May Parker estava parada em pé diante da TV ligada em seu solitário apartamento. Na sua mão direita, um telefone permanecia imóvel, ligado mas sem obter resposta alguma por parte da mulher.

“May? Ainda não sabemos informar o paradeiro de seu sobrinho, Peter Parker. Nossa escola já entrou em contato com a delegacia local e providenciamos...”

Tia May desligou o telefone. Diante daquela manchete ao vivo, nada mais importava agora. Sentou-se no sofá em frente à TV, os joelhos ainda completamente trêmulos. A repórter do jornal tinha agora sua mais devota atenção:

“Tony Stark desaparecido...”

— Tony Stark – ela murmurou entredentes, cerrando os punhos com força.

Se não fosse por aquele bilionário playboy, que arrastou seu menino para dentro daquele mundo de Super-Heróis, talvez Peter estaria agora com ela, protegido dentro daquela casa, sem precisar enfrentar monstros de outro mundo e encarar todo dia a própria morte...

— Ah, Peter... – Tia May disse, cobrindo o rosto com as mãos.

Desde que ela descobrira que seu sobrinho era o Homem-Aranha, desde que descobriu que seu tão gentil e bondoso Peter fora na verdade picado por uma aranha e agora saía tinha poderes especiais, saindo pelas ruas defendendo a cidade e lutando contra vilões, o mundo de May havia se transformado completamente.

“Por favor, seja mais cauteloso. Me diga onde vai, por mais perigoso que seja... Quero estar sempre com você. Não me deixe de lado, Peter.”

Essas foram as palavras de May para o jovem garoto tímido a sua frente. Peter ainda vestia metade do uniforme quando entrou sorrateiro naquela madrugada dentro do quarto e se deparou com sua tia parada ali, e ele ainda não tinha tido coragem para trocar de roupa desde que ela havia o confrontado sobre tudo aquilo e murmurado suas palavras finais.

 “Não me deixe de lado, Peter. Prometa para mim, por favor.”

Tia May repetiu essas palavras, abraçando seu sobrinho com toda a força que havia em si.

Ela sentiu os braços rígidos de Peter em volta dela, trêmulos, porém retribuindo o abraço.

“Eu prometo, Tia May”, o menino por fim disse.

Ele, no entanto, não havia cumprido a sua palavra.

E agora May tinha uma decisão a tomar. Não podia esperar mais – afinal, já haviam se passado quase 2 dias desde o sumiço de Peter. Desligou a TV, pegou seu casaco e saiu porta afora. Tentou ligar diversas vezes para a sede dos heróis, o novo prédio planejado por Tony Stark, mas nenhuma de suas ligações fora atendida. Bom, se não pretendiam atendê-la, tia May iria pessoalmente até lá. Diretamente até a enorme torre no norte de Nova York, onde se encontrava a nova base dos Vingadores.

***

— Vá para este endereço, por favor – May entrou no primeiro táxi que viu e entregou um cartão com o endereço da sede dos heróis para o motorista.

Havia demorado mais que o imaginado para ela chegar finalmente até Nova York. As pessoas estavam com medo, notícias estrondosas inundavam todos os noticiários dia e noite sem parar. Nenhum ser humano ali, no entanto, tinha a mínima ideia do que realmente estava acontecendo com os Vingadores e contra quem eles lutavam, afinal.

— Vá mais rápido, por favor – ela pediu ao motorista, sentindo um nó estranho fechando sua garganta. May tinha os olhos fixos nas ruas em seu caminho, e um pressentimento ruim começava a tomar conta dela. A mulher secou discretamente o suor que escorria por sua testa, ficando ainda mais preocupada.

O primeiro estrondo que ela ouviu veio subitamente do alto, de um enorme helicóptero preto atingindo um arranha-céu. Vidros se estilhaçaram, gritos foram ouvidos por todos os lados, pedaços de destroços caíram rapidamente no chão. Tia May gritou e, mesmo dentro do carro, por reflexo cobriu a cabeça com as mãos.

— S-senhora? – ouviu o taxista chamar de repente.

A mulher levantou os olhos, e a cena que viu diante de si parecia sair de dentro de seu pior pesadelo.

O taxista olhava horrorizado para seus braços que começavam a virar pó, instantes depois suas pernas foram atingidas e todo o seu corpo simplesmente desapareceu no ar, bem diante dos olhos de May Parker, desapareceu ali diante dela como se nunca tivesse existido.

A mulher, no entanto, não sabia que aquele era apenas o começo.

 Diante de si, May viu um carro vindo em sua direção, ao mesmo tempo em que o táxi em que ela estava perdia a direção. A mulher tentou soltar-se do cinto no banco de trás e agarrar o volante, porém seus gestos foram devagar demais. O impacto veio logo em seguida. A mulher sentiu o carro ser atingido com força, sendo jogado até o meio fio e rapidamente capotou, fazendo um barulho tão assustador que May sentiu que morreria ali. Todo o corpo dela foi atingido pelo impacto e a única esperança da mulher era que o cinto atrelado a ela fizesse alguma diferença no final. Subitamente, sua mente, tão em choque diante de todo aquele impacto, começou a se apagar. A única coisa que May conseguia pensar antes de tudo escurecer e o sangue cobrir sua visão foi no rosto bondoso do sobrinho, no brilho único em seus inocentes olhos juvenis ao dizer apenas poucos dias atrás a ela:

“Eu prometo, Tia May...”