Destiny escrita por oicarool


Capítulo 2
Capitulo 2




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Darcy Williamson acordou cedo, como em todos os dias. Gostava de caminhar pelo campo antes de iniciar o dia. E este era um dia muito especial. Já estava no Vale do Café há pouco mais de 10 dias, tempo suficiente para avaliar suas escolhas e decidir estabelecer-se na região.

A vida de Darcy havia sido profundamente modificada nos últimos meses. Desde que a esposa caíra doente, Darcy dedicara sua vida à procurar novos especialistas que pudessem avalia-la. Todos eram categóricos em afirmar que, apesar de desconhecida, a doença de Mary era grave e potencialmente fatal.

Mostraram-se certos há pouco mais de um mês, quando a esposa dera seu último suspiro, deixando-o no mundo com a maior das responsabilidades. Embora seu casamento não fosse por amor, Mary era uma mulher justa, honesta e mostrara-se a melhor mãe que Darcy já conhecera.

Restava agora uma pequena lembrança prestes a completar cinco anos, de cabelos castanhos e vibrantes olhos esverdeados, que agora tentava se adaptar a um país diferente e à ausência da mãe. Darcy não pretendia deixa-la tanto tempo aos cuidados de Charlotte, mas precisava ter certeza que o Vale do Café seria o local certo para a criação da pequena Elizabeth.

E tirando a confusão do primeiro dia, com a desconhecida dos olhos faiscantes, Darcy encontrara no Vale do Café um local calmo, com pessoas trabalhadoras e acolhedoras. Não poderia imaginar lugar melhor do que uma cidade pacata para a readaptação de sua filha.

É claro que chegaria o momento em que pretendia oferecer à filha a oportunidade de conhecer o mundo, e quem sabe ter uma profissão, como tantas mulheres já faziam na Inglaterra e ensaiavam fazer no Brasil. Mas naquele momento tudo o que ele e Lizzie precisavam era de paz e serenidade.

Aguardava ansiosamente a chegada de Charlotte e Lizzie, que deveria acontecer no começo da tarde. E precisava deixar tudo perfeito para receber sua pequena joia. Fizera questão de combinar com Julieta e Camilo todos os detalhes das refeições e acomodações.

A única coisa que preocupava Darcy era o céu, que aos poucos começava a acumular nuvens carregadas. Porém, com sorte não pegariam chuva no caminho e a viagem seria tranquila o suficiente para não deixar Lizzie insegura. Ele retornou rapidamente à casa, era um dia cheio e precisava alimentar-se.

Supreendeu-se ao encontrar a nova amiga de Camilo, Jane Benedito, sentada à mesa ao lado de Julieta, Susana e do próprio amigo. Camilo a conhecera há poucos dias, em um baile, e desde então não desgrudavam-se, a despeito de Julieta não aprova-la em totalidade.

— Bom dia. – disse, entrando na sala de jantar. – Como vai, Jane?

— Muito bem, e o senhor? – perguntou educadamente.

— Estou ótimo. Camilo deve ter comentado que hoje Lizzie chega de São Paulo. – ele sorriu.

— Jane, você vai adorar Lizzie. É um encanto de menina. – Julieta comentou. – Muitíssimo bem educada.  – alfinetou.

— Eu gosto muito de crianças. – Jane respondeu sem abalar-se. – Estou ansiosa para conhece-la.

— Mal posso esperar para vê-la. – Susana comentou, com um sorriso dissimulado.

Darcy sorriu, sentindo-se mais feliz do que estivera nos últimos meses. A doença de Mary havia sido um golpe duro em sua pequena família, mesmo que seu casamento não estivesse em sua melhor fase. Devia muito à ela, e sentia seu coração apertado a cada vez que percebia que Lizzie cresceria sem o exemplo forte e independente da mãe.

Ainda assim, este era um recomeço. Era hora de deixar para trás os momentos sombrios que viveram, e tentar mostrar à filha um novo mundo, repleto de sonhos e esperança. Sabia o quanto seria importante essa mudança de ambiente, e mal podia conter a alegria ao imaginar sua pequena correndo pelos jardins da mansão.

Entre conversas amenas, todos fizeram a primeira refeição do dia. Darcy logo subiu para arrumar os últimos detalhes do quarto de Elizabeth, com quase todas as coisas que trouxera da Inglaterra. Queria que tudo estivesse perfeito, pois precisavam iniciar a nova vida com o pé direito.

O dia passou mais rápido do que Darcy esperava, mas sua preocupação só aumentava, a medida que o tempo fechava e as nuvens pareciam mais carregadas. Passava das três horas quando as gotas começaram a cair pesadamente, deixando Darcy ainda mais aflito.

O carro era moderno e com certeza não haveria problemas, mas a chuva forte o fazia pensar nas estradas alagadas, e Charlotte e Lizzie já estavam um pouco atrás em seu cronograma. Jane e Camilo observavam sua angústia, enquanto Darcy olhava pela janela.

— Acalme-se, Darcy. Logo estarão aqui, sãs e salvas. – Camilo tentou sorrir.

— Não se preocupe, Darcy. – Jane levantou-se, levando a mão a seu ombro. – Os caminhos para o Vale do Café estão acostumados a receber tanta água.

— Eu sei, eu sei. – Darcy tentou sorrir, procurando uma cadeira para sentar-se.

Camilo e Jane tentavam conversar com Darcy e diminuir suas preocupações, sem muito sucesso. Darcy tentou manter-se sentado, mas sobressaltou-se quando ouviu a batida pesada na porta.

Levantou-se rapidamente, aliviado, mas ao abrir a porta sentiu-se confuso.

— A senhorita?

— O senhor?  - disseram os dois, ao mesmo tempo.

— Esta é a minha casa. – ele disse, observando-a ensopada da cabeça aos pés. – O que faz aqui?

— Vim procurar minha irmã. – Elisabeta cruzou os braços, tentando aquecer-se. – Pretendia leva-la para casa antes da chuva.

— Sua irmã? – perguntou, confuso.

— Sim, Jane. – respondeu como se fosse óbvio. – O senhor por acaso vai me convidar para entrar, ou devo ficar na chuva?

— É claro, entre, me desculpe. – ele disse, abrindo espaço para ela entrar. – Vou pedir que tragam uma toalha.

— Minha irmã! – Jane exclamou, vendo Elisabeta entrar na sala. – O que aconteceu?

— Eu vim buscar você. – Elisabeta riu. – Fui pega desprevenida. – ela apontou para seu próprio estado.

— Desprevenida... – Darcy resmungou.

— O senhor tem algum comentário a fazer? – Elisabeta virou-se para ele, irritada.

— Vocês se conhecem? – Camilo os observou, intrigado.

— Este senhor tentou me atropelar. – ela apontou para Darcy, ao mesmo tempo em que um empregado lhe estendia uma toalha.

— Ora, foi um acidente! – disse, exasperado, fazendo Elisa revirar os olhos.

— Desculpe a minha indelicadeza. Como vai, Camilo? – ela cumprimentou.

— Muito bem, e a senhorita? – Camilo sorriu.

— Molhada. – Elisa riu novamente.

Darcy voltou a encarar a janela, lembrando-se de sua preocupação.

— Por acaso, em seu caminho para cá, a senhorita não viu um carro nesta direção? – Camilo perguntou, fazendo Darcy voltar seu olhar para Elisa.

— Ah, sim. – ela disse despreocupada. – Estavam desviando de algumas poças, mas devem chegar a qualquer minuto, não estavam longe. Esperam algum convidado?

Nem bem Elisabeta terminou de dizer essas palavras, e a porta abriu-se. Estando mais perto da porta, seu olhar se chocou com um novo olhar em tons de verde e azul, vibrando em sua direção. Elisa deu um passo para trás, surpresa com a força daquela troca. Mas durou apenas um segundo, antes da pequena menina desviar seu olhar para o homem desconhecido, que já caminhava em direção à porta, com um sorriso que Elisa sequer imaginava que ele pudesse ter.

— Daddy! – a menina gritou, correndo em direção ao homem, que ajoelhou-se para recebe-la em seus braços.

— Que saudade! – ele disse, fechando os olhos e abraçando a filha.

— Daddy, we... – a menina começou, antes de receber um olhar de censura de Darcy. – Desculpe. – ela disse, abrindo um grande sorriso. – Começou a chover, e tia Charlotte ficou com medo!

— É mesmo? – ele sorriu com a empolgação de Lizzie. – Fizeram boa viagem? – direcionou-se à irmã.

Elisabeta observava a troca com curiosidade. Então o homem insuportável morava na casa dos Bittencourt, e era amigo ou parente de Camilo. E pelo que podia observar, a menina era sua filha. Sentiu-se confusa ao vê-lo sorrir tão abertamente, tão diferente do homem que conhecera.

— O melhor que poderíamos, nestas condições. – Charlotte sorriu, largando algumas coisas. – Como vai, Camilo?

Camilo cumprimentou Charlotte, apresentando Jane em seguida. Elisa permaneceu no canto do quarto, alheia as movimentações, observando a conversa animada do homem com sua filha. Pelo menos até que os dois pares de olhos do mesmo tom viraram-se para ela, e Elisabeta novamente sentiu-se invadida, desnorteada.

Mal registrou quando a garotinha correu em sua direção, oferecendo a ela o olhar curioso e um sorriso arrebatador. O pai a seguiu, e quando os dois pararam à sua frente, Elisa sentiu um arrepio percorrer seu corpo. Não conseguia entender porque sentia-se tão hipnotizada.

— Oi. – a pequena aumentou o sorriso. – Você está molhada. 

— É mesmo, veja só.– Elisa logo recuperou-se do choque, ajoelhando-se em frente à menina. – Como é o seu nome? – perguntou, tocando a ponta do nariz da menina.

— O meu nome é Elizabeth. – respondeu ainda sorrindo, alheia ao novo choque que percorreu o corpo da mulher à sua frente.  – E o seu?

— O meu? O meu nome é Elisabeta. – disse, tentando controlar uma voz que tentava falhar.

Os olhos de Elisabeta encontraram os de Darcy, que exibiam uma mistura de perplexidade e confusão, refletindo quase o mesmo que os seus. Era uma grande coincidência que as duas tivessem nomes tão parecidos.

— Elisabeta? Como Elizabeth? – a pequena perguntou, batendo palminhas. – Papai, nós temos o mesmo nome. – disse empolgada. – A chamam de Lizzie também?

— Não. – Elisa ofereceu à Lizzie um sorriso. – Os meus amigos me chamam de Elisa.

— Você quer ser minha amiga? – a garotinha perguntou rapidamente, com olhos arregalados.

— Mas é claro que eu quero. – Elisabeta riu.

— Então eu vou mostrar a você as minhas bonecas. Posso, papai?

Darcy encarou os olhos da filha e os de Elisabeta, direcionados para ele. Eram de tons completamente diferentes, mas olhando-as assim, lado a lado, Darcy não pode deixar de notar alguma semelhança.

— Lizzie, suas bonecas ainda estão em suas malas. – ele sorriu. – E você ainda não cumprimentou o seu padrinho. – ele apontou para Camilo, que cruzou os braços fingindo estar emburrado.

A menina soltou um gritinho, correndo em direção ao padrinho e jogando-se em seus braços. Elisabeta e Darcy a seguiram com o olhar, sorriso espelhados em seus rostos. Quando voltaram seus olhares um para o outro, o sorriso aos poucos se desfez.

— Elisabeta... – Darcy disse, e Elisa sentiu-se estranhamente aquecida.

— Já sabe o meu nome. – ela deu de ombros. – Mas acredito que ainda não sei o seu.

— Darcy. Darcy Williamson. – ele ofereceu um sorriso discreto.

— Williamson... O senhor não é parente dos Bittencourt. – disse mais para si mesma.

— Os Bittencourt são grandes amigos e sócios. – ele apressou-se em explicar.

— Muito bem. – Elisabeta tentou sorrir. – Vejo que Jane está ambientada. – ela observou a irmã junto à Camilo e Lizzie. – Voltarei para casa e volto para busca-la quando a chuva cessar.

— O que? – Darcy disse, espantado. – É claro que não.

— O que disse? – ela voltou o olhar à ele, desafiando-o.

— A senhorita não sairá desta casa neste temporal. – ele cruzou os braços.

— E quem irá me impedir? – ela cochichou, quando queria aumentar o tom de voz.

— A senhorita já sabe. E espero que não me faça fazer uma cena em frente à minha filha. – Darcy repreendeu, fazendo Elisa suavizar.

— Muito bem, vou então à ala dos empregados. – deu de ombros. – Para que lado devo ir?

— Que sandice é essa? – Darcy a encarou, fazendo-a parar. – A senhorita agora é minha convidada. Vou pedir à minha irmã que providencie roupas secas.

— Não é necessário. – ela tentou dizer, mas Darcy já havia chamado a irmã, que vinha em direção a eles.

— Charlotte, esta é Elisabeta, irmã de Jane. – apresentou, notando o espanto também na expressão da irmã. – Sei que está cansada, mas poderia por favor emprestar algum de seus vestidos à ela?

— É um prazer conhece-la. – Elisabeta apressou-se. – Mas não será necessário.

— O prazer é todo meu, e é claro que será necessário. A temperatura está caindo, logo estará congelando. Venha comigo.

E sem poder protestar Elisabeta foi guiada pelas escadas até o aposento de cima, onde uma das empregadas já desfazias as malas de Charlotte.

— E então, a quanto tempo conhece meu irmão? – ela perguntou, sorrindo, enquanto escolhia um de seus vestidos.

— Não sei se poderia dizer que o conheço. – Elisa respondeu, educada. – Tivemos um acidente na estrada há alguns dias. – Charlotte ergueu a sobrancelha ao notar sua expressão fechada.

— Sei que Darcy parece um homem duro. – apressou-se em defender o irmão. – Mas os últimos meses foram difíceis, com a doença e morte da esposa.

Elisabeta sentiu seu coração apertar-se ao pensar na pequena Lizzie, que mesmo diante de tantos problemas mantinha um sorriso no rosto.

— Eu sinto muito. – disse, baixinho.

— Tudo ficará bem. – Charlotte tentou sorrir. – Lizzie e Darcy vão se adaptar a esta realidade. – disse mais para si mesma, dando à Elisabeta a impressão de que já estivera nesta situação.

Charlotte então entregou um de seus vestidos à Elisabeta, deixando-a sozinha para que pudesse se trocar. Elisa desceu minutos depois, com os cabelos ainda molhados, para encontrar Jane, Camilo e Charlotte sentados em um sofá, enquanto o outro era ocupado por Darcy e Lizzie, em seu colo.

— Elisa! – a menina disse alto, levantando-se do colo do pai e indo em sua direção.

Elisabeta sorriu, ainda intrigada com a força do olhar da menina, mas despreparada para o arrepio que percorreu seu corpo ao segurar a mão de Lizzie. A menina puxou Elisabeta para o sofá onde estava com o pai minutos antes.

Ela sentou-se no pequeno espaço disponível, sua perna encostando na de Darcy e causando um pulo em seu estômago. Lizzie sentou-se em seu colo, e ao passar os braços ao redor da menina, Elisabeta sentiu uma onda de choque atingi-la. Seu braço encostou no de Darcy com a mudança de posição, e Elisabeta perguntava-se se algum deles estava sentindo o mesmo que ela.

Não levou muito para que Lizzie adormecesse, com a cabeça no colo do pai e as pernas no colo de Elisabeta. Darcy tentou pedir desculpas algumas vezes, estranhando o comportamento da filha, que não era afeiçoada a estranhos, mas Elisabeta reafirmou que não havia problema.

Quando Darcy segurou a filha nos braços e pediu licença a todos para coloca-la para dormir, Elisabeta sentiu um vazio atingi-la. Não podia explicar nada do que sentira naquela tarde, a afeição instantânea por Lizzie, ou o formigamento em seu corpo nos lugares em que sua pele tocara a de Darcy.

Pai e filha não retornaram mais à presença de todos, e quando Camilo ofereceu-se para levar Elisabeta e Jane para casa no automóvel, as duas nem pensaram antes de aceitar. No caminho para casa, seus pensamentos  estavam naqueles pares de olhos claros e na energia que emanava deles. Mal sabia que, deitado ao lado da filha, Darcy pensava sobre tudo o que vira.

As últimas palavras de Mary ecoando em sua mente, num desconforto crescente. O que tomara como delírio da esposa antes de sua morte agora fazia seu corpo arrepiar-se, e seu ceticismo ficar abalado.

“Lizzie ficará bem. Elisabeta estará lá.” fora o que Mary dissera. Darcy pensava que fora uma mera troca de letras, mas ao ver Elisabeta com Lizzie, um pedaço seu perguntou-se se seria possível...


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