Destiny escrita por oicarool


Capítulo 8
Capítulo 8




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Nos dias que se passaram, Darcy estava pensativo. Refletia a respeito de sua vida nos últimos anos, do casamento sem amor, e agora ele descobria, sem paixão ou qualquer sentimento intenso. Casara-se com Mary por obrigações entre suas famílias, e apesar da boa relação e de terem uma enorme amizade, seu coração nunca batera mais forte por ela.

Não como batia agora por Elisabeta Benedito, e seu olhas faiscante, sua maneira de encarar a vida, sua entrega a tudo o que fazia. Ela havia dito que não se gostavam, mas isso não poderia estar mais longe da verdade. Darcy gostava de Elisabeta, mesmo quando ela bagunçava o seu mundo.

Seu único problema era Lizzie. Era verdade que gostava de Elisabeta, possivelmente estava apaixonado por ela, talvez até a amasse. Mas também brigavam mais do que o normal e nenhum dos dois parecia estar pronto pra um relacionamento. E nenhum passo poderia ser dado sem a certeza, uma vez que mais do que ele ou Elisabeta, essa relação envolvia Elizabeth.

Charlotte o aconselhava a entregar-se ao sentimento, mas Darcy não era um homem emocional na maior parte do tempo. Tinha dificuldade com o que sentia e não recordava-se de outro momento em sua vida em que estivesse tão confuso em relação a uma mulher.

Mas a vida e as decisões precisavam continuar enquanto seu coração e sua razão não se decidiam, por isso Darcy passara o dia olhando imóveis e propriedades no Vale do Café. Por mais que gostasse da companhia de Julieta e Camilo, era hora de refazer seu lar com Lizzie e agora, Charlotte.

Finalmente encontrara a propriedade perfeita, e seus sentimentos estavam tão embaralhados ao retornar a fazenda justamente porque Darcy não pôde imaginar aquele lar sem a presença de Elisabeta. Ela estava em cada cômodo da enorme casa, nas paredes e obras de arte, nos jardins e estábulos.

E quase achou que ela invadia sua imaginação ao abrir a porta e ouvir seu riso, antes de prender a respiração ao encontrar os olhos dela em sua direção. Lizzie vinha a seu lado com um sorriso no rosto e olhar encantado.

— Papai! – a pequena gritou, correndo em sua direção.

Darcy a segurou no colo com facilidade, beijando sua bochecha e fazendo cócegas em sua barriga. Elisabeta sorriu com a cena, arrebatada pela presença de Darcy e sua interação com Lizzie.

Passara a tarde inteira na mansão dos Bittencourt, entre conversas e brincadeiras com Lizzie. Sentiu-se ansiosa ao chegar, com receio de encontrar Darcy, mas com o passar das horas esquecera a possibilidade, por isso surpreendeu-se ao encontrar o olhar dele no seu, o calor da lembrança a invadindo no mesmo momento.

— Elisabeta... – ele cumprimentou, com um sorriso tranquilo.

— Como vai, Darcy? – ela também sorriu.

— Melhor agora, ao encontra-las. – disse, sincero.

E foi um gesto apenas natural quando ele se aproximou, ainda com Lizzie no colo, e beijou a testa de Elisabeta. Ela surpreendeu-se com algo tão banal, desviando o olhar do dele.

— Papai, Elisa sabe pescar. – Lizzie informou, alheia ao que acontecia.

— É mesmo? – Darcy fingiu mais interesse do que sentia.

— E também sabe dançar e cozinhar. – a menina continuou.

— Quantos talentos... – ele riu, piscando para Elisabeta.

— Bom, agora que seu pai chegou, eu vou para casa. – Elisa sorriu, aproximando-se de Darcy e Lizzie.

— Não! – Lizzie protestou, enquanto Elisa roubava um beijo na bochecha.

— Está tarde.

— Jante conosco. – Darcy disse, de repente. – Eu a levo em casa após o jantar.

— Melhor não. – Elisa sorriu, trocando um olhar cúmplice com ele.

Os dois sabiam o que aconteceria se ficassem sozinhos. O desejo estava claro no olhar dos dois, e não seriam capazes de resistir. Elisabeta queria aceitar, mais do que tudo, e queria entregar-se ao sentimento que a estava dominando, mas não era o racional a fazer.

Darcy sorriu para Elisabeta, deixando claro que entendia suas razões. Disse à Lizzie que fosse a procura de Charlotte, e acompanhou Elisabeta até a porta.

— Obrigado por não se afastar de Lizzie. – ele sorriu, sincero.

— Eu não faria isso. – Elisa encarou os olhos dele. – Nada me faria fazer isso.

Ele se aproximou de repente, sua mão tocando o rosto dela em uma carícia leve. Elisabeta fechou os olhos com o contato dele. Tentou buscar as forças, colocando sua mão por cima da dele e afastando-se.

— Não devemos... – disse, sem jeito.

— É muito difícil resistir à você. – ele segurou a mão dela, levando-a a seus lábios.

— Nós já conversamos sobre isso. – sua voz falhou ao sentir Darcy morder de leve um de seus dedos.

— Eu passei o dia pensando em você. – Darcy confessou, de súbito.

— Darcy... – e foi o último suspiro dela antes dele se aproximar ainda mais, colando a testa na dela.

Ele fechou a porta atrás de si, o perfume de Elisabeta se fazendo presente ao seu redor. Sabia que não deveria, mas não conseguia mais controlar seus impulsos quando estava com Elisabeta. Mas ele a sentiu tensa com sua aproximação.

— Eu não vou beijar você. – disse em um sussurro. – Não se você não quiser.

— Você sabe que eu quero. – ela respondeu quase sem voz, suas mãos chegando ao rosto dele. – Mas não podemos.

— Eu sei. – Darcy manteve seus olhos fechados, o máximo de seu auto controle sendo necessário para não tomar os lábios dela.

E então o frio o invadiu quando ela se afastou com um olhar triste.

— Nós precisamos nos afastar. – Elisabeta disse, decidida.

— Elisabeta, nós não precisamos... – ele tentou argumentar.

— Precisamos. Você precisa pensar em Lizzie. – seu tom saiu um pouco mais irritado do que sentia.

— E o que você acha que eu estou fazendo? – Darcy arregalou os olhos.

— Você está se aproximando de mim quando eu disse para não fazer. – Elisabeta irritou-se.

— Só eu? – ele deu dois passos em direção a ela. – Eu cheguei em casa e dei de cara com você.

— Eu estou aqui pela sua filha! – ela falou mais alto do que deveria.

— Ah, sim. – ele ironizou. – Porque não tem sentimentos por mim, apenas por Lizzie.

— Os sentimentos que tenho pelo senhor são muito próximos do ódio. – Elisabeta cruzou os braços.

— Não foi o que pareceu há alguns segundos, senhorita.

— O senhor precisa ser tão indelicado? – ela questionou, ofendida.

— E a senhorita precisa ser tão mentirosa? – Darcy se aproximou ainda mais, enlaçando-a pela cintura.

Elisabeta prendeu a respiração com a proximidade dele. O corpo dele colou ao seu, seus movimentos controlados por ele. Ele se aproximou lentamente, grudou sua testa na dela, acariciando o nariz dela com o seu. E Elisabeta fechou os olhos, a espera do inevitável, entregue a ele. A mão dele invadiu seus cabelos, posicionando sua cabeça em um ângulo perfeito.

— Diga agora que me odeia. – ele disse em voz baixa, provocante.

Elisabeta abriu os olhos, chocando-se com a proximidade do rosto dele. Seus tons claros fitando os seus.

— Diga... – ele pediu. – Que está aqui por Lizzie, que não sente nada por mim.

A voz dele era mansa, suas mãos firmes, mas quase suaves. A carícia em seus cabelos, a respiração dele batendo em seu rosto. Mas o olhar dele era ferino, provocador, magoado até. E então ele a soltou e afastou-se, tirando o que faltava de ar de Elisabeta.

— A senhorita não consegue. – disse, presunçoso.

— O senhor não é digno do que estou pensando agora. – Elisabeta tentou recompor-se.

E então ali estava uma batalha de olhares e desafios. E todos os motivos do porque não deveriam alimentar o que quer de bom que começasse a acontecer. Sempre acabariam em uma discussão, em uma briga desnecessária, em palavras que logo se arrependeriam de dizer.

Foi Elisabeta quem quebrou a conexão, virando as costas e pisando duro. Mas sua determinação não refletia o sentimento de vazio que estava agora. E seu orgulho impediu que voltasse até onde Darcy estava e visse o olhar triste que ele carregava.

##

Elisabeta sentia-se assustada. Havia saído da Fazenda Bittencourt, e agora andava em direção a sua casa. Mas ouvia passos atrás de si. Toda vez que voltava seu rosto para trás, via o vazio da noite a encarando de volta.

 

Mas sentia que não estava sozinha, e a cada passo seu medo aumentava. O vento batia nas árvores, e as batidas de um galho contra outro a faziam sobressaltar. Parecia que estava sendo observada, vigiada.

 

— Elisabeta? – uma voz a chamou.

 

— Quem está ai? – Elisa disse, assustada.

 

Mas ninguém respondeu, o vazio a cercava.

 

— Elisa! – a voz de Lizzie surgiu em seus ouvidos, clara como água, um tom de desespero.

 

— Lizzie! – Elisabeta gritou de volta, tentando correr em direção a voz.

 

— Elisa! – Lizzie repetiu, e Elisabeta tentou focar na origem do som.

 

Mas vinha de todos os lados, de todos os cantos, de cada árvore.

 

— Me ajude! – a menina gritou, chorosa. – Eu preciso de você.

 

E então Elisa correu, para qualquer lado, mas a cada direção que tomava, parecia se afastar mais e mais do som. E então sentiu seus pés saírem do chão, suas mãos tocarem o solo. Tentou gritar, mas não havia voz, e tentou levantar-se, sem conseguir.

 

Ouviu passos em direção a ela, e os gritos de Lizzie de repente se acalmaram. Pode ver os pés femininos em sua direção, com sapatos caros. Virou seu rosto para encarar a mulher, seu rosto semelhante ao de Lizzie, embora mais velho, mais esnobe.

 

— Você quer encontrar seu caminho. – a mulher afirmou, sem deixar Elisabeta responder. – Mas foge dele toda vez que se aproxima.

 

— O que? – sua voz saiu fraca.

 

— O seu destino.

 

— Eu não estou entendendo. – Elisa tentou dizer, tentando levantar-se.

 

— O seu destino, Elisabeta. Siga os seus olhos, siga o seu coração.

 

E então tudo era escuro novamente.

##

Elisabeta acordou assustada, olhando em volta. Estava em seu quarto, Jane dormia tranquilamente na cama à sua frente. Tudo estava bem. Passara o dia com Lizzie, brigara com Darcy, mas chegara em casa sem nenhum problema.

Tentou acalmar sua respiração, tentando lembrar-se do sonho, lembrar-se dos detalhes. Mas era tudo vago. A escuridão, Lizzie, e aquela mulher. E Elisabeta não tinha dúvidas de quem era a mulher. Embora não lembrasse de ter visto uma foto dela, seus olhos, seus traços, não deixavam qualquer dúvida.

Mas como era possível sonhar com Mary? E o que ela queria dizer com fugir de seu destino? Será que aquela conexão tão perturbadoramente forte que sentia com Lizzie e Darcy não era um mero acaso?

Será que tudo o que buscara em sua vida, todo o caminho que desejara, o seu lugar, estava resumido naqueles pares de olhos claros? Seria possível que tudo isso fosse desenhado para ela? Que seu lugar fosse ser parte daquela família?  

Ela não sabia, mas confiava naquele sonho e naquelas palavras. Precisava seguir seus olhos, seguir seu coração. E não lembrava-se de nada mais poderoso do que o seu sentimento ao trocar olhares com Darcy ou Lizzie. Nunca sentira nada igual em sua vida. E agora imaginava se não era esse o traçado mais poderoso que poderia existir. Imaginava se não era seu destino.


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