A dor havia diminuído, as palavras pareciam menos distantes, mas sua mente demorou a sair do limbo no qual permaneceu por dias que pareceram durar uma eternidade. Primeiro escutou os ruídos, de máquinas que ela não conseguia ver, depois escutou as vozes, baixas e altas, graves e finas, sutis e delicadas. Quando sentiu um palpitar a acordar sua mente, finalmente teve forças para abrir os olhos e assim conseguiu enfim enxergar a realidade mais uma vez.

— Ugh! – May Parker ouviu alguém grunhir baixinho ao lado dela, um grunhido surpreso, de alguém que jamais imaginava que aquela pessoa deitada ali fosse finalmente abrir os olhos.

— Quem está a-aí? Onde estou...? – May perguntou baixinho, num fio de voz, enquanto sua cabeça se virava com cuidado na direção de onde viera o som.

Quando enfim seus olhos alcançaram uma figura que parecia ser humana, com roupas que eram de um tom que variava entre o roxo e o azul, mas com o corpo coberto por diversas partes metálicas, a mente da mulher ficou em choque. May abriu a boca, porém não conseguiu emitir nenhum som. A figura distinta tinha o semblante concentrado e olhava diretamente para May. Pelo visto, ela estava com cara de poucos amigos.

“É um inimigo? Fui pega pelo inimigo?”, tia May pensou consigo mesma, começando a sentir leves palpitações no peito. Ela não queria ficar sozinha com aquela criatura ali.

— Você está com cara de que vai desmaiar. Outra vez – a criatura disse subitamente. – Vou chamar a Potts. Espere um instante, e só não desmaie de novo, tá?

May engoliu em seco. Aquela criatura estava debochando dela, afinal?

— O-ok – ela respondeu no automático, sem saber o que mais dizer.

— A propósito, não era minha intenção invadir seu quarto. É que aqui é o único lugar silencioso de todo esse enorme prédio cheio de humanos. Só aqui consigo colocar meus pensamentos no lugar – a criatura voltou a se virar na direção de May, antes de abrir a porta branca e sair do quarto. Por um segundo, seu rosto pareceu se suavizar. – Saiba que meu nome é Nebulosa. E estou do seu lado.

***

Checaram as pupilas de tia May, sua pressão arterial, seus reflexos e tantos outros detalhes que a mulher nem estava dando conta mais. May apenas conseguia olhar absorta para tudo ao seu redor, naquela sala que parecia ser do futuro, com equipamentos de última geração que ela jamais havia visto em vida, nem sequer ouvido falar nos melhores hospitais.

A única coisa que fazia barulho dentro daquela sala imaculada era o som da TV, que não demorou a chamar logo a atenção de May. Discretamente, com o canto dos olhos, mesmo ainda sendo examinada, conseguiu focar sua atenção na manchete:

“Estados Unidos sem líder. EUA perdeu seu presidente e seu vice. O caos toma conta das ruas. Número de mortes aumenta nos principais estados. Casa Branca é alvo de bombardeiros. Nova York está...”

Subitamente, desligaram a televisão. Um silêncio longo se estendeu entre todos ali presentes, ao mesmo tempo em que um calafrio sombrio percorreu todo o corpo de tia May. Por quanto tempo ela ficou desacordada? O que aconteceu com seu país? O que tinha acontecido com o mundo, afinal?

— Não vamos nos preocupar com isso agora – a médica disse de repente, virando-se para a mulher com maior autoridade ao seu lado, pedindo licença e saindo rapidamente da sala.

Só restavam agora tia May e a outra pessoa ali presente.

— Onde estou? – a mulher perguntou, encarando uma mulher alta e loira que olhava sorridente para ela. – Você é Pepper Potts, certo? A esposa de Tony Stark.

Por um segundo, Pepper engasgou e tossiu levemente. Seu rosto, no entanto, não deixou de ficar corado e transparecer sutilmente sua felicidade.

— Ainda não nos casamos oficialmente. Eventos externos... extraordinários não permitiram isso ainda.

— Entendo – May endireitou a postura, uma vez que agora haviam colocado sua cama num ângulo quase de 90º, para ela finalmente ficar sentada.

— Você está no complexo dos Vingadores, na ala médica. Nosso drone de reconhecimento facial detectou seu rosto no meio dos destroços de uma colisão a poucos quilômetros daqui e não pensamos duas vezes antes de te trazer até nós. Afinal, não é todo dia que conhecemos a família de Peter Parker, não é mesmo?

—Peter! – May disse subitamente, seu rosto iluminando-se com um sorriso. – Onde ele está? Onde meu sobrinho se encontra?

Pepper, por outro lado, não conseguiu esconder sua cara de arrependimento ao pronunciar cedo demais aquele nome em voz alta. Ela aproximou-se de May, sentou-se numa cadeira ao seu lado e apertou forte a mão da mulher.

— Você ficou dormindo por 3 dias, May... Deixarei que fale com o Tony dentro de algumas horas, tudo bem? Ele te contará sobre Peter.

Pepper tentou esconder, mas tia May detectou a tristeza em sua voz. A mulher cobriu o rosto com as mãos, sentindo a garganta arder e as lágrimas pedirem para sair. Ela, afinal, já havia percebido tudo.

— Pode me dizer apenas como meu Peter morreu? Ele estava sozinho? Fizeram de tudo para salvá-lo?

Pepper abriu a boca, mas sua voz saiu trêmula, e ela desviou o rosto rapidamente. Pôs-se de pé, colocando de repente uma mão em seu ventre e a outra usou para enxugar uma lágrima traiçoeira que pousou por um único segundo em seu rosto.

— Desculpe, são os hormônios – respirou fundo, voltando rapidamente sua atenção para a tia de Peter. Ela, por outro lado, entendeu rapidamente o que se passava com a mulher de Tony Stark. – Essa pergunta não cabe a mim responder, logo que Tony chegar ele te responderá tudo, ok?

— Você está grávida, minha querida? – May não conseguiu deixar a curiosidade de lado, e a pergunta veio sem ela sequer se dar conta.

Pepper pareceu levar um susto, surpresa com a rapidez com que aquela mulher havia percebido tudo. Ela tentou sorrir para May, mas o que se formou em seu rosto não era um sorriso de alegria, afinal.

— Sim... Descobri pouco antes de tudo isso acontecer. Eu iria contar para Tony no jantar, justamente no dia em que aquela nave apareceu aqui e o Tony foi levado embora junto dela para fora do planeta. Sabe, dei o meu melhor de manhã, quando saímos para caminhar, para não estragar a surpresa logo naquele momento. Tony já sentia que alguma coisa estava acontecendo, mas menti para ele ali, pois queria contar tudo no nosso jantar à noite. O jantar que nunca veio, infelizmente...

May apertou forte a mão de Pepper, se solidarizando com a dor dela.

— E você já contou para ele? Tony Stark já sabe disso?

— O que não contaram para mim ainda? – uma voz grave adentrou no recinto subitamente, assustando as duas mulheres. Ali, imponente como sempre fora, estava Tony Stark. Ele tinha uma faixa branca enorme enrolada no peito e machucados roxos cobriam seu corpo. Mesmo estando agora fraco e debilitado, sua presença, no entanto, continuava a se mostrar forte e imponente diante de todos os demais. – Pepper... O que é que eu preciso saber?