Doce Missão escrita por Ladie


Capítulo 2
Candidatos?




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Rin apostaria um tostão como sua face estava vermelha, e, para disfarçar, olhou para os livros de contabilidade, implorando para que eles tomassem sua atenção e a fizessem se esquecer da gafe que acabara de cometer.

Oh, aquele arrogante Taisho deveria estar rindo-se dela.

Ele se aproximou da mesa e olhou para os cálculos que ela tão concentradamente tentava fazer.

Sesshoumaru estava realmente perplexo, não era normal para as mulheres saberem matemática.

É bom saber que Braun ensinou esse tipo de coisa para ela. Vai me poupar muitos problemas. Sesshoumaru pensou, estudando com cuidado as feições dela. Ela era bonita, isso até ele admitia. Os cabelos castanhos e lisos deveriam ter vários palmos de comprimento, seus traços eram elegantes, quase perfeitos, e os olhos, apesar de serem de um castanho tão comum, possuíam um inteligente brilho invulgar. Ela não era exatamente baixa, era seu corpo magro, apesar de com curvas no lugar certo, que lhe davam a aparência infantil.

Sendo ela bonita meu trabalho ficará ainda mais fácil. Afinal, aparência poderia não ser a principal característica de uma esposa, mas influenciava bastante na decisão dos homens.

Ele esperou que ela o olhasse novamente, mas isso não ocorreu. Quase irritado, ele apontou para um dos números que ela havia feito.

- Tente subtrair esse número desse... Será mais fácil. – Ela o estudou por alguns momentos e depois voltou aos números, notando que ele estava correto.

- Obrigada. – Ela respondeu, seca.

Ele se afastou da mesa e seguiu para uma das estantes de livros, olhando os títulos sem interesse aparente.

- Eu sinto muito por seu pai. – Ele comentou, o que fez o momento ficar constrangedor em demasia.

- Tenho certeza que sim. – Rin respondeu, sentindo a garganta fechar-se. Depois olhou rapidamente para Sesshoumaru, pois temia que suas palavras tivessem soado irônicas. Ele não parecia se importar.

- Eu queria ter trazido o corpo dele para cá. – Ele continuou, dessa vez estudando a reação dela – Infelizmente eu duvido muito que o corpo agüentasse a viagem de cinco dias até aqui.

Dessa vez Rin ficou pálida. Como ele poderia se referir ao pai dela como "corpo"?

- Minha família está preocupada com a senhorita. – Ele disse, sentando-se em uma das poltronas. Ela não respondeu.

Sesshoumaru estava na beira da irritação, e isso era algo realmente raro. Como aquela menina se atrevia a ignorá-lo?

Ele esperou alguns minutos para continuar:

- A senhorita não tem irmãos nem parentes próximos para herdarem o feudo. Sua mãe morreu há alguns anos. O que significa que terá grandes problemas, já que terá que herdar o feudo sozinha.

Dessa vez os olhos dela se ergueram para ele, e estava furiosa.

- Por acaso ousa dizer que não tenho capacidade para herdar o feudo?

Ele apoiou o queixo na mão, e esperou alguns segundos para retrucar:

- Não vejo a mínima necessidade de insultar alguém que não conheço. – Sesshoumaru achou quase... engraçado o modo como ela enrubesceu – O fato é que logo os vizinhos irão tentar transpor suas fronteiras. Tentarão forçá-la a entregar suas terras por meio da força, afinal, o dono do feudo é uma jovem garota inexperiente. Antes que você dê conta, esse feudo irá ruir.

Ela respirava rápido, atormentada pela visão que ele lhe dava.

- É por isso que estou me nomeando seu tutor.

- O quê?

- Meu pai era o amigo mais íntimo de Braun, o que o torna seu protetor. E, se eu for seu tutor, poderá evitar o problema com os vizinhos de fronteiras e caçadores de fortunas.

Ela deu um sorriso irônico.

- Você não pode fazer isso.

Ele estava tão sério que o sorriso dela sumiu aos poucos.

- Você pode escolher: ou me aceita como seu tutor, ou o próprio Rei terá que fazer isso por mim. E deve saber o que isso significa.

Sim, ela sabia. Já ouvira falar de que o Rei forçava as jovens herdeiras de feudos a se casarem com seus "amigos", e nenhum deles era digno de menção.

- Mas então surge outro problema: eu não poderei ser seu tutor para sempre. Em algum momento eu terei que me distanciar desse feudo para cuidar dos meus próprios interesses.

Ela entendeu imediatamente o que ele estava querendo dizer, e sentiu seu rosto ruborizar novamente, dessa vez de ira.

- Eu não me casarei! – Exclamou, o rosto desfigurado pela cólera.

- Infelizmente irá.

Ela segurou as bordas da escrivaninha com força.

- Não se atreva a chegar ao meu feudo e me dizer essas barbaridades. Eu o expulso daqui sem ligar para que tipo de relacionamento você tinha com meu pai. – Ela arfou.

- Foi seu próprio pai quem me pediu para lhe arranjar um bom marido.

Ela se calou por alguns instantes.

- Meu pai nunca faria isso. – ela falou devagar, procurando algum sinal de mentira no rosto dele - Ele nunca me forçaria a me casar contra a minha vontade. – Ela sentiu que ele estava falando a verdade, e quase começou a chorar de frustração.

- Ele não estava em condições de pensar em seus sentimentos. – Ele se levantou – Eu sinto muito. Estarei convidando alguns rapazes para visitar o feudo. Se algum deles gostar de você, você terá que se casar.

Rin bateu os punhos na mesa.

- Então eu o desafio, Lorde Taisho. Quero ver um desses homens querer se casar comigo. – e saiu do gabinete com passadas largas. Era melhor se retirar do campo de batalha antes de perder as estribeiras.

 

 

 


Rin pediu para que o homem fechasse a porta depois de entrar, era Tousen, o chefe da guarda do castelo.

- Tousen, preciso de um favor seu.

- Qualquer coisa, minha senhora. – Ele respondeu, inclinando-se respeitosamente.

- O senhor Sesshoumaru deverá mandar cartas por mensageiros nos próximos dias. Eu queria que você investigasse todos os destinatários das cartas, principalmente a personalidade deles.

O chefe da guarda estranhou o pedido, mas acenou afirmativamente. Ele a conhecia o suficiente para aceitar suas ordens sem hesitar.

 

 


Sesshoumaru estava se acostumando pouco a pouco com a rotina e estrutura daquele feudo.

O Castelo em si era uma fortaleza, a construção já era meio antiga, mas não perdia o esplendor por causa dos cuidados que Braun sempre dera. De fato, era menor que o de Minoutch – que era um dos maiores feudos do país – mas era aconchegante. E Sesshoumaru se atrevia a dizer que mais caloroso, pois a corte dali – os vassalos, amigos, cavaleiros, criados domésticos e artesãos especializados – possuía um respeito deliciado pela atual senhora do feudo.

Já fazia algumas poucas semanas que ele estava ali, esperando o primeiro "candidato" a marido de Rin. Essa evitava Sesshoumaru constantemente, parecia quase odiar sua presença, e ele demonstrava não se importar, passando seu tempo livre com os livros de arte, biologia e medicina que usara para estudar na universidade Oxford – era quase uma tradição que os Taisho estudassem por algum tempo naquela Studium Generale, infelizmente somente Miroku levava a cabo tal estudo.

- Lorde Taisho, - uma criada falou da porta do quarto que fora destinado a ele – seu banho está pronto.

Ele fechou o livro e se levantou, seguindo na direção da porta. A criada enrubesceu um pouco e sorriu para ele, quase em um flerte. Ele ergueu uma sobrancelha e fechou a porta. Que ótimo, mais uma criada interesseira.

Ele entrou em uma das salas de banho do castelo, seguindo para a grande banheira de bronze que estava cheia de água morna. A criada entrava atrás dele para lhe indicar onde estavam as toalhas e as roupas limpas.

Sesshoumaru começou a se despir sem se importar com a moça. Aquela era a melhor forma de tirá-las de seu caminho, pois, geralmente, ficavam tão envergonhadas que fariam de tudo para passar o mais longe dele que pudessem.

Logo ela balbuciou algumas palavras e saiu da sala, deixando-o em paz.

Ao sair da sala de banho, Sesshoumaru usava uma simples túnica negra por cima do chemise bege e da calça de algodão branco, no quadril estava a sua espada, Tenseiga, presa por um cinto de couro. Sesshoumaru era do tipo que se vestia simplesmente, odiava a tal moda à lansquenets, com aquele monte de cores ridículas e rasgos. Odiava ainda mais os chapéus com plumas, que davam um ar tão ordinariamente pomposo aos homens.

Por sorte, toda a família dele prezava mais o conforto e utilidade que a beleza – podia chamar aquele caleidoscópio grotesco de beleza?

Seus pensamentos foram desviados quando ouviu a voz irritada de Rin vindo do gabinete principal.

- Você pode me explicar isso? – Ela perguntava, e sua voz era firme, quase amedrontadora.

- Eu... Realmente não entendo... Senhora... Eu... – Sesshoumaru reconheceu a voz, era o Mordomo do castelo, Campile.

- Como você não sabe? É você o responsável pela coleta de impostos. COMO VOCÊ NÃO SABE?

- Eu realmente... realmente não entendo o que está acontecendo.

- Então descubra. Vá. – O mordomo saiu imediatamente do gabinete, deixando a porta aberta.

Sesshoumaru parou no vão da porta, vendo-a abrir e fechar os livros de contabilidade incessantemente, como se procurasse algo.

- Algum problema? – Ele perguntou, fazendo ela se sobressaltar ao som de sua voz.

- Nada que lhe interesse, Lorde Taisho. – Ela respirou fundo, estava realmente irritada.

- Eu sou seu tutor, acho que me interessa, sim.

O olhar dela foi ameaçador, mas ela respondeu a contra gosto:

- Meu pai, há alguns anos, retirou alguns impostos dos servos, como a mão-morta¹ e banalidade². Mas eu acabei de descobrir que eles continuaram a ser cobrados mesmo depois de papai tê-los abolido. E eles não estão em nenhum livro de contabilidade.

- Isso significa que seu criado responsável por arrecadar o imposto está lhe roubando.

- Eu não poderia acusar um homem sem provas. – Ela replicou, quase ultrajada.

- Mais algum problema? – ele perguntou, e viu que ela ficou vermelha quase que imediatamente.

- Bom... Nenhum. – O olhar dele continuou fixo em seu rosto, até que ela respondeu – Um... criado veio me perguntar... Se eu ia mudar alguma coisa na questão dos casamentos.

- Como?

- É que... Bem, você deve saber que em alguns feudos as mulheres têm que provar... serem... puras para o senhor feudal antes de se casarem.

Ele teve que se esforçar para não rir da vergonha dela.

- Sim, sei que existem alguns senhores feudais que as obrigam a dormir com eles. Mas seu pai, igual ao meu, nunca impôs isso.

Ela engoliu em seco.

- Eu sei. Foi isso que o criado me perguntou... Se eu ia implantar isso... aqui.

Sesshoumaru não se agüentou, dessa vez começou a rir abertamente. Rin o encarou, surpresa. Nas quase três semanas que ele estava ali, ela não o vira sorrir nem uma única vez, agora se via surpreendida por sua risada. E se surpreendeu com o fato de que aquele ato a agradava.

- Perdão. – Ele disse, parando de rir – Eu só achei uma visão cômica, já que não há senhor feudal aqui.

Ela estreitou os olhos.

- Exatamente. – respondeu. Então ele estava rindo dela. Isso a fez esquecer completamente a vergonha e o senso de educação – Por isso disse para o criado que seria meu corajoso e forte Tutor que faria as vezes de Senhor Feudal de agora em diante... Espero que o senhor não se importe, Lorde Taisho.

Ele a encarou, perplexo. A boca aberta em surpresa. Ele não conseguia acreditar no que estava ouvindo.

- Você não se atreveu. – Ele ameaçou. E ela explodiu em uma gargalhada.

- Queria ter me atrevido. – Ela respondeu. E Sesshoumaru se surpreendeu ao notar que achava bonito o modo como os olhos dela brilhavam quando ria.

Ele ficou sério.

- Se quiser posso ajudá-la com os livros de contabilidade. – Ele disse, tentando fugir da situação que criara. O olhar dela se tornou duro novamente.

- Não, Lorde Sesshoumaru. Não se atreva a tocar em meus preciosos livros. – Ele, talvez para irritá-la, pegou um dos livros de contabilidade. E ela não se fez de rogada, tentou tomá-lo imediatamente, esticando-se por cima da mesa, apoiando-se nos livros que ainda estavam ali.

Ela escorregou e derrubou vários livros, incluindo um de capa negra que intrigou Sesshoumaru.

- A República. – Ele leu o título em voz alta – Eu pensei que a igreja tivesse proibido a leitura de Platão.

Ela pegou o livro das mãos dele com raiva.

- Não toque nos meus livros. – ela rosnou. Ele deu de ombros.

- Não é o tipo de livro que uma mulher deveria ler. – Ele alfinetou. E, ao contrário do que ele esperava, ela sorriu.

- Não acredito. Mas estou satisfeita que o senhor tenha admitido que sou uma mulher.

Ele a encarou por alguns segundos, virou de costas e seguiu para a porta. Quando passava para o corredor ele comentou:

- Se você precisa que eu admita que você é uma mulher para se considerar uma, então significa que você ainda é uma criança.

- QUEM É CRIANÇA? – Ela gritou. Jogando o livro de Platão pela porta, que se estatelou na parede do corredor.

Ele voltou, pegou o livro e acenou para ela.

- Vou ficar com isso por enquanto. – E se foi.


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Notas finais do capítulo

Apesar do começo dramático, essa fic é uma tentativa de comedia. O próximo capítulo está bastante interessante. Até Breve.



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