Shard of Lies escrita por XIII


Capítulo 7
Corta-Relâmpago




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— Xô vê cieu intendi, Vincent… cê qué quieu vá cuntigo pra morrê? - entender Rodge enquanto ele estava bêbado era um inferno, o que tornava o entendimento complicado o tempo todo.

— Claro que não, Rodge! Estou te dando um emprego, isso sim - que talvez o levasse a morte. Não tinha como eu enfrentar Oswald Cross sem alguém pra impedir aquela magia. Eu não espero que um bêbado como Rodge consiga parar aquele homem completamente mas, no meu estado, qualquer coisa ajuda - Sua música é boa, garoto. Não é melhor pra você que comece a beber em lugares mais sofisticados e que o seu trabalho seja prestigiado? - A música dele era realmente, mas pra tocar em lugares realmente bons, precisaria de menos álcool e mais capricho, mas ele não precisava saber disso agora. Ele olhou pra mim desconfiado, ou apenas confuso. Era difícil saber.

— Ieu num vô morrê?

— Bom, isso eu não posso garantir, mas te prometo que ficará longe de qualquer batalha que eu travar. Vou te proteger a qualquer custo - não era uma verdade, mas ele precisava achar que era.

— Purquê? - Eu não esperava por dúvidas, não sei bem o porquê. É plausível que você fique na dúvida. Peguei a caneca dele e dei um gole, afinal, não foi só pra contratar Rodge que eu vim até aqui. Tem muita coisa que eu preciso esquecer.

— Porque sem você, Rodge, eu não vou conseguir - e nisso eu não estava mentindo.

 

Voltar pra casa naquele estado era complicado e tropeçar no tapete não é algo que você espera de um homem com as minhas capacidades, mas é melhor que voltar com a mente dominada por um mago com complexo de vilão. Ter de ser levantado por Maurice e Lawrence não é nada comparado a ficar semanas em estado vegetativo enquanto tenho lampejos de memória da minha carne sendo queimada. Na verdade, eu não sei nem como cheguei em casa, nada além do que os meus dois guarda-costas me contaram. Meu avô, Tharsis Grinn, simplesmente não se incomodou com o que pudesse estar acontecendo. Minha mãe, Carmela Grinn, estava fora de casa há alguns meses, já que ele teve que cuidar dos negócios do meu pai após a morte dele. Aquele era um grande homem, Drake Grinn. Me ensinou tudo sobre como matar seres humanos e enganar todo tipo de gente. Apenas o negócio da família, ele dizia. Do lado de fora, ele era um banqueiro bem sucedido. Mas, dentro de casa, todos conheciam suas qualidades como assassino. Morreu fazendo o que amava, meu pai. Disseram que ele já estava doente quando acabou falhando na missão e foi morto. Tudo por baixo dos panos. No atestado médico, ele teve um ataque cardíaco e, com o caixão fechado, ninguém poderia perceber o entalhe no pescoço dele. Grande homem. Eu não faço ideia se Abigail sabe sobre o resultado da missão que ela me deu, mas dando a devida atenção à falta de recados dela, dá pra imaginar que ela não liga. É melhor assim. Eu detestaria ter que conversar com ela sobre a minha falha. Colocar a adaga no pescoço dela era tudo o que eu queria, visto a situação na qual ela me pôs. Encerrar esse problema era tentador, mas parece que agora era ela só mais uma da lista de magos que sou incapaz de derrotar. A menos que…

Ter que lidar com o meu avô também era algo que eu gostaria de evitar, mas acho que esse é o momento pra isso. Talvez você não se lembre agora, mas o meu querido ladrão pretendia roubar a Adaga de… Tharsis. Lembra agora? E se lembra do nome do meu avô, certo? Tharsis Grinn, isso mesmo. Eu posso ter dito que o pobre rapaz queria me roubar, mas você entende, né? Soa bem mais interessante daquele jeito. Segurei a adaga nas minhas mãos, sentindo o peso dela. Não conheço a magia dela, mas senti seu poder fluindo em mim. Foi com essa adaga que meu avô assassinou o Rei de Spellborn e destruiu, sozinho, o Império de Fornalha. Com essa arma, acho que consigo bater de frente com Abigail. Talvez eu consiga até mesmo desafiar Cross.

— Vai me contar como foi que você chegou à conclusão de que precisava da minha adaga? - lá estava ele, o meu avô, apoiado em sua bengala. Essa nossa disposição me dá boas memórias.

— Pra ser sincero, eu acho que vou precisar dela, vovô. Tô enfrentando gente que pode acabar me matando.

— E se você morrer, vai perder a minha Corta-Relâmpago. Só me dá motivos pra não te deixar passar dessa sala com ela - Ah, a adaga tinha um nome. Realmente, portar uma arma batizada com o seu nome mata o anonimato, o que pode ser um incômodo na profissão da família.

— O que quer que eu faça? Esses caras… os magos… eu não vou conseguir nada se eles estiverem no meu caminho - meu avô era um homem que conseguia tirar algumas dessas verdades amargas de mim e não dá pra ser desonesto quando eu moro com o cara e a adaga que quero pertence a ele. Ele ri e eu não entendo o motivo.

— Magos são complicados de verdade, não é? Me faz lembrar da minha época. Enfrentei Alistair Crown em sua velhice, acredita? Ele me deu uma surra. Tentei continuar o legado do meu próprio mestre, Shadowkill, sem sucesso algum. O velho mago teve uma morte natural e tranquila em sua casa de campo. Quem você enfrenta agora, filho? - Nunca vi meu avô tão falastrão assim. Matar gente deve unir a nossa família, de fato.

— Oswald Cross, vovô. Acho que ele é o Crown da minha geração. Algum conselho?

— Claro que não, garoto. Eu não matei Crown. Entendo de matar reis e imperadores, mas magos sabem se defender como ninguém. Tente não morrer, eu não sei. Apenas dê um jeito de trazer a adaga pra mim de novo - e é assim que eu entendo um “Pode ficar com ela”. Eu não pretendia morrer, de jeito nenhum. Levarei Lawrence, excelente espadachim, comigo. Também estarei com Rodge Perna-solta, meu anti-mago, o maior músico aleijado de Baronesa. Escondo a adaga dentro do Não-Me-Note. As manoplas de Elena estão no meu quarto e, a essa hora, acho que os homens já estão me esperando na taverna. Está na hora de procurar artefatos que eu não sei como se parecem e nem o que fazem. Mas abrindo a porta do quarto, a voz, sussurrada ao pé do ouvido. Isso não pode estar acontecendo.

— Quer me contar o que foi que aconteceu na mansão do Oswald, meu ladrãozinho? - lá estava ela, Abigail, sentada de pernas cruzadas na minha cama, segurando as manoplas de Elena. Invadir essa mansão deve ser algum esporte local. Isso não pode estar acontecendo.





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