Shard of Lies escrita por XIII


Capítulo 20
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Já faz um mês que Delula sumiu. E faz um pouco mais que um mês que o crápula do Vincent Grinn sumiu também. Isso atrasa a minha missão de matá-lo, mas pelo menos, já que ele resolveu o problema que era Oswald Cross, eu tenho uma rixa a menos com ele. Infelizmente, também devo dizer que Baronesa está muito pior agora. Nós, bruxas, e qualquer um dos nossos associados, adorávamos a baixa sociedade que Vincent Grinn nos proporcionava. A maioria não conhecia o seu rosto, eu mesma só fui conhecê-lo naquele… incidente, mas todos sabiam de seu nome e todos sabiam o que ele faria com aqueles que atacassem a sua reputação. As bruxas e os magos circulavam livremente em Baronesa porque são numerosos os estabelecimentos que nos toleram, graças aos rios de dinheiro dos Grinn. Esses mesmos lugares começaram a ser interditados pela guarda real e o tipo errado de gente começou a sair nas ruas. Os magos, as bruxas e os feiticeiros perderam seus portos seguros e nossos associados perderam sua segurança. Por que eu estou dizendo tudo isso? Porque meu sócio, Rodge, está no fim daquele beco, todo perfurado de bala, enquanto os guardas reais investigam, inutilmente, o que é que aconteceu ali.

Se eu não tivesse certeza que Vincent Grinn não é o culpado, ele seria meu primeiro suspeito. Pra me isentar de culpa, eu devo deixar informado que eu adverti Rodge para que o mesmo deixasse Baronesa e eu mesma o deixei com uma gorda bolsa de dinheiro para tal. Deve ter gastado tudo em bebida. Era só ele ter deixado o Vincent pra trás e ir embora. Não era a vida que ele gostava mesmo. Era só aquela missão não ter dado errado. Era pro Vincent e pro guarda-costas dele tomarem um pau praquele clérigo e eu pegaria as sobras, quem sabe também aquele Manto do Anfitrião. Seria um excelente presente pra Delula. Tudo deu errado, é claro. O que é que Oswald Cross estava tramando, afinal? E como o plano dele deu errado? Vincent é esperto, com certeza, mas que pista ele arrumou pra superar o Cross? Isso não faz sentido. Foco. Os guardas estão começando a usar o Reagente. A pedra está brilhando… Verde! Bruxaria. Bem, tá na minha hora.

 

— Bom dia, oficiais. Devo lhes informar que este assassinato agora é um problema do Clã das Bruxas. -

 Nenhum dos dois fez qualquer menção a sair da minha frente. O maior resmungou:

— Não ficamos sabendo de nada disso, senhora…

— Elena Hartwill, Espada de Delula. Imagino que não queiram incomodar a távola. E bem… - apontei para o corpo de Rodge - vocês não querem lidar com aquilo.

Claro que o corpo dele começou a se revirar, buscando equilíbrio para se levantar. Entenda: um único cadáver não tem potencial algum pra machucar alguém. Mortos são mortos por uma razão. Mas nada assusta mais um homem adulto que uma superstição se levantando. Esses caras estão cansados de ouvir histórias de fantasmas levando camponeses pra fora de suas portas e de demônios devorando suas cabras. Um cadáver levantando é a pior das notícias dentro dos muros de Baronesa. Eles começaram a tremer, mas eu logo comecei a minha encenação, tirei um pequeno sino de um dos bolsos, soei-o três vezes, desembainhei a espada e toquei sua ponta bem de leve no peito de Rodge, desfazendo a minha conexão com o plano dos mortos e fazendo com que o cadáver parasse de se mexer conforme a minha vontade. Esses guardas não vão parar de falar disso por um mês e bem, isso vai trazer boa reputação pro Clã das Bruxas.

— Saiam, por favor - e eu não precisei avisar duas vezes. Esses guardas também não vão querer ver a minha cara pelo resto da vida.

 

Só dois buracos de bala. Não que precisasse de muito para derrubar o Rodge, mas ainda assim, isso não justifica a reação à bruxaria do Reagente. Guio minha visão até o plano dos mortos. A visão quase me fez vomitar. Da entrada do beco até alguns metros daqui, está tudo derretido, destruído de alguma forma. É como se aquela sombra do Oswald tivesse vindo pra cá, mas isso não faz sentido. Oswald Cross está morto e aquela magia era única demais. Descanso meus olhos e vou até os guardas, pedindo para que retirem o corpo. Quem? Quem poderia ter matado Rodge? Não, a pergunta certa não é essa. Sinto que estou deixando alguma coisa passar.

O Rodge me dizia que, estando num impasse, beba. E foi o que eu resolvi fazer essa noite. As interações da bebida com um corpo desmorto são sempre interessantes. No princípio, você não sente a mínima alteração, provavelmente por causa do metabolismo lento dado pela minha… condição. E então, de repente, eu estou mais bêbada que o Rod… não, isso é quase uma blasfêmia. Acho que ninguém fica mais bêbado que ele. Mas eu quase chego lá. Cadê a Delula, hein? Eu gostaria de um pouco de direção agora. Será que ela me ajudaria a descobrir o assassino do Rod? Não, provavelmente não. Ela é muito importante pra uma coisa dessas. Rodge é só um bêbado pra ela. Era. Não era pra terem matado o Rod. As pernas dele não funcionavam direito, mas ele era um cara legal… duas caras, vira-casaca, levemente traidor, mas ele era legal…

 

E obviamente, eu acordei babando na mesa do bar. Que bom que o August é gentil com belas damas. Dizem que uma loiraça causou um barraco aqui há uns dois meses. Ele nem levantou o dedo. Eu queria estar aqui pra ver, mas eu sempre perco os eventos grandiosos desse bar. Paguei a conta e disfarcei a dor de cabeça e o andar cambaleante da melhor maneira que eu pude, então não foi nada bom. O melhor é voltar pra casa, afinal. Lavar o rosto, limpar a baba da boca e pensar no resto do dia. Delula ter sumido nem é tão anormal assim. Anormal é terem matado o Rod. Preciso descobrir o porquê. Enquanto eu faço meu caminho, noto um leve tumulto. Parece que tem umas mil pessoas ao redor de um poste, olhando bastante pra cima. É claro que é outro corpo. Ah merda. Tudo bem ele ter morrido, mas isso? Quem penduraria o corpo de Oswald Cross numa praça pública? Dá pra ver uma aura saindo do corpo dele. Pensando bem, esse cara morreu há mais de um mês. Esse corpo não deveria estar tão bem conservado assim. Eu me concentro no plano dos mortos. Dá pra ver a corrupção saindo do corpo, projetando… uma sombra. Uma Sombra de Cartola. A sombra começou a sorrir, notando a minha presença, mas de um jeito diferente da última vez. Ela me espantou de volta pro plano real, quando eu ouvi um grito profundo, sinistro e semi-humano. É claro que era Oswald. Acho que percebi qual era a pergunta que faltava. Enquanto a multidão corria pra tudo que é lado e eu desembainhava a espada, eu só conseguia me perguntar: Quem está manipulando a sombra?


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