Destiny escrita por oicarool


Capítulo 4
Capítulo 4




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Os dias se passaram com rapidez, e antes que pudesse perceber, Darcy completava um mês no Vale do Café. Sua vida estava finalmente entrando nos eixos, e para a sua alegria, Lizzie parecia se adaptar sem qualquer problema ao novo país. Tinha só a agradecer à todos que encontravam em seu caminho, pois a hospitalidade e educação eram fatores fundamentais para que Lizzie sentisse que estava em casa.

Darcy agora andava pelas ruas de mãos dadas com a filha, em direção à Casa de Chá de dona Ágatha. Era um dos locais preferidos da filha, e em um domingo ensolarado não poderia fazer nada diferente do que todas as vontades de Lizzie. Charlotte não pudera acompanha-los devido a uma indisposição, mas nem a ausência da tia parecia abalar a alegria da menina.

— Papai, eu posso pedir um pedaço de bolo? – ela perguntava, animada.

— É claro que pode, Lizzie. De que sabor você gostaria? – ele sorriu, parando à porta da Casa de Chá e permitindo à filha que entrasse antes, como um perfeito cavalheiro.

— Eu acho que de chocolate, ou laranja. – disse indecisa.

— Sejam bem vindos à minha Casa de Chá. – Dona Ágatha materializou-se em frente a eles.

— Muito obrigado, dona Ágatha. – Darcy respondeu educadamente, enquanto Lizzie olhava para os lados, tentando decidir em qual mesa sentariam.

Por fim a menina escolheu uma mesa perto da janela, sentando-se de frente para o pai e perguntando animadamente quantos tipos de bolos poderia escolher.

As risadas finas e movimentação no salão chamaram a atenção de Elisabeta. Ao virar-se para o som, deu de cara com os olhos de Darcy encarando os seus. Lizzie estava sentada de costas para ela, conversando animadamente com o pai, que tinha os olhos fixos em Elisa.

— Eu só pensei que estávamos construindo alguma coisa. – a voz de Xavier a transportou de volta para a mesa onde estava.

— Eu realmente não queria magoá-lo. – Elisabeta evitou encará-lo. – Somos apenas muito diferentes.

Xavier segurou sua mão com delicadeza, fazendo-a sobressaltar. Acariciou sua palma com leveza, em um carinho quase íntimo demais.

— Eu quero que você seja feliz, Elisa. – ele sorriu, triste. – E eu gostaria que fosse ao meu lado, mas respeitarei seus desejos.

— Você é um homem como poucos, Xavier. – ela sorriu, dessa vez apertando a mão dele. – Tenho certeza que em breve encontrará uma moça disposta a viver todos os planos ao seu lado.

Darcy remexeu-se na cadeira, sentindo um leve desconforto. Deveria estar prestando atenção no que Lizzie dizia, mas seus olhos desviavam a todo instante para onde Elisabeta estava. Não a vira mais após aquele almoço, ainda que Elisabeta tivesse aparecido na fazenda algumas vezes.

Não deveria observar a conversa íntima dos outros, mas não podia deixar de notar a forma como aquele homem, Xavier, olhava para Elisabeta. Não sabia que ela tinha um namorado, nunca dissera nada à ele sobre isso. Não que precisasse dizer, é claro. Darcy era um viúvo recente, e não queria se envolver novamente com ninguém.

Ainda assim, sentiu um leve desconforto ao vê-los de mãos dadas. Elisabeta parecia confortável ao lado de Xavier, e pegou-se pensando há quanto tempo estariam juntos. Sua desatenção chamou a atenção de Lizzie, que de repente seguiu seu olhar.

— Elisa! – ela exclamou. – Papai, eu posso falar com Elisa? – pediu, em uma voz um pouco mais alta do que antes.

— Minha filha, ela está em meio a uma conversa importante. – Darcy tentou argumentar, um pouco tarde demais.

Quando percebeu, Lizzie já acenava animadamente até que Elisabeta percebesse sua presença. Darcy sorriu involuntariamente ao ver a empolgação da filha, ainda que não fosse capaz de entender a afeição que Lizzie e Elisabeta sentiam uma pela outra.

— Me desculpe, Xavier. – Elisabeta sorriu para ele novamente. – Mas eu achei que deveríamos ter essa conversa antes de tudo ficar mais confuso.

— Eu entendo, Elisa. – ele piscou para ela. – Mas parece que sua companhia está disputada. – ele riu baixo, apontando para a mesa de Darcy e Lizzie.

Elisabeta abriu um largo sorriso ao avistar Lizzie acenando. Já fazia alguns dias desde que encontrara Charlotte e Lizzie passeando pela cidade, e sequer podia acreditar no quanto já sentia falta da menina. Elisa piscou para a pequena, despedindo-se rapidamente de Xavier e indo em direção a ela.

— Boa tarde. – cumprimentou.

— Elisa! – Lizzie pulou da cadeira, abraçando suas pernas.

— Como vai, Lizzie? – Elisa abaixou-se, dando um beijo no topo da cabeça de sua xará. – Senhor Williamson. – o cumprimentou com educação.

— Boa tarde, Elisabeta. Desculpe por Lizzie interromper o seu encontro. – ele disse sério, antes que pudesse perceber.

— Não era um encontro... – Elisa respondeu distraída. – E Lizzie nunca interrompe nada. – disse, acariciando os cabelos da menina.

— O papai diz que eu atrapalho bastante. – disse, fazendo Darcy rir.

— Quando eu estou trabalhando. – ele piscou para a filha, arrancando um sorriso de Elisabeta.

— O papai constrói trens. – informou à Elisabeta.

— Ferrovias, Lizzie. – Darcy riu. – Sente-se, Elisabeta. Por favor, nos faça companhia. – Darcy sorriu brevemente.

— Ah, não é necessário, obrigada pelo convite. Eu já estou de saída. É uma longa caminhada até minha casa.

— Caminhada? – Darcy perguntou espantado. – A senhorita pretende ir para casa a pé?

— É claro. – Elisa empinou o nariz. – Como fiz muitas vezes.

— Isso é uma loucura. – constatou, sério, fazendo Lizzie rir.

— Ora, eu não vejo porque seria. – Elisabeta tentou conter a irritação. – Nem todos tem carros por estas bandas, senhor Williamson.

— E onde está aquele seu cavalo fujão? – ele perguntou, erguendo a sobrancelha.

— Tornado está em casa, obrigada por perguntar.

— Você tem um cavalo, Elisa? – Lizzie ergueu os olhos para a amiga, espantada.

Elisabeta deixou um sorriso escapar. Era surpreendente o quanto Darcy tinha a capacidade de tirá-la do sério, ao mesmo tempo em que Lizzie tinha de apaziguá-la.

— Eu tenho um cavalo, e ele se chama Tornado. – Elisa respondeu empolgada, fazendo Darcy bufar discretamente. – E a senhorita deveria conhece-lo qualquer dia desses.

— Eu posso, papai? – os olhos brilhantes se voltaram para Darcy.

— Eu não acho uma boa ideia. – ele disse, sério. – O cavalo de Elisabeta não parece muito comportado. – sorriu maliciosamente para Elisabeta, provocando-a.

— Pois saiba o senhor que Tornado é mais educado que muitos humanos. – Elisa cruzou os braços, fuzilando-o com o olhar.

— E humanas, imagino. – Darcy sorriu abertamente, ouvindo Elisa suspirar tentando conter a irritação.

Darcy não sabia o porque de acabarem sempre envolvidos nos jogos de palavras. Tinham uma facilidade enorme de tornar qualquer assunto uma discussão, mas precisava admitir que sentia-se mais confortável com as brigas do que sentia-se quando seus olhos se encontravam e pareciam perder as palavras.

— Eu e Tornado adoraremos recebe-la qualquer dia desses. – Elisa sorriu para Lizzie. – Talvez seja melhor deixar seu pai em casa, ele não parece se dar bem com cavalos.

— Pois saiba que eu sou ótimo de montaria. E quem sabe a senhorita poderia esperar até que Lizzie termine seu pedaço de bolo, e então podemos ir até a sua casa e conhecer seu cavalo. – Darcy deu de ombros.

Um pouco a contragosto, e para não frustrar a esperança nos olhos de Lizzie, Elisabeta concordou. Pouco tempo depois os três entravam no carro de Darcy e seguiam seu caminho ouvindo as histórias de Lizzie a respeito de todos os animais que conhecera no Vale do Café. Nomeara quase todos que habitavam as proximidades da sede da fazenda da Julieta, incluindo algumas galinhas.

Quando chegaram à casa simples dos Benedito, Lizzie não conteve a empolgação ao avistar os patos que nadavam no lago. Tão logo Elisabeta a retirou do carro, a menina correu em direção ao pequeno lago da entrada.

— Olha, papai! – disse alto, alegre.

— Lizzie, tome cuidado. Não chegue tão perto. – Darcy disse carrancudo, chegando mais perto da filha e colocando uma das mãos em seus ombros.

— Não seja tão turrão. – Elisabeta repreendeu, arrancando um olhar irritado de Darcy. – Não há perigo algum. Venha, Lizzie, vamos conhecer o Tornado.

Antes de entrarem no estábulo, Darcy pegou Lizzie no colo, um pouco incomodado por Elisabeta deixar sua filha exposta à um animal que poderia facilmente machucá-la. Ao ver sua expressão fechada, a mais velha das Benedito não conteve uma risada. Aproximou-se de Tornado, e em seguida Lizzie acariciava a cabeça do animal, sem medo algum.

— Papai, eu o amo. – ela disse, olhando para o cavalo. – Um dia você me deixa passear nele? – seus grandes olhos fitaram Elisabeta.

E mais uma vez estava ali aquela sensação de que havia algo a mais, uma energia intensa, o mesmo arrepio. Elisabeta engoliu em seco, seus olhos encontrando os de Darcy, e não precisou de mais de um segundo para saber que ele também sentia, que ela não imaginava coisas.

— Mas o que está acontecendo aqui? – Jane surgiu à porta do local, com um sorriso no rosto. – Quem veio visitar a casa dos Benedito?

— Tia Jane! – Lizzie forçou Darcy a soltá-la, correndo em direção a Jane.

— Eu gosto de como você fala o meu nome. – Jane disse, referindo-se à dificuldade de Lizzie de pronunciar seu nome em português.

— Eu vim conhecer o cavalo de Elisa. E os patos! – a menina contou.

— É mesmo? Então venha comigo, vou mostrar a você... os porcos. – Jane fez uma careta.

— Eu quero conhecer os porcos! – Lizzie gritou, segurando a mão de Jane e permitindo que a mais velha a guiasse.

A mão de Elisabeta continuava acariciando Tornado, num ritmo constante. Sorriu ao ver as duas saírem, esquecendo-se momentaneamente da presença de Darcy. Virou o rosto para ele, repentinamente, ao sentir que ele a observava.

Elisabeta sentiu que os olhos de Darcy tentavam penetrar sua mente, decifrá-la, arrancar seus pensamentos. Não lembrava de ter sentido tanta intensidade em um olhar em qualquer outro momento de sua vida. Darcy a fitava com interesse, confuso com as sensações que Elisabeta despertava na filha, e nele.

Era como se existisse entre eles uma conexão desconhecida, um jogo de coincidências que fazia com que se esbarrassem nos locais mais inesperados. E sempre havia aquele momento onde o tempo parava de correr, onde a energia mudava.

Ele aproximou-se de repente, segurando a cintura de Elisabeta. Ela foi pega de surpresa por aquele movimento, sentindo-se quase fora daquela situação, como se observasse tudo de fora. Mas o perfume de Darcy invadindo seus sentidos a fez tomar plena consciência de onde e com quem estava.

A mão dele queimava em suas costas, e Darcy sentia a mão formigar. Seus olhos não conseguiam se desconectar, em uma estranha sensação de que nada mais existia. Darcy não sabia o que o dominava, mas também não conseguia encontrar forças para se afastar.

Foi quase imperceptível a aproximação, até que seus narizes se tocaram. Os dois fecharam os olhos quase ao mesmo tempo, e Elisa sentiu a outra mão de Darcy tocar seu rosto. A respiração dele bateu em sua pele, e Darcy percebeu a respiração de Elisa acelerada. Seus lábios se tocaram de leve, ou ao menos foi o que sentiram, num formigamento poderoso o suficiente para assustá-los.

Os dois se afastaram de repente, seus olhos abertos como reflexo, encarando-se de forma apreensiva.

— O que, o que o senhor está fazendo? – Elisabeta tentou dizer, falhando ao controlar a respiração.

— Eu? A senhorita se aproximou de mim. – ele defendeu-se.

— Eu? – Elisa indignou-se. – O senhor é muito petulante. E abusado.

— A senhorita tem sempre que ser tão irritadiça? – ele perguntou, cruzando os braços, a expressão fechada.

— Deve ser porque o senhor faz questão de me irritar. – Elisabeta virou as costas, deixando-o sozinho no estábulo.

Darcy foi atrás dela, mas no momento em que iria chama-la, avisou a filha caminhando de volta para o estábulo, sorrindo animadamente. Notou Elisabeta parar ao observar o mesmo fato, plantando um sorriso estranho em seu rosto.

Ele pediu para que Lizzie se despedisse de Tornado, e a contragosto a menina obedeceu. Saíram da casa dos Benedito antes do sol se por, e quando Darcy deitou a cabeça no travesseiro naquela noite, sentia os lábios formigando com aquele toque tão breve. Em outro extremo, Elisabeta encarava o céu, incapaz de compreender o que acontecia quando estava perto de Lizzie ou Darcy.


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