“Se eu aceitar” O pensamento ecoou pela mente de Bernardo. Ao contrario do que a mãe pensava, não queria ser veterinário, sempre quis ser biólogo e estudar animais exóticos, mas ali tinha uma coisa muito mais incrível a se pensar. Ele viu a mulher transformar a xícara em um ratinho. Ela mencionou “animais mágicos” o que poderia ser mais exóticos do que um dragão! “Existem dragões?” Não perguntaria para Vanessa na frente da mãe se não ela jamais deixaria Bernardo ir para essa escola. Mas por outro lado Vanessa disse “se eu aceitar”. Ele tinha uma escolha, era seu direto como ela bem disse, ele tem uma vaga desde que eu nasceu. Bernardo olhou para Vanessa e assentiu.

— Eu aceito.

— A que ótimo! Como pode ver tem uma lista de material, eu enviarei um bilhete marcando a data para nos encontrarmos e explicar como funciona seu novo mundo.

Vanessa se despediu e saiu, deixando Bernardo e sua mãe com muito o que pensar. Alguns dias se passaram e o bilhete veio na forma de uma Arara Vermelha que carregava um rolinho preso na pata. A mãe ficou olhando para a ave magnífica enquanto Bernardo lia o bilhete. Planejaram com antecedência como fariam para ir no lugar marcado. No dia, pegaram um táxi, pois o Centro estaria impraticável pra estacionar o carro. Quando chegaram no lugar marcado, um velho sebo de livros, encontram Vanessa, de joias e vestido com outro tipo de estampa e cor. Seu bonito cabelo afro estava solto. Perto dela tinha um rapaz negro magricela, vestindo uma camiseta e bermuda calçando um tênis imaculadamente limpo. Do lado dele uma senhora de idade apoiava as mãos em seu ombro. Também tinha uma menina bonita de pele morena e cabelo liso e preto, vestindo calça djeans folgada e uma blusa branca de manga curta, calçando um tênis, nem de longe limpo. Ela parecia aborrecida e triste com alguma coisa e seus olhos estavam ligeiramente inchados, como se tivesse chorado. Próximo dela, um homem olhava para o relógio constantemente.

— Vanessa, desculpe o atraso, o transito está uma porcaria.

Disse Amelia em seguida a cumprimentou. Vanessa retribuiu e apresentou os outros. Depois dos cumprimentos ela disse.

— Bom o local em que iremos fica dentro do sebo, me acompanhem.

Disse entrando, logo em seguida..

Quando entramos o rapaz chamado Felipe se aproximou.

— Percebeu que as pessoas passavam perto do sebo e mal olhavam pra a gente?

A menina Letícia deu de ombros.

— Brasileiro não gosta de ler, por isso.

Bernardo e Felipe soltaram um riso pelo nariz, mas olhando em volta as poucas pessoas na loja se vestiam de forma bastante estranha. Um homem vestia uma bermuda que mudava de cor a medida que a luz batia nela, parecia um camaleão na região da pélvica, sua camisa roxa era estampada com uma bolinha dourada com uma asa dos lados. Uma mulher vestia um vestido simples marrom, mas tinha um penacho prendendo o cabelo em cima e Bernardo podia ter certeza que viu alguma coisa piscando do coque, como se um bichinho estivesse oculto ali. Vanessa parou proximo a uma estante onde um senhor de aspecto sério vestindo o que parecia ser um roupão verde, por baixo dava pra ver um short azul de tactel e uma camiseta branca com os dizeres, “Seboso é você”. Nas mãos carregava um exemplar enrrolado de uma revista onde incrivelmente as imagens se mexiam, mas não dava para saber do que se tratava. Ele olhava os títulos na estante quando percebeu Vanessa.

— Vanessa minha querida! Esses são os novos alunos? Gerião chegou faz uns cinco minutos com a comitiva dele, moleques metidos aqueles. Espero que esse grupo seja diferente.

Disse olhando severamente para as três crianças. Gilberto soltou um pigarro.

— Podemos ir logo com isso? Eu tenho alergia a poeira.

A menina Letícia olhou aborrecida para o pai.

— Sim já vamos, Requião por favor, abra a passagem.

— É pra já!

Disse, o senhor. Foi até uma prateleira nos fundo onde retirou um livro. Bernardo não conseguiu ler o título, mas de repente os livros começaram a ser espremidos para os lados e as prateleiras desapareceram, mostrando uma abertura para uma praça circular com pavimento de pedra e um chafariz no meio jorrando água.

— Por favor, entrem e conheçam o Mercado Circular da Uruguaiana.