Shard of Lies escrita por XIII


Capítulo 4
Contrato de Ladrões




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Homens treinados para o combate puro e simples nem acham que sou um oponente à altura. Isso é o que chamam de razão. Desviar é uma tarefa demasiadamente complicada, quando cada golpe pode ser fatal. Bloqueio tudo o que posso com as adagas, mas o ataque implacável e sem aberturas não me deixa outra opção que não seja fugir. Nunca enfrente homens maiores e mais fortes que você. Principalmente se ele estiver protegido da cabeça aos pés com essa armadura ridícula. Uma coisa dessas deveria ser contra a lei.

Consigo um breve momento para respirar ao pular sem pensar ao andar de baixo. Me seguir não é uma boa ideia e ele sabe. Ele pode ser maior e mais forte, mas eu sou bem mais rápido e, se ele me der qualquer chance de chegar ao pescoço, eu poderei mostrar o que me fez viver continuar vivo num mundo de pessoas maiores que eu. Enfrentar sempre será um problema, mas qualquer golpe bem colocado na garganta mata. Olha só, ele ignorou o bom senso e está descendo as escadas. Ele me perdeu de vista, está olhando ao redor, alerta, quase no primeiro andar agora. Com um impulso, me apoio no corrimão da escada e chego às costas do cavaleiro em instantes.

Ele me nota, em cima da hora. Joga a espada para a mão esquerda, girando o corpo pra me acertar. O problema dele, agora, é que sou eu quem dita as regras. Evitar uma espada assustada é brincadeira de criança, mas ele não esperava que eu fosse parar abaixo dele, perto demais para que a espada fosse efetiva e… Bom, um facada no joelho nunca fez mal a ninguém.

A segunda adaga parou no pescoço dele, como era de se esperar. Sabe, é por isso que eu bebo. Eu tenho certeza que este homem tinha uma família e, se eu estivesse no bar, bêbado e cantando com algum desconhecido, não estaria matando um homem de família. Tudo bem, ele estava trabalhando para Oswald Cross mas, sinceramente, eu não sei ao menos que tipo de pessoa o velho é. Apenas vim parar aqui graças à Abigail e sua missão, impostas à mim. Infelizmente, esse homem apenas estava no caminho. Uma pena.

Com as adagas avermelhadas em mãos, subo para o segundo andar novamente, deixando o corpo sem vida arrastar-se lentamente pela escada abaixo. Não adianta nada sentir pena de famílias inocentes agora. Não foi o primeiro homem que eu matei e não será o último. A estrada que leva ao Estilhaço de Mentira é pavimentada com sangue. Não conheço Oswald Cross, mas qualquer um envolvido com Abigail e o Estilhaço não poderia ser inocente. Infelizmente, ser empregado desse homem pode ser fatal até para cavaleiros treinados na arte da espada. E para um homem com tantos cavaleiros… Cinco? Isso é só sacanagem.

Dois no andar de baixo, três aqui no andar de cima, cada um em uma das possíveis passagens. Estou encurralado, devo admitir. Os três daqui de cima avançavam, lenta e ordenadamente. Ratos encurralados atacam, meus amigos, então eu parti pra cima de um deles. Os outros dois se surpreenderam um pouco, mas não foram rápidos o suficiente pra entrar no corredor e me impedir, o que não faria nenhuma diferença. Combate direto contra um cavaleiro é morte, já repeti isso algumas vezes por aqui. Tudo na postura deles me certificava de que ele estava preparado pra me derrubar em segundos e me separar das minhas ambições com uma lâmina.

Ele não estava preparado, entretanto, pelas garras que vieram pelo lado esquerdo de seu rosto, agarrando-o pela cabeça e empurrando-o à parede com força descomunal.

— Tá precisando de ajuda, rapaz? - e lá estava ela, aparecendo do nada, como antes, mas devo dizer que muito mais encantadora agora.

— Bom, eu… - e o que havia pra dizer? Eu não podia apreciar mais a presença de alguém. Estava genuinamente agradecido - Eu conseguia cuidar desse aqui sozinho.

Ela riu e, quando iria continuar falando, arregalou os olhos e apontou para a frente. Dois cavaleiros avançando rapidamente. Graças ao rei, todo cavaleiro, por questões de segurança dele mesmo, é proibido de correr com espada em punhos. Que bom que eu não sou. Sigo a moça da festa por onde quer que ela estivesse indo, finalmente parando num quarto que parecia ser seguro.

— Você realmente não faz ideia de quem está enfrentando? - ela assumiu um tom sério agora. É como se eu estivesse conversando com várias pessoas diferentes.

— A reputação dele o precede, não? Oswald Cross, próximo grande mago… Deveria ter mais alguma coisa?

— Ele também é dono de uma fortuna milagrosa, vai fazer de tudo pra não deixar ninguém chegar perto - então ela não sabia do envolvimento dos artefatos de Crown? - Ah! Eu sou Elena, creio que não me apresentei em nosso último encontro, senhor Milark. Peço que me perdoe, mas fui eu quem disse o seu nome a Cross.

— Não me importo de verdade, senhorita Elena, até porque… - tiro lentamente a peruca negra que estava usando. Foi delicioso arrancar o espanto do rosto dela, sempre no controle - Você não sabe quem sou, não é? - E ela nem conseguia fechar a boca, tamanha a surpresa - Não se preocupe, não estou aqui atrás de nenhuma fortuna, não preciso de mais uma. Vim aqui atrás de algo um pouco mais valioso. Gostaria de me acompanhar?

— No que você está metido? - ela conseguiu dizer.

— Num negócio perigoso - estendi a mão, com a outra na maçaneta da porta fechada - Posso lhe garantir que será bom pra você - e, nesse momento, eu devo ter deixado meu melhor sorriso honesto escapar, porque ela segurou a minha mão quase que imediatamente. Seria excelente ter outro como eu. Abri a porta com determinação, até porque dá pra sentir o cheiro de Cross, de tão perto que estava. No corredor, estávamos encurralados. Dois cavaleiros de um lado, dois do outro. Agora, meu melhor sorriso de nervosismo apareceu. Eu não tinha um plano. Contra a luz, uma sombra, ostentando uma cartola enorme sobre a cabeça, surgira. Oswald Cross veio prestigiar os últimos momentos de vida de seus dois intrusos.


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