WSU's Raiju escrita por Lex Luthor, WSU
Espere por mim morena
Espere, que eu chego já
O amor por você, morena
Faz a saudade me apressar
O sorriso do homem tocando o seu violão fez o pequeno garotinho loiro animar-se. Do chão, o menino sentado observou o pai com lágrimas nos olhos azuis como os do genitor na poltrona de couro marrom.
Tire um sono na rede
Deixe a porta encostada
Que o vento da madrugada
Já me leva pra você
— É a nossa música preferida do mundo inteiro, papai — disse Arthur.
Sorrindo, Osíris confirmou com a cabeça, enquanto continuava a melodia em seu violão marrom.
Pousada Raízes
Catarina observava o mapa topográfico da região de Primavera. Um grande anel com uma circunferência de vinte quilômetros cortava os estados vizinhos, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Um projeto bilionário, que apenas Jacobo e seus laboratórios parceiros tinham no país.
— Mais uma vez a Azar está certa. — concluiu a ruiva, observando seu notebook, sentada na cama. — O problema é invadir o Phoenix Labs com toda aquela segurança pesada e chegar ao subterrâneo para usar o acelerador.
A mulher loura tirou os seus óculos; observou a garota com seu olho azul, que contrastava com o outro completamente branco.
— E quem falou em invasão? — indagou, séria.
Aproximando-se, o homem de barba e cabelos grisalhos sorriu.
— Seria mais fácil se nós soubéssemos das possibilidades também — disse ele, irônico.
Azar sorriu maliciosa.
— Não passaremos pelo laboratório. — Sentou-se na cama. — Vamos invadir diretamente o acelerador. — Apontou o mapa na tela. — Vamos pela subestação de metrô.
— O quê?! — esbravejou o homem. — Está louca?! — indagou furiosamente. — Está entupido de ANIC lá!
— Absurdo. — comentou a ruiva. — Com os irmãos bobões lá, beleza. — sorriu, procurando lógica. — Mas você me mandou deixar o drive no terminal B e agora está cheio de ratos federais lá! Seria mais fácil entrar em qualquer ponto do acelerador do que lá, talvez até no Rio.
— É por isso que eu preparei uma ratoeira — rebateu Azar.
Avenida Presidente Vargas, Primavera
Motel OK
Os primeiros raios de sol já penetravam as janelas, quando Arthur abriu seus olhos. Passou a mão sobre o lençol de seda vermelho que cobria a cama de casal em formato de coração. Bocejou e olhou para o lado, onde seu irmão usava o computador numa mesa de vidro redonda.
— A gente devia ir pra Pousada Raízes — comentou o loiro, com voz de sono. Aars o olhou por cima dos óculos e, ignorando, voltou sua atenção para a máquina. — A gente dormiu numa cama de motel pra dois em formato de coração, porra.
Sentou-se e vestiu uma camisa do Cruzeiro, começou a calçar um tênis Nike Shocks azul.
— E não tem nada que te interessa lá não? — indagou Aarseth, desconfiado.
Arthur devolveu a desconfiança num olhar.
— Sou eu quem tem que fazer as perguntas por aqui, queridão. — Olhou para o relógio na parede, cada número representado por uma posição sexual. — Cavalgada frontal e cachorrinho. — analisou tentando lembrar a posição dos números reais.
— Nove e meia — disse o irmão mais novo.
— Pode crer, eu vou comprar algo pra gente comer.
Como um vulto azul, o garoto já não estava mais ali, mas na rua. Sabia da sua velocidade, por tanto, teria tempo de passar na Pousada Raízes e despedir-se com seu afeto, antes de comprar o café.
À toda velocidade, percebeu uma multidão correr lentamente contra o seu sentido. Um senhor ostentava uma faixa nas mãos:
Errar é humano.
Corrompidos também são, senhor presidente.
Reparou em dois jovens sorridentes, um loiro e outro moreno. Ao fundo do povaréu, uma faixa estampada o título:
46ª Corrida Anual de Primavera
Avenida Presidente Vargas, Primavera
36ª Corrida Anual de Primavera
Eu tinha apenas treze anos, tentava sempre me provar de maneira tola e sempre conseguia. Sim, eu conseguia provar que a cada dia eu parecia um merda perto do meu irmão mais novo.
Aarseth era um atleta invejável, corria e jogava futebol.
Tinha ótimas notas e era atleticano.
Já eu, eu...
Eu era um sedentário, que ligava apenas em desenhar e matava o tempo de estudo para aperfeiçoar minha técnica. O resultado não poderia ser pior, se não um boletim escolar avermelhado.
Pra piorar, o meu irmão estava eufórico por esses dias. Naquela semana eu enfrentava a vergonha de um fatídico quatro a zero, que o Cruzeiro tinha sofrido para o Atlético. O goleiro Fábio tomou gol até de costas... indo pegar a bola do gol anterior no fundo da rede.
Nos últimos meses, quis esquecer o cenário caótico que eu sempre estava, o de nunca ser o melhor em nada. Corri todas as manhãs bem cedo, mas não era o bastante. O Aarseth ainda tinha um tempo melhor que o meu.
Eu podia escutar os gritos de nossos pais sorrindo e acenando para a gente, atrás das grades de proteção. Olhei para o meu irmão, que se aquecia e o encarei. Não iríamos ganhar, tinha atletas profissionais querendo bater a quilometragem de qualificação para as Olimpíadas no ano seguinte.
E eu pouco me fodia para os corredores da elite, queria mesmo terminar na frente do Aars e passar na cara de todo mundo. Como mal perdedor que sou, já sabendo que não conseguiria os meus objetivos, tentei desestabilizar o meu adversário da família.
— Vai comer poeira, nerd do caralho.
Sem dar atenção, ele focou no árbitro erguendo a pistola sinalizadora e observando o cronômetro em outra mão.
— Eu tenho uma vantagem secreta.
— Ah! Tem é? — indagou o anão de óculos.
Eu sorri malicioso.
— Eu tenho três pernas pra co... — a minha piada foi cortada pelo tiro seco, que o fez disparar e fiquei o observando largar. — Merda.
Já em desvantagem, comecei a minha árdua derrota.
Pousada Raízes
O velocista, com uma rosa sem espinhos na mão, chegou à guarita da pousada. O segurança, do vidro fumê da guarita, observava o movimento, mas não perceberia caso ele quisesse realmente entrar. Preferiu optar pelo caminho mais educado.
— Olá, senhor! — cumprimentou o jovem, animado, escorando-se no balcão de mármore. — Poderia, por favor, me chamar a Catarina? — pediu sorridente. — Diga a ela que é o namorado dela.
O segurança de boné e casaco, o mirou apertando os olhos. Arthur olhou para cima, titubeou. Imaginava que piadas assim traziam mais intimidade, mas naquele momento se sentia constrangido.
— Não precisa falar tão séeeeerio, tá? — explicou-se, mostrando as mãos. — Usa um pouco de sarcasmo na voz. Nem é nada sério, a gente só deu um beijinho.
— Ela não está, rapaz — respondeu o simpático gordinho. — E se eu fosse você, não tiraria brincadeiras assim com mulheres comprometidas.
— O que disse? — espantou-se o garoto.
O segurança balançou a cabeça negativamente, como se a decepção nos olhos azuis de Arthur o tivessem afetado.
— Eles já fizeram check out e o namorado dela veio aqui mais cedo — falou, consolador.
Levando a mão ao ombro do loiro, ele continuou tentando convencer algo para Arthur.
— Formam até um belo casal, os dois parecem sintonizados com aqueles computadores de ponta e cabelos cacheados. Parecem ter sido feitos um pro outro. — Ele suspirou, lamentando a breve ilusão do rapaz. — Melhor procurar outra garota, filho.
O velocista olhou furioso para o segurança, que se espantou boquiaberto. Quando um caminhão pipa passava na frente da pousada, o gramado verde ficou repleto de faíscas elétricas e o rapaz sumiu.
O motorista do veículo à frente observou a ação estranha. Poderia até ser reconhecido pelo veloz corrompido, se não estivesse de óculos escuros e boné com aba abaixada.
Puxou um walkie-talkie do painel do caminhão e pressionou um botão do aparelho.
— Precisamos ser rápidos, ele esteve aqui — falou, em seguida soltando o botão.
— Rápidos como? — indagou a voz feminina, emitida entre os chiados da transmissão.
— Mais que um velocista — respondeu ao acelerar.
Avenida Presidente Vargas, Primavera
Motel OK
Aarseth pegou o telefone de gancho no criado-mudo do quarto e discou o número do serviço de quarto.
— Bom dia, senhor — cumprimentou a atendente do telefone.
— Bom dia — respondeu —, gostaria de uma toalha para o quarto cento e seis.
— Já estou encaminhando — respondeu a mulher —, como foi a noite ontem?
Aarseth suspirou ao telefone.
— Não lhe pago tecer comentários sobre a minha estadia — rebateu o garoto.
— Na verdade, senhor — insistiu a atendente —, é a política de avaliação do Motel.
— A noite foi nota dez! — esbravejou, batendo o aparelho no gancho.
Ao virar-se, ouviu três batidas na porta.
— Nossa, que rápido! — impressionou-se, ao abrir a porta.
No entanto, deu de cara com seu irmão.
— Ah, é só você mesmo — conformou-se sem sua toalha.
Os cabelos loiros cobriam os olhos, a respiração era ofegante.
— A noite foi dez? — perguntou Arthur. — Trouxe alguém aqui de noite?
— Tá maluco! — assustou-se. — Você tava aqui, porra!
— Dormindo! — bradou o rapaz, irritado.
Detrás de si, Arthur mostrou uma calcinha peça de lingerie vermelha.
— Vi dois quartos em seu nome na recepção e achei isso no segundo — explicou seriamente. — Fiz tudo isso em milésimos.
Aarseth pasmou, arregalando os olhos.
— Vai falar o que tá pegando agora, ou eu vou arrancar a sua cabeça em milésimos? — indagou o velocista, quando faíscas de eletricidade espalharam-se pelo quarto.
O hacker olhou para a mesa de vidro redonda, atrás de si. Uma gota de suor escorreu sobre sua testa.
— Se acalma, Arthur — disse, estendendo a mão para frente. — Não pensa em fazer nenhuma besteira, esse não é você! Isso é a porra do seu tumor falando, eu sou o seu irmão.
O garoto de óculos virou-se rapidamente e tentou alcançar o notebook em cima da mesa, mas antes que o fizesse foi a certado por um vulto azul em seu rosto.
— Eu poderia ter te matado agora! — gritou impaciente. — Abre o jogo!
— Vai se foder. — Cuspiu o sangue no chão. — Tudo se trata de você querer ser melhor, ou ter algo que não pode, não é? — perguntou, levantando-se do chão. — A Catarina não tem nada com você, cara! Ninguém quer nada contigo, você só destrói as suas relações!
Arthur trincou os dentes, enraivecido e avançou, enxergando seu estático irmão, tocou em seu peito o arremessando contra a cama de coração. Aarseth mal pôde assimilar o golpe e o velocista já estava a esganá-lo.
— Luciano Huck nunca leu minhas cartas! — gritou o loiro, em meio aos engasgos do hacker. — Eu nunca ganhei uma raspadinha!
No lado de fora do quarto, a camareira segurando duas toalhas secas, estava escutando os bruscos movimentos bruscos da cama. Apurou os seus ouvidos levando um a encostar à porta.
— E você sempre quer tudo para você! — gritou Arthur, sufocando o irmão que ficava aos engasgos. — Então toma!
Aos gargalhos contidos com a mão tapando a boca, a camareira decidiu interromper, batendo a porta. Foi como o gongo soando para Aarseth se recompor. Ligeiramente, o velocista abriu a porta e atendeu a moça, que se surpreendeu com a rapidez.
— Desculpe interromper, senhor — disse constrangida. — Aqui está a toalha que foi pedida. — Entregou-lhe as duas. — Parece que vai precisar de mais que uma.
Arthur agradeceu acenando com a cabeça e fechou a porta. Ao virar-se, o hacker estava sentando na cama com seu notebook sobre o colo.
— E aí, babaca? — indagou, irônico coçando a cabeleira cacheada.
O velocista soltou as toalhas no chão e correu para atacar o irmão, mas já não era incomunmente rápido e não pode evitar o pé estendido de Aarseth em seu peito, o levando ao chão.
— Fica no chão, Arthur. — falou ameaçador, levantando-se e teclando o computador. — Os nanobots estão agindo na sua circulação agora.
— Me fala — disse Arthur, arquejando deitado. — O que é que você não pode me contar?
O hacker suspirou.
— Não tem como você se envolver com ninguém — respondeu com uma voz falha —, ca-ra. — Do olho machucado dele, uma lágrima escorreu. — Eu fiz o que pude com os nanobots, mas você não tem mais uma semana de vida e...
Com dificuldades, o rapaz loiro levantou-se, massageando o peito.
— E o que? — perguntou, ofegante.
— É que eu sou tua irmã, Arthur — disse a voz feminina, vinda detrás dele.
Ao virar-se, viu o transtorno no rosto abaixado da garota ruiva.
— Catarina? — perguntou, arqueando a sobrancelha direita, confuso e transtornado.
Olhou para ela quase paralisado, sem acreditar no que sentia, mirou para seu irmão e tudo se resumia em decepção.
Era mais uma derrota, a derrocada da confiança de um jovem destinado a perder.
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