Doce Missão escrita por Ladie


Capítulo 1
O Pedido




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Inglaterra, Século XVI

 


Aquela era o tipo de viagem que acabaria com qualquer ser humano. O andar dos cavalos punha a prova os ossos dos homens, as precárias condições para acampamento impediam quase que por completo o sono. No entanto, parecia que Sesshoumaru não era afetado por tais circunstancias, pois, mesmo depois de três dias, sua expressão e sua postura continuavam da mesma forma que estavam no começo da viagem.

Tal característica impassível servia, ao menos, para divertir Braun, um senhor feudal de cinqüenta anos bastante íntimo dos Taisho - uma das mais poderosas e influentes famílias do país. E era por tal amizade que Sesshoumaru, o filho primogênito e herdeiro de Inu Taisho, estava acompanhando o velho homem até o feudo dele.

- ... Então não vai procurar uma esposa? – Braun perguntou, já sabendo que o que receberia como resposta seria no máximo um seco "não".

Sesshoumaru olhou de esguelha para Braun, e não respondeu. O que fez o senhor abrir um sorriso divertido. Sim, ele se divertia. E por que não? Vinte e sete anos antes Braun salvara Sesshoumaru, quando ele ainda era um recém nascido – a caravana da mãe de Sesshoumaru fora atacada por ladrões, e ele, o bebê que ficara escondido sob o corpo da mãe, fora o único que Braun encontrara vivo – e agora o velho senhor se divertia em ver o homem que Sesshoumaru se tornara.

Braun não pudera acompanhar o crescimento dele, mesmo querendo tanto, pois anos depois tivera sua própria cria para ensinar: uma filha linda e inteligente que naquele momento o esperava em seu feudo.

- Já está na hora de arranjar uma mulher. – Braun insistiu, fazendo alguns guardas olharem com receio para Sesshoumaru, que tinha uma grande fama entre os guerreiros da Inglaterra – Sabe, apaixonar-se e construir um lindo ninho de amor.

- Mande-os colocar as armaduras, Braun. – Sesshoumaru replicou com sua voz forte e intimidadora.

- Armadura? Por que? Você é o único aqui que tem medo do amor, meu caro. Você é um bom homem, arranje uma boa mulher. – Ao final da frase eles ouviram o barulho de fios serem retesados e soltados com chiados: estavam atirando flechas de dentro do bosque que atravessavam. Estavam sendo acatados.

Braun olhou espantado para Sesshoumaru. Claramente já ouvira falar de seus talentos, mas pressentir um ataque era algo realmente formidável. Infelizmente, não teve tempo para felicitar o jovem rapaz, pois, de entre as árvores, saíram homens com os rostos cobertos por lenços empoeirados bradando espadas de folha larga.

Braun tentou pegar o escudo que estava preso na sela do cavalo, mas o animal foi atingido e guinchou, enquanto caía. Conseguiu pular antes de o cavalo cair sobre sua perna. Infelizmente fora o escudo que tivera tal fim.

Sesshoumaru já havia pulado do corcel que montava e estava ao lado do amigo, a espada Tenseiga em mãos.

- Não venha me proteger, Sesshoumaru. Ou eu chutarei essa sua bunda quando tudo acabar. – Sesshoumaru não se mexeu em um milímetro sequer, mas Braun sabia que ele havia ouvido.

Os atacantes pareceram hesitar quando viram Sesshoumaru, pois os cabelos prateados eram, claramente, descendência dos Taisho, e, se a fama estivesse correta, todos os Taisho eram guerreiros invejáveis.

Sesshoumaru, por sua vez, tentava entender toda a situação. Se aqueles homens fossem realmente ladrões tentariam capturar primeiro, antes de matar, afinal eles precisavam saber onde estavam as coisas de valor. Mas não era o que acontecia, os homens de Braun iam caindo um por um, enquanto os atacantes avançavam na direção de Sesshoumaru e Braun.

Quando eles finalmente os alcançaram, não hesitaram nem por um segundo, a maioria foi tentar combater Sesshoumaru. O que o fez pensar que era ele mesmo o alvo do ataque.

Foi quando Sesshoumaru sentiu aquele angustiante arrepio que notou seu erro. Olhou com o canto dos olhos e viu uma cena que fez seu sangue ferver pela primeira vez na vida: Braun havia sido atingido no estômago por uma espada.

Sesshoumaru desvencilhou-se do homem com quem lutava e decepou com um único golpe o atacante que conseguira atingir Braun. O velho homem havia vencido sete deles antes de perecer.

O movimento em volta deles mostrou a Sesshoumaru a verdade: o alvo era Braun. Eles estavam ali para matá-lo, pois, tão logo o fizeram, voltaram para a floresta com rapidez.

Sesshoumaru segurou os ombros de Braun, pensando se haveria salvação para o homem, e, se havia, como ele faria para efetivá-la. Mas era tarde demais.

- Sess... shoumaru. – Braun balbuciava, os olhos girando, sem se focar em nada – Um bom homem... Sesshoumaru... Para minha... filha. Prometa. Para minha filha.

Sesshoumaru não entendia ao certo o que ele falava, mas acenou afirmativamente.

- Sim, meu amigo. Prometo que arranjarei um bom marido para sua filha. – E com isso, Sesshoumaru nada mais pôde fazer, a não ser sentir a grande frustração e dor dentro do peito de ver o amigo morrendo em seus braços, enquanto falava incoerentemente sobre seu amor pela filha que o esperava.

Não demorou para acabar. Depois de alguns minutos, Braun estava inerte, a túnica branca completamente ensangüentada.

Agora só havia Sesshoumaru, e vários corpos sem vida.

Mas tal cena não perturbava o rapaz. O que realmente Sesshoumaru pensava era que não conseguira salvar aquele que um dia o salvara.

 

 

Rin estranhou receber uma carta do Lorde Sesshoumaru. Não o conhecia, mas ouvira o suficiente dele para saber que ele não era o tipo de homem que mandava cartas, ainda mais para pessoas desconhecidas.

Leu a carta rapidamente, curiosa. E, quando terminou de lê-la, sentiu suas pernas enfraquecerem.

-Não. – Arfou. E começou a rir histericamente, quase fazendo uma careta – Isso é impossível! Meu... pai... morto? – Foi quando finalmente entendeu a mensagem com clareza. Lágrimas escorreram brandas por sua face estupefata.

- Lady Rin – Uma criada chamou, preocupada. – O que foi, lady?

O coração de Rin batia enlouquecido, estava repentinamente nauseada. Caiu no chão, uma mão cobrindo sua boca aberta em horror.

Não! Impossível! IMPOSSÍVEL! Gritava em pensamento.

- Papai... – Gemeu ela. A carta escrita em letra curvada e bem-feita caindo de suas mãos como se lhe causasse nojo. – NÃO! – Gritou, como se tal ato pudesse minimizar a mão gelada que apertava seu coração. Sua garganta estava impedida por um "bolo" quase impossível de se engolir.

Desesperada, a pobre menina irrompeu no choro mais triste que aquele castelo já presenciara.

 

 

Sesshoumaru estava imóvel, encostado ao peitoril da janela da biblioteca do castelo de Minoutch, o feudo de Inu Taisho.

Inu Taisho, por sua vez, estava sentado em uma das poltronas forradas em pele de lobo, em suas mãos girava uma libélula empalhada que ganhara havia muito tempo de Braun, o estimado amigo que agora estava enterrado no mausoléu daquele feudo.

Izayoi, a madrasta de Sesshoumaru, olhava copiosamente do marido para o o rapaz, preocupada. Sesshoumaru havia passado por uma situação terrível, mas continuava com sua expressão fria, como se não se importasse com o ocorrido, mas Izayoi o conhecia bem o suficiente para saber que estava sofrendo.

Afastados, em uma das mesas de madeira nobre que havia ali, Inuyasha, o filho mais novo e Miroku, o filho adotivo, discutiam baixinho sobre que decisão tomar. Fora para ouvir a conversa dos dois que Sesshoumaru se aproximara da janela.

- Sesshoumaru... – Chamou Inuyasha. Em dias normais, Inuyasha estaria, sem êxito, tentando irritar Sesshoumaru, ou até mesmo discutindo com Miroku por causa de suas libertinagens com as criadas, mas não naquele dia, não quando ele mesmo estava sendo consumido pela tristeza.

Sesshoumaru se aproximou da mesa

- Você poderia dizer em média quantos dos atacantes fugiram? – Miroku perguntou. Esse, que sempre tinha um sorriso sensual nos lábios, mexia nervosamente em um livro qualquer que estava em cima da mesa.

- Uns dezoito. – Sesshoumaru respondeu, tirando o livro das mãos de Miroku.

- Então fica fácil. – Inuyasha disse, enquanto tirava o livro das mãos de Sesshoumaru e devolvia a Miroku, que abriu e fechou a capa várias vezes, encarando Sesshoumaru em desafio – Miroku, espero que esses informantes dos quais você tanto se gaba sirvam para alguma coisa. Um grupo tão grande não conseguiria passar despercebido pelos burgos.

- Sim, farei isso. Viajarei amanhã mesmo atrás desses malditos. – O sorriso de Miroku beirava a crueldade. – Quer me acompanhar, Sesshoumaru?

- Não. Tenho coisas para fazer. – E se afastou da mesa com passadas largas.

- Será que é alguma mulher? – Brincou Inuyasha, fazendo Miroku sorrir maliciosamente.

Sesshoumaru parou e encarou os dois ameaçadoramente, infelizmente, não poderia desmenti-los.

 

 

- Lady Rin. – Chamou o mordomo. A garota levantou os olhos dos livros de contabilidade. – Lorde Sesshoumaru acabou de chegar, minha senhora.

Ela inclinou a cabeça por um momento. Sempre estivera curiosa para conhecer aquele homem, afinal, o pai sempre falara tanto dele. No entanto, naquele momento, ela não desejou vê-lo. Sua presença naquele castelo a fazia se lembrar de que fora ele quem a avisara da morte do pai, e isso fazia seu coração se apertar novamente.

- Mande-o entrar. – Respondeu, suspirando com cansaço.

Rin voltou para seus livros de contabilidade. Muito tempo atrás, quando a mãe de Rin morrera, Braun se enfiara no trabalho do feudo para esquecer a tristeza. E Rin estava fazendo a mesma coisa, honrando o pai cuidando daquele lugar que ele construíra por toda a vida.

A porta se abriu com seu ruído característico e irritante. Estressada, olhou para a porta. Antes de receber o tal Lorde Sesshoumaru ela tinha que receber seu lacaio; e tal corte a irritava.

Mas a verdade é que ela não estava preparada para o que via: com certeza aquele era o lacaio mais belo que ela já vira. Os cabelos prateados e longos caiam em volta do rosto, os olhos dourados como sol eram, paradoxalmente, frios como gelo, a boca reta não parecia ser do tipo que se curvava com freqüência. Ele era de uma arrogante beleza.

O lacaio olhou em volta.

- Onde está a Lady Yakamoto? – Perguntou, aproximando-se mais da escrivaninha central do gabinete.

- Eu sou Lady Rin Yakamoto. – respondeu, surpresa.

Ele a olhou dos pés a cabeça.

- Mas você é só uma criança.

Rin bufou de irritação. Criança? Criança? Ela bem sabia que sua aparência de quinze anos negavam os seus mal-completados dezoito, mas, ainda assim, não permitiria tal afronta.

- Não está sendo muito atrevido, lacaio? – Ela replicou, tentando controlar a voz. E notou que ele a olhava com surpresa.

Os cantos dos lábios dele se levantaram. Não era um sorriso, mas seria o mais próximo de um que ele faria.

- Perdoe-me, esqueci de me apresentar. – E ele se inclinou – Eu sou Sesshoumaru Taisho, à suas ordens.


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