Shard of Lies escrita por XIII


Capítulo 5
Quebra de Expectativa




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— Dois mortos, Milark Antoniete. Um na sua conta e outro na de Elena. Como pretendem me pagar por isso? - calmamente, ao lado de um de seus cavaleiros, logo à minha frente, ele falava, agora segurando seu livro aberto, na frente de seu peito - Abigail deve ter perdido toda a cordialidade. Me lembrarei de cobrar essa dívida - Você esperaria que um homem desses estaria gargalhando, movendo os braços espalhafatosamente e se vangloriando por aí. Esse não. Os olhos deles eram duros. A expressão, neutra como um jogador de pôquer. Ele não queria brincar com os oponentes dele. Ele queria se livrar de um problema e, infelizmente, eu era metade dele.

Eu não tinha resposta. Pensei numa gama de piadas. O clima era pesado demais. Aqueles olhos, fixos em mim, faziam com que minha respiração se descontrolasse. Eu não tinha um plano. Quatro cavaleiros e um dos maiores magos da minha geração. Abigail me meteu numa enrascada. Eu acho que é aqui que minha ambição vai embora.

— Qual é o plano? - Elena! Como eu pude me esquecer dela? Ela estava na mesma enrascada. Com a ajuda dela, poderíamos sair dessa.

— Temos que aguentar, não é? - Dei meu melhor sorriso. Resistir era a nossa melhor opção, por enquanto. Mas isso era óbvio.

— Tá tão desesperado assim? A gente tem que fugir, idiota - a tranquilidade dela era invejável.

— Mas fugir, vocês não conseguirão - A mesma expressão neutra. Os mesmos olhos. Olhar pra ele me fazia sentir como um garoto novamente. Como se meu pai fosse me dar uma bronca. Eu não gostava daquilo, mas era isso que Oswald Cross me trazia. Medo - Cavaleiros, vão um de cada vez. Um contra um é menos que o necessário para acabar com esses dois. Os outros dois, fiquem e esperem por gracinhas dos dois. A laia deles não se cansa disso.

E eles vieram, calmos e confiantes. O que veio contra mim já tentou acabar nossa conversa na hora, tentando acabar com a minha cabeça num golpe descendente. Usei as duas adagas pra segurar, mas devo admitir que superar a força aplicada ao golpe não era algo que meu corpo estivesse preparado. Eu sou fraco. Era aquilo que o golpe queria me dizer. Rangi os dentes. Empurrei a espada para o lado e me preparei pra enfiar as duas adagas na barriga do honrado cavaleiro à minha frente. Ele não me diria o que fazer. E o desdém veio na forma de um braço armadurado, bem no meu queixo. Doeu pra caralho. Me arremessou na parede. Enquanto eu tentava olhar ao redor, vi que Elena ia bem melhor que eu, usando sua notável força física pra pressionar o cavaleiro adversário. Aquelas manoplas eram incríveis. A garota tinha futuro. O cavaleiro me segurou pela gola e me levantou. Minhas adagas tinham caído. Ergueu a espada e a apontou pro meu coração. Tudo o que ele fazia gritava “Você é fraco” pra mim. Mas eu juntei toda a força que eu tinha e chutei, com dos dois pés, a cara metálica daquele babaca. Não doeu nada, eu imagino, mas o susto fez com que ele me largasse. Apanhei as adagas no chão e tentei correr pro outro lado, na direção de Elena. O cavaleiro girou a espada na minha direção, mas eu bloqueei em cima da hora com as adagas. Um dia, essas merdas vão quebrar e eu vou ter um problema enorme. Só espero que esse dia não seja hoje. Caí de costas e logo recobrei o equilíbrio e a posição, do lado de Elena e seu oponente. E mais uma facada no joelho. Não consegui segurar a risada. O grito, mesmo abafado pelo elmo, foi grosso e desesperado. Eu juro que não foi planejado, mas pra quê humanos tinham um ponto fraco tão exposto assim? Era muito fácil de explorar.

— Vai, Elena! - e, sem hesitar, ela empurrou a cabeça abaixada do cavaleiro contra o chão. Mais um pra conta. Segurei a mão dela e apontei pro quarto que estivemos antes - Agora! Vamos!

— Grande plano, garotão! Quantos dentes você perdeu? - Toda a moral que eu tinha ganhado ao me revelar como alguém misterioso foi por água abaixo. Cuspi. Três dentes.

— Conseguimos derrotar um deles. Tá funcionando, não? - o gosto de sangue na minha boca não era nada com o qual eu já não estivesse acostumado, mas a falta de dentes me perturbava - De qualquer forma, agora que conseguimos algum tempo, devemos pensar num jeito de fugir. Bolei um plano, mas vou precisar que confie em mim, entendeu?

— Que tipo de plano? Como você pretende derrotar três cavaleiros? - dava pra ver na cara dela que confiar em mim não era seu forte. Sábia decisão, mas não era hora isso.

— Antes de qualquer coisa, saiba que você já deve ter ouvido falar de mim. Não como alguém confiável, suponho. Retirei a peruca e o tapa-olho novamente. Oswald Cross também precisava saber quem eu sou, de agora em diante - Eu sou Vincent Grinn, membro da alta sociedade de Baronesa. Um homem detestável, como já deve saber. Ela sorriu, não surpresa.

— Sua fama faz justiça à você, Vincent. Não acho que você vá falhar de um lugar como este, já tendo realizado tantos feitos inacreditáveis. Me dará a honra de vivenciar mais um? - fama é uma coisa maravilhosa.

— É claro, Elena. Sua história hoje será contada ao lado da minha - e eu a beijei. Deve ter sido um momento confuso pra ela, beijar um homem desdentado e com a boca banhada em sangue. Depois de algumas frações de segundo, ela começou a apreciar, o que era bom. Durante aquele transe, dois cavaleiros abriram a porta do quarto. Hesitaram um pouco, mas logo avançaram de qualquer jeito. Não poderia ter sido melhor. Abri um pouco o olho direito, guardando a posição dos dois. Girei a nós dois um pouco, me colocando na reta da porta. Interrompi o beijo.

Ela ficou surpresa quando os dois cavaleiros a empalaram como um queijo, atravessando as espadas por seu abdômen e pelo seu peito. Quem não ficaria? Aqueles olhos, antes desafiadores e intrigantes, agora só mostravam incredulidade. Eu não podia perder tempo algum. Enquanto os homens tentavam jogar o corpo dela pra longe, um atrapalhando o outro, eu cravei uma adaga em um olho de cada um. Os gritos de agonia quando se é golpeado no olho são estranhos: nada breves e ininteligíveis, mas depois que pararam, pude agachar e dar um pouco de atenção à Elena. Coitada dela. Ainda estava viva e talvez fosse durar por alguns segundos. Não tirava os olhos de mim mas, infelizmente, não conseguia falar. Estava engasgada com o sangue. As espadas presas em suas costas a impediam de se mover também. A encarei até que o brilho de raiva em seus olhos fosse embora.

— Me desculpe, Elena. Nada contra você ou contra as suas habilidades, mas é que… Se não fosse por isso, nós dois morreríamos, entende? Essas coisas acontecem. Faz parte do trabalho - tirei as manoplas dela e as vesti. Ela não precisaria mais. Ainda faltam um cavaleiro e Oswald Cross. E agora, meus planos acabaram de vez.


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