Ela não sabia exatamente como começaria a explicar o porquê do seu sumiço, ou porque ela não entrou em contato com nenhum deles. Havia também o fato de que eles não se esforçaram o suficiente para encontra-la... ou talvez, ela só tivesse se aperfeiçoado na arte de se esconder. O que era bem provável, afinal, ela tinha muito a perder se todos descobrissem seu segredo.

Porém, olhando para o rosto daqueles que sempre foram pessoas importantes para ela, Lily não sabia como começar a contar o que a havia levado a sumir por três anos, nem como conseguiu se afastar deles tampouco.

— Lil, é você mesma? - uma Marlene ainda chocada perguntou.

— A não ser que você conheça outra ruiva chamada Lilian Evans, sou eu mesma. - a ruiva tentou brincar, pra ver se conseguia tirar todos os presentes do estado de choque que eles se encontravam.

— Ai meu Deus, é você mesmo! - Marlene logo correu para abraçar a amiga que pensou que tinha perdido, e em seguida sussurrou no ouvido da mesma. - Eu senti sua falta.

— Eu também senti sua falta Lene. - a ruiva sussurrou de volta e apertou ainda mais os braços em volta da morena, aquela que além de melhor amiga, era sua parceira.

— Ok Lene, pode deixar a gente abraçar a ruiva também? Obrigada. - Dorcas disse, tirando Marlene de cima de Lilian e esmagando a mesma com um abraço de tirar o fôlego.

— Acho que isso significa que você sentiu minha falta huh? - a ruiva tentou dar uma risada, que saiu mais como um soluço, pelo esforço que estava fazendo ao segurar as lágrimas, ao rever aquelas pessoas tão importantes para ela.

— Você não tem ideia. E além do mais, você ajudava a manter o equilíbrio por aqui. Fora que era bem mais fácil aguentar o mau humor do Potter com você pra fazer rir. - Dorcas deu uma risadinha ao olhar a cara que James estava fazendo por trás das duas.

— Também senti sua falta Dorquinhas. - a ruiva disse se desfazendo do abraço e olhando ao seu redor. - Eu já tive o, vamos dizer prazer, de rever o Black hoje, mas e vocês dois? Não vão falar comigo não?

— Eu senti falta desse seu humor negro ruiva, bem vinda de volta. - Pedro logo abraçou a ruiva, que tentava esconder as lágrimas com seu humor afiado.

— Obrigada Pedro, mas não sei se podemos considerar que eu realmente estou de volta, se o novo líder dessa equipe nem veio falar comigo ainda não é mesmo? - ela disse olhando na direção de Remo, como se fosse possível convocá-lo só com o poder da mente.

— Você não precisa nem perguntar Lil, você nunca deixou de fazer parte dessa equipe. - Remo empurrou delicadamente Pedro para o lado, para poder abraçar a ruiva, que era como uma irmã mais nova pra ele, apesar de os dois terem a mesma idade.

— Parabéns pela promoção. Eu sempre soube que você seria o líder. - Lily disse, retribuindo o abraço que Remo lhe dava, aquele abraço onde pode se sentir segura por tantas vezes, um abraço de irmãos.

— Você sabe que nunca foi minha escolha, eu sempre fui a segunda opção do Amos pro cargo, mas... conversamos sobre isso depois ok? Estou feliz de te ver aqui de volta. - ele disse dando um beijo na testa de Lily e se desfazendo do abraço.

— Hey Vance, não vai vir falar comigo não? Ainda estou esperando. - a ruiva disse em um tom brincalhão olhando para Emme, mas as garotas conseguiam enxergar a dor que Lily sentia por ainda não ter falado com a mesma.

— É claro que eu vou falar com você, Evans. - a loira disse, se encaminhando para abraçar Lily. - E só pra constar, agora é Vance-Lupin.

— O que? - a ruiva colocou os braços nos ombros de Emmeline, impedindo a mesma de chegar perto, para que ela pudesse olhar nos olhos da outra. - Você tem de me contar como isso aconteceu.

— Combinado, mas acho que é você quem tem muito mais a contar do que eu não? - Emme sussurrou em seu ouvido enquanto a abraçava.

— Certo, acho que agora é uma hora tão boa como qualquer outra pra contarmos tudo o que aconteceu nesses três anos não? - Lily perguntou, já desfeita do abraço, mas com o braço de Emme em cima de seus ombros, como se dando um apoio não verbal a amiga.

— Porque não nos sentamos? Acredito que essa história será longa. - Pedro sugeriu, ao ver as expressões nos rostos de James e Lilian.

— Ok, estamos preparados. Pode começar a desembuchar Lils. - Marlene disse ao sentar em volta da mesa redonda que havia naquela sala, na mesma disposição que eles sempre se sentaram antes do grupo se separar. Era quase como voltar no tempo.

— Certo... por onde eu começo? - era quase possível ver as engrenagens no cérebro de Lily girando e pensando em como começar a explicar.

— Que tal começar explicando porque você nos abandonou? Eu acho que aí pode ser um bom começo. - Emme disse olhando nos olhos de Lilian, que percebeu que ainda não havia sido completamente perdoada pela loira.

— Ok. - a ruiva disse respirando fundo e se preparando para contar tudo. - Bom, como vocês sabem, nosso trabalho sempre foi muito arriscado, e eu senti que precisava de um tempo. Aquela última missão me desgastou mais do que eu esperava, e eu senti que precisava me afastar da agência por um tempo. Eu sempre achei que eu ia acabar voltando, mas isso acabou não acontecendo não é? Pelo menos, não do jeito que eu imaginei.

— Espera, você está querendo dizer que pensava na gente? Pensava em voltar pra Londres? - Sirius perguntou, se sentindo ainda mais confuso por aquele encontro na cafeteria, onde ele havia tido a impressão de que a ruiva não queria voltar nem que lhe pagassem um milhão de libras.

— Bom, esse era o meu plano a princípio: tirar férias e então, não sei, voltar e pegar mais leve, quem sabe, dar um tempo do trabalho de campo e fazer mais tarefas no escritório. Mas, nada saiu como eu planejei... - a voz de Lily falhou nas últimas palavras.

— Foi por causa do caso MacDonald não foi? - Emme perguntou, sentindo que sabia onde os pensamentos de Lily estavam indo.

— Sim, eu acho que aquele caso me afetou mais do que eu esperava. - Lily podia sentir os olhos de todos em si mesma, além das lágrimas que queriam abrir caminho. Mas ela precisava ser forte, agora não era hora de fraquejar.

— Vocês nunca contaram exatamente o que aconteceu nesse caso. - Sirius disse olhando para Marlene, Pedro e Remo, que pareciam perdidos em suas próprias lembranças do que havia acontecido.

— Eu pedi pra que ninguém falasse sobre o que aconteceu, somente Amos e os superiores sabiam o que havia acontecido. - Lene disse, focando o olhar no centro da mesa, para que não tivesse que encarar ninguém. Lily percebendo o que a morena estava fazendo, entrelaçou as mãos das duas, como se para dar apoio à Marlene, mas também, aproveitando o conforto que a amiga oferecia sem saber.

— Foi um caso complicado. - Remo disse, como se recuperando a voz.

— Eu e Remo achávamos que era por causa disso que você havia se afastado, mas você sabe que não foi culpa sua o que aconteceu não é Lils? - Pedro perguntou, como se soubesse que a ruiva se culpava, mesmo sem ter motivo nenhum para isso.

— Você tem certeza de que não foi minha culpa Pedro? - Lily perguntou, sentindo a voz falhar, como se não fosse possível continuar sem acabar em lágrimas.

— Nós temos certeza disso Lil. Não foi culpa sua. - Remo afirmou, como se soubesse que o peso do que havia acontecido, ainda estava nos ombros dela.

— Vocês poderiam falar o que aconteceu? Nós só sabemos que depois daquele caso, Lene tirou férias, Remo e Pedro não falavam mais sobre isso, e a Lils desapareceu. Acho que temos o direito de saber o que aconteceu não? - Dorcas disse, se sentindo cada vez mais perdida.

— Aquele era pra ser um caso fácil, não levaríamos mais do que três dias em Amsterdã, e então voltaríamos para casa. Porém, no nosso último dia lá, alguém deve ter descoberto que estávamos lá e... - Lily parou como se tivesse perdido a força para continuar a relembrar aqueles acontecimentos.

— Houve um confronto, nós não estávamos despreparados para enfrentá-los, mas também não estávamos exatamente preparados. - Remo continuou, relembrando daquele dia, quase como se um filme estivesse passando em sua cabeça.

— Eles estavam vindo por todos os lados, e nós não tínhamos outra opção que não nos esconder. Mas um cara nos seguiu e... - Pedro disse, perdendo a linha de raciocínio e olhando para Lene.

— E eu levei um tiro que quase me matou. - Marlene disse quase sem voz e com os olhos cheios de lágrimas não derramadas.

Era como se a temperatura na sala tivesse caído 10 graus. Ninguém se atrevia a falar nada e era possível ouvir as respirações aceleradas dos garotos e as lágrimas que Emme e Dorcas derramavam sem se dar conta. Marlene e Lilian tentavam dar suporte uma à outra, sabendo que era o que as duas precisavam no momento.

— Então, eu não saí de férias exatamente. Eu estava em Amsterdã, me recuperando da cirurgia que foi bem sucedida, e pedi pra Lils ficar comigo. - Lene disse tentando controlar o tremor da própria voz.

— Eu e Pedro não podíamos ficar por lá, sem levantar suspeitas. Amos pediu que nós retornássemos, mas mantivemos contato com a equipe do hospital pra saber da Lene. - Remo disse, aparentando cada vez mais cansaço.

— E além do mais, a Lils não saía do lado da Lene por nada, então era como se ela tivesse a própria guarda-costas. - Pedro disse tentando levantar o humor da sala, o que ele conseguiu brevemente.

— Eu não consigo acreditar que vocês não nos contaram nada disso! - Emme estava cada vez mais brava, sem conseguir acreditar que seu marido e amigos tinham escondido tudo aquilo dela.

— Como eu disse Emme, eu pedi que ninguém contasse. Não é que eu não confiasse em vocês, eu só não queria ninguém preocupado comigo. Eu já tinha a minha cota com essa ruiva que quase deixou a equipe médica doida. - Lene disse, sorrindo fracamente e apertando a mão de Lily.

— Eu não queria deixar você sozinha, e não tinha certeza se podíamos confiar totalmente naquela equipe de médicos, apesar de eles terem feito um excelente trabalho salvando sua vida. - a ruiva disse retribuindo o sorriso e o aperto de mão de Marlene.

— Mas quando a Lene voltou, ela estava sozinha e não fazia ideia de onde você tinha ido. O que aconteceu Lily? - Dorcas perguntou, se sentindo chocada e quase sem querer saber o que havia acontecido depois.

— Eu percebi que depois do que havia acontecido com a Lene, eu não poderia mais continuar na agência, era demais pra mim. Assim que ela teve alta, Diggory veio buscá-la pessoalmente e eu entreguei minha carta de resignação. - Lily disse olhando para baixo, sem querer encarar os olhares de todos.

— E você achou que seria melhor sumir sem se despedir? Você realmente achou que esse fosse um bom plano? - Sirius estava incrédulo, assim como todos, com o que estava ouvindo.

— Eu não disse que era um bom plano, eu só precisava sair Sirius. Eu deixei uma carta de despedida para vocês, que eu tenho certeza de que o Diggory entregou à vocês. Eu nem cheguei à voltar para Londres, eu precisava de um lugar calmo e foi assim que eu acabei vindo morar em Lavenham. - ela disse olhando nos olhos de todos, deixando o olhar de James por último.

— E achou que ninguém viria procurar você aqui não é mesmo? - Emme perguntou, em um tom de voz que entendia.

— Isso passou pela minha cabeça sim. Agora vocês sabem por que eu deixei a agência, e consequentemente, vocês. Me desculpem. - Lily disse com a voz embargada.

— Está tudo bem Lils, nós entendemos. Só não sei por que você achou que ninguém iria achar você aqui. - Dorcas disse dando um sorriso triste.

— Porque ela não está contando a verdadeira razão de ter nos abandonado. - James disse, falando pela primeira vez desde que havia entrado na sala, acompanhado da ruiva.

— Do que você está falando James? - Pedro perguntou, parecendo perdido assim como todos na sala. O que eles não estavam vendo era o olhar de súplica que Lily estava lançando a James, como se implorando para que o moreno não falasse nada.

— O verdadeiro motivo de ela ter ido embora, de ter ficado tão abalada com o caso MacDonald foi o fato de ter descoberto que estava grávida. - James disse sem tirar os olhos de Lily. - E o que o filho era meu.

Era possível ouvir um alfinete cair na sala, tamanho o silêncio que havia após as últimas palavras de James. Os outros não sabiam para quem direcionar o olhar: se para James, que parecia magoado com as descobertas das últimas horas ou para Lily que havia coberto o rosto com as mãos e parecia chorar, se o movimento de seus ombros era indicação para algo.  Como se eles já não estivessem sobrecarregados o suficiente, haviam descoberto algo novo, algo que mudaria a dinâmica do grupo para sempre.