Era possível cortar a tensão da sala com uma faca. Ninguém sabia bem como reagir as últimas palavras de James. Era como se a Lily que eles conheciam tinha desaparecido e um clone dela tivesse substituído a mesma. Ninguém queria ser o primeiro a quebrar o silêncio, mas sabiam que em algum momento teriam de fazer isso, pelo bem da equipe e para conseguirem dar conta da missão que tinham pela frente.

— Então... - começou Remo, sem saber exatamente por onde começar. - Você estava grávida? Isso explica porque você ficou com tanto medo pela Lene.

— Não foi só por isso. Lene é quase como uma irmã pra mim, assim como Emme e Dori. - Lily suspirou, tentando conter as lágrimas que queimavam seus olhos. - O que me assustou ainda mais, foi o fato de que aquela bala poderia ter me atingido e ter me feito perder o bebê, sim, isso me assustou.

— Mas você pretendia contar sobre o bebê? Ou sobre o fato de você e o James serem um casal e ninguém ter a mínima ideia sobre isso? - Sirius perguntou, com uma voz que demonstrava que ele estava machucado pelo fato de seu melhor amigo não confiar nele o bastante para contar algo assim a ele.

— Não podemos chamar o que eu e a Evans tivemos de relacionamento, muito menos nos chamar de muito menos nos chamar de casal. - James disse e era possível ver o modo como Lily se encolheu ao ouvi-lo chamá-la de Evans. - E pra ser bem sincero, nem eu sabia do bebê até ter ido até a casa dela hoje.

— O QUÊ? - era possível que os ocupantes do hotel tivessem ouvido o grito dos seis, algo que não passou despercebido à James e Lily.

— Lils, como você pode não ter contado nada pro James sobre o bebê? - a voz de Marlene beirava a indignação e era possível ouvir um toque de tristeza por trás.

— Tudo bem você não ter contado pra gente sobre, o que quer que rolasse entre vocês dois, mas você deveria ter contado sobre o bebê, afinal, você não fez sozinha. - Dorcas alternava o olhar entre Lily e James, como se pudesse tentar entender o que se passava pela mente dos dois.

— Eu estava assustada ok? Eu sabia como lidar com essa notícia, e além do mais, é como James disse, nós não éramos um casal - ela tentou esconder a tristeza que havia nos olhos verdes, mas foi impossível esconder de um par de olhos castanhos esverdeados.

— Tudo bem, nós já entendemos essa parte. Mas o que aconteceu com o bebê? - Pedro perguntou, tentando fazer com que Lily se sentisse melhor.

— É Lils, o que aconteceu com o bebê? - Emme perguntou, olhando para a ruiva.

— Ele está bem. Ele está com dois anos e alguns meses, e é o bebê mais feliz que eu conheço. -  Lily disse, dando um meio sorriso e enxugando uma lágrima que havia escapado.

— Nós vamos poder conhecê-lo algum dia? - Sirius perguntou com uma urgência na voz, que eles poucas vezes haviam ouvido.

— Eu não sei Sirius. É claro que eu quero James envolvido na vida do Harry, mas não sei ainda como isso vai funcionar. Afinal, eu não voltei pra equipe, não é mesmo? - Lily disse, meio que se desculpando, e tentando evitar o olhar de Sirius.

— Como assim você não voltou pra equipe? - foi a vez de Remo perguntar, como se não tivesse entendido exatamente o que ela estava querendo dizer.

— Foi exatamente isso que eu disse: eu não voltei pra equipe. Eu só vou ajudar vocês nessa missão, porque ela envolve crianças e você sabe que esse sempre foi meu ponto fraco Remo. Mas é isso: após a conclusão dessa missão, eu volto pra minha casa e não ouço mais nada sobre o MI6, ok? - ela disse olhando fundo nos olhos de Remo esperando uma confirmação do mesmo, que concordou, muito a contragosto.

— Está bem, de acordo. - Remo disse.

— Ótimo,. Agora que vocês já estão inteirados do que aconteceu quando eu saí de Londres, porque vocês não me contam com o que estamos lidando? - Lily perguntou, assumindo um tom de voz de comando, algo que sempre funcionou com eles.

— Bom, o que nós sabemos até o momento é que há um homem chamado Riddle sequestrando crianças por toda Londres. Até o momento, já foram notificados oito sequestros em menos de cinco semanas. - Dorcas começou a falar, levantando-se e entregando um chumaço de papéis para Lily examinar. - Nós sabemos também que ele está trabalhando com alguns comparsas, mas não conseguimos descobrir muito mais do que isso até o momento.

— Lene instalou um rastreador no carro de Riddle pra ver se conseguimos descobrir onde ele está se escondendo, e o mais importante, onde ele está escondendo as crianças. - Sirius continuou.

— E o que o Diggory disse sobre tudo isso? Ele tem alguma pista de porque esse tal de Riddle está levando essas crianças? - Lily perguntou enquanto analisava as folhas que Dorcas lhe entregou, sua mente já entrando em ação antes mesmo que ela se desse conta.

— Se ele faz alguma ideia, ele ainda não compartilhou conosco. Acho que ele quer que investiguemos um pouco mais antes de tomar decisões precipitadas. - Lene comentou, enquanto pegava seu computador para olhar o rastreador.

— E esse Riddle já havia feito algo parecido antes? Ou já havia aparecido em alguma das pesquisas por antecedentes? - Lily perguntou, enquanto fazia pequenas anotações nas margens das folhas.

— Não, mas isso não é incomum não é mesmo? - James disse, enquanto abria sua pasta para olhar os equipamentos que por ventura, precisasse. - Mas o que é mais intrigante, é para que ele precisa dessas crianças, isso não faz sentido.

— Desde quando alguma das pessoas que perseguimos fez sentindo James? - Sirius perguntou, enquanto olhava sobre o ombro de Marlene o pontinho marcado como Riddle.

— Sim, eu sei disso. Mas é como se ele tivesse um objetivo secreto, além de sequestrar essas crianças. Algo que ainda não ficou exatamente claro. - James disse, pensando em como tudo nesse caso era mais estranho do que o usual.

— James, vai dar tudo certo. Nós vamos resgatar essas crianças ok? - Lily disse, tentando fazer com que o moreno não se preocupasse tanto. Isso fez com que um pequeno flashback passasse na mente de James, como se nem um dia tivesse se passado, e eles ainda fossem as mesmas pessoas do passado, antes de ela fugir sem olhar para trás. Mas claro que isso não era mais possível, então porque a mente dele insistia em lhe pregar peças como essa?

— Sim, eu sei. Só temos de fazer o nosso trabalho direito não é? Como estão nossos suprimentos Pedro? - ele perguntou, tentando se afastar daquelas orbes verdes, que tinham o poder de desarmá-lo completamente.

— Você acha que um dia ele vai ser capaz de me desculpar? Ou qualquer um de vocês, pra ser sincera. - Lily perguntou a um Remo cansado que se sentava ao lado dela naquele momento.

— Ele vai, você só precisa dar um tempo à ele. Você, melhor do que ninguém, sabe como ele pode ser bem cabeça dura quando quer. - Remo disse, afagando o ombro da ruiva. - Da minha parte você já está perdoada, eu entendo que você ficou com medo e fez o que achava certo naquela época.

— Obrigada Remo. Você sabe que sempre foi o irmão que eu não tive não é? - Lily disse sorrindo, mas com os olhos cheio de lágrimas de gratidão, por saber que, acontecesse o que for, ela sempre poderia contar com Remo para ajudá-la.

— Sim, eu sei disso. - ele disse rindo levemente. - O que você acha que vai precisar? O mesmo de sempre?

— Sim, não podemos mexer em time que está ganhando não é mesmo? - ela disse acompanhando o mesmo na risada.

Do outro lado da sala, James e Pedro juntavam materiais que poderiam precisar durante a empreitada que enfrentariam. Eles já trabalhavam para o MI6 há algum tempo agora, todos eles tendo começado juntos. Eles eram uma das melhores equipes da agência e podiam se entender como ninguém, e por isso Diggory havia permitido que eles tomassem um pequeno desvio para trazer uma ruiva cabeça dura de volta. Logo Emmeline e Dorcas se juntaram aos dois, ajudando no que fosse preciso para poder concluir a missão e trazerem de volta essas crianças sã e salvas.

— Hey Lene, não vai largar esse computador e vir nos ajudar não? Nós bem que poderíamos usar um par extra de braços aqui. - Dorcas mais reclamou de onde estava, ajudando os outros.

— Porque vocês não pedem ajuda pro Sirius? Eu já estou quase terminando por aqui. - a morena disse sem tirar os olhos da tela.

— Ah claro, eu não estou ajudando em nada por aqui não é McKinnon? Não é como se você de repente não precisasse mais da minha ajuda, não é mesmo? - Sirius tentou chamar a atenção da morena, sem sucesso. Algo estava errado com aquele rastreador, só poderia ser isso, era o que a mesma pensava.

— Sirius, deixa a Lene trabalhar em paz e vem nos ajudar com isso aqui. - Pedro ordenou, vendo que Marlene estava realmente concentrada na tela em sua frente.

— Vamos precisar ajustar a frequência dos fones, não podemos deixar que eles nos deixem na mão não é? Qual é mesmo a frequência que nós sempre usamos Dori? - Emme perguntou, enquanto empilhava oito pares de fones de ouvido na mesa.

— É a mesma de sempre Emme, você sabe aquela... -  a frase de Dorcas foi interrompida por um guincho de Marlene, algo bem incaracterístico da morena.

— O que foi Lene? Algum problema? - Lily perguntou, levantando o olhar das pesquisas que Pedro e Dorcas tinham feito mais cedo.

— Sim, e dos bem grandes, aparentemente. - Lene respondeu sem tirar os olhos do computador a sua frente, como se não pudesse acreditar nos próprios olhos.

— Bem, o que aconteceu? Nos conte logo, deixe de suspense. - Remo pediu, quase se irritando com a demora.

— Sabem o rastreador que eu coloquei no carro do Riddle? - ela esperou todos assentirem antes de continuar a falar. - Então, ele está mostrando que o carro, e consequentemente Riddle, estão aqui.

— Como assim "aqui"? Você quer dizer, aqui em Lavenham? - a voz de Sirius era de pura incredulidade.

— É o que o programa está mostrando, vocês podem ver por seus próprios olhos. - ela disse, virando o computador para que todos pudessem ver o pontinho vermelho escrito Riddle, piscando no meio da tela.

— E não tem como esse programa estar errado? Mostrando uma localização indevida? - James perguntou, ainda sem poder acreditar que o homem que eles estavam perseguindo estava bem ali, na mesma cidade que eles.

— É claro que ele não está errado. Fui eu mesma que desenvolvi esse software, e eu tenho 100% de certeza de que o Riddle está aqui na cidade. - Lene disse, com a testa franzida, como se não pudesse acreditar.

— Mas o que ele poderia estar fazendo por aqui? Os principais alvos dele tem sido sempre em Londres. - Remo disse como se estivesse montando um quebra-cabeças que faltasse uma peça.

Como se só estivesse esperando pela fala de Remo, o celular do mesmo tocou com uma chamada de Diggory, o chefe dos sete. Era quase como se Amos Diggory soubesse que eles precisavam de algum esclarecimento.

— Diggory, você não vai acreditar no que nós descobrimos! - Remo disse assim que atendeu ao telefone, mas logo se calou ao ouvir o que a voz do outro lado tinha a dizer. - Você tem certeza disso?

— Será que o Diggory já sabia do fato de o Riddle estar aqui na cidade? - Emme perguntou, enquanto se sentava ao lado de Lily.

— Talvez, ele sempre parece saber de tudo antes mesmo de nós passarmos alguma informação para ele. - ela disse voltando a ler as anotações até ouvir Remo desligar e se virar para o amigo, franzindo a testa ao ver o amigo alarmado. - O que houve Remo?

— Ele levou outra criança. - Remo respondeu com a voz fraca, sem encarar Lily nos olhos.

— Você acha que ele vai começar a vir atrás das crianças no interior agora? - Emme perguntou, arregalando os olhos enquanto olhava em volta da sala.

— Eu acho que não. Acho que ele estava aqui em busca de uma criança específica. - Remo disse, olhando diretamente nos olhos de Lily agora.

— O que você quer dizer com isso? - Dorcas perguntou, já imaginando onde essa conversa terminaria.

— Sinto muito Lils, sinto muito James. - Remo disse tentando esconder o choro na voz. - Eles levaram o Harry.

Nesse momento, era como se o mundo de Lily e James estivesse desmoronando. Eles ficaram estáticos, encarando um ao outro, enquanto os outros se amontoavam em volta dos dois, tentando de algum modo ajudá-los, mesmo sem saber como no momento. Entretanto, na cabeça dos dois, só havia um sentimento coerente: eles trariam Harry de volta e Riddle não sairia impune disso. Ele pagaria por ter sequestrado o filho deles.