Exílio escrita por Catarina Pereira


Capítulo 5
Capítulo 5 - Emergência


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde pessoal. Faz 84 anos, faz. Mas aconteceram mudanças por aqui e eu precisar tirar um booom tempo para me adaptar por aqui. Não pensem que eu esqueci da história, ela está aqui, firme e forte. Enfim, aproveitem mais um capítulo.



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O despertador. Dulce não conseguira dormir todo o tempo necessário para se sentir descansada, mas tampouco se sentia sonolenta depois de ouvir o som insistente que começava o dia. A reunião da noite anterior renovou as expectativas em relação ao Exílio e à possível fuga do grupo. As coisas pareciam mais coloridas nesse dia, apesar de recordar que ainda deveriam passar por algumas provas e alguns momentos ruins antes de finalmente poder sair desse lugar. Hoje provavelmente receberiam a punição pelos delitos cometidos por ela e Christopher, mas não estava tão preocupada dessa vez. Passariam por isso juntos.

Chegou à cozinha acompanhada de Christian, quem tentava convencê-la de fazer as tarefas do dia em seu lugar, já que os dois teriam folga pela tarde. Ela ria dos argumentos do amigo enquanto se sentava ao lado de Poncho e se servia de algumas torradas que vieram da caixa desse dia. Pode-se ouvir porta da sala abrindo e o rotineiro “Bom dia!” de Andrés encheu o lugar.

— Pessoal, tenho algumas notícias pra vocês. - Andrés chamou atenção de todos para si antes de prosseguir. - Em primeiro lugar, vocês sabem que o Controle estava avaliando qual punição aplicar na casa devido aos recentes acontecimentos. Espero que vocês tenham conversado sobre isso e se resolvido, porque o que eu tenho que dizer a vocês é muito sério.

“O Controle esteve todo esse tempo reunido porque nada assim tinha acontecido antes, e uma das primeiras regras que foi passada a vocês foi quebrada. Tiveram que chegar num consenso e digo a vocês que eles ainda não estão felizes com a decisão, então é possível que eles mudem de ideia e atualizem a punição no meio do caminho”.

Andrés respirou fundo.

— Olhem, eu sei que é difícil estar longe da família, mas vocês precisam entender que estão lidando com gente poderosa. Se eles colocaram regras, não vão permitir que sejam quebradas assim; eles têm convicção de que vocês precisam aprender por bem ou por mal. E é por isso que ficou decidido que a partir de hoje vocês ficam por tempo indeterminado proibidos de sair da casa.

Os moradores da casa 14 tentaram protestar, mas com um gesto de Andrés se calaram.

— As únicas pessoas que têm permissão, e apenas em horários pré-estabelecidos, são Maite e Artur, devido aos atendimentos médicos. Fora isso, todos em casa. O Controle quer ficar de olho em vocês vinte e quatro por dia, para que os erros não se repitam. Além disso, a segurança aí fora está reforçada, tem mais fiscais na sua rua e aí na porta.

— Então ficaremos isentos das atividades de atuação? - Perguntou Poncho.

— Sim. Não tem que gravar mais nada e as crianças não irão à escola. Em relação à comida, espero que vocês tenham aproveitado essa caixa. A próxima só virá no café da manhã daqui dois dias.

— E isso que não sabemos qual foi o delito, imagina se soubéssemos… - Comentou Anahí, cabisbaixa.

— Gente, o caso é sério. Fiquem espertos para remediar tudo isso que aconteceu e não piorar mais a situação.

Christopher riu.

— Como piorar mais? Pior que está, não fica!

— Fica, meu amigo. - Respondeu Andrés. - Eles estavam considerando colocar câmeras nos quartos também. Então tratem de se comportar direitinho, porque o Controle não brinca quando o assunto é vigilância. Bom, como hoje vocês não têm nenhuma tarefa fora deixar a casa em ordem e não se meterem em mais encrenca, me despeço. Boa sorte, pessoal.

Andrés se foi, dando lugar a um silêncio incômodo que fez com que Dulce se levantasse e fosse devagar a seu quarto. Pelas janelas da casa podia ver sombras dos fiscais perambulando em volta da casa, mantendo o isolamento. Fechou a porta do quarto e respirou fundo. Esses dias seriam complicados, já que, além de não poder se distrair com os roteiros dos programas estranhos do Controle, ainda teria que passar todo o dia debaixo do mesmo teto que Christopher. Isso sim seria tortura. E seguramente era esse o plano: mantê-los próximos e vulneráveis a qualquer erro.

Ouviu uma batida na porta e viu uma Anahí cautelosa entrando no quarto.

— Dul, posso falar com você? - Esperou o assentimento da amiga para então sentar-se e começar - Andrés fala e fala nesse delito, mas conversei com quase todo mundo e ninguém sabe me dizer o que houve. Você por acaso sabe?

Dulce respirou fundo. Sabia que a hora das explicações chegaria, mas esperava que não fosse tão rápido. Talvez Anahí já estivesse desconfiada de alguma coisa e além disso não adiantava esconder nada dela, sempre descobria as coisas.

— Bem, como sempre, sou eu a responsável pelas punições…

— Não, Dulce, não vim acusar você! Só queria saber se você sabe o que aconteceu.

— Eu sei que você não está me acusando. Eu estou afirmando que fui eu novamente quem cometeu o delito.

Anahí olhou-a com atenção, tentando entender o que de tão grave teria acontecido. Então compreendeu.

— Eu bem que desconfiei do Ucker estar te ajudando de noite…

— Não foi assim, Any. Deixa eu te explicar… - Dulce desviou o olhar para um ponto fixo longe dos olhos da amiga antes de relatar todo o ocorrido. - Começou na noite das caixinhas. Vocês todos foram dormir e eu e Chris ficamos conversando mais um tempinho. Eu não sei como, mas nos beijamos. Na sala.

— Ai, como foi? - Perguntou Anahí, animada.

— Deixa de ser tonta. - Dulce respondeu, rindo. - Foi ótimo num primeiro momento, então lembrei que havia câmeras do Controle olhando tudo e me deu medo. Mas o pior foi depois.

— Não vai me dizer que vocês…

— Não me julga, mulher, deixa eu terminar de falar! Eu fui ajudar com as caixas de material, levar até o quarto do Chris, ele olhou pra mim e eu não sei que tipo de magia tem nos olhos dele e a coisas foram acontecendo. Quando eu me vi, já estava na cama com ele.

Dulce apoiou o rosto nas mãos, enquanto a amiga ficou em silêncio por um tempo. Sentiu o coração disparado, e logo Anahí segurou as mãos dela e fez com que ela a olhasse.

— Dulce María, como você ousa ficar tão mal por amar uma pessoa? Você acha que ninguém na casa sabia que vocês dois ficariam juntos cedo ou tarde? E não, eu não vou te julgar, é muito difícil ficar no mesmo lugar que a pessoa que a gente ama e não poder demonstrar isso. Foi bastante corajoso da parte de vocês e vocês não tem que ter vergonha. - Dulce deu um sorriso fraco e baixou os olhos, Anahí prosseguiu -  A questão é só que agora temos um problema nas mãos e vamos ter que lidar com isso. Não dá pra vocês ficarem juntos agora, agora. Podemos enquanto isso focar em como continuar nosso plano de fuga mesmo com todos esses ditadores olhando para a nossa cara. - E terminou, rindo - E aí sim, vocês dois podem viver o amor de vocês.

— É, acho que você tem razão. Enfim, obrigada por me ouvir, eu tinha isso guardado há um tempo já. Pensei que quando vocês soubessem iam se afastar.

— Como sempre, jamais vamos nos afastar de você, Candy. Estamos juntos.

— Juntos.

***

A tarde foi bastante inusual para todos. Cada um determinou para si uma tarefa para manter a casa em ordem, sem deixar de incluir as crianças no processo, ou então elas mais bagunçariam do que ajudariam. Em nove pessoas, as coisas se colocaram em ordem mais rápido, dando aos moradores da Casa 14 muito tempo para reunirem-se devagar e continuar o plano de fuga.

— Gente, quem me ajuda com meu guarda-roupa? Já que temos tempo, vamos arrumar tudo o que podemos… - propôs Maite, piscando para os amigos como sinal.

— Eu ajudo - Manifestou-se Dulce.

O grupo havia acordado nas noites anteriores que juntar um grande grupo ao mesmo tempo em áreas privadas seria igual a brincar com a desconfiança do Controle. Pequenas ações em duplas seriam a forma perfeita para se colocar a par dos planos e, as conclusões de cada etapa, depois de conversado com todos, seriam colocadas no quarto de Anahí, na mesma folha que ela já havia começado a escrever.

No quarto de Maite, colocaram Artur e seu inseparável dinossauro deitados na cama e fecharam a porta, na tentativa de abafar a conversa secreta.

— Dul, a Any me contou de você e o Ucker. Antes de você tentar se justificar, quero que você saiba que está tudo bem. E sabe o que mais? Acho que o Controle é muito burro, foram querer nos castigar e nos deixaram juntos com a oportunidade de conversar mais.

— É, nisso você tem razão. A punição acabou vindo em boa hora, pelo menos se considerarmos que precisamos ter tempo juntos para definir tudo com detalhes.

— E a gente tinha falado em começar o plano de trás para a frente… - começou a elaborar Maite. - E já temos definido que vamos ficar na casa da Any. Eu acho que a gente precisa pensar agora em todo o entorno da casa dela para continuar a traçar os caminhos.

— A casa da Any fica num bairro mais afastado dentro de um condomínio, o que é bom por um lado, porque não ficamos muito visíveis, mas por outro é um lugar vigiado. - Ponderou Dulce. - Precisamos pensar nos pontos fracos da vigilância para entrarmos sem sermos pegos por ninguém.

— Bom, o condomínio fica delimitado de até uma certa parte por um muro. - Dulce assentiu, ao que Maite continuou - E tem uma parte que fica praticamente dentro de uma mata.

— A casa da Any fica bem encostada na mata, não?

Maite concordou.

— Talvez então essa seja a forma de chegar até lá de forma mais protegida. - Dulce concluiu, alcançando uma folha e giz de cera de Artur - Essa mata dá para que lado da cidade?

— Sul. O outro lado da mata tem uma rodovia. Talvez a Any saiba falar melhor disso, assim podemos completar o mapa pelo menos até aí e traçar a melhor rota.

— Ainda teremos um problema. Estamos há tanto tempo aqui exilados que não sabemos como é a fiscalização do lado de lá da fronteira. Como saber se teremos fiscais espalhados por aí e qual o ponto mais vulnerável?

***

A tarde se arrastou em pequenas reuniões furtivas em que pouco a pouco o plano de fuga ia aumentando e ganhando proporções factíveis, contando com a visão de seis pessoas, sendo criado e remendado como uma colcha de retalhos nos mínimos detalhes. O pequeno painel improvisado por Anahí já tinha um pouco mais de informações coloridas e bem organizadas.

Dulce reservou um tempo na rotina improvisada para estar sozinha com seus pensamentos e colocar em ordem cada nova informação que tratava da mudança que sofreram e da que em breve sofreriam. A falta de horários pré-estabelecidos deveria ser combatida com um novo cronograma para a casa, além disso, todos estavam com tarefas individuais no momento, ou pelo menos era o que pensava ela, até que ouviu leves batidas na porta.

— Posso falar com você, Dul? Ou está ocupada?

A voz de Christopher era leve e descontraída e ela amava esse tom. Ela queria falar, sim, com ele. Mas, ao mesmo tempo, não queria, porque sabia que essa conversa tomaria outros rumos. Dulce respirou fundo e tentou responder que não, mas ele já estava sentado a seu lado.

— Estou fazendo uma nova convocação da Casa 14 para eventos legais de fim de tarde. Você vai, certo? - Ele perguntou sorrindo e alcançado uma das mão de Dulce, deixando-a um pouco sem fôlego. - No mesmo esquema da outra vez, precisamos que todos estejam confortáveis e se sentindo bem consigo mesmos. Então, roupas que você goste, se quiser se maquiar também pode. Vai ser bom pra gente. Precisamos estar unidos agora.

Dulce não chegou a dizer se iria ou não, mas acreditou que não tinha escolha, mesmo que optasse por não responder. Não chegou nem ao menos a tirar os olhos de Christopher enquanto ele a convidava. Ela amava o jeito como ele inclinava de leve a boca quando estava animado. Ele levantou ainda segurando a mão dela e beijou-lhe a testa, dizendo que a via mais tarde. Dulce não conseguiu reagir a nada até que ele saiu, deixando-a sozinha com seus sentimentos novamente.

Ela demorou para conseguir raciocinar que era exatamente essa reação que o Controle queria dela e eles estavam conseguindo quase fazer com que ela perdesse a noção de seus atos. Decidiu que isso não poderia acontecer, ou nenhum plano que fizessem para fugir seria suficiente para sair de uma casa abarrotada de câmeras. Por fim, o Controle não teria controle de nada se ela decidisse assim.

Arrumou-se segundo se sentia. Um vestido básico florido, bem bonito, dos poucos que ela havia levado de casa e que lembravam vários momentos que ela amava recordar. Passou, como da outra vez, uma maquiagem básica, deitou na cama e esperou. Os amigos provavelmente estavam colocando as crianças na cama, ou deviam estar se arrumando também. E Christopher devia estar preparando toda a dinâmica. De onde saíam essas ideias?

Levantou-se e foi para a sala, ansiosa pelo Evento. Não era de se estranhar que estava tudo organizado como da outra vez: a mesa de centro rodeada por seis almofadas, os sofás afastados, abrindo espaço para que pudessem se movimentar livremente, mas dessa vez não havia nenhum material. Ela se sentou em uma das almofadas, intrigada, aguardando que todos chegassem.

Christopher, como da vez passada, foi o último a chegar.

— Boa noite, gente! Todos preparados?

Todos assentiram, curiosos com as atividades que aconteceriam na noite.

— Eu pensei que hoje pudéssemos fazer uma coisa mais pessoal que da outra vez. As coisas não estão fáceis por aqui e talvez a gente precise se lembrar de quem nós somos antes de dar continuidade às coisas. - Christopher olhou um a um e então prosseguiu. - Vamos nos separar em duplas, primeiro, como vocês preferirem.

Eles se juntaram segundo o lugar que estavam sentados: Anahí e Christian, Maite e Christopher e Dulce e Poncho.

— Bom, nós nos conhecemos há séculos, alguns de nós crescemos juntos. Mas com certeza tem algumas coisas de nós que ainda não conhecemos e que até gostaríamos de compartilhar, mas nunca tivemos o momento certo para isso. Hoje, então, é o dia. Vocês vão contar algo de vocês para a sua dupla e depois a dupla vai apresentar pra todos nós o que foi conversado.

Nos primeiros minutos, pouco foi falado, constituindo-se num momento de reflexão. Pouco a pouco, as duplas começaram a conversar timidamente, expondo sentimentos que estavam guardados havia muito tempo. Christopher chamou atenção de todos, dando início às explanações depois de notar que todos haviam já conversado com suas duplas.

— Podemos começar, acho, não? - Esperou que todos voltassem a atenção para eles, contando - Maite estava comentando que sempre se sentiu um pouco diferente. Mesmo dentro de sua família, era a única menina, era a única que foi para o campo das artes, era a única que não podia estar nos almoços de domingo e a única que viajava todo tempo. Quando veio para cá, sentiu que era a única que novamente ficaria longe, mas que ela não tinha notado que seria também a única com duas famílias.

— Eu sou feliz por ter vocês, de verdade. Eu sinto falta de estar em casa, mas estar com vocês é incrível. E Christopher me contou que ele acha estranho que a gente diga que ele é o fio condutor desse grupo, que por estar há tanto tempo nessa carreira, ele desenvolveu ansiedade e transtornos que ele mesmo não sabe como aprendeu a controlar, mas que algumas fragilidades dele ainda permanecem e não são tão simpáticas quando ele está sozinho.

— Amigo, você não precisa lidar com elas sozinho. - Completou Anahí. - Ninguém precisa passar por nada sozinho. Acho que já ficou claro da última vez. E bom, já que eu comecei mesmo, o Chris disse que muitas vezes ele não quer fazer piada com as coisas sérias que acontecem. Nem ao menos quer sorrir. Mas ele acaba fazendo, porque fazer diferente dói mais e torna mais pesada a existência. E você, senhorzinho, não precisa rir sempre. Lidar com as coisas tristes também faz parte da vida. A gente pode rir por você quando você não estiver afim.

Christian sorriu e agarrou Anahí para beijar seu rosto, arrancando risos de todos.

— Gente, eu estava aqui conversando com a Dulce. - Poncho esperou a atenção de todos antes de prosseguir. - Ela fez uma reflexão de como as coisas parecem acontecer só para frustrar nossos planos, mas que no final fica claro que a intenção é outra. As coisas acontecem nas nossas vidas da forma que a gente precisa, colocando as provações que precisamos ultrapassar para aprender a ser melhores. E que temos que aprender a viver com o que temos, agradecer o hoje para construir o amanhã mais fortalecidos. E que a gente sempre vê ela tão pessimista e ansiosa, mas que na realidade ela precisa passar por momentos tensos para chegar a conclusões melhores.

— Poncho esqueceu de dizer que não vamos levar nada dessa vida mesmo, então vamos tratar de viver bem. E ele me disse que ele tenta ser forte por todos, principalmente pelas crianças, mas que está infeliz, porque tudo o que ele lutou contra a vida toda está acontecendo agora.

— A gente te entende… - Disse Maite, suavemente.

— Gente, todos temos visões muito diferentes das coisas e da nossa situação aqui, mas a gente consegue se unir para que as visões se complementem. Precisamos que essas duplas sigam se complementando para que a gente fique bem.

A música que abre o noticiário interrompeu Christopher, dando por encerrado o Evento da noite.

— Guardem isso com vocês, certo?

***

O sino não deixou que dormissem até tarde, mesmo que já não tivessem responsabilidades fora da casa. Diferente dos dias anteriores, todos se levantaram, porém permaneceram de pijamas, reunindo-se devagar para revisar o que já havia sido conversado sobre o plano de fuga.

Anahí e Dulce olhavam a folha que era atualizada todos os dias com cada vez mais detalhes, enquanto Christopher e Poncho revisavam os papéis da caixinha verde, garimpando qualquer ideia que servisse para o momento atual do plano, já que algumas coisas novas haviam sido atualizadas logo após o Noticiário na noite anterior, baseadas em algumas fala do Evento. Maite e Christian estavam ainda tentando dar banho num Artur sonolento e mal humorado, quando ouviram a porta da frente e o usual “Bom dia” de Andrés. As coisas aconteceram muito rápido e, não tendo tempo de chegarem à cozinha, Andrés avançou na casa, entrando no primeiro quarto que encontrou.

— Olá meninos. - Anunciou-se Andrés, sério, a Poncho e Christopher, não tirando os olhos dos papéis espalhados pelo quarto. - Eu preciso que todos estejam na cozinha agora.

Sem demora, os dois deixaram tudo como estava e fecharam a porta atrás de si, alarmados pela presença do fiscal. Logo depois, foi a vez de Anahí e Dulce estarem assustadas, uma vez que Andrés olhou o quarto todo antes de chamá-las para a cozinha. Estava claro que ele tinha visto o papel com o plano. Estava tudo acabado.

Minutos depois, Andrés estava postado em frente a todos os moradores da Casa 14, com ar inquieto. Agarrou o tablet conferido a ele pelo Controle e bloqueou toda a transmissão de sons da casa, no intuito de conversar mais particulamente com eles.

— Pessoal, eu sei o que eu vi nos quartos. Eu sei o que vocês estão fazendo e quero dizer que é uma ideia louca, porque se eles ficam sabendo, vocês estão mortos.

— Você vai dedurar tudo, não é? - Perguntou Maite, cautelosa.

— Gente, meu trabalho e minha vida também estão em jogo, mas eu fiz algo que não podia fazer pra conversar com vocês: eu bloqueei o som de toda a casa. Podemos conversar sem que ouçam, mas temos que ser rápidos. - Todos assentiram em silêncio, e Andrés continuou. - É bem arriscado, mas, apesar de eu ser um fiscal, muita coisa que acontece por aqui eu também não concordo. E eu realmente discordo da maneira como vocês vivem e de como o Controle quer transformar a história de vocês em algo que é conveniente para eles. Quero saber o que vocês já tem para poder contribuir com alguma coisa.

Todos se olharam cautelosos. Um membro do Controle, responsável por anotar cada erro e cada falha da casa, oferecendo ajuda? Isso era estranho. Poncho, por sua vez, não quis perder a oportunidade de ajuda e explicou a parte do plano que já tinham definida. Ainda faltava o como sair e passar pelas ruas sem serem vistos e como entrar no México sem serem notados.

— Certo… O que vocês precisam é de uma boa desculpa para estarem na rua. Primeira coisa: vocês não podem conversar na rua, é regra e seria estranho se fizessem. Segunda coisa: se vocês saírem todos juntos num bloco só de pessoas, isso vai chamar atenção, até porque vocês não estão autorizados a sair de casa. Terceira coisa: em hipótese alguma vocês podem ser vistos saindo, e tem fiscais por todo o lado. Eu consigo ajudar vocês com as câmeras, mas não consigo tirar os fiscais da porta. Última coisa: nas matas não há fiscalização. Aproveitem essa brecha. Precisamos voltar a comunicação.

Andrés voltou a mexer no tablet, fingindo continuar qualquer fala normal de manhã.

— E como vocês já sabem, hoje tampouco terão caixas de comida. A próxima, como eu já havia dito a vocês, só virá amanhã de manhã. Não temos atividades para vocês hoje, então vejam aí como usar o tempo de vocês a seu favor. E não percam os horários mais, amanhã não poderemos ter essa conversa sobre regras matinais de novo, ouviram?

Todos assentiram novamente em silêncio.

— Ótimo...

A fala de Andrés foi interrompida por um som diferente. Não era o sino que os acordava pela manhã, era um som mais urgente e mais alto. Andrés respirou fundo e anunciou ser o telefone de emergências da casa, o qual nunca havia sido acionado, retirando-se para atendê-lo.

— Eu pensei que era um telefone caso a gente tivesse alguma emergência… - comentou Anahí, observando a curiosidade e o medo nos olhares dos amigos.

— Parece que é exatamente o contrário - completou Poncho.

Andrés retornou à cozinha mais pálido e tremendo um pouco. Respirou fundo e anunciou:

— Meninos, acabam de me informar que eu não sou mais o fiscal de vocês. A partir de amanhã, uma nova pessoa vem acompanhar vocês pela manhã. Por favor, sejam pontuais.

Os membros da casa se olharam alarmados. Sem Andrés para comandar as câmeras e com uma nova pessoa do Controle dentro da casa, a emergência de sumir de Exílio era cada vez maior. Era preciso antecipar o plano. Era preciso sair o quanto antes. Nessa madrugada, se possível.


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Notas finais do capítulo

As coisas estão cada vez mais difíceis no Exílio e o cerco está se fechando em torno dos moradores da Casa 14. E agora?

Até mais, beijos!
Cat



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