Shard of Lies escrita por XIII


Capítulo 9
Queima de Arquivo


Notas iniciais do capítulo

Com o capítulo 9, fomos capazes de atingir 400 views aqui no Nyah! Obrigado a todos que estão lendo até aqui e vamos continuar acompanhando Vincent até o final da jornada!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/760319/chapter/9

Está chovendo. A lama já subiu pela minha perna inteira e estou me sentindo nojenta. Tudo pra chegar aqui, na Casa Crown. Eu não sei mais o porquê de manter esse lugar tão escondido. É o futuro, não é? Nem tem mais muita coisa por aqui mesmo. Hoje é só um lugar cheio de memórias de pessoas velhas ou mortas, com um ou dois tesouros escondidos. Bom, um só, definitivamente. Ou nenhum. Porque Oswald Cross definitivamente retirou o Grimório da Mente daqui.

Os curadores estavam mortos. Todos eles. A mana não está normal. Primeiro porque ela se parece com a mana de Crown em sua essência e, ao mesmo tempo… Não tem nada a ver. É extremamente maligna e deturpada. Fora que veio do interior da mansão. Isso não foi um invasor. Pelo menos, não deveria ser. Imagino que Oswald Cross tenha, na verdade, permissão pra visitar a Casa Crown quando quiser, visto o seu status na sociedade. Considerando que ele tenha vindo até aqui normalmente, não existe razão pra ninguém realmente impedir a vinda dele, fora que, sinceramente, a única pista apontando para um comportamento anormal de Oswald Cross é o testemunho de Vincent. Confiar nele não é a decisão mais inteligente do mundo e Cross tem um bom histórico de ser um bom homem. Um dos magos mais poderosos da nossa geração, sempre benevolente. Já até ouvi dizer que ele cura crianças. Não que isso seja problema meu. Eu preciso dele morto, principalmente agora, que ele está à procura dos artefatos de Crown. Essa é a minha missão. Só não me preocupo muito com Vincent porque ele é inofensivo. Ele é uma graça, mas no jogo dos magos, ele é só uma peça torta e sem valor. Então ele pode ter os brinquedos que quiser, mas ainda não será páreo pra mim.

Ouço meus passos reverberarem pela mansão, agora deserta, exceto pelo presente e incômodo cheiro de carne apodrecendo. Estátuas honrando a história dos magos espalhadas por todo canto e uma ou outra sendo estilizadas com sangue preto, vomitado pelos cadáveres. Todos eles vomitaram quantidades absurdas de sangue, como se estivessem sendo destruídos de dentro por fora. Ao fim do corredor, que se bifurcava em dois corredores menos extensos, estava exposto um enorme quadro. Um homem moreno, bonito, com um bigode que deve ter sido moda em sua época, pouco mais de um século atrás. Os cabelos ainda estavam cheios, seus fios castanhos brilhando com as luzes do espetáculos. Ele estava de pé, olhando de lado, sorrindo para o fotógrafo. Segurava sua bengala e sua cartola na mão direita. Um dos maiores homens que já pisaram neste país e talvez no mundo. Lá estava gravado, muito maior que qualquer outro na casa. Alistair Crown, o Patriarca, o Maior Mago do Mundo.

Tomo o caminho da esquerda, pois sei onde o Grimório da Mente deveria estar e, depois de caminhar por alguns minutos no vazio, me deparei com a câmara. Vazia. Os curadores ali pareciam ter sofrido mais que todos os outros. Seus corpos estavam retorcidos, suas artérias estouradas em seus membros. Foi aqui que começou. O testemunho de Vincent coincide com o status de Cross aqui, na mansão. Ele visitou o lugar, como devia fazer costumeiramente, mas algo o fez querer dar uma olhada. Assim que obteve o Grimório, o disfarce caiu. Os curadores não eram excelentes magos, mas eram competentes. Se foram derrotados sem lutar, é porque foram pegos de surpresa. Merda. Vou ter que vasculhar a mansão inteira atrás de pistas. Não dá pra procurar com magia, já que tem essa coisa pesada no lugar. Isso vai levar um tempo.

Depois de longas e longas horas, estou no laboratório de Crown. Aqui, as inscrições daqueles que já fizeram parte da pesquisa. A linhagem Crown. Alistair, Arthur, Aelyn… o que é aquilo? Papéis revirados que nem deveriam ter sido achados. Um dos arquivos “secretos” de Alistair Crown. Infelizmente, ele faleceu antes de terminar seu trabalho. Embora hoje ninguém brinque com isso, Alistair Crown tinha um fascínio secreto pela imortalidade. Acho que a morte deve encolher o coração de qualquer humano, até mesmo um como ele. Agora, não me pergunte o motivo destes papéis estarem revirados aqui. Não tem nada de importante neles, o que me entristece. É difícil encarar um trabalho que jamais será finalizado, uma ideia nunca passada adiante, agora esquecida pelo tempo. Hora de dar adeus a tudo isso. Não sei o que mais escapou daqui, mas… Agora não importa. O que sobrou não vai mais ajudar ninguém além de mim. Oswald Cross foi o último e ele nem deveria ter esse direito.

De costas para a mansão, agora a o frio da chuva não incomoda tanto. Isso porque a mansão é uma excelente fogueira. Alistair Crown não precisa dar a ajuda indireta dele a mais ninguém. O fogo destruirá qualquer artefato inútil ainda escondido na mansão e os que sobrarem são o que eu preciso. É claro que existem inúmeros artefatos na mansão, para todo tipo de função. Eu não poderia ligar menos. Agora a mana do lugar estava muito mais clara e utilizável, enquanto os livros viravam cinzas e desapareciam sem vestígios.

— É bonito, não é!? - eu disse aos dois rapazes que tentavam se esconder na floresta - Eu posso incendiar toda a floresta também. Assim vocês não vão ter que pensar em me enfrentar de verdade - eu não gosto de matar, mas não sinto remorso nisso. É o que eles querem fazer comigo, afinal de contas.

Com eles, apenas a melodia do silêncio.

— O que foi? Vão deixar uma garota sozinha na chuva, frágil e desprotegida? Os homens de hoje em dia… - girei a mana ao meu redor com toda a minha força e me arremessei à floresta, na direção das presenças que sentia. Cheguei na floresta e nada. Não sei onde estão, mas continuo os sentindo ao redor. Até que sinto uma forte dor nas costas e o ar sai de mim como se fosse o fim da festa. Ajoelho e vejo um deles. Era um dos curadores, mas algo estava errado. Algo como uma sombra o mantinha de pé, como os fios de um titereiro. Sangue saía, lenta e incessantemente, de seus dois olhos. Nele, a mesma mana estranha de dentro da mansão. Ele cruza as mãos acima da cabeça pra me acertar com tudo, mas circulo a mana por todo o meu corpo para me esquivar. Ele bate no chão com força e o som de estalos sugeria que os dedos dele se quebraram, mas ele não se importava. Eram dois. O segundo veio silenciosamente pelas costas, mas aparei seu golpe com a perna esquerda, imbuída de mana. Eles não conversariam comigo nem se quisessem. Estão quase mortos e muito provavelmente, além de qualquer salvação. Só preciso de um jeito de matá-los e claro, descobrir como Oswald Cross estava fazendo isso. Depois disso, vou precisar devolver o favor. Perdoe-me, Vincent, mas a cabeça de Cross é minha. Ele já está me irritando demais.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Shard of Lies" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.