Shard of Lies escrita por XIII


Capítulo 23
O Assassino e a Sombra




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A confusão na praça confirmou todas as minhas suspeitas: Delula DeWrigg e Oswald Cross mantinham algum tipo de relação. É como se a minha própria sombra dissesse isso. Bem, não mais a minha sombra, mas a coisa que ela se tornou agora. Não imagino o trabalho que Oswald teve pra manter essa coisa sob controle, mas a julgar pelos últimos momentos dele, ele não teve muito livre arbítrio, pra ser sincero. Esse é um erro que eu não pretendo cometer de novo.

Daquela vez, quando eu acabei matando o padre, não posso dizer que eu não tivesse pensado nisso, afinal, matá-lo ali definitivamente era a opção mais fácil, mas… Minha mão foi empurrada. Tão empurrada quanto a minha consciência, que me fez estar ali. Quando eu junto isso ao fato de Rodge ter me traído, sabendo que algo como a sombra estaria fora de controle, me dá vontade de deixar minha mão ser empurrada contra o pescoço dele também.

Demorou um tempo até que eu me acostumasse com a Sombra de Cartola sob os meus pés.  Foi uma aposta arriscada, eu sei. A Sombra de Cartola era o verdadeiro inimigo, afinal. Ela controlava as pessoas de dentro, aproveitando qualquer resquício de magia para amarrar os fios e controlar suas marionetes. Foi isso que eu pedi pra Abigail destruir. Era isso que ele queria dela, afinal. Eu sabia que Abigail era uma Crown desde o começo, desde o momento em que eu a conheci. Não foi difícil entender que a Sombra queria um mago muito mais poderoso. Eu nem sabia que eu era tão amigo dela ao ponto de tomar essa em seu lugar, pra falar a verdade. E portar a Sombra dói. Ela tem duas opções, já que me transformar em marionete não é uma delas: fazer com que eu me mate ou ceder o poder pra mim até que eu acabe morrendo de alguma outra coisa. A dor que ela me causa faz com que eu queira arrancar a pele com as unhas, mas o poder que ela concede quase faz valer a pena. Eu diria que chegamos a um meio termo. 

O Convento das Bruxas é um lugar calmo e aconchegante, quando você não está se esgueirando pelas sombras. Como você deve ter percebido, é muito mais fácil se disfarçar quando você porta a Não-Me-Note, esta bela e excelente jaqueta, e a Sombra de Cartola, que quebra um galho em locais escuros. Alguém realmente deveria cuidar da iluminação daqui. Acho que o fator correria também está ao meu favor aqui, afinal, alguém colocou o corpo de um dos maiores magos da atualidade pra ser revivido, só pra provocar a Primeira Bruxa. Tem duas moças que provavelmente acabaram de ser graduadas como bruxas, conversando sobre como alguém poderia ser idiota o suficiente pra provocar a Primeira. Bom, elas não perdem por esperar. Eu subo pelo teto, andando de cabeça pra baixo, porque é óbvio que eu tenho esse poder agora. É incrível como as pessoas têm essa mania de nunca olhar pra cima, mas pra não dar esse demérito a elas, elas realmente não teriam me notado. Fico bem acima delas, bem ao tempo da moça da direita dizer “Hã?”. Foi nessa hora que eu me soltei do teto e cortei a garganta dela.

— Shhhhhhh, eu realmente não recomendo que você grite agora - ela olhou pra amiga degolada dela, sem preocupação evidente. Então elas já tinham feito a osteofagia. Depois eu explico, apenas saiba que a osteofagia é o ritual das bruxas que garante a imortalidade. Isso é sempre um problema. Ela já tinha se preparado pra abrir a boca - É sério, eu vou mesmo matar a sua amiga - o primeiro “A” foi gritado. Estendi a sombra e arranquei a perna esquerda da bruxa “morta”, sem deixar vestígios. O suficiente pra bruxa “viva” calar a boca - Ela vai reviver em uns quinze ou 20 minutos, então esse é o tempo que você tem pra me responder. Eu estou sendo bem generoso aqui. Você entende o que vai acontecer com a sua amiga se você não cooperar? - e dei o tempo para ela compreender. Três segundos, e ela já estava balanço a cabeça em confirmação. Ótimo.

— Onde está Delula? - e a bruxa hesitou. É compreensível, sinceramente. Por isso eu não fiz nada com a amiga dela dessa vez.

— Na Altar de Reunião, no sétimo andar - fácil, bem fácil.

— Tá, tá bom, já entendi. Qual é a pegadinha? - porque não é possível que não tenha uma pegadinha.

— Você não vai chegar lá vivo, assassino. Você vai virar ingrediente pra gente recuperar a perna da Emilia. Vai virar ritual pra bruxinha nova! - e a desgraçada tentou me acertar com a manopla dela. Essa filha da puta tá querendo me matar, mas é muito peixe pequeno. Girei o corpo e a chutei bem no meio da cara. Isso vai fazer barulho. - Senhora Miuzand! Tem um invasor aqui no - e eu a esfaqueei na barriga, mas bruxas são resistentes, então ela conseguiu se desvencilhar, cuspindo sangue.

— Por que isso tinha que ser do jeito difícil? Eu só quero matar a líder de vocês - estendi a mão para a amiga morta - Mas olha o que você me faz fazer - e fechei. Agora a bruxinha está mais que morta.

— E por que você quer matar a Senhora Delula, assassino? - mas não era a voz da bruxa atrevida. Era uma voz mais forte, mais imponente e que queria mais me matar. Ela estava com a bruxinha nos braços. Tsc, agora eu fiquei parecendo idiota.

— E você é..? - ela deveria responder “Rápida”. Esse era o tipo de coisa que eu só queria lidar quando estivesse indo embora.

— Eu sou Senhora Miuzand, e você é Vincent Grinn. Por que quer matar a Senhora Delula? - ela não tirou os olhos de mim, nem mesmo quando passou o corpo da bruxa morta para a outra - Leve-a para a Senhora Olga.

— Ela é culpada de unir forças com outro membro da Távola, um mago, e graças a essa parceria, criou uma magia do tipo Parasita que causou a morte de série de indivíduos.

— Senhora Delula? Criando magia? - e Miuzand soltou uma risada sonora e bem irritante - Que acusação estúpida, e você não é a Milícia do Rei. A tal magia parasita matou algum dos seus capangas, foi? - eu não tenho tempo pra isso, e apostar na velocidade contra ela é uma aposta perdida. A dor da Sombra está começando a incomodar. Tsc. Eu não estou acostumado a usar a Corta-Relâmpago junto com a Sombra, mas não vai ter outro jeito. Miuzand sumiu por um instante, reaparecendo na minha lateral. Rápida, mas não invisível. Eu consigo reagir aos movimentos dela. Jogo a sombra contra a perna dela, mas Miuzand não é idiota e logo recua.

— Ah, essa magia parasita… Isso não é problema da Senhora Delula, Vincent Grinn. Vá embora agora e eu não vou te matar hoje.

Eu sorri. De alguma forma, é bom enfrentar alguém que pode conseguir me matar. Ao brilho da Corta-Relâmpago, dá pra ver o sorriso da Sombra de Cartola. Isso aqui realmente precisa acabar rápido.

 


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