ardente)

Loving him was red (Amá-lo foi vermelho)

— Só um minuto! – falei para ela, que assentiu. Remexi minha mochila, encontrando uma folha amassada. Eu sabia exatamente o que estava ali. Puxei-a para fora da mochila e a estendi para Owen, que a pegou com um olhar curioso. – Para você se lembrar de mim, ou... Bem, essa é a música que Rowena e eu vamos tocar no nosso primeiro concerto. Espero que goste. Tchau, Owen.

Oh, losing him was blue, like I'd never known (Oh, perdê-lo foi azul, como se eu nunca tivesse conhecido)

Missing him was dark grey, all alone (Sentir a sua falta foi cinza escuro, completamente sozinha)

Forgetting him was like trying to know somebody (Esquecê-lo foi como tentar saber sobre alguém)

You never met (Que nunca conheci)

'Cause loving him was red (Porque amá-lo foi vermelho)

E simplesmente sai dali, antes que eu me afogasse em lágrimas. Acenei para a minha família, que acenou de volta, e sorri. Virei-me para Rowena, que me olhava curiosa e cheia de expectativa.

— Entregou?

Yeah, yeah red (Sim, sim vermelho)

Burning red (Vermelho ardente)

— Sim. – suspirei, meio arrependida, meio aliviada. – Acha que eu fiz o certo?

— Eu acho que sim. Ele consegue ser meio tapado quando quer. – ela respondeu e eu lhe dei uma cotovelada, o que fez com que ambas rissem.

Eu sabia o que tinha naquele papel e só de pensar que Owen estaria o lendo naquele momento, me fazia corar ao extremo. E foi pensando naquela música que eu decolei rumo ao meu futuro. Ao meu sonho.

And that's why he's spinning roun in my head (E é por isso que ele está rodando na minha cabeça)

Comes back to me, burning red (E volta para mim, vermelho ardente)

Yeah, yeah (Sim, sim)

His love was like driving (O amor dele foi como dirigir)

A new Maserati down a dead end street (Um Maserati novo numa rua sem saída)

[...]

Joguei pela nonagésima vez uma bolinha contra a parede do meu quarto, suspirando. Já fazia quase três semanas que eu tentava compor alguma coisa, mas absolutamente nada me vinha à cabeça.

— Entra, ‘Wena. – resmunguei ao ouvir baterem na porta do meu quarto. Apoiei a minha cabeça na mão direita.

— Nada ainda?

Nem uma mísera palavra.— suspirei e finalmente olhei para a minha amiga.

Naqueles três anos em que morávamos em um apê em Londres, Rowena havia sido a minha salvação. Era ela quem me dava forças para não me afogar em uma poça de lágrimas quando sentia que a saudade de Owen iria me sugar para dentro de um buraco negro. Era ela quem me dava forças para não chorar quando, no meio de um telefonema com a minha irmã ou minha mãe, ao perguntar de Owen, falavam que ele estava meio sumido e que não os visitava há algum tempo. Se não fosse por Rowena, eu estaria completamente perdida.

Eu agradecia ainda mais por ela ser a minha parceira de palco nos nossos concertos. Formávamos uma dupla e tanto, e todos da academia de música falavam que tínhamos tudo para fazer sucesso.

— Calma, Iz. Você vai conseguir encontra inspiração, mas— eu soltei um gemido de dor apenas com a menção daquela simples palavra. – por que não sai comigo e Jasper? Quem sabe você não arruma inspiração ao sair para algum lugar diferente?

Ergui uma sobrancelha para a minha amiga.

— Isso é sério?

Rowena soltou uma risada e eu revirei os olhos.

— Não vou ir nem morta! A última vez que vocês me obrigaram a sair, eu tive que ficar quase quatro horas com um amigo retardado do Jasper! Eu me recuso! 0 decretei, fazendo-a rir ainda mais.

— Ah, fala sério, o Derek nem é tão idiota assim!

— Ah, não? – ergui uma sobrancelha de novo, em desdém. – Ele ficou me mostrando como ele conseguia beber cerveja pela boca e expelir o líquido pelo nariz. Isso é atitude de uma pessoa normal?

Rowena caiu na gargalhada e eu não aguentei, gargalhei junto com ela. Logo, Jasper apareceu no meu quarto e agarrou a cintura da namorada. Parei de rir na hora. Aquilo me fazia ter pensamentos que, com certeza, eu não queria ter. sorri para os dois.

— Aproveitem a noite de vocês, gente! Sério mesmo, eu vou ficar bem!

— Tem certeza?

— É claro que sim! A noite é uma criança! – pisquei para a minha amiga, que corou levemente enquanto Jasper depositava beijos sobre seu pescoço. Revirei os olhos. – Vão se agarrar em outro lugar, pelo amor de Deus! Assim vão desvirtuar o meu quarto! Saíam, saíam!

Os dois saíram rindo e eu me encostei na cadeira de novo. De repente, as ideias para a nova música começaram a relampejar diante dos meus olhos e eu abri um sorriso enorme. Finalmente!

— Qualquer coisa, pode me ligar, ok Iz? – me assustei quando a cabeça da minha amiga apareceu na porta.

— Tudo bem, ‘Wena! Relaxa, ok? Aproveita a noite com o Jasper e pode deixar porque eu sei me cuidar muito bem, está bem? Se divirta, garota!

Rowena sorriu e me mandou um beijo, o que acabou por me fazer rir. Mal ouvi a porta do apê bater e já me virei para outra folha de papel em branco. Peguei meu lápis pela nonagésima primeira vez naquela noite. Mas, diferente das outras vezes, eu sabia exatamente o que escrever.

You got me sippin' on something (Você me faz experimentar algo)

I can't compare to nothing (Que não posso comparar a nada)

I've ever known, I'm hoping (Eu sabia, estou esperando)

That after this fever, I'll survive (Que depois dessa febre, eu sobreviva)

Olhei para o meu celular a poucos centímetros de mim e senti minha mão coçar para discar o número tão conhecido e, pelo menos, ouvir a voz dele. Eu sentia tanta falta dele que chegava a doer. Balancei a cabeça e levantei-me da cadeira para pegar o meu violão para começar a montar a melodia que eu faria na música recém-criada.

I know I'm acting a bit crazy (Sei que estou agindo como louca)

Strung out, a little bit hazy (Como uma viciada, meio fora do ar)

Hand over heart, I'm praying (Com as mãos no coração, eu oro)

That I'm gonna make it out alive (Para que possa sair dessa viva)

Respirei fundo e deixei a minha mente vagar naqueles flashes que vinham até mim. Flashes da minha infância, das risadas e das conversas até madrugada. Flashes do meu primeiro beijo e dos abraços fortes. Tudo parecia ligado a ele. E a melodia parecia fluir da minha mente para os meus dedos. Triste e cheia de sentimento.

The bed's getting cold and you're not here (A cama está esfriando, você não está aqui)

The future that we hold is so unclear (O futuro que nos espera é tão incerto)

But I'm not alive until you call (Mas eu não estou bem até que você ligue)

And I'll bet the odd's against it all (Aposto que a sorte não estará a nosso favor)

Lembrei-me da decepção que senti ao ver que, ao final do primeiro semestre longe, Owen não havia me ligado uma única vez. E, a cada dia, a cada mês, eu esperava a ligação que nunca veio. Até que, em um dia particularmente triste, no meio de uma ligação com Sadie, eu não havia aguentado.

Mas, me diga, e o Owen?

Save your advice, 'cause I won't hear (Guarde seu conselho, eu não vou ouvir)

You might be right, but I don't care (Você pode estar certo, mas eu não ligo)

There's a million reasons why I should give you up (Há um milhão de motivos para eu te deixar)

But the heart wants what it wants (Mas o coração quer o que ele quer)

— Ah... – Sadie soltou um suspiro. – Ele não tem aparecido muito, Iz.

— Quer dizer... – as palavras pareciam estar entaladas na minha garganta. – Ele ainda está namorando aquela garota?

— Sim.

The heart wants what it wants

Soltei um suspiro entrecortado naquele momento. Arrependida de ter iniciado aquele maldito assunto. Devia ter escutado a ‘Wena, eu pensei. Mas, já era tarde demais. O estrago já estava feito.

— Então, ele... Ele não pergunta de mim?

— Uma vez, ele perguntou para a mamãe, quando a gente o viu saindo de casa para a faculdade.

— O que ela disse?

You got me scattered in pieces (Você me deixou em pedacinhos)

Shining like stars and screaming (Brilhando como estrelas, gritando)

Lighting me up like Venus (Me iluminando como Vênus)

But then you'd disappear and make me wait (Mas aí, você desaparecia e me fazia esperar)

— Ela disse que você estava bem. Feliz e que estava fazendo várias amizades novas e, até mesmo, um... – Sadie fez uma pausa que me deixou com mais curiosidade ainda. Sussurrou a palavra como se tivesse medo que alguém pudesse ouvi-la. — namorado.

E o celular foi ao chão com aquilo.

And every second's like torture (E cada segundo é uma tortura)

Hell won't endure no more, so (O inferno não suportaria, então)

Finding a way to let go (Estou tentando achar um jeito de te deixar)

Baby, baby, no, I can't escape (Baby, baby, não, não consigo escapar)

Lembrei-me que tinha ficado simplesmente paralisada com aquela notícia. E, até hoje, não sabia dizer se aquilo era bom ou ruim. Afinal, Owen continuou não falando comigo durante os dois anos e meio que se passaram. E eu nunca mais toquei naquele assunto novamente, pois Rowena tinha me encontrado chorando rios de lágrimas quando chegou da academia e me deu um sermão de quase duas horas por eu ser masoquista e ficar querendo abrir a maldita ferida que estava querendo fechar. Ela estava certa. Ela está certa, mas não era bem assim que as coisas funcionavam.

Por um lado, eu entendia porque a minha amiga tinha tanta raiva de Owen. Não só por ter me magoado, mas principalmente por ter feito aquela cena no aeroporto e, mesmo depois de ter me declarado por meio da minha música, ele não havia me ligado. E, mesmo assim, eu ainda era apaixonada por aquele idiota. Suspirei.

The bed's getting cold and you're not here (A cama está esfriando, você não está aqui)

The future that we hold is so unclear (O futuro que nos espera é tão incerto)

But I'm not alive until you call (Mas eu não estou bem até que você ligue)

And I'll bet the odd's against it all (Aposto que a sorte não estará a nosso favor)

Mesmo depois de três longos anos a um oceano de distância. Mesmo depois de três anos sem ouvir a voz dele. Mesmo depois de vê-lo se distanciando de mim por causa do namoro. Mesmo depois de ter me envolvido com outros caras. Eu não conseguia esquecê-lo! O que tinha de errado comigo?!

O celular começou a vibrar e tocar uma música aleatória. Peguei-o e arregalei os olhos ao ver o nome que estava ali. Owen Campbell. Por que ele estava me ligando depois de anos? Eu devia atendê-lo? O que Rowena diria para mim naquele instante? Respirei fundo e tomei a decisão de ignora-lo. Era para o meu próprio bem e para o bem do meu coração tão machucado.

Save your advice, 'cause I won't hear (Guarde seu conselho, eu não vou ouvir)

You might be right, but I don't care (Você pode estar certo, mas eu não ligo)

There's a million reasons why I should give you up (Há um milhão de motivos para eu te deixar)

But the heart wants what it wants (Mas o coração quer o que ele quer)

A campainha tocou e eu franzi o cenho, colocando meu violão ao lado da poltrona em que eu estava sentada. Quem poderia ser? Rowena, provavelmente, não, pois ela tinha a chave. Jasper estaria com ela. E Ansel – meu ex-namorado – não me visitava há décadas, já que nosso relacionamento passou de beijos para conversas exclusivamente sobre assuntos da Royal.

The heart wants what it wants (O coração quer o que ele quer) 3x

Levantei-me e fui até a porta, abrindo-a. Minha testa enrugou-se quando encontrei, no meio do corredor, um buquê de tulipas. Olhei para os lados, a procura de alguém que pudesse tê-las colocado ali. Como não encontrei ninguém, me abaixei e o peguei. Tinha um bilhete ali com o meu nome escrito em uma caligrafia estranhamente familiar.

Isabelle Spencer.

This is a modern fairytale (Este é um conto de fadas moderno)

No happy ending, no wind in ourselves (Sem finais felizes, ou vento em nós)

But I can't imagine a life without (Mas eu não consigo imaginar uma vida)

The breathless moments breaking me down (Sem esses momentos de tirar o fôlego, me quebrando)

Down, down, down, down (Quebrando, quebrando, quebrando, quebrando)

Abri o bilhete com uma sensação estranha no peito. Um aperto esquisito. Minhas mãos tremiam por motivos desconhecidos. Talvez nervosismo. Mas, eu não fazia ideia de por que estava nervosa com um simples bilhete.

The bed's getting cold and you're not here (A cama está esfriando, você não está aqui)

The future that we hold is so unclear (O futuro que nos espera é tão incerto)

But I'm not alive until you call (Mas eu não estou bem até que você ligue)

And I'll bet the odd's against it all (Aposto que a sorte não estará a nosso favor)

Uma garotinha me contou uma história uma vez. Uma lenda japonesa, para ser exato. Em síntese, a lenda dizia que cada pessoa tinha um akai ito amarrado ao dedo mindinho que ligava à sua unmei no hito e não adiantava fugir ou tentar arrebentar o fio vermelho, porque era como lutar contra o destino. E o destino de cada pessoa é ficar junto da sua unmei no hito.

Mesmo eu tentando firmemente me manter afastado de você, eu nunca deixei de pensar em você um minuto sequer nesses três anos que se passaram, Izzy. Apesar de ser um babaca completo, meu akai ito sempre me levará a você. Basta eu seguir a música.

A carta foi ao chão. Meus olhos estavam arregalados. Coloquei a mão sobre a minha boca, em choque.

Unmei no hito?

— É alma gêmea. – aquela voz. Como eu poderia esquecê-la? Virei-me apenas para ver que Owen não havia mudado absolutamente nada. Ele continuava alto, forte e esguio; os cabelos beijados pelo sol, a pele bronzeada, os olhos verdes brilhantes e o sorriso branco como papel.

Save you advice, 'cause I won't hear (Guarde seu conselho, eu não vou ouvir)

You might be right, but I don't care (Você pode estar certo, mas eu não ligo)

There's a million reasons why I should give you up (Há um milhão de motivos para eu te deixar)

But the heart wants what it wants (Mas o coração quer o que ele quer)

— O que faz aqui? – murmurei tão baixo que achei que ele não iria me ouvir.

— Pensei que a recepção seria um pouquinho melhor.

O que faz aqui? – repeti, olhando séria para ele. – O que faz aqui, Owen?

— Senti falta disso. – ele resmungou, sorrindo e se aproximando de mim. Afastei-me um passo e ergui uma sobrancelha. – Eu não te contei?

— Mas, é claro que não! Você sequer se lembrou de ligar mim, seu babaca! – respondi, indignada.

The heart wants what it wants (O coração quer o que ele quer)

— Desculpe, eu... – ele passou a mão pelos fios louros e se abaixou para pegar o bilhete que havia caído das minhas mãos. – Estava passando por um momento de autoconhecimento.

— Que bom para você! – revirei meus orbes azuis gelo. – Mas, não respondeu a minha pergunta. O que faz aqui?

— Sou o mais novo estudante de Oxford.

O quê?

— É isso que você ouviu, Izzy. Eu agora sou um universitário de Oxford. – ele sorriu e meus olhos se arregalaram, quase saltando das órbitas.

— Por quê?

The heart wants what it wants (O coração quer o que ele quer)

— Eu não posso mais, Izzy. Não dá mais para ficar longe de você. É pedir demais. Eu já estava subindo pelas paredes! – ele respondeu, passando a mão pelo cabelo de novo. Pelo jeito, velhos hábitos nunca se perdiam. Sorri com tal pensamento. – Meu akai ito estava muito esticado e eu fiquei com medo de que arrebentasse.

Ele se aproximou mais um pouco e, como eu estava completamente paralisada, Owen enlaçou a minha cintura, me puxando para ele.

— Quando te contei essa história, você disse que isso não existia. Então... Por quê?

— Eu era uma criança, Iz. As nossas concepções mudam com o tempo. E não tem como fugir da verdade. – ele sussurrou, me arrepiando. – Você é a minha alma gêmea. Meu fio vermelho do destino sempre estará ligado a você, não importa o que eu faça. Além disso, eu estava com saudade de ouvir a sua voz. E você tem que me explicar algumas coi...

Sorri com aquela fala e não aguentei. Interrompi o que ele iria falar. Eu havia esperado tempo demais por aquele momento, afinal. Enlacei seu pescoço e o puxei para um beijo cheio de sentimentos. Saudade, paixão, amor, desespero. Senti as mãos grandes apertarem minha cintura, me puxando para perto dele. Owen aprofundava ainda mais aquele beijo e eu o correspondia à altura.

The heart wants what it wants (O coração quer o que ele quer).— cantarolei meio arfante quando nos separamos e apreciei o sorriso de canto que se formou nos lábios levemente carnudos. E então, nos beijamos novamente. Não havia nada além de nós dois naquele momento.

The End.


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês tenham gostado, minna-san. Essa oneshot eu escrevi há cerca de dois anos atrás, então faz um pouquinho de tempo hehe
Qualquer erro ortográfico, peço sinceras desculpas, é que às vezes um erro ou outro passa meio despercebido.
Bem, as músicas que foram utilizadas para essa oneshot foram as seguintes (em ordem):
??” "My Blood", Ellie Goulding
??” "Red", Taylor Swift
??” "The Hearts Wants What It Wants", Selena Gomez

Bom, minna-san, eu espero que vocês tenham gostado e, se você leu até aqui, por que não deixa o seu comentário a respeito da história? Eu realmente iria amar saber o que você achou dela ^^
Até a próxima, minna-san!



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