Shard of Lies escrita por XIII


Capítulo 8
Reinício




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Invadir não é exatamente o meu forte. Eu sou melhor fazendo entradas magistrais com bastante barulho, uns shows de mágica e uma pitada de violência alheia. Eu não gostaria de ter que fazer isso agora, esses guardas-costas dele me dão medo. Já vi aquele Maurice estripar dois homens num beco e nem piscar. E Lawrence… Eu nunca o vi fazer nada, mas parece que Vincent vai levar ele e o tal Rodge, um aleijado da taverna. Acredito que ele pense que música seja o suficiente pra me parar. Bem, ele precisaria de um bardo bem melhor, mas não dá pra prever o que Vincent está pensando. Se ele está mantendo esses homens ao seu lado, ele deve ter um plano.

A janela dele está logo acima de mim. Respiro fundo e concentro a magia. Ser um mago é complicado quando não tem mais ninguém além de você se concentrando na mágica. Somos mais poderosos com uma platéia. Preparando um fluxo constante de magia na parede, acho que consigo escalar sem nenhum problema. Funcionou. A magia em minhas mãos e pés integra-se perfeitamente ao fluxo na parede e chego ao segundo andar, na janela dele, com nada muito além de algumas gotas de suor em minha testa. Mas é claro que Vincent trancaria a janela por dentro. Boa tentativa, é uma pena que eu não precise nem me concentrar pra liberar um trinco como esse. E agora eu estou do lado de dentro do quarto dele.

— O que você está fazendo aqui!? - para a minha surpresa, ele não estava irritado. Se sentindo invadido, inseguro dentro de seu próprio lar, talvez, mas não irritado.

— Checando pra ver se você estava bem, querido. O que mais seria? - que manopla linda, essa que ele mantinha na cama. De alguma forma, eu adoro essa rejeição gratuita dele. Um dia, ele vai descobrir que o que eu fiz com ele foi apenas protegê-lo. Eu jamais deixaria as pessoas de Mandrágora machucarem ele. Pelo menos, não muito.

— Por que você queria Oswald Cross morto? - ele perguntou, desviando o olhar. Alguma coisa estava errada. Eu não ouvia falar de Cross desde a volta de Vincent da mansão.

— O que houve lá, Vincent? O velho está morto? O que aconteceu? - Cross estava atrás dos Artefatos de Crown já havia algum tempo. Ele começou a silenciar todos que estavam relacionados, me alvejando também, mas ele ter sumido logo após a missão indicava, pelo menos para mim, que Vincent havia concluído-a com êxito. Não foi o que os olhos deles me contaram agora. Agora a fúria estava visível.

— Semanas em estado de choque, Abigail. Mais uma vez, você me fodeu. Até quando eu serei um peão no seu tabuleiro!? - ele sacou uma adaga dourada. Parecia tomado agora, outra pessoa. Ou era assim que ele fazia toda vez que me via desde Mandrágora. Um ou outro.

O braço dele fez um arco, a adaga dourada vindo em direção ao meu rosto. Bloqueei o antebraço dele com o meu, parando a lâmina a alguns centímetros de mim. Será que ele já se cansou de perder pra mim? Bem, eu ainda preciso saber o que aconteceu na mansão, então acho que hoje não é o dia que ele vai pontuar. Concentro a mana na ponta dos dedos. Se eu cortar o fluxo de mana do antebraço dele, ele não terá escolha. Não foi nada bom quando o cotovelo dele se voltou contra o meu nariz. O desequilíbrio me jogou na cama, de costas. Ele ofegava, triunfante. A força pulsava da adaga em suas mãos, eu mesma conseguia sentir. A mana correndo ali não era normal. O sabor do cobre na minha boca indicava o estrago em meu nariz.

— Eu senti a minha pele queimar até os ossos, Abigail! Mais de uma vez, eu desejei estar morto ali. Você me colocou ali, Abigail! - a adaga começou a relampejar, descontrolada. Será que está machucando-o e ele não percebe? Cross fez alguma coisa anormal. Algo que eu não calculei corretamente. Porque Vincent não está agindo como ele mesmo agora. Tudo bem, lutas entre eu e ele eram absurdamente comuns, mas… Ele não costuma ganhar. Nem ter tanto ódio descabido. Só que não vai adiantar conversar com ele agora. Cross fez alguma coisa e eu devo reverter. Pelo bem do Estilhaço de Mentira. Vincent tenta me acertar na cama, mas eu giro pro lado, ouvindo os lençóis e o colchão rasgarem. Deslizo para baixo da cama e ergo a mana abaixo da mobília, arremessando-a para cima. Perfeito. Foi bem de leve, mas serviu pra desequilibrar o rapaz que não está batendo muito bem da cabeça. Droga. Se eu deixá-lo inconsciente, não conseguirei desfazer o que quer que Cross tenha feito. A cama cai de lado, com um barulho pesado. Vincent se firma no chão. Com um grito vindo do fundo de sua alma, ele aponta a adaga na minha direção e libera a carga contida. É o bastante para me jogar na parede e me fazer sentir dores fortes por todo o corpo. Corta-Relâmpago. Como eu poderia não reconhecê-la? Vincent corre para mim, mas meus dedos são rápidos o suficiente para guiar a cama até nós. Bloqueado e confuso, ele nem ligou quando e chutei a cama com toda a mana que eu tinha, arremessando-a para o outro lado do quarto. A casa toda deve estar ouvindo isso, mas nem devem estar ligando. Ignorando as reclamações de Vincent, todos os outros sons podem ser interpretados… de outra forma. É uma pena que não seja verdade. Vincent Grinn é até um rapaz bonito.

Enquanto ele afastava a cama e recobrava o ar, eu me aproximei. Ele ainda olhava com ódio, mas estava derrotado e ofegante no chão. Aproximei meu rosto do dele, sorridente.

— Agora você pode me explicar o que houve, Vincent? - opa, a adaga estava muito próxima da mão dele. Com o pé, arrasto para longe, só por precaução. Ele estala a língua e se senta, gemendo de dor.

 

Grimório da Mente. Oswald Cross é um homem muito, muito perigoso. Ele se adiantou e agora está está com um dos artefatos mais poderosos de Crown, mas ele não tinha esse tipo de informação até a pouco tempo.

— E o que tem esse tal Grimório, afinal? - ele estava mais calmo agora. Era temporário também. Eu não consigo desfazer os efeitos do Grimório, não sem o próprio. Mas enfrentar Cross… É, eu vou ter que conseguir um artefato pra mim mesma. Só que Vincent também não pode lutar desse jeito. Ah… eu já sei! Bem, isso com certeza vai iniciar uma guerra, mas tanto faz. O fato é que eu sei onde estão a maioria dos artefatos e…

— Abigail?

— Ah, o Grimório. Ele é um dos maiores artefatos de Crown. Como você mesmo foi capaz de vivenciar, ele é capaz de criar todo tipo de experiência. Crown o usava para grandes eventos, já que é muito fácil induzir pessoas a se divertir. O problema é que também dá pra usá-lo pra causar grande dano, como poderosas ilusões.

— E como você sabe tanto sobre isso? Artefatos do Crown não deveriam ser um mistério? - tossi. Acho que me empolguei.

— Isso é um segredo que guardaremos pra mais tarde, Vincent - eu o ajudei a levantar. Não posso mais demorar muito tempo aqui. Nem esperava uma luta(imprudência da minha parte, ou eu só estava ignorando os fatos). Segurei seu braço e o guiei até o lado de fora, onde Lawrence e Rodge o estariam esperando. Todos os empregados da casa nos olharam de canto de olho, com um sorrisinho no canto da boca. Vincent e eu percebemos, mas nada poderíamos fazer. Ah, o imaginário humano…

— Vão até Monarca, ao sul. Lá, vocês encontrarão o Manto do Anfitrião, um dos artefatos de Crown. É meu pedido de desculpas por ser humilhado por Oswald Cross. Foi mal.

— E desde quando é você quem dá as ordens, Abigail? - disse um Vincent que não queria reconhecer que eu estava lhe fazendo um favor. Mas ele reconhecia.

— Desde que você não sabe nem por onde começar a procurar por um deles, meu querido! - ele riu de leve e fez sinal ao cocheiro para que seguisse. Acompanho com os olhos até virarem a esquina e saírem do meu campo de visão. Agora é o meu momento. Pra enfrentar Oswald Cross de igual pra igual, precisarei de uma arma à altura. Não sei como ele conseguiu roubar o Grimório da Mente da casa de Crown, mas isso é algo que terei que perguntar diretamente a ele. Apenas espero estar preparada.


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Notas finais do capítulo

Abigail estará de volta no próximo capítulo!



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