Doce Missão escrita por Ladie


Capítulo 3
Criança




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Capítulo III: Criança

Jibrile entrou no salão acompanhado por três homens de sua guarda pessoal. Ele possuía cabelos castanhos que batiam na altura do ombro, e olhos verdes que poderiam ser cruéis se ele o quisesse. O homem era o quarto filho de um vassalo de Inu Taisho, aquele tipo de filho que vivia para aprender a arte da guerra. Sesshoumaru mesmo lutara com ele no torneio de Minoutch do ano anterior e por pouco não perdera. Mas, ao contrário do que se esperava de um homem tão bom em batalhas, ele não era orgulhoso, nem vaidoso, muito menos arrogante. Ele fugia a qualquer estereótipo do homem lutador, aliás era um dos homens mais gentis que Sesshoumaru conhecera.

- É um prazer revê-lo, Sesshoumaru. – Jibrile cumprimentou, sorrindo um tanto quanto animado. Sesshoumaru respondeu com um aceno breve.

- Creio que está ciente do por que de estar aqui.

- Eu não teria coragem de chamá-lo de casamenteiro. – Brincou Jibrile, e Sesshoumaru estreitou os olhos em aviso – Mas sim, eu sei por que estou aqui. Aliás, estou ansioso para conhecer a tal senhora Yakamoto.

- Então não nos atrasemos. – Sesshoumaru chamou com um aceno uma criada que passava por perto – Onde está sua senhora?

- Está participando da aula do Monge Partim na paróquia. – Sesshoumaru não chegou a estranhar tal fato, com o conhecimento que aquela menina tinha era fácil vê-la ajudando nas aulas dos filhos de seus vassalos – mesmo que fosse algo totalmente inadequado.

- Iremos para a paróquia então, Jibrile. – o rapaz não hesitou e seguiu Sesshoumaru. Eles andaram pelo caminho de pedra que levava ao portão de ferro principal da muralha do castelo, e, depois de atravessar a ponte que ficava acima do fosso, pegaram um caminho que levava à comunidade dos vilões de Riabelle, o feudo de Rin.

- É o armazém para produção de cerveja? – perguntou Jibrile, vendo alguns servos que retiraram barris de madeira do armazém e empilharam na porta.

- Sim, é uma ótima receita a da cerveja daqui. – Sesshoumaru informou, e acenou de volta quando os servos lhe fizeram uma reverência.

- E a guarda?

Sesshoumaru pensou por um tempo sobre qual resposta dar, ao final, decidiu que ele não representava perigo ao feudo.

- Não é uma guarda acostumada a combates, eles treinam, claro, mas nunca participaram de uma luta real. Mas, pelo o que ouvi, o líder deles, Tousen, é um guerreiro brilhante.

- Pelo menos eles cofiam no líder.

- Sim, e confiam ainda mais na menina Rin, o que é de se espantar, sendo ela mulher.

Aquelas palavras surtiram o efeito desejado, Jibrile estava desejando conhecê-la, pronto para admirá-la. Afinal, que guerreiro não estaria interessado em conhecer uma mulher que tinha o respeito de uma guarda?

Eles finalmente chegaram à paróquia, e ouviram a balburdia das crianças enquanto o monge pedia que elas fizessem silêncio. Pobre monge, devia odiar a bula que obrigara haver escolas nas paróquias das vilas e burgos.

Sesshoumaru se perguntou se sua presença não deixaria o monge ainda mais nervoso, mas esqueceu o pensamento quando se recordou de que Rin estava ali, e, se havia alguém com quem se preocupar, era ela.

Um minuto depois, Sesshoumaru provava a veracidade de tal preocupação. Ele realmente... Realmente, não acreditava no que via. Ele esperara encontrar ela no altar, com o monge, ajudando-o a dar a aula, mas foi o contrário, ela estava sentada junto com as crianças pré-adolescentes – e foi até um pouco difícil identificá-la entre elas. Até aí ele não se preocupara, ela deveria estar ajudando uma das crianças. Foi quando ela se levantou que ele notou que havia algo de muito errado.

Ela usava um vestido florido e colorido – mas tão colorido que o deixou confuso. Isso por si só já era um aviso, pois ele sempre a vira vestida em cores sóbrias, e, se fosse uma cor um pouco mais chamativa, nunca com estampas. O vestido, ao contrário do que ditava a moda da época, tinha a gola rente à base do pescoço, e a cintura era muito mais alta do que os vestidos costumeiros dela.

Mas foi quando ele viu aquele sorriso inocente e aqueles olhos lindos que ele entendeu: ela parecia uma boneca. Mais que isso, uma criança vestida de boneca. E era linda.

O que estava acontecendo?

- Lorde Sesshoumaru. – Ela disse, sorrindo tão docemente que até a irritação dele ruiu um pouco, mas só um pouco. Ela se virou para Jibrile. – Bom dia, Sir.

Sesshoumaru apertou o cabo da espada para não quebrar aquele pescoço alvo.

- Bom dia, senhorita. Meu nome é Jibrile. – ele respondeu, incapaz de resistir ao encanto dela. Jibrile virou-se para Sesshoumaru, estava ansioso para que ele lhe apresentasse a tão magnífica Rin Yakamoto.

Mas antes que ele pudesse, Rin se adiantou, segurando a manga de renda do colete azul-claro que ele usava.

- O senhor é Jibrile Pasleiour. – O sorriso alegre dela fez ele ficar confuso e maravilhado ao mesmo tempo – Estava esperando sua chegada, sou Rin Yakamoto. É um prazer conhecê-lo.

Sesshoumaru estava bestificado. Ele não havia falado o nome do convidado para ela. Foi quando ele entendeu: ela havia investigado o destinatário de sua carta, sabia que Jibrile era honrado demais e que nunca se casaria com uma criança por interesse.

As mãos de Sesshoumaru se apertaram em punho. Ele não conseguia acreditar. Ele fora vencido por uma mísera garota de dezoito anos. Ele, logo ele! Como? Nenhum homem o vencera antes, nenhum. Nunca fora subjugado, nem em inteligência nem em força. E aquela simples garota o vencera como se ele fosse um tolo qualquer.

Ele errara ao subestimá-la.

E a mataria quando a encontrasse sozinha.

 

 


O almoço no castelo era sempre muito animado, as mesas desmontáveis eram colocadas onde as pessoas quisessem sentar e sempre havia muita carne e cerveja para todos se fartarem.

Mas naquele dia todos estavam acanhados, não entendiam muito bem o que estava acontecendo, mas também não tinham coragem de indagar. E todos os olhares se dirigiam para a mesa principal, onde Rin conversava animdamente.

- Então o senhor é um cavaleiro. – ela sorriu maravilhada – O senhor está no exército real?

Jibrile acenou afirmativamente.

- Aliás, meu superior é o irmão de Sesshoumaru, o General Inuyasha. – Jibrile sorriu. Era verdade que ele se sentira enganado no começo daquela manhã, até olhara acusadoramente para Sesshoumaru. Ele não conseguia acreditar que ele estava forçando uma garota de tão pouca idade a se casar – mesmo que isso acontecesse muito naqueles tempos.

Mas, com o passar do tempo, ele se encantou por ela. A garota educada, refinada e inocente. Que parecia não conhecer nada do mundo e se maravilhava com cada palavra que ele dizia... Como uma irmã mais nova.

- Eu não sabia que seu irmão era um General, Lorde Sesshoumaru. – Ela comentou, a boca rosada ficando entreaberta no final da frase, em um inocente e belo ultraje.

- Tenho certeza que não. – Ele respondeu, irônico. E recebeu um olhar desaprovador de Jibrile.

A bela boca se fechou, triste. E ela encarou Sesshoumaru, mostrando uma preocupação tão genuína que ele teve ganas de sufocá-la.

- Afinal, senhor Jibrile, quantos anos o senhor tem? – ela perguntou, voltando-se para o moreno.

- Vinte e nove, minha cara. – ele respondeu.

- Tão velho. Eu ainda tenho apenas quatorze, e penso que já vivi tanto, será que vou pensar a mesma coisa aos dezoito? – Sesshoumaru sabia que a frase fora proferida para troçar dele, e a encarou, dizendo todas as ameaças que tinha em mente pelo olhar.

Mas uma vez ela o olhou com sua falsa preocupação.

- Eu fiz algo errado, Lorde Sesshoumaru? – Ela perguntou, brincando nervosamente com o copo – Se sim, por favor, me fale. O senhor me pediu para me comportar na frente do senhor Jibrile, e eu estou me comportando. Não estou, Senhor Jibrile?

- Claro que sim. – ele sorriu confiantemente para ela.

- Creio que não preciso responder, minha criança. Você é inteligente o suficiente para saber o óbvio.

Ela negou com a cabeça, soltando o copo e apoiando-se na mesa com as mãos.

- Mesmo assim eu sinto muito. O senhor... não vai me bater vai? – a expressão assustada fez Sesshoumaru se sentir culpado e enfurecido consigo mesmo. E logo depois, ao lembrar-se da verdade, sentiu-se ainda mais possesso com ela. Aquela garota estava realmente passando dos limites.

Infelizmente, os sentimentos de Jibrile haviam parado na parte da culpa e da fúria. Pois por pouco não desembainhou a espada para desafiar Sesshoumaru.

- Diga-me... – Jibrile começou, o olhar queimando de ódio – que você não bate nela.

- Não devo satisfações a você. – Sesshoumaru respondeu, louco para que Jibrile começasse uma briga. Assim, ao menos, ele poderia descontar sua raiva.

– Eu não acredito! Por Deus, Sesshoumaru, eu o conheço a anos, e colocaria minha mão no fogo pela sua honra. Aliás, você está fazendo exatamente o contrário daquela vez que impediu um dos servos de vender a filha de treze anos para um burguês. Mesmo assim... O que você está fazendo aqui? Está batendo em uma garota inocente e pura. Você não merece o nome que carrega.

- Ouse dizer isso mais uma vez e juro que separo sua cabeça de seu corpo. Não se atreva a dizer que não mereço o nome de minha família. Você é o único tolo que está sendo manipulado aqui. Essa menina não tem quatorze anos, ela tem dezoito. Achei que você notaria isso com o tempo.

- Eu tenho quatorze. – Rin disse, ultrajada.

Jibrile se levantou. E Rin notou que eles lutariam até a morte se não os impedisse. E, se havia algo que ela não queria ver, era uma morte. Não tão logo depois do falecimento de seu pai. Ela não suportaria saber que causara a briga – e talvez a morte – de dois amigos.

- Por favor, Senhor Jibrile. Você entendeu mal. É que eu ouvi um dos criados dizendo que havia batido na filha para lhe ensinar o que era correto. E fiquei com medo de que Lorde Sesshoumaru fizesse o mesmo. Ele não me bateu, juro. – As palavras dela e o olhar doce fizeram Jibrile se sentar novamente. Mas ainda não parecia completamente tranqüilo.

Rin lançou um sorriso confiante para Jibril e olhou para Sesshoumaru.

- Perdoe-me, Lorde Sesshoumaru. Eu não entendi uma das palavras que você disse. O que é manipular?

 

 


Ela vencera. Era difícil para Sesshoumaru dizer isso, mas era a verdade. A garota o vencera. Jibrile estava indo embora naquela tarde. Aliás, ficara somente uma semana, e para ter a companhia daquela menina que conquistara seu coração com sua doçura.

Sesshoumaru conversara naquela manhã com Jibrile e ele tentou mostrar para o rapaz a verdade por trás do disfarce dela. Era de se esperar que ele não acreditasse, e ele não acreditou. Pelo menos não estava mais irritado com Sesshoumaru, não que ele se importasse.

Depois de se despedir dele, Sesshoumaru seguiu para paróquia onde a criança doce e prendada aprendia um pouco de artes. Ele se limitou a observá-la de longe.

Rin por sua vez satisfazia-se com sua vitória. Ainda bem. Era verdade que gostara de Jibrile, mas ela tinha um desafio para vencer, e não perderia por nada.

O monge olhou nervoso para ela. É claro que Partim estava estranhando aquilo tudo, ele deveria estar achando que Rin estava tentando testá-lo. Oh, pobre homem mundano.

Ela voltou para o pergaminho que tinha em mãos e continuou a escrever o poema que vinha em sua mente:

C'étoit ce belle chose de plenté d'écoliers:

Ils manoient ensemble par loges, par soliers,

Enfants de riches hommes et enfants de toiliers

- Como era bonito todos aqueles escolares; Juntos em suas classes e salas; Filhos de Ricos com filhos de pobres – Recitou Sesshoumaru, ao ouvido de Rin, traduzindo o poema que ela escrevia. Ela se teve um sobressalto e cruzou os braços, como que para impedir que ele visse o arrepio que subia pelo seu braço – Eu não sabia que garotas de quatorze anos que mal sabem ler podiam escrever um poema de Gilles Le Muisit em sua língua original.

Ela sorriu desafiadoramente para ele.

- Guerra, minha cara. – ele respondeu, e se afastou.


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Notas finais do capítulo

A Rin começa a mostrar suas garras. Oo, acredite, ela ficará ainda mais assustadora.



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