Shard of Lies escrita por XIII


Capítulo 37
Bolsas e Bolsas de Dinheiro


Notas iniciais do capítulo

Aos cavaleiros que aqui chegaram, confio Shard of Lies a vocês. Dedico essa história ao Rival, que nunca me deixaria escrever mal. Também dedico essa história à Parceira, que de uma forma ou de outra, nunca me deixou desistir. Não devo me esquecer também do Artista, que muitas vezes me ajudou a ver pessoas que eu só podia enxergar com os olhos da mente. Dedico à quem amou e detestou diversos personagens, porque um personagem só é bom se alguém sente algo por ele. Obrigado. Muito obrigado.



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Baronesa continua linda. Abigail está treinando com as outras bruxas, eu assisto escondido de vez em quando. Ás vezes, eu gostaria de pedir desculpas pela bagunça, mas pelo menos eu as coloquei num bom caminho. Mostrei a elas que Delula não tem escrúpulos e, pensando bem, não foi Alistair Crown quem me colocou nesse caminho. Provavelmente foi o babaca do Oswald Cross. Então ele realmente tinha feito progresso em dominar a Sombra. Quem diria? De qualquer forma, eu nem sei como Delula não nota os olhares ferozes que Senhora Miuzand despeja nela, toda vez que ela vê aquela cadeira de rodas no convento. Como não percebe que o ar fica frio quando é Olga quem a conduz de cima a baixo. Até Elena está mais focada agora. Nem se passou tanto assim e, em alguns meses, parece que tudo mudou. Mas Baronesa continua linda.

Fui buscar Ivan, ou Avin, como você preferir chamá-lo, para que eu pudesse prepará-lo contra qualquer ataque de Delula, mas descobri que o garoto está feliz com Lawrence e Amanda. Parece que não estar trancafiado num quarto melhora o humor de qualquer um. Sinceramente, Lawrence sempre cuidou de mim, cuidar de uma real criança não deve ser tão diferente.

Deixar sua maldição mortal com a sua irmã também melhora as coisas. Por isso, coletei algumas dívidas e deixei o dinheiro com meu antigo subordinado. Ele não teve a chance de me ver, e me daria uma bronca terrível se soubesse que eu perdi um olho, mas sabe que fui eu. Lembro-me de quando banquei um mendigo pra apontar aquela casa pra Abigail, ou quando a ajudei a descer da carruagem para a reunião da Távola. Incrível o que alguns encantamentos podem fazer por você. Também teve a vez que ninguém me viu enquanto eu erguia um cadáver num poste. Aquilo foi surreal. Bons tempos, certamente. Por isso, também, eu deixei o Não-Me-Note para trás. Alistair e sua Sombra me acompanhariam pra onde quer que eu fosse, então eu sempre poderia me esconder ali, bem em qualquer lugar, mas o garoto precisava de algo pra se proteger.

Voltei pra casa e deixei a Corta-Relâmpago no travesseiro de minha mãe. Uma brincadeira que fazíamos, que consistia em dizer o quanto o outro era vulnerável quando dormia. Carmela Grinn não era nada fraca, então eu odiaria ter que enfrentá-la, e ela certamente não me deixaria prosseguir no caminho que eu tenho que seguir agora. E eu precisava devolver a adaga de meu avô.

Precisamos destruir o Estilhaço de Mentira. Eu vou descobrir como. Mas se eu não posso deixar ele avançar assim que eu morrer, precisamos de um jeito de mantê-lo selado. Mas nenhuma magia poderia manter o próprio Alistair Crown em cativeiro pra sempre. Então…

Eu fiz outro daqueles pedidos impossíveis pra Abigail. Quando eu pedi pra ela destruir meus circuitos mágicos, era pra me proteger.

Agora que ela precisa matar o próprio Alistair Crown, que utiliza uma mago-bruxaria que o deixa imortal, é pra me condenar. Sempre achei que morreria jovem. Entretanto, não achei que morreria uma morte nobre.

Visitei o Duas Cabeças pela última vez. Bebi por Rodge, aquele manco filho da puta. Também bebi por Lawrence e Maurice, que eu não esqueci de deixar uma bolsa bem cheia de dinheiro também. Bebi até por Oswald Cross, que aparentemente estava emaranhado nos mesmos problemas que todos nós. Bebi por Oliver Saint, aquele coitado. Levantei sem sentir os efeitos da bebida, apenas Alistair arranhando os cantos da minha mente enquanto eu evitava pensar nele. Repeti na minha cabeça os nomes de quem eu gostava e até de quem eu não gostava, e então eu pedi uma saideira em nome da Abigail. Quando nos reencontrarmos, ela provavelmente já terá bolado um plano pra matar Alistair Crown. Pra me matar. Sinceramente, eu não sei mais quando a minha mente termina e a dele começa, mas imagino que seja na linha que ele insistentemente tenta arranhar. Acho que ele tem tanto medo quanto eu de se perder. 

Baronesa continua linda. Tanto no passado, que até dá pra ver pelo olho que Senhora Miuzand arrancou de mim, quanto no presente, que eu forço um pouco a vista pra enxergar. Tento escrever essas palavras com uma lâmpada fraca, nesse Grimório da Mente que conjuramos juntos. Há algumas páginas que eu não lembro de ter escrito. Deve ser nessas horas que ele toma conta. A magia é quase natural pra mim, a esse ponto. Não somos amigos, mas aceitamos a condição de vizinhos incomodados. Tem dias que eu não lembro direito se eu sou o Assassino ou o Mago, então eu recito todos os nomes das pessoas que eu conheço, desde quem eu gostava até de quem eu detesto. Mas eu evito o nome de Abigail, porque eu não sei se ela é uma pessoa muito querida por mim pela relação que tivemos ou por ela ser minha bisneta. Nessas horas, eu não sei o que fazer. Mas eu preciso manter o Mago em xeque, até que Abigail me encontre. Mas eu preciso suprimir o Assassino, pra encontrar Abigail.

  Largo o papel, porque eu sei que pessoas diferentes começaram e terminaram essa página. Eu não quero ficar sozinho, mas o que é que Alistair Crown faria com eles? Eu choro, pelo único olho que eu tenho. Minha visão ainda é minha. Meus braços e pernas são meus. Meu coração é meu. Meus ossos e tendões são meus. Pela janela, dá pra ver: Baronesa continua linda.

Mas eu não sei de quem é essa opinião.

 


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