Faded Hearts escrita por Yukime Harukaze


Capítulo 24
O Misterioso Kevin




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/760759/chapter/24

Quem é ele e como chegou aqui sem percebemos?

−Ohoho! Nunca pensei que você estaria pronto para me atacar dessa forma.

−Né... Hector.

O homem com o cabelo loiro, preso por uma longa trança e uma franja caída sobre a testa ficando envolta dos olhos com mechas sobre o nariz, sorri para mim.

Não reconheço a pessoa a minha frente, muito menos com tal estatura alta e sorridente. Os olhos dele são da mesma cor que o meu, olhos âmbar são muito raros e somente eu tenho eles segundo os registros dos 5 reinos.

−Quem é você?

−Responda!

Fior fica minha frente apontando a arma para a misteriosa figura de cabelos longos, que fica com as mãos levantadas na altura do rosto.

−Calma, calma, por favor.

−Vou lhes dizer quem sou eu.

−Meu nome é Kevin Bookman.

Ele abaixa as mãos e fala calmamente seu nome, que para minha surpresa conheço muito bem. Mas ele não poder estar vivo ainda, faz quase 200 anos desde que Perpetua foi destruída. Não faz sentido algum, ele estar vivo dessa forma e intacto sem nenhum arranhão.

−Kevin Bookman? Um dos responsáveis pela destruição da capital do mundo.

−Não seja ridículo, vamos acabar com isso agora mesmo.

Ela abaixou a arma por alguns segundos e retornou a mirar nele.

Não sei qual tipo de histórias ela leu sobre o Desastre de Perpetua, mas acredito que tenha mais coisa por trás de tudo que ocorreu, como a causa disso.

−Espere! Fior, abaixe a arma, por favor.

−Conheço bem uma parte da história dele, o livro único escrito por seus familiares sempre esteve comigo e pertencia a família Sabrie a anos.

Fico ao lado dela e pego em sua mão direita para abaixar a arma devagar, tentando convence-la de dar um voto de confiança a pessoa a nossa frente.

Não sei se é a opção correta, mas quero dar uma chance a ele.

−Entendi, mas o que você faz aqui?

−Essa dimensão é bem estranha.

Ela tenta conversar calmamente com ele.

−Eu sou uma memória na verdade, parte da minha alma ficou presa nessa dimensão criada pelas memorias da Selene.

−O que me surpreende é a presença de vocês e daqueles outros dois que vieram antes.

Kevin se aproxima tentando explicar as coisas para nós e os outros dois que ele diz só podem ser eles, Leon planejou entrar nesse lugar usando a Selene e encontrá-los vem dando bastante trabalho.

−Os dois?

−A Selene e o Leon.

Fior deduz rapidamente quem são as pessoas que entraram aqui antes de nós.

−Hmm... me explica como é essa dimensão.

−Cherry disse que são memorias que a Selene não quer mais se lembrar, o que significa que você é uma delas, certo?

Se ele confirmar minha dúvida, temos uma ótima pista de quem a Selene era no passado antes de se tornar a Raposa Caótica.

−Essa dimensão foi criada com todas as memorias que a Selene considera serem a causa do seu sofrimento, onde estamos agora é parte de uma das memorias dela.

−Ela costumava brincar muito nesses jardins, eu levava ela para cá quando seu tio saia de casa.

−Também acredito que eu esteja aqui, porque eu morri no desastre de Perpetua e lembrar de mim, é triste para ela.

Ele movimenta suas mãos com luvas brancas da mesma forma que eu faço quando começo a explicar algo para as pessoas, fazendo gestos lembrando círculos, mostrando lugares com a mãos e até mesmo desenhando no ar.

−Certo, entendi. Enquanto ao Cherry, qual a ligação dele com a Selene?

−Um pouco antes, ele parecia mais preocupado com a nossa presença do que eu esperava e aparecia nos espelhos dizendo essas coisas.

Com certeza, esse gato não é só um simples guardião dessa dimensão.

−Cherry era o nome do gato preferido dela.

−Quando visitava ela, sempre via um gato preto de pelos curtos no seu quarto com um laço rosa no pescoço.

−Possivelmente ele foi transformado em humanoide por ter caído no Chaos e sofrido as mesmas mudanças que a Selene.

Sua voz é levemente grave e ele fala com um tom suave e educado como um nobre da família real.

Forma de falar indica muito sobre seu status social até mesmo nos tempos de hoje. Também o conhecimento, a forma de vestir e a própria expressão corporal.

−Desde o dia que minha consciência surgiu nessa dimensão tento descobrir, o que aconteceu exatamente naquele dia do desastre, mas não posso sair desses jardins porque eles são o meu limite.

−O limite da lembrança da Selene sobre mim.

Ele olha para o corredor que liga as duas partes da mansão, onde eu a Fior estávamos alguns minutos atrás.

A propósito, ela está muito quieta.

−Limite da lembrança?

−O que significa que você não pode sair daqui mesmo que queira, embora saiba bastante sobre este local da memória dela.

Quando a Fior concluiu seu pensamento, Kevin confirma movimentando a cabeça com um sorriso.

Saber o que realmente aconteceu no dia do desastre de Perpetua, que causou a morte de milhares de pessoas. Acredito que minha curiosidade também me faz querer ir atrás dessas respostas.

−Então isso...

−Huh!

Brooum!

Um tremor interrompe nossa conversa, deixando nós 3 arrepiados por algum motivo.

−A Selene está começando a lembrar de si mesma.

Ele olha para trás de mim e da Fior com a sobrancelhas inclinadas.

−Como assim? Ela está causando esse tremor porque começou a lembrar de seu passado.

−Então, ela está...

Brooum!

Quando ela tenta completar a frase somos atingidos por outro tremor.

−Ela está vagando pelas salas que guardam suas memorias e ao conseguir entender ou lembrar do que aconteceu, faz essa dimensão reagir ao estado emocional dela.

−Talvez... aos seus poderes também.

−Tsk! Temos de fazer ela parar com isso ou essa dimensão vai desaparecer com todos junto.

Kevin com a preocupação estampada no rosto, parece mais assustado com situação do que somos capazes de entender.

−Hector! Temos que encontrar a Selene, rápido.

Click!

Fior pega sua arma e com a outra mão a minha mão direita para sairmos dali.

−Esperem, por favor.

−Agora é tarde demais, não vai demorar muito para essa dimensão desaparecer, desde que ela está conseguindo lembrar de tudo.

Kevin tenta nos parar por algum motivo.

−Então, o que podemos fazer?

−Ficar parados aqui, não é uma opção.

Concordo com ela nisso, se não encontrarmos uma saída, vamos todos morrer aqui junto com as memórias da Selene.

−Não resta muito tempo, então eu gostaria que um de vocês descobrissem o que aconteceu na mansão quando começou o desastre.

Ele quer saber disso justamente agora.

−Hector! Você tem um contrato com ela e talvez seja o único que possa passar por aquela porta no final do corredor.

−Não tenho forças o suficiente para isso, então posso guia-lo pela mansão para descobrirmos a causa de tudo.

Kevin mostra o caminho entrando no corredor pela abóboda e aponta a direção correta.

−Espere! Porque só o Hector pode fazer isso?

−Tem certeza que vai dar tempo o suficiente para fazer isso?

Ela com certeza está preocupada com tal situação, ainda mais o fato de eu que posso estar ligado a tudo isso.

−Somente o Hector pode fazer isso, porque ele de alguma forma tem uma conexão estranha com ela e espero que dê tempo o suficiente para descobrirmos tudo.

−É arriscado por isso, não vou obriga-los a isso.

Diante da presença seria da Fior, acredito que ninguém consegue se sentir ameaçado de certa forma.

−Pode deixar comigo.

−Eu vou fazer isso.

Respondo a sua proposta de forma a atingir nosso objetivo, assim posso entender o que levou a Selene virar uma Sombra.

−Mas, Hector você tem certeza?

Até mesmo Kevin fica surpreso com minha resposta e aceno com a cabeça confirmado minha decisão.

−Entendi, estarei esperando você voltar.

Fior se aproxima do Kevin, olhando para mim entrando no corredor.

Aos poucos entro pela porta que o Kevin me indicou, sendo a parte de trás da mansão. Não sei o que esperar quando entrar, mas pode ser que minha vida venha a mudar a partir dessa decisão.

 

~~~~~~~~~~~~

 

Atravesso a entrada do corredor rumo a parte interior da mansão.

−Hmm...

−Aparentemente nada de estranho.

A arquitetura da moradia é a mesma das atuais, muitos diziam que as casas em Perpetua eram evoluídas e mais voltadas ao futuro. O azulejo não era muito usado e são comuns de ver agora, mas duvido que era fácil encontrar isso nas casas.

−Está escuro.

−Será que é de noite?

É difícil de ver os detalhes do interior sem a presença luz, o corredor deve ter alguns moveis a direita, então sigo caminhando mais próximo a parede esquerda para evitar me machucar batendo neles.

−Hector! Está me ouvindo?

A voz do Kevin ecoa no local como se ele estivesse em todo o lugar.

−Sim, claramente.

Embora ele venha a me orientar por dentro da mansão, a tensão e curiosidade começam a dominar meus pensamentos.

−Ainda bem, pensei que não ia conseguir entrar em contato com você.

−Certo! Você tem que ir até os fundos da construção, ela tem um espaço adicional que vai levar até o quarto da Selene.

Um espaço a mais, então a casa se estende para os jardins dos fundos e lá deve ser onde tudo começou.

−Entendi, mas vai demorar um pouco porque está bem escuro por aqui.

Continuo a caminhar, pelo lado esquerdo tentando encontrar um ponto de luz para conseguir me orientar melhor. É difícil ver sem as luzes da casa, mas consigo perceber a silhueta dos objetos e moveis aos poucos que acostumo com a escuridão.

Consigo ver o final do corredor, ele vai além da entrada de um outro corredor que atravessa ele. O silencio do local é perturbador, sou capaz de ouvir a minha própria respiração e os passos da minha bota.

−Será que a mansão foi o ponto inicial de tudo?

−Hmm... não era para a casa estar desse jeito, tudo escuro a essa hora da noite.

Alcanço o fim do corredor e olho para os lados e o corredor a frente, onde também não tem uma iluminação se quer, nem mesmo de velas.

−Esse é corredor que leva para os quartos dos lados, então se eu seguir para frente, chego nos fundos.

−Huh! Que cheiro é esse?

−Hmm... parece ser, de algo queimando.

Quando fico olhando o caminho que os corredores levam, um forte cheiro de madeira em chamas vem até mim.

−Está vindo logo a frente.

−Ahh... Porque está tão claro aqui?

Ao continuar a frente, uma forte luz amarela bate no meu rosto repentinamente.

−Tudo... está... em cha-mas.

−Como isso aconteceu?

A mansão abaixo está toda coberta pelo fogo alto, chegando próximo do andar acima.

Não sei como reagir a surpresa a minha frente.

Ouço gritos de pessoas desesperadas por todos os lados, o calor por aqui é muito forte e para completar tenho a impressão de estar sendo observado mais uma vez.

Percebo um som mais baixo vindo de longe, é algo mais distante ao que consigo entender.

−Esse som igual ao de... chuva?

−Sim! É isso mesmo.

No fundo do corredor vejo algumas gotas caindo, graças à luz do fogo que é refletida nelas e novamente sinto um tremor.

−Isso não é a minha culpa.

−Ahaha! Não é a minha culpa...

Um pequeno menino loiro sai do nada com o rosto coberto de sangue e passa correndo na minha frente até pular do parapeito, caindo nas chamas dos jardins abaixo.

−O olhar dele era... de insanidade, uma criança chegar a esse ponto é terrível.

−O que fizeram com esse menino para ele se matar dessa forma?

Aquela imagem me atormenta, não consigo deixar de pensar no mal que está acontecendo aqui e o que se passou antes disso. A tensão começa a tomar conta do meu corpo junto ao medo sem fim do que pode vir daqui para frente.

Estou na metade do corredor que leva ao quarto da Selene, tenho que ser rápido antes dessa dimensão desaparecer. Aquele tremor anterior foi igual ao que senti nos jardins junto com a Fior e o Kevin.

−Hmm... essa porta está fechada, então cheguei ao quarto dela.

No final do corredor, dou de frente com uma grande porta que ambos os lados abrem para dentro e mais leve do que as outras.

−Sele...?

Poof!

−SELENE!

Logo que abro a porta vejo a Selene cair na minha frente com o peito todo coberto de sangue, seus olhos não têm mais vida, apenas um olhar surpreso ficou em seu rosto e o relógio de pendulo começou a fazer barulho quando os ponteiros marcavam meia noite.

Meu coração acelera e não consigo suportar a cena de vê-la caída ali, daquela forma sem vida e toda coberta com o próprio sangue.

−Selene quem fez isso com você?

Pego ela em meu colo, abraçando-a enquanto fecho meus olhos e tento conversar com ela como se ela ainda estivesse viva. O relógio de bolso que carrego comigo começa a tocar junto ao de pendulo na parede.

−Veja como você está... nem parece aquela menina alegre e cheia de energia.

Passo minha mão direita sobre seu rosto, próximo aos seus olhos azuis e fecho eles, enquanto lagrimas escorrem sobre minhas bochechas.

A minha vontade é de estar ao lado dela para sempre, até conseguir dar um local descanso para ela morrer em paz.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Faded Hearts" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.