catch me if you can escrita por Izzy Aguecheek


Capítulo 2
II


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é um flashback, então mantenham isso em mente ao lê-lo xD



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Anne-Marie estiver lá um ano atrás, quando a vida de Rori desmoronara completamente. Rori havia ido passar o final de semana na casa da amiga enquanto sua família – pai, mãe, uma irmã mais velha e um irmão mais novo – viajara para, nas palavras de Rori, “visitar alguma coisa velha, mágica e desinteressante”. Embora fosse uma das mais brilhantes de sua geração, ela não tinha muito interesse em explorar sua herança mágica.

Assim, as duas estavam juntas no quarto quando a mãe de Anne-Marie entrou e, baixinho, sem acender a luz, sacudiu o ombro de Rori e disse que era melhor ela levantar, porque alguém do Conselho tinha ido vê-la. Na cama ao lado dela, Anne-Marie também despertou, e, claro, insistiu em acompanhar a amiga até o andar de baixo, onde a Conselheira-Chefe em pessoa a aguardava.

A presença dela, por si só, já era alarmante o suficiente. Conselheiros não tinham por hábito falar pessoalmente a adolescentes em treinamento, e a Conselheira-Chefe era a líder de todo o Vilarejo. Era necessário algo extremamente importante para fazer com que ela aparecesse na sua casa no meio da noite.

Elas se reuniram na cozinha: Anne-Marie e sua mãe, Rori e a Conselheira.

— Sinto muito te dar notícias tão graves em uma hora como essa – desculpou-se a Conselheira-Chefe. –, mas concluí que não fosse certo esperar.

Todo o sono já desaparecera do rosto de Rori; ela ostentava a expressão determinada que Anne-Marie já conhecia.

— O que houve com a minha família?

Na hora, pareceu lógico que ela tivesse suposto que o problema fora com os outros O’Callaghan, mas, mais tarde, Anne-Marie se perguntaria se Rori não havia tido algum pressentimento durante a noite; ela estivera mais inquieta do que o normal.

Foi então que a Conselheira-Chefe deu a notícia: a família O’Callaghan havia sido atacada no caminho por um grupo de Execrados, párias que, por terem sido banidos do Vilarejo por algum motivo, geralmente quebra das leis, e se ocupavam em cometer outros crimes como forma de retaliação.

— Um deles tinha uma rixa pessoal com seu pai, Rori – disse a mãe de Anne-Marie, delicadamente. – Talvez você tenha ouvido falar dele. Seu nome era Leander Brom.

Rori assentiu. Sua expressão ao ouvir a história era ilegível, até para Anne-Marie, que a conhecia melhor até do que seus irmãos.

— O nome dele era Leander Brom – repetiu ela. Havia um brilho estranho em seus olhos; não de lágrimas, mas perto o suficiente. – Não é mais?

A Conselheira-Chefe abriu um pequeno sorriso que gelou Anne-Marie até os ossos. Havia uma satisfação cruel naquele sorriso, que não caía bem a alguém tão poderoso.

— Ele está morto – revelou ela. – E foi sua irmã quem o matou.

A testa de Rori se franziu. Ela pareceu completamente indiferente à notícia da morte do inimigo de seu pai; claramente, suas prioridades eram outras.

— Sam? Ela está bem? – Rori empalideceu. – Ela não está bem, não é? Você não estaria aqui no meio da noite se ela estivesse bem.

Como a Conselheira-Chefe não respondeu imediatamente, ela continuou o inquérito, inclinando-se para a frente, ansiosa:

— E aconteceu algo com Skye, não foi? Ele é só uma criança, ele não... Meu pai está bem? Esse Leander, ele conseguiu o que queria, o que quer que fosse? – Ela deu um tapa na mesa de jantar, fazendo com que os talheres sobre o tampo estremecessem. – Você vai mesmo me fazer adivinhar o que aconteceu com a porra da minha família que foi atacada, cacete?

Era mais do que inapropriado falar daquele jeito com um membro do Conselho, mas, dadas as circunstâncias, ninguém sentiu a necessidade de repreendê-la. Anne-Marie pousou a mão no ombro dela, preparada para confortá-la, quando a Conselheira-Chefe tornou a falar.

Não, Leander Brom não conseguira o que queria – a vida do pai de Rori –, graças a Sam. Skye estava bem. Os pais dela estavam vivos.

— Leander conseguiu algo – disse a Conselheira, por fim. – Sua família perdeu a magia, Rori. Nenhum deles é mais capaz de nada mágico.

Por um instante, Rori pareceu congelar. Então, ela acendeu uma pequena chama verde na palma da mão. Anne-Marie notou que ela estava tremendo.

— Eu ainda consigo – sussurrou ela. Não parecia feliz com a constatação.

— A maldição não afetou você, porque eles não sabiam onde te encontrar – confirmou a Conselheira-Chefe. – Mas você é a última, Rori.

Rori fechou a mão, extinguindo a chama, e encarou a Conselheira.

— E Sam? – Como antes, a mulher permaneceu em silêncio. Rori se levantou, quase ameaçadoramente. Estava com os punhos cerrados ao lado do corpo, e, pela voz, dava para ver que ela estava se contendo para não chorar. – Me diz. O que aconteceu com a minha irmã?

Era possível, pensaria Anne-Marie alguns dias depois, que todos naquela cozinha já soubessem a resposta para aquilo. A Conselheira-Chefe e a mãe de Anne-Marie trocaram um olhar preocupado.

— Samarie lutou bravamente – começou a Conselheira, mas Anne Marie nunca ouviu o final da frase, porque foi nesse momento que Rori saiu correndo para fora da casa, e Anne-Marie foi atrás dela sem pensar duas vezes.

Ela encontrou Rori encolhida num canto do jardim, escondida atrás de uma cerca-viva; a magia dos O’Callaghan vinha de sua descendência das fadas, e ela sempre encontrara conforto na natureza. Anne-Marie se agachou ao lado dela, impotente. Rori abandonara os esforços para não chorar, e as lágrimas agora corriam livremente por seu rosto enquanto ela socava a grama, soluçando.

— Eu deveria ter estado lá com eles – disse ela, ao ver Anne-Marie se aproximar. – Eu poderia ter ajudado... Skye, ah, meu Deus, ele mal tinha começado a descobrir o potencial dele, ele gostava tanto disso...

Anne-Marie abraçou-a, porque era a única coisa que podia fazer, e murmurou:

— Nada disso é culpa sua, Rori. Você não pode ir por esse caminho.

Se elas fossem alguns anos mais novas, ela sabia que Rori estaria destruindo tudo à sua volta, o mau temperamento e o baixo controle sobre a magia misturados em uma combinação explosiva. Agora, ela apenas tremia nos braços da amiga, e o único traço de magia era a grama envolvendo suas mãos como se também tentasse abraçá-la.

— Sam – balbuciou Rori. – Sam. Eu poderia ter...

— Não, não poderia – sussurrou Anne-Marie. Seu coração doía, pela amiga e pela família dela, de quem sempre fora próxima, e ela não conseguia sequer imaginar como seria estar na pele de Rori naquele momento, sentindo aquela dor amplificada mil vezes.

Foi assim que a mãe de Anne-Marie e a Conselheira-Chefe as encontraram, abraçadas, chorando juntas, uma mais do que a outra, tentando se reconfortar. A Conselheira-Chefe se ajoelhou na grama ao lado delas e tocou o ombro de Rori, com mais delicadeza do que Anne-Marie jamais a vira demonstrar.

— É uma perda terrível, minha menina – murmurou ela. – Você e sua família precisam do seu tempo de luto, e vamos respeitar isso. Mas gostaria que você soubesse que há algo que você ainda pode fazer para ajudá-los.

Rori ergueu a cabeça imediatamente, o olhar enevoado clareando por um segundo.

— Qualquer coisa – disse ela. – Absolutamente qualquer coisa.

A Conselheira-Chefe não pareceu incomodada pela ferocidade nas palavras dela, mas Anne-Marie sentiu um arrepio na espinha.

— É possível – disse a Conselheira, como se estivesse escolhendo as palavras cuidadosamente. - que você possa trazer a magia deles de volta.

Rori passou um longo minuto apenas olhando para o céu estrelado, sem dizer nada, enquanto todos ao redor dela pareciam prender a respiração. Por fim, ela soltou um suspiro trêmulo, como se também tivesse estado segurando o ar, e balançou a cabeça, devagar.

— Qualquer coisa – repetiu. Dessa vez, não era feroz. Ela soava quebrada. — Tudo o que eu puder fazer. Absolutamente qualquer coisa.

E foi então que Anne-Marie soube que sua melhor amiga havia mudado para sempre.


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Notas finais do capítulo

(Um dia eu volto e ajeito os negócios de travessão, hífen e meia-risca, juro)



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