Mãe escrita por Inial Lekim, Ariane Munhoz, InsaneBoo


Capítulo 2
Tsume - Ariane Munhoz


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Tive o orgulho de ter sido chamada para essa maravilhosa coletânea de dia das mães, e como a Mama Shiba e mãe dos Inuzuka, fiquei responsável por essa mulherona da porra! Não sei se fiz um bom trabalho aqui, mas me esforcei bastante! Espero que vocês gostem!



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Hana encarou o embrulho nos braços da mãe, sem compreender nada. Seus olhos se estreitaram até virarem finas linhas, evidenciando ainda mais as marcas do clã. O cheiro era desagradável. Algo férreo como sangue, e meio pegajoso também. Mesmo que ele tivesse tomado banho. Mesmo que estivesse limpinho.

Era uma coisa pequena, menor do que Kuromaru quando era um filhote, com os cabelos ralos e uma expressão enrugada como se fosse um joelho!

− Tem certeza, mãe? – perguntou Hana, na ponta dos pés, e ao lado da cama de hospital onde a mãe estava.

− Tenho. – Tsume respondeu, um sorriso brando e cansado nos lábios enquanto acomodava o menininho forte em seus braços. – Algum dia você irá amá-lo tanto que nada mais importará além desse amor.

Inuzuka Kiba soltou um soluço rouco da boquinha pequena e rosada antes de começar a chorar.

− Não sei não. – Hana respondeu, tapando os próprios ouvidos. Achando Kiba tão irritante que só queria desligá-lo.

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Tão, tão irritante.

Foi o que pensou nas primeiras duas semanas de vida do garotinho que só fazia berrar e feder pela casa, com sua fraldas sempre carregadas com muito cocô. Era pior que os filhotes do canil!

E, por falar em filhotes, Hana sabia que ele logo teria seu companheiro ninken. Pois ele já havia sido escolhido, nascido na mesma época que o irmão. Como ela e seu próprio companheiro.

Como todo Inuzuka.

Hana encarou Kiba por um momento enquanto ele estava adormecido no berço. As marcas em suas bochechas não eram desenhadas. Era verídico, pois tentou apaga-las no banho com muita água e sabão.

O menino era Inuzuka.

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Às vezes, Hana queria perguntar para a mãe sobre o pai  de Kiba ou sobre o próprio pai. Mas ela, com seus oito anos de idade, compreendia um pouco das coisas. Ainda que estivesse apenas começando na Academia Ninja, algumas coisas os atingiam muito cedo.

Como saber que o pai, grande amigo de Canino Branco, havia morrido em uma missão.

− Ele se uniu aos nossos ancestrais nas estrelas, Hana. – Sua mãe lhe dissera certa vez. E depois disso, nunca mais tocou no assunto.

Quando Hana lhe perguntou o mesmo sobre o pai de Kiba, viu nos olhos dela um brilho parecido com o que via quando quebrava seus vasos. Mas um pouco mais intenso. E a voz lhe faltou para responder.

Anos depois, quando descobrisse que o covarde a havia abandonado ainda grávida, Hana saberia que era ódio. E que ela só não se arrependia daquela relação porque Kiba era seu bem mais precioso ao lado da irmã.

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− Mamãe diz que papai foi para o céu, unir-se aos nossos ancestrais. – Hana disse certa vez para Kiba. – Na verdade, não sei o que aconteceu ao seu pai, mas acho que vou te contar essa história também. Sei que ele morreu. Um dia você vai entender o que é isso. Mas é quando não podemos mais ver uma pessoa que amamos muito, só nos nossos pensamentos, otouto. Não gosto muito de perguntar sobre isso pra ela, pois sinto que mamãe fica triste. Então vou te preparar para não fazer as mesmas perguntas, tudo bem? A propósito, você nem cheira mais tão mal assim!

Tsume, que estava no corredor com a mamadeira de Kiba, deslizou pela parede, sentindo os olhos encherem de lágrimas. Nunca pensou que sua primogênita cresceria tão rápido.

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A verdade é que, com o tempo, ficar com Kiba não era mais uma obrigação para Hana, mas algo que fazia por prazer. A mãe não pôde passar tempo demais afastada das missões, pois precisavam de dinheiro. Então, Hana se prontificava a ficar com ele na maior parte do tempo e ainda cuidar do canil.

Era difícil, com a sua pouca idade, mas ela dava conta.

Quando Kiba passou a dar seus primeiros passos, as coisas ficaram mais complicadas. Mas também mais divertidas.

− Vem, moleque, vem até aqui! Você consegue! – Tsume, ajoelhada no chão, estendeu os braços para ele. Hana estava toda preocupada ao seu lado.

− E se ele cair?

− Vai se levantar. – Tsume disse, resoluta. Kuromaru era uma sombra ao lado do moleque. – É um Inuzuka.

Kiba, agarrado à mesa, olhou para a mãe. O mesmo olhar confiante que a irmã tinha quando estava na sua posição. Exceto que Tsume não estava sozinha na ocasião. E nem agora. Ele se soltou, dando três pequenos passinhos. Hana ofegou de alegria.

E então, como toda criança, Kiba despencou contra o chão, bem de cara.

− Kiba! – Hana correu para socorrê-lo, vendo a marca vermelha formar um galo na testa. Tsume correu para a cozinha atrás de gelo.

− Ma-mã. – Kiba apontou para Tsume.

Sua primeira palavra.

Tsume jamais admitiria, mas ela derreteu de amor.

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− Como é ter um irmão? – Kakashi perguntou certo dia, enquanto treinavam arremessos de shurikens do lado de fora da propriedade dos Inuzuka. Pois era a maior e mais ampla por conta dos canis.

Já naquela época, Kakashi não era muito falante. Pouco se abria com os amigos. E Hana só podia imaginar o quanto havia sido difícil para o amigo, pois no dia do suicídio de seu pai, Tsume o havia tirado de perto do corpo do homem, sentindo-o berrar e gritar que aquele não era seu pai. Que ele jamais faria algo assim. Que jamais o abandonaria.

Hana era pequena demais na época, mas se lembrava da mãe chegando com Kakashi, alguns anos mais velho que ela, embrulhado em uma toalha em seu colo. Lembrava-se dela o levando para o banheiro e dando banho nele enquanto Kakashi gritava, e gritava,e  gritava. Até que a gritaria silenciou. E, limpo, Tsume o levou para o próprio quarto, onde o observou até que pegasse no sono.

Hana se lembrava pouco do episódio em questão, pois era apenas um bebê, mas naquele dia e em muitos outros, Hatake Kakashi tornou-se um frequentador da casa dos Inuzuka, limitando-se a ficar nos canis, perto dos cães. Onde Tsume ofereceu-lhe distração, ensinando-o a lidar com os cães, como seu pai costumava fazer.

Dizendo que seu finado esposo e Canino Branco eram muito amigos. E de alguma forma, isso bastou para Kakashi. Pois com o tempo, o ódio que sentia pelo pai, transformou-se em um sentimento vazio. Porque talvez ele estivesse começando a compreender o que era ter um time ao lado de Obito e Rin. E o que era uma verdadeira amizade de rivais ao lado de Gai.  

− Acho que é como ter uma parte a mais de si. – Hana lançou outra shuriken, sentindo Kiba puxar-lhe pela calça. – Que foi?

− Na-nã! Ken! – Apontou para a shuriken.

− Você é muito novo pra isso.

Kakashi pareceu pensativo.

− É irritante como o Gai.

− O-OE! EU ESTOU AQUI, RIVAL! – Gai bradou, olhando para Kakashi com indignação.

Tsume os observava de longe, pensando na sorte que tinha. Pois Hana e Kiba sempre teriam a ela mesmo que não tivessem mais o pai. Mas Kakashi estava sozinho no mundo, mesmo que Tsume fizesse o possível para estar ali por ele também.

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Hana começou a compreender o tal amor incondicional quando Kiba parou diante do canil, observando o filhote que fora predestinado a ele. Pois os Inuzuka acreditavam que a união com seu ninken vinha desde o nascimento.

E, ao ver Kiba aproximando-se do filhote de pelagem clara, com aquela certeza tão intuitiva, Hana soube que nada no mundo seria para ela tão importante quanto o irmão mais novo.

E ela garantiria que Akamaru sempre estivesse saudável. Foi naquele dia, dissera para a mãe, que decidiu o que queria ser: ela queria tornar-se veterinária, para que nenhum animal do canil ou de Konoha sofresse. Nem seu irmão.

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Tsume observava os filhos tão unidos com o cenho franzido e uma veia saltando na testa.

− Estão cientes de que se não me disserem quem foi que quebrou o meu jarro de cristal, presente de casamento do Sandaime Hokage, os dois ficarão de castigo, não é?

Kiba, com os olhos lacrimejantes e as mãos para trás, mordeu o lábio inferior. Hana olhou de canto para o irmão, e depois para a mãe. Sabendo que ele não iria ceder. Mas que não aguentaria outro tapão na orelha como o último que Tsume havia dado quando havia aprontado e fora pego no flagra.

A verdade é que ele e o garoto estranho dos insetos, filho único dos Aburame, estavam brincando no jardim. E, acidentalmente, a bola atingiu o vaso preferido da mãe, que se estilhaçou no chão. Hana ouviu no mesmo instante, correndo para onde o irmão estava. Mandando Shino para casa para que ele não tivesse problemas também. E foi quando Tsume chegou, vendo toda aquela bagunça.

Pegos no flagra.

− E então?

Silêncio. Hana estava prestes a assumir a culpa, mas Kiba fez que não com a cabeça.

− Os dois pra cima, sem janta hoje! E sem sobremesa pelo restante da semana! – bradou, achando que assim cederiam.

Mas os dois apenas deram as mãos, caminhando na direção do quarto.

Tsume nunca admitiria, mas estava orgulhosa dos dois por não se delatarem. Mesmo que isso significasse que ambos pagariam por isso.

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E isso praticamente se tornou rotina na casa dos Inuzuka. Pois nenhum dos dois era capaz de entregar o outro. Embora Hana tomasse a dianteira e protegesse o caçula das surras na maioria das vezes. Mesmo que isso significasse falar mais alto que a mãe.

Tsume entendia o espírito protetor dela. Mas precisava dar o corretivo da maneira correta ou eles jamais aprenderiam.

− Sabe que não estará por perto para protegê-lo para sempre, não é? Kiba tem que aprender com os próprios erros. – disse-lhe certa vez.

− Vou proteger ele enquanto eu puder. – Hana respondeu, não em tom de desafio. Apoiando o rosto sobre o colo da mãe.

Tsume apenas suspirou, enquanto encaravam as estrelas, acariciando os fios castanhos da primogênita. Notando o quanto ela havia crescido e amadurecido desde o nascimento de Kiba.

Hana era igualzinha ao pai. Felizmente, Kiba não havia puxado ao dele.

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Com a prova chuunin perto, Tsume pegou uma folga das missões para que Hana pudesse treinar com mais afinco. Pois Kiba não tinha idade o bastante para ficar sozinho ainda, embora muitas vezes passasse o dia com o garoto dos insetos quando não estava na academia ou ao lado da garota tímida dos Hyuuga.

Ao que tudo indicava, segundo o instinto lhe dizia, eles seriam um time.

− Está nervosa? – Tsume perguntou a Hana, enquanto arrumava a mochila da filha.

− Não tanto quanto no dia em que Kiba nasceu. – disse ela.

− Por quê? – Tsume arqueou as sobrancelhas, curiosa.

− Porque achei que fosse perdê-los. Os dois.

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Pois o parto de Tsume havia sido difícil. As tentativas de parir naturalmente foram vãs. E o médico de plantão detectou que o cordão umbilical estava ao redor do pescoço do pequeno Inuzuka que ainda não havia vindo ao mundo.

Foi preciso um verdadeiro batalhão para segurar Tsume e pelo menos mais dois médicos para aplicar-lhe uma anestesia que permitiu que uma cesariana fosse realizada.

Não era o que ela queria, mas foi necessário. E naqueles minutos que pareceram eternos, onde Hana observou tudo escondida, achou que fosse perder a mãe.

E o irmão que ainda nunca havia visto.

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− Eu não poderia deixá-la sozinha, minha menina. – Tsume limitou-se a dizer, tocando a cicatriz da cesária. Lembrava-se bem daquele dia, lembrava-se do desespero de quase perder seu filhotinho. Pois daria a vida por ele se necessário fosse. – Você e Kiba sempre terão a mim.

− Eu sei. – Hana respondeu. – Por isso, por muito tempo, quis ser médica. Estudei tudo o que encontrei publicado por Tsunade-sama, pois não queria que nenhuma outra mulher passasse pelo que você passou. Quase perdendo a vida e a de meu irmão. Mas mudei de ideia quanto a isso, pois percebi que a assistência aos nossos cães é parca. E muitas outras pessoas serão inspiradas por Tsunade-sama. Não quero ser apenas uma inspirada, okaa-sama. Quero inspirar os outros também. Como você me inspirou.

Tsume ficava impressionada com o número de vezes que seus filhos eram capazes de deixar-lhe sem palavras.

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Como, por exemplo, no dia das mães. Quando Kiba fez um vaso de argila, totalmente desproporcional e mal feito, e escreveu um bilhete com mais erros ortográficos do que acertos, pedindo desculpas e dizendo o quanto lhe amava.

O vaso, que servia para espantar até assombração, ficou no lugar do antigo jarro de cristal.

E nenhuma visita ousava a contestar sua beleza quando Tsume dizia, com tanto orgulho, que aquela era a obra de arte do seu filho caçula.

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E vê-los crescer era o maior orgulho que Tsume poderia possuir. Pois ela era uma mulher forte, que havia criado seus dois filhos sozinha, passado por dificuldades, abdicado de algumas missões e aceito tantas outras para que nunca lhes faltasse nada.

Mas os dois compreendiam isso. Eram unidos, complacentes e sempre faziam tudo juntos.

Ela chegou, Hana! — Kiba sussurrou, talvez alto demais. Tsume olhou ao redor, depositando na mesinha ao lado enquanto os olhos se adaptavam à escuridão.

Shh! Ela vai te ouvir!— Hana o repreendeu. Tsume apenas sorriu de canto, as presas evidenciadas.

− Kiba? Hana? – chamou pelos dois, fingindo não tê-los ouvido por trás da mesa em meio ao breu. – Vou acender a luz.

− SURPRESA! FELIZ DIA DAS MÃES, OKAA-CHAN! – Kiba e Hana gritaram ao mesmo tempo, saindo de trás da mesa. Tsume notou massa de bolo grudada no rosto do caçula, e apenas um breve olhar periférico para a cozinha lhe denunciou que uma guerra havia acontecido ali.

− Temos bolo de moranlate, ‘kaa-chan! – Kiba correu até ela, entregando-lhe um pequeno embrulho. Contando agora seus cinco aninhos de idade.

− É mesmo? – Tsume agachou-se para pegar o embrulho bem feito. Certamente coisa de Hana, que aproximou-se em seguida.

O bolo em cima da mesa era bonito e bem confeitado. Os morangos acima dele – fruta favorita de Kiba – pareciam apetitosos.

Devagar, Tsume desfez o embrulho, encontrando dentro dele um quadro com Kiba ainda recém-nascido, um pequeno embrulho, em uma moldura feita com pequenas presas que se desprendiam para fora.

− São as primeiras presas minhas e do Akamaru, ‘kaa-chan! – Kiba abriu um sorriso banguela para a mãe.

Talvez muitas pessoas não entendessem a singeleza daquele ato que encheu os olhos de Tsume de lágrimas. Pois seu filhotinho estava crescendo!

− Amamos você, mamãe. – Hana murmurou. – Meu presente é esse.

Ela entregou um certificado, atestando-a como a mais nova chunnin de Konoha.

Sem palavras, Tsume os abraçou brevemente, um abraço apertado de quebrar as costelas, digno de um Inuzuka.

− Vai me sufocar, ‘kaa-chan! – Kiba tentou gritar, abafado pelo aperto de mamãe ursa de Tsume.

− Vamos comer! – disse ela, espanando as lágrimas com uma das mãos, com Kiba em seu colo.

Hana apenas sorriu brevemente, imaginando mais mil momentos como esse, que se repetiriam enquanto Tsume estivesse ali. Porque ela era tudo para eles: mãe, pai, a figura presente que os havia ensinado a nunca desistir e a sempre seguir em frente.

Pois seu pai podia ser uma estrela que a guiava do céu, mas Tsume era o seu farol. E ela jamais se apagaria, e jamais deixaria que se chocasse contra as pedras enquanto pudesse evitar.  


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Notas finais do capítulo

Então, é isto. A fic acabou um pouquinho centrada na Hana e sobre sua visão a respeito da mãe e de Kiba, mas acho que trouxe um pouco da fofura dessa família que eu imagino demais! Espero que vocês tenham gostado! Tenho certeza que muitas coisas maravilhosas ainda vêm por aí nessa coletânea que começou detonando com o capítulo da Boo! Obrigada, arrombadinhas, por me permitirem fazer parte disso!

Links.:
Inkspired - https://getinkspired.com/pt/u/ariane-munhoz/

Nyah - https://fanfiction.com.br/u/491589/



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