Destiny escrita por oicarool


Capítulo 3
Capítulo 3




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Elisabeta encarava seu reflexo no espelho. Há alguns dias, desde que conhecera a pequena Elizabeth Williamson, via-se repentinamente pensativa. Sentia uma estranha conexão com a menina, e apesar dos poucos momentos juntas, ansiava por saber sobre sua adaptação ao Vale do Café.

Mas é claro que não poderia simplesmente voltar à casa dos Bittencourt e abordar o assunto. A começar o pai dela, Darcy, sequer imaginava que Elisabeta sabia a respeito da morte de sua esposa. Não poderia conversar sobre isto como se fosse banal, e a única pessoa a quem poderia perguntar era Charlotte.

Ainda assim, não o faria. Por isso, além de seu reflexo, vez ou outra desviada o olhar para o vestido de Charlotte pendurado em sua porta. Pensara em devolver no dia seguinte, ou até manda-lo de volta por Jane, mas passara por sua mente brevemente a ideia de que, se aparecesse alguns dias depois, teria notícias sobre a estadia dos Williamson.

E por isso decidiu, com os primeiros raios de sol, que este era o dia ideal para devolver a peça. Agora ajeitava seu próprio vestido, muito mais simples do que o que devolveria, e dava os últimos retoques em seu rosto. Não sabia o porque de estar tão nervosa, mas havia tomado uma decisão e cumpriria seu objetivo.

Elisabeta optou por usar a charrete da família, e tentou controlar a ansiedade ao aproximar-se do local. Os jardins floridos pareciam ainda mais vibrantes com o sol da manhã, que aproximava-se de seu pico. Elisa parou perto dos estábulos, seguindo seu caminho a pé.

Porém, nem bem chegou a escadaria principal e ouviu seu nome ser chamado por uma voz fina.

— Elisa! – Lizzie gritou novamente, fazendo Elisabeta encará-la.

Lizzie corria em sua direção, com seus cabelos esvoaçantes e olhos brilhantes, em uma pintura perfeita que derreteu o coração de Elisabeta. Mal teve tempo de abaixar-se quando a menina jogou-se em seus braços, com uma confiança que só uma criança poderia ter.

— Você veio me visitar? – a menina perguntou, afastando-se um pouco dela.

— Vim devolver o vestido de sua tia Charlotte. – Elisa sorriu, acariciando o rosto da pequena.

— Desculpe os modos da minha filha. – Darcy aproximou-se delas, o sol iluminando seu bonito rosto. – Eu já não lhe ensinei a não correr por aí, mocinha?

Lizzie baixou os olhos, sem encarar o pai.

— Não há problema. – Elisabeta sorriu para ele, fazendo-o prender a respiração. – Eu gosto da espontaneidade de sua filha.

— Espo o que? – Lizzie perguntou com os olhos arregalados.

— Elisabeta quis dizer que gosta de sua naturalidade. – Darcy explicou, tocando os cabelos da filha.

— Elisa veio ver tia Charlotte. – a menina disse ao pai, esquecendo o assunto anterior.

— Eu vim devolver o vestido que Charlotte me emprestou. – Elisa levantou-se, mostrando a peça.

— Eu sinto muito, Charlotte não está. – Darcy deu de ombros. – Está em um passeio com Camilo e sua irmã.

É claro. Como poderia esquecer? Jane mal conseguia conter a ansiedade a respeito do passeio que faria com Camilo e Charlotte. Não podia acreditar que essa ideia não passara por sua cabeça.

— Ora, que cabeça a minha. Gostaria de agradece-la pessoalmente, mas posso voltar em outro momento.

— Não, por favor! Eu quero brincar. – Lizzie protestou, fazendo os dois olharem para a pequena.

— Não deverá ser um passeio longo. – Darcy encarou os olhos de Elisabeta. – Você poderia ficar para o almoço e aguardar Charlotte.

Se não soubesse a respeito da situação que passavam, talvez perdesse o ponto de súplica no olhar de Darcy. Sentiria-se desconfortável por aceitar o convite de um homem a quem mal conhecia, e de quem sequer gostava. Mas o sorriso de Lizzie foi o suficiente para convencê-la e confirmar o convite com um aceno breve de cabeça.

Antes que percebesse, Darcy havia retirado o vestido de suas mãos e Lizzia prontamente aguardava com a sua para que caminhassem de mãos dadas. A menina começou a contar para Elisabeta a respeito dos animais da fazenda e das plantações.

Darcy as observava caminhando a sua frente, em um misto de sensações. Não podia ignorar a admiração e gratidão que sentia por qualquer pessoa que pudesse fazer Lizzie sorrir daquela forma. Principalmente porque era um comportamento atípico para sua filha. Lizzie era uma criança espontânea e falante quando estava perto de pessoas que conhecia e gostava, mas bastante tímida e retraída na presença de estranhos.

E Elisabeta não era alguém a quem conhecessem. Sabia que era irmã de Jane, e conhecia o bastante de seu temperamento para saber que o irritava facilmente. Ainda assim, Lizzia perguntara a ele todos os dias quando voltaria a ver Elisabeta, por isso apenas sentia-se aliviado por ela ter aparecido em seu jardim.

Julieta e Susana estavam em São Paulo, e com o passeio de Charlotte e Camilo, a mansão estava ocupada apenas por Lizzie e Darcy, além dos empregados. Após o passeio pelo campo, pretendia ler um pouco para Elizabeth, mas não houve espaço para seus planos quando Lizzie arrastou Elisabeta para o andar de cima da mansão.

Agora, sentado em uma poltrona perto das duas, observava Elisabeta e Lizzie conversando alegremente sobre bonecas e penteados. Ele mesmo fora incumbido de cuidar de uma das bonecas preferidas da filha. Encarava o brinquedo sem saber o que fazer, quando as palavras da filha gelaram seu coração.

— Mamãe me deu esta. – a menina disse simplesmente, distraída.

Elisabeta encarou Darcy e naquele momento ele soube que a nova amiga de sua filha já sabia a respeito da morte de Mary. Imaginava que Charlotte pudesse ter contado à ela ou Jane. Mas com certeza não contara sobre a dificuldade de Lizzie de aceitar a ideia de não ver mais a mãe. Após os primeiros dias de pedidos constantes, a menina simplesmente parara de citar Mary. Era a primeira vez desde a morte da esposa que Darcy a ouvia falar sobre isso.

— É mesmo? – Elisabeta perguntou com cuidado.

— Papai disse que ela está no céu agora. – a menina encarou Elisa com olhos brilhantes e tristes. – E que ela não pode me visitar mais.

Elisa não sabia o que responder. Via a apreensão na expressão de Darcy, e a tristeza nos olhos de Lizzie. Não sabia o quanto deveria influenciar neste assunto, mas a rigidez na postura de Darcy dizia a ela que ele também não estava pronto para aquela conversa.

— Venha cá. – Elisabeta pediu, fingindo mais tranquilidade do que sentia. – Eu quero contar uma história.

Lizzie se aproximou, curiosa.

— Quando eu era bem pequenininha, como você... – Elisa tocou a ponta do nariz de Lizzie. – A minha avó também foi morar no céu.

— E ela podia visitar você? – a menina perguntou com esperança no olhar.

— Não, mas eu descobri como conversar com ela. – Elisa cochichou, sob o olhar atento de Darcy. – Todas as noites eu escolhia a estrela mais brilhante do céu, e pedia baixinho para ela levar um recado para a minha avó.

— E ela respondia? – os olhos de Lizzie se arregalaram, puxando cada vez mais para os tons de verde.

— As vezes, nos meus sonhos. – Elisabeta sorriu.

— Eu posso fazer isso, papai? – Lizzie voltou seus olhos para o pai.

— É claro. – ele disse, com a voz embargada.

Lizzie voltou-se a seus brinquedos e animação anterior, mas Elisabeta notou quando Darcy limpou uma lágrima que corria por seu rosto e saiu do quarto, sem dizer mais nada.

Quando foram chamadas para o almoço, Darcy já as aguardava na mesa, completamente recuperado de seu momento de emoção. Lizzie monopolizava qualquer atenção, ditando a conversa e comentando sobre os mais diversos assuntos. Elisabeta e Darcy nada faziam além de responder aos questionamentos da menina e sorrir por sua agitação.

Após a refeição, sentaram-se na sala, e Lizzie aconchegou-se no colo do pai, não demorando a adormecer. Um estranho silêncio tomou conta de Darcy e Elisabeta. No começo sentiram apenas serenidade, os dois observando a menina dormir. Mas no segundo em que seus olhos se encontraram, Elisabeta remexeu-se desconfortável em seu lugar.

— Obrigado pelo que fez por Elizabeth. – Darcy disse, em voz baixa.

— Não precisa agradecer, senhor Williamson. – respondeu, formalmente. – Eu não fiz nada demais.

— Por favor, me chame de Darcy. – ele sorriu, educado. – Lizzie não fala sobre a mãe, desde que tudo aconteceu. – ele explicou.

— Imagino que seja difícil para uma criança tão pequena. – Elisa encarou a pequena adormecida.

— Charlotte tinha quase a mesma idade de Lizzie quando perdemos nossa mãe. – Darcy disse, de súbito. – Não era parte dos meus planos que minha filha sofresse o mesmo infortúnio.

Elisabeta encarou os olhos atormentados de Darcy, sentindo um arrepio percorrer seu corpo. Não sabia o que pensar sobre esta faceta do homem à sua frente, tão diferente do que conhecera naquela estrada.

— Mas não quero incomodá-la com estes assuntos. – Darcy quebrou a troca de olhares, encerrando o assunto.

Ela assentiu, sem ter o que dizer.

— Acredito que o passeio de Charlotte vá se estender um pouco mais. – Darcy comentou, desconfortável.

— Sim. – Elisa respondeu, levantando-se. – Voltarei em momento mais oportuno.

— Ora, eu não quis... – ele levantou a sobrancelha, confuso.

— Tudo bem, senhor Williamson. – disse um pouco irritada pela indireta de Darcy. – Não é mesmo adequado que eu passe tanto tempo na companhia de um homem a quem não conheço.

— A senhorita tem sempre que levar tudo em ponta de faca? – ele ajeitou delicadamente Lizzie no sofá, levantando-se.

— E o senhor precisa ser sempre tão grosseiro? – Elisa respondeu, empinando o nariz.

— Me admiro que minha filha goste de você, sendo assim tão irritadinha. – Darcy bufou, incrédulo por em um momento estar observando os olhos de Elisabeta e no outro estar discutindo com ela.

— Tendo o senhor como pai, não deve ser nada difícil que ela goste de outras pessoas. – Elisa aproximou-se da porta, com Darcy em seu encalce.

Darcy a puxou de súbito pelo braço, com um pouco menos de delicadeza do que gostaria, fazendo Elisabeta encarar seus olhos. Ali estavam as faíscas do primeiro encontro dos dois, em meio ao esverdeado. Ela manteve seus olhos nos dele, desafiando-o. Mas, de repente os olhos dele encararam a boca de Elisabeta, e ela não pode deixar de fazer o mesmo.

Nenhum dos dois entendeu o que acontecia. Estavam estarrecidos com a proximidade e sua capacidade de provocar discussões, e foram tomados de surpresa pela realização de que talvez entre eles também existisse uma estranha atração. Seus olhares voltaram a se encontrar por mais alguns segundos, antes que Elisabeta puxasse seu braço e saísse da sede da fazenda, sem olhar para trás.


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